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Solidariedade cooperativista

  A pandemia de coronavírus tem provocado ações solidárias de diversas cooperativas pelo Brasil. Uma delas é a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL), com sede nas cidades de Rio Grande e Cruz Alta (RS). A instituição doou R$ 150 mil em respiradores e materiais de proteção individual, como máscaras, a três hospitais da região – São Vicente de Paula, em Cruz Alta, e a Santa Casa e o Hospital Universitário da Furg, em Rio Grande. Também houve o repasse de R$ 100 mil em leite em pó (ou seis toneladas), que farão parte de cerca de 6 mil cestas básicas a serem distribuídas a moradores das duas cidades em que atua. “Nós tínhamos duas preocupações. Uma era como enfrentar a doença, dar estrutura para o atendimento hospitalar. E a outra era que a paralisação da economia, do comércio, poderia causar desemprego, dificuldade de as famílias terem recursos para suas necessidades básicas”, afirma o presidente da CCGL, Caio Vianna. “Sempre ficou claro que uma instituição como a nossa deveria ter alguma ação de enfrentamento e não ficar achando que a obrigação é inteira dos governos federal, estaduais e municipais. A responsabilidade é de todos”, destaca. As cooperativas gaúchas, inclusive, têm sido bastante atuantes em ações para minimizar os efeitos da crise do coronavírus. Além da CCGL, várias outras realizaram ações solidárias. A Cresol, de Erechim, doou R$ 30 mil para entidades de saúde da região adquirirem testes para detecção da Covid-19 e suprimentos de proteção. Já a Coasa repassou R$ 144 mil a cinco hospitais do estado. Os recursos serão usados para compra de alimentos de agricultores familiares e também de equipamentos de proteção individual. E o Sicredi Zona Sul RS destinou todos os recursos do Fundo Social de 2020, um total de R$ 301 mil, às secretarias de Saúde dos municípios de sua área de atuação.  presidente do Sistema Ocergs, Vergílio Perius, relata:

Aqui no Rio Grande do Sul, temos inúmeras situações onde as cooperativas estão na vanguarda das iniciativas de responsabilidade social em suas comunidades. Cooperativas dos mais diversos ramos de atividades estão liderando ações de combate à pandemia e, ainda, ações para amenizar as dificuldades daqueles que estão sendo atingidos pelos desdobramentos dessa enorme crise, que é mundial. Estamos em consonância com o que a ONU declarou em 2012, que as cooperativas constroem um mundo melhor. E elas fazem isso todos os dias, estando presentes e participando social e economicamente das comunidades onde estão inseridas”

Na Paraíba, a Cooperativa Agroindustrial de Piabuçu (Frutiaçu), da cidade de Rio Tinto, doou 560 quilos de mamões para hospitais e entidades beneficentes da capital João Pessoa. “Por conta da pandemia, muitas feiras livres foram canceladas e alguns programas do governo, a exemplo do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), estão parados. A cooperativa está passando por momento de dificuldades de vendas dos produtos e, por isso, resolveu doar produtos que iriam se perder”, conta o cooperado Alex Magno. Em Maringá (PR), a Cocamar Cooperativa Industrial repassou 13 mil litros de álcool 70%, produzido em seu parque industrial, a hospitais, empresas de transporte público e entidades da cidade e cerca de 2 mil máscaras-respiradores a hospitais e ao Corpo de Bombeiros. Produtora de fios têxteis, a cooperativa também está fabricando, em parceria com a Unicesumar e a indústria de confecções Recco, fronhas e lençóis para hospitais de Maringá, Sarandi e Londrina. o presidente-executivo da Cocamar, Divanir Higino, comenta:

Momentos difíceis como este servem para unir as pessoas. Tenho a certeza que isso nos tornará mais fortes. A Cocamar está prestando sua contribuição, para que hospitais e entidades consigam continuar cuidando das famílias mais necessitadas e possam atravessar esse momento com mais tranquilidade e reduzir, de alguma forma, os riscos de contaminação”

Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.


Defesa ao direito das cooperativas

  Para garantir que cooperados e cooperativas atravessem a atual crise com maior tranquilidade, o Sistema OCB intensificou  seu trabalho de junto a parlamentares e representantes do Poder Executivo. Até 30 de abril, 67 pleitos foram apresentados pelo cooperativismo, dos quais 25 já foram atendidos pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional. Destaca a gerente de relações institucionais do Sistema OCB.
“Temos recebido diversos pleitos das cooperativas e estamos trabalhando junto ao governo e ao Congresso para que eles sejam atendidos na medida do possível, também estamos utilizando diversos materiais de divulgação para que os cooperados possam conhecer as decisões que os beneficiam
Fabíola cita como exemplos posts nas redes sociais, vídeos explicativos, eventos on-line, análises política e econômica sobre os impactos da crise do coronavírus. Entre as principais demandas do cooperativismo já contempladas está o adiamento do prazo para a realização das AGOs. Publicada em 30 de março, a Medida Provisória (MPV) 931/20 possibilitou que as assembleias possam ocorrer em até sete meses após o termino do exercício social. A MPV também permitiu as AGOs virtuais como a realizada pela Coopersytem, de Brasília. Outro pleito atendido, que contou com participação ativa do Sistema OCB e da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), foi a inclusão de caminhoneiros e prestadores de serviços essenciais na lista prioritária para vacinação contra a gripe (influenza). “Esta era uma demanda forte das cooperativas de transporte”, conta Fabíola. A criação de linhas de crédito para financiamento de folha de pagamentos de pequenas e médias empresas, a serem operacionalizadas por cooperativas de crédito, é outra demanda atendida, desta vez pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também merece destaque, aponta Fabíola, a prorrogação do prazo de pagamentos de tributos federais, como INSS folha, FGTS, IRPJ, CSLL e Funrural. Um pleito ainda não plenamente atendido que preocupa o cooperativismo é a inclusão dos cooperados entre os beneficiados pela renda básica emergencial de R$ 600 concedida pelo governo federal. Ainda há uma insegurança jurídica se os cooperados foram beneficiados. Mas o PL 873/2020, aprovado no dia 22 de abril pelo Congresso, contempla nosso setor, graças a uma emenda do deputado Arnaldo Jardim, a pedido da OCB. Agora estamos aguardando a sanção do presidente Jair Bolsonaro”, informa Fabíola. SERVIÇO: Corrente do bem Uma boa maneira de apoiar quem mais precisa é doando  dinheiro e/ou equipamentos de saúde para que os governos federal, estaduais e municipais, além de entidades privadas focadas no combate à Covid-19. Para ajudar, basta escanear o QR Code e escolher a melhor forma de participar dessa corrente do bem.
Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 
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Cooperação é remédio eficaz contra o coronavírus

  Nunca se falou tanto em cooperação quanto agora, na pandemia mundial de coronavírus. Para tentar conter a expansão da doença e minimizar os impactos socioeconômicos causados pela redução das atividades durante a quarentena, pessoas, organizações, negócios e países estão trabalhando juntos. E quem melhor para buscar soluções por meio da cooperação do que quem tem a palavra cooperar como razão de ser? Pelo país, são diversos os projetos realizados por cooperativas para tentar minimizar os efeitos do coronavírus. O Sistema OCB vem atuando em duas frentes principais e uma delas é exatamente auxiliar cooperativas a inovar e a buscar parcerias entre si. A outra frente é a ação proativa com representantes dos poderes Executivo e Legislativo para garantir que cooperados e cooperativas possam passar pela atual crise. Até o momento, 25 de 67 pleitos feitos à OCB e pelas cooperativas aos Três Poderes foram atendidos. A gerente geral da Organização das Cooperativas Brasileiras, Tânia Zanella afirma:
Neste momento, é muito importante que as cooperativas busquem parcerias e adotem estratégias mais condizentes com o momento atual. Muito do trabalho que for desenvolvido agora pode dar origem a novos mercados, produtos e serviços, que ajudarão as cooperativas a serem mais fortes e mais sustentáveis no futuro”
Tânia conta que o Sistema OCB está desenvolvendo um portal para que cooperativas possam divulgar seus produtos e serviços, de modo a serem vistos por outras cooperativas. A busca poderá ser feita por produto, área de abrangência e estado. O site já está no ar, no endereço cooperabrasil.coop.br. Localizada em Belo Horizonte (MG), a Cooperativa dos Transportadores de Cargas e Passageiros (Coopmetro) vem se beneficiando de parcerias para manter a produtividade. Composta até fevereiro apenas por caminhoneiros, a cooperativa enxergou na crise um novo público-alvo. Com a forte queda no transporte de passageiros devido ao isolamento social, taxistas estão passando a fazer entregas de produtos comprados de forma on-line. "Iniciamos um projeto-piloto que propõe ocupar a lacuna de tempo ocioso do taxista com pequenas entregas. Começamos em Brasília, como oito profissionais, e em Belo Horizonte, com seis, e brevemente ampliaremos para Salvador e Fortaleza”, informa o diretor da Coopmetro e presidente da Fetranscoop-MG, Evaldo Matos. “Com esse projeto, o taxista tem um complemento de renda, diversifica seu portfólio de serviços e amplia sua base de conhecimentos para outros mercados, gerando perspectivas positivas para seu negócio”, aponta Matos. “Esta pandemia mudou nossa vida e nos obriga a olhar para as diversas questões com novas lentes”.   PASSO A PASSO PARA INOVAR   “É durante as crises que as empresas costumam se reinventar e inovar”, observa Tânia. “Com um passo a passo detalhado, acessível, a cooperativa se sente mais confiante para buscar algum tipo de inovação no mercado”. Especializada em Tecnologia da Informação, a Coopersystem, de Brasília (DF), deu um importante passo na busca pela inovação. Com a impossibilidade de se realizar, devido à quarentena, sua Assembleia Geral Ordinária de forma presencial, a instituição desenvolveu uma ferramenta, batizada de Cúria, para que a reunião pudesse ocorrer de formavirtual. O consultor de Relacionamento e Negócios da Coopersystem, Hugo Pimentel Felinto relata:
Fizemos a convocação para a AGO presencial antes do isolamento social. E assim que soubemos que seria permitida a realização da assembleia virtual, mantivemos a data e aceleramos a criação do software, que estava sendo desenvolvido desde o início do ano”
Segundo o consultor, a reunião virtual foi um sucesso. “Participaram 219 cooperados, além de colaboradores que entraram como ouvintes ou para fazer alguma apresentação. O índice de satisfação foi altíssimo”, afirma Felinto. “E para que ninguém tivesse dificuldade no dia, realizamos duas pré-assembleias, nas quais os cooperados puderam tirar dúvidas em relação ao uso do sistema”. [caption id="attachment_75518" align="alignleft" width="402"] Crédito: ShutterStock[/caption] O software Cúria, informa Felinto, poderá ser utilizado gratuitamente em 2020 por qualquer cooperativa. “É a nossa forma de contribuição neste momento de pandemia”, declara o consultor. Interessados em acessar a ferramenta devem preencher um formulário de solicitação no site da cooperativa. Em Porto Velho (RO), a Cooperativa de Professionais em Educação (Cooped) também precisou buscar nova estratégia para não interromper as atividades durante a quarentena. Desde 23 de março, a cooperativa vem utilizando uma ferramenta de ensino a distância, cedida pelo Sistema Positivo de Ensino, além de plataforma on-line para atividades e avaliações. “Nós já vínhamos utilizando o WhatsApp, com excelente resultado, para estreitar laços com os familiares dos alunos”, conta o diretor presidente da Cooped, Fabrício José Pacheco dos Santos. “E com essa situação da Covid-19, vimos que investir na modalidade a distância era a alternativa para manter as nossas atividades. O sistema tem funcionado muito bem e o mais bacana é que, diariamente, os pais recebem um feedback sobre o desempenho de seus filhos e filhas”, ressalta.  
Essa matéria foi escrita por Alessandro Mendes e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 
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Cooperação é remédio eficaz contra o coronavírus

cooperativismo é uma grande alternativa para se enfrentar tal desafio. Por isso, cooperados e colaboradores devem se orgulhar. O movimento chamado Somoscoop, da OCB, quer fazer este sentimento crescer, mostrar às pessoas que o cooperativismo é um caminho seguro para se encontrar a paz social.” Lindo né? Juntos, a gente vai longe, sem deixar ninguém pra trás
cooperativismo é uma grande alternativa para se enfrentar tal desafio. Por isso, cooperados e colaboradores devem se orgulhar. O movimento chamado Somoscoop, da OCB, quer fazer este sentimento crescer, mostrar às pessoas que o cooperativismo é um caminho seguro para se encontrar a paz social."
Por Alessandro Mendes Nunca se falou tanto em cooperação quanto agora, na pandemia mundial de coronavírus. Para tentar conter a expansão da doença e minimizar os impactos socioeconômicos causados pela redução das atividades durante a quarentena, pessoas, organizações, negócios e países estão trabalhando juntos. E quem melhor para buscar soluções por meio da cooperação do que quem tem a palavra cooperar como razão de ser? Pelo país, são diversos os projetos realizados por cooperativas para tentar minimizar os efeitos do coronavírus. O Sistema OCB vem atuando em duas frentes principais e uma delas é exatamente auxiliar cooperativas a inovar e a buscar parcerias entre si. A outra frente é a ação proativa com representantes dos poderes Executivo e Legislativo para garantir que cooperados e cooperativas possam passar pela atual crise. Até o momento, 25 de 67 pleitos feitos à OCB e pelas cooperativas aos Três Poderes foram atendidos.
Neste momento, é muito importante que as cooperativas busquem parcerias e adotem estratégias mais condizentes com o momento atual”, afirma a gerente geral da Organização das Cooperativas Brasileiras, Tânia Zanella. “Muito do trabalho que for desenvolvido agora pode dar origem a novos mercados, produtos e serviços, que ajudarão as cooperativas a serem mais fortes e mais sustentáveis no futuro", disse fulano
Tânia conta que o Sistema OCB está desenvolvendo um portal para que cooperativas possam divulgar seus produtos e serviços, de modo a serem vistos por outras cooperativas. A busca poderá ser feita por produto, área de abrangência e estado. O site já está no ar, no endereço cooperabrasil.coop.br. Localizada em Belo Horizonte (MG), a Cooperativa dos Transportadores de Cargas e Passageiros (Coopmetro) vem se beneficiando de parcerias para manter a produtividade. Composta até fevereiro apenas por caminhoneiros, a cooperativa enxergou na crise um novo público-alvo. Com a forte queda no transporte de passageiros devido ao isolamento social, taxistas estão passando a fazer entregas de produtos comprados de forma on-line.
Iniciamos um projeto-piloto que propõe ocupar a lacuna de tempo ocioso do taxista com pequenas entregas. Começamos em Brasília, como oito profissionais, e em Belo Horizonte, com seis, e brevemente ampliaremos para Salvador e Fortaleza", disse Fulano
“Com esse projeto, o taxista tem um complemento de renda, diversifica seu portfólio de serviços e amplia sua base de conhecimentos para outros mercados, gerando perspectivas positivas para seu negócio”, aponta Matos. “Esta pandemia mudou nossa vida e nos obriga a olhar para as diversas questões com novas lentes”. Passo a passo para inovar O Sistema OCB também está produzindo documentos com informações simples e acessíveis para as cooperativas interessadas em inovar. Serão abordados temas como e-commerce, entrega em domicílio, teleatendimento, marketing digital em momentos de crise, cursos e aulas on-line e a realização de Assembleias Gerais Ordinárias (AGOs) virtuais. “É durante as crises que as empresas costumam se reinventar e inovar”, observa Tânia. “Com um passo a passo detalhado, acessível, a cooperativa se sente mais confiante para buscar algum tipo de inovação no mercado”. Especializada em Tecnologia da Informação, a Coopersystem, de Brasília (DF), deu um importante passo na busca pela inovação. Com a impossibilidade de se realizar, devido à quarentena, sua Assembleia Geral Ordinária de forma presencial, a instituição desenvolveu uma ferramenta, batizada de Cúria, para que a reunião pudesse ocorrer de forma on-line. “Fizemos a convocação para a AGO presencial antes do isolamento social. E assim que soubemos que seria permitida a realização da assembleia virtual, mantivemos a data e aceleramos a criação do software, que estava sendo desenvolvido desde o início do ano”, conta o consultor de Relacionamento e Negócios da Coopersystem, Hugo Pimentel Felinto. Segundo o consultor, a reunião virtual foi um sucesso. “Participaram 219 cooperados, além de colaboradores que entraram como ouvintes ou para fazer alguma apresentação. O índice de satisfação foi altíssimo”, afirma Felinto. “E para que ninguém tivesse dificuldade no dia, realizamos duas pré-assembleias, nas quais os cooperados puderam tirar dúvidas em relação ao uso do sistema”. O software Cúria, informa Felinto, poderá ser utilizado gratuitamente em 2020 por qualquer cooperativa. “É a nossa forma de contribuição neste momento de pandemia”, declara o consultor. Interessados em acessar a ferramenta devem preencher um formulário de solicitação disponível no link http://curia.coop/. Em Porto Velho (RO), a Cooperativa de Professionais em Educação (Cooped) também precisou buscar nova estratégia para não interromper as atividades durante a quarentena. Desde 23 de março, a cooperativa vem utilizando uma ferramenta de ensino a distância, cedida pelo Sistema Positivo de Ensino, além de plataforma on-line para atividades e avaliações. “Nós já vínhamos utilizando o WhatsApp, com excelente resultado, para estreitar laços com os familiares dos alunos”, conta o diretor presidente da Cooped, Fabrício José Pacheco dos Santos. “E com essa situação da Covid-19, vimos que investir na modalidade a distância era a alternativa para manter as nossas atividades. O sistema tem funcionado muito bem e o mais bacana é que, diariamente, os pais recebem um feedback sobre o desempenho de seus filhos e filhas”, ressalta. Trabalho junto ao governo e a parlamentares Para garantir que cooperados e cooperativas atravessem a atual crise com maior tranquilidade, o Sistema OCB intensificou seu trabalho de junto a parlamentares e representantes do Poder Executivo. Até 30 de abril, 67 pleitos foram apresentados pelo cooperativismo, dos quais 25 já foram atendidos pelo governo federal ou pelo Congresso Nacional (veja a lista completa no link https://bit.ly/2UD17rV). “Temos recebido diversos pleitos das cooperativas e estamos trabalhando junto ao governo e ao Congresso para que eles sejam atendidos na medida do possível”, destaca a gerente de relações institucionais do Sistema OCB, Fabíola Motta. “Também estamos utilizando diversos materiais de divulgação para que os cooperados possam conhecer as decisões que os beneficiam”. Fabíola cita como exemplos posts nas redes sociais, vídeos explicativos, eventos on-line (Abre hiperlink para o site somoscooperativismo.coop.br/servico/26/covid19) e análises política (https://bit.ly/3dvDvOv) e econômica (https://bit.ly/2UCWjUD) sobre os impactos da crise do coronavírus. Entre as principais demandas do cooperativismo já contempladas está o adiamento do prazo para a realização das AGOs. Publicada em 30 de março, a Medida Provisória (MPV) 931/20 possibilitou que as assembleias possam ocorrer em até sete meses após o termino do exercício social. A MPV também permitiu as AGOs virtuais como a realizada pela Coopersytem, de Brasília. Outro pleito atendido, que contou com participação ativa do Sistema OCB e da Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop), foi a inclusão de caminhoneiros e prestadores de serviços essenciais na lista prioritária para vacinação contra a gripe (influenza). “Esta era uma demanda forte das cooperativas de transporte”, conta Fabíola. A criação de linhas de crédito para financiamento de folha de pagamentos de pequenas e médias empresas, a serem operacionalizadas por cooperativas de crédito, é outra demanda atendida, desta vez pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Também merece destaque, aponta Fabíola, a prorrogação do prazo de pagamentos de tributos federais, como INSS folha, FGTS, IRPJ, CSLL e Funrural. Um pleito ainda não plenamente atendido que preocupa o cooperativismo é a inclusão dos cooperados entre os beneficiados pela renda básica emergencial de R$ 600 concedida pelo governo federal. Ainda há uma insegurança jurídica se os cooperados foram beneficiados. Mas o PL 873/2020, aprovado no dia 22 de abril pelo Congresso, contempla nosso setor, graças a uma emenda do deputado Arnaldo Jardim, a pedido da OCB. Agora estamos aguardando a sanção do presidente Jair Bolsonaro”, informa Fabíola.
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Sinais de amor

Brasília (2/12/19) – Os olhos, atentos, acompanharam cada gesto e cada sinal enquanto o coração de Alani Cristina Melo, de 38 anos, pulsava forte de alegria. A cada segundo que passava, era difícil controlar a emoção. Os meses de preparo tinham ficado para trás e, finalmente, era chegado o momento de trazer uma nova vida ao mundo. Um mundo que, para Alani, é de silêncio.

Surda desde o nascimento, ela cresceu sem ouvir o canto dos pássaros, o barulho do mar ou a voz da própria mãe. Em compensação, aprendeu a prestar atenção nos rostos, nas mãos e nos sentimentos das pessoas. Como a maioria das meninas da sua idade, sonhava casar e ter filhos. E foi em uma partida de vôlei que sentiu o coração bater diferente. Na quadra — jogando, como ela — estava Claudinei Melo, também surdo. Os dois estavam a passeio e se divertiam com o esporte na cidade de Uberaba. Ela ainda não sabia ao certo quem ele era, mas conseguia afirmar uma coisa: estava apaixonada. “Foi amor à primeira vista”, ela conta, em gestos que vêm acompanhados de um sorriso. E foi aí que tudo começou.

Foram quatro anos de namoro até o casamento, em novembro de 2016. Ambos queriam ter filhos, mas temiam os problemas que viriam. Como ouviriam o bebê chorar? Como saber se tudo estava bem, se não podiam contar com um dos sentidos? Mesmo com medo, decidiram arriscar. Em 2018, Alani engravidou e buscou apoio na Unimed Catanduva (SP). Lá, encontrou tudo o que desejava e muito mais. Sensibilizada com a história do casal, a cooperativa decidiu fazer um pré-natal 100% inclusivo, com direito a intérprete de Libras até no parto.

“A ideia surgiu, no começo, da necessidade. Precisávamos de uma ponte de comunicação entre os nossos profissionais e o casal. Mas decidimos ir além. A gente via que a alegria das mães, na sala de parto, é escutar o choro da criança. E queríamos que a Alani sentisse a mesma emoção, mesmo sem conseguir ouvir”, explicou o doutor Matheus Schuerewegen, diretor de desenvolvimento da Unimed Catanduva e um dos idealizadores do projeto de intérpretes no parto.

 

PRIMEIRO PASSO

Com a notícia da gravidez, a intérprete de Alani, Diane Martins, inscreveu o casal no curso Bê-á-Bá Bebê, oferecido gratuitamente pela Unimed Catanduva a seus beneficiários e também a pacientes particulares. O curso trata de todas as fases da gestação e do puerpério (pós-parto), e conta com acompanhamento de nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e médicos.

Para não perder nenhum detalhe das aulas, Alani e Claudinei contavam com uma intérprete da própria Unimed, Daniela Fernandes Moraes. “Eles eram bem participativos. Sorridentes. Carismáticos e prestativos. Foi uma relação muito prazerosa”, comenta a coordenadora do curso e enfermeira de Medicina Preventiva, Virginia Grandisoli.

A intérprete também acompanhou o casal em todas as consultas de pré-natal, com o ginecologista e obstetra Antonio Tadeu Tartaglia. Foi ele quem respondeu a todas as dúvidas do casal e cuidou da saúde da mãe e do neném, inclusive durante o parto. “A Alani era tranquila e não teve nenhuma complicação durante o pré-natal. Eu só brincava com ela a respeito do peso, pois ela era muito magrinha. Fiz uma dieta regada a vitaminas e ela seguiu certinho, sem nenhum problema”, explica o médico.

Há quase 30 anos na profissão, Tartaglia revela que um dos momentos mais emocionantes dessa gestação foi a revelação do sexo do bebê. “Durante os encontros, o casal sempre conversava, em Libras, a respeito do assunto. Era curioso. Normalmente, as mães têm o instinto aguçado para acertar. A Alani sempre dizia que era uma menininha e o pai, um menininho. Até que se confirmou”, diz o dr. Antonio.

 

O PARTO

Dia 8 de maio de 2019. A emoção tomou conta de todo o centro cirúrgico do Unimed Hospital São Domingos (UHSD), que pertence à Unimed Catanduva. Médicos, enfermeiros e toda a equipe técnica aguardavam, ansiosamente, a chegada da pequena Elaine Cristina, filha de Alani e Claudinei. Era a primeira vez que um parto seria traduzido em Libras no hospital. Os olhares, curiosos, entregavam o anseio da equipe: como seria feita a tradução em Libras de um momento tão especial?

Com mais de 20 anos atuando como intérprete da linguagem dos sinais, a arte-educadora Nani Oliveira ficou encarregada de transmitir ao casal toda a emoção do que estava acontecendo. Desde a aplicação da anestesia até a chegada de Elaine ao mundo.

“Mágico” é a palavra com que Nani define todo o parto. Foi a primeira vez que ela assistiu e realizou a cobertura de um nascimento em Libras. “Nunca presenciei um momento de tanto amor. Imagine a emoção de poder transmitir a uma mãe o primeiro choro de sua filha e descrever como era forte e vigoroso. Chorei por estar ali. Aquele momento foi um presente para mim e para todos”, relata Nani, emocionada.

Alani chorou junto à intérprete quando entendeu os sinais. Claudinei, que também estava na sala de cirurgia, se emocionou. “A minha filha é linda”, gesticulou, em sinais.

Para os médicos, o momento foi de comoção e felicidade. “Eu me arrepio só de lembrar”, recorda o obstetra. A mamãe Alani concorda e, com as mãos, acrescenta: “Tudo isso, pra mim, é um sonho que se tornou realidade. Eu tenho a minha família agora”.

Elaine nasceu com 48 centímetros e pesando 3,2 quilos. Uma menina saudável, que escuta perfeitamente. Por ter pais surdos, será educada em duas linguagens: a verbal (português) e a não verbal (Libras). E você, meu caro leitor, não precisa se preocupar com o choro de Elaine. Ele é sempre ouvido, em alto e bom som, pela avó paterna, Hilda de Oliveira. Assim que a menina nasceu, ela se mudou para a casa do filho, com o objetivo de ajudar a cuidar da netinha. É mais um sinal de amor.

Depois da experiência de atender à família de Alani e Claudinei, a Unimed Catanduva decidiu ampliar o atendimento em Libras da unidade. A cooperativa iniciou, neste ano, o curso Mãos que falam, voltado para a capacitação de seus cooperados. A assistente social da Unimed Catanduva Melina Borges foi quem conduziu a primeira turma e ressaltou a importância da prática de inclusão. “É uma iniciativa que agrega valor e que inclui vidas. Não dá para vivermos em uma realidade onde a gente espera que os surdos façam a adaptação por si só”, explica a assistente.

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Uma por todas

Brasília (3/12/19) – Cecília é uma mulher que representa muitas. Como tantas de nós, foi criada para ser obediente ao pai, ao irmão, ao marido e — um dia — também aos filhos. Como 70% das mulheres do mundo, foi vítima de algum tipo de violência no decorrer da vida apenas por pertencer ao sexo feminino. Foi ameaçada de morte por um marido, desqualificada por outro e sexualmente abusada na infância. Mas, apesar disso tudo — como cada vez mais mulheres —, conseguiu romper esse ciclo de violência antes que fosse tarde demais. E fez isso com a ajuda do cooperativismo.

“O cooperativismo me salvou”, disse a jovem, que prefere manter o verdadeiro nome em sigilo para proteger a si mesma e ao filho de três anos.

“A independência financeira da mulher é o caminho para o fim da violência! E eu consegui essa independência graças ao cooperativismo. Quis contar minha história para outras mulheres se sentirem fortalecidas também e perceberem que podem andar com as próprias pernas e saírem disso”, reforça.

Cecília teve o direito de ser criança roubado pela violência. Com menos de 5 anos, teve de passar a noite no meio de um matagal, ao lado da mãe e do irmão mais velho. Eles fugiam das ameaças do pai, que prometia, aos gritos, matar a esposa. A separação veio logo, mas a paz, não. Em vez de o divórcio livrá-la da violência, o novo casamento da mãe tornou-se sinônimo de flagelo para a garota. Aos oito anos, ela entrou para uma assustadora estatística: 53,8% das mulheres vítimas de estupro têm até no máximo 13 anos, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O padrasto começou a abusar sexualmente da menina. Por medo, ela não contava nada para ninguém, mas sentia que aquilo não estava certo. Queria ir embora daquele lugar. Escapar. E foi.

 

ROTA DE FUGA

 

Antes de completar 16 anos, Cecília foi morar com um homem 24 anos mais velho. Viveu sob três meses na mira das ameaças que o parceiro dirigia a ela. “Apronta comigo pra ver...”, a intimidação chegava com acusações de infidelidade. Ele até comprou um revólver e avisava: uma das três balas da arma seria usada para matá-la. O corpo — ameaçava — seria jogado em poço e ninguém sentiria falta ou procuraria por ela. Apavorada, ela fugiu outra vez. Como vivia no sul do Paraná, atravessou a divisa com o Paraguai e morou por um ano em um abrigo em Assunção, capital do país. Depois, precisou voltar para o Brasil. O único lugar que tinha para ir era a casa da mãe, onde também morava o padrasto, que voltou a atormentá-la.

Precisava sair dali de vez. Em troca de muito pouco, trabalhava como diarista em casas de família. Foi onde conheceu o segundo companheiro, também mais velho. Em menos de um mês, partiu para uma vida a dois com ele. Outra fuga, na esperança de ressignificar o conceito dolorido de família que tinha até então. O agora marido tratava-a bem. E assim foi por alguns meses, até mudar gradativamente de comportamento. Era só aparecer uma oportunidade de briga que o homem a metralhava com xingamentos e humilhações. Munia-se com os episódios de tormento vividos por ela na infância para atacá-la nos pontos de vulnerabilidade. A jovem tinha confiado e aberto a vida para o companheiro. “Migalha” era como ele a chamava; alguém que não prestava e não servia para nada. Ouvir aquilo não causava estranhamento, pois não era a primeira vez. Parecia normal. Apenas uma briga de casal.

Um dia, o insulto veio acompanhado da mão erguida. Um empurrão desnorteou o corpo da moça e do outro ser que ela gestava. A barriga saliente na roupa apontava uma gravidez. Ela o encarou e indagou: “Vai me bater grávida? Não pensa no seu filho?”. Ele recuou. Ela engoliu a seco, pensou no filho e deixou a lamúria presa na garganta.

Era sempre assim depois das brigas: o discurso repetido das reconciliações vinha na voz dele em tom ameno e manso. O rapaz pedia desculpas, mostrava-se arrependido e prometia que não aconteceria outra vez. Ela ponderava e eles seguiam juntos.

O filho nasceu. Cecília se recuperava do parto quando descobriu uma traição. Ela questionou o marido sobre o caso e, em resposta, teve o rosto acertado por socos contínuos. A primeira agressão física. Ele a puxava pelos cabelos, jogava-a no chão e socava-a mais. O resultado foi o rosto e o corpo roxos, além de um corte na cabeça e mais marcas invisíveis a olho nu.

Foi a chegada de uma vizinha que pôs fim à agressão. Machucada, ela catou o recém-nascido nos braços e foi para a casa de uma das poucas pessoas que conhecia — a irmã dele —, que aconselhou: “você devia perdoá-lo”. Sem emprego e sem o apoio de parentes ou amigos, ela decidiu voltar. Mas não voltou só. Carregou consigo um princípio de valentia e o desejo de arrumar um emprego.

 

VIDA NOVA

Cecília voltou para o marido, mas começou a buscar uma saída para si. Entregou dois currículos, a contragosto do cônjuge, que ordenou: “Não entregue mais nenhum. Se te chamarem para algum desses empregos, tudo bem, você pode trabalhar”. Ela acatou e depositou todas as esperanças nesses pedaços de papel. Foi chamada para uma única entrevista, na C. Vale, cooperativa agroindustrial com atuação no Paraná, em Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Sul e Paraguai.

Chegando à cooperativa, encontrou outras oito candidatas. Acostumada a ser desvalorizada, não achou que tivesse chance. Voltou para casa desesperançada, mas, alguns dias depois, o telefone tocou. Tinha conseguido o emprego e começava a suspeitar de que era capaz de sonhar e alcançar as metas pretendidas.

“A cooperativa não sabia que estava me salvando quando me estendeu a mão”, diz Cecília, agradecida. Isso acontece porque a dependência financeira das vítimas em relação aos parceiros é um dos fatores determinantes para a manutenção dos ciclos de violência, que aprisionam mulheres: 47,3% das que vivem em situação de violência não desenvolvem atividades remuneradas e permanecem dentro de seus próprios lares. Normalmente, no papel de cuidadoras do lar.

Além disso, entre as formas de violência caracterizadas pela Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006), está a patrimonial, definida “como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos”. O controle de finanças pelo parceiro pode, portanto, ser considerado uma forma de violência; a independência financeira é um caminho para rompê-la.

“Ao oferecermos um emprego com todos os benefícios, como vale-alimentação e plano de saúde, a gente empodera e fortalece mulheres que estejam passando por uma situação assim. Isso pode mudar vidas”, destaca Sara Ferneda, assessora de imprensa da C.Vale, que virou amiga de Cecília. Admiradora da força da colega, Sara fez questão de contar a história da moça na revista da cooperativa, para sensibilizar as pessoas sobre o problema da violência doméstica. “Embora a gente nem sempre saiba que uma colega é vítima de violência, o fato de ela fazer parte de uma rede cooperativista faz toda a diferença. Aqui, cuidamos uns dos outros e nos preocupamos com o bem-estar de todos os cooperados e colaboradores.”

 

PONTO FINAL

Antes de recomeçar a vida — longe da opressão do marido —, Cecília ainda teve de enfrentar uma nova agressão. Inconformado com a possibilidade de a esposa ser independente financeiramente, ele passou a implicar com a recém-contratada funcionária da C. Vale. “Está se maquiando para outros homens!”, acusava. Ela respondia que não. Só gostava de sentir-se bonita. Quando ele a ameaçava, a resposta estava na ponta da língua: “Encosta um dedo em mim e eu me separo de você”. Agora empregada, ela tinha condições de cumprir a promessa — o que trouxe certa tranquilidade para a família, sem episódios de violência física por algum tempo. Até “aquela” sexta-feira.

Era madrugada. Três horas da manhã. O casal chegou em casa, depois de ir junto a um bar. Ele queria continuar a diversão entre quatro paredes, ela queria dormir. Incapaz de ouvir um não, ele começou a agredi-la. A moça correu para o quarto do filho. Apoiou o corpo sobre a porta sem tranca, enquanto o marido ameaçava arrombá-la. “Vou derrubar no 3! 1, 2…”. Ela acordou o menino, encaixou-o nos braços, abriu a janela e pulou com a criança no colo antes de o agressor chegar ao três. Lá embaixo, encontrou o portão trancado e pulou o muro, em direção à casa da vizinha. Quando o dia clareou, passou na antiga casa. Enquanto o homem dormia, catou o celular, uma mala de roupas para o bebê e um par de roupas do varal. Partiu para o mundo. Tinha muita vida para conquistar.

 

RECOMEÇO

Não demorou muito para as mensagens de texto dele lotarem o visor do celular dela. Passou a persegui-la e a ameaçá-la. “Você é minha propriedade e vou te levar amarrada para casa!”, escrevia. Apoiada por algumas companheiras de trabalho que sabiam sua história, ela decidiu denunciar o marido. Hoje, tem uma protetiva contra ele e está em processo de divórcio. Tem um lar e consegue pagar as contas. Mas, vale reforçar: essa história poderia não terminar assim. “Se não estivesse trabalhando na C. Vale, ainda estaria casada e sofrendo violência. O cooperativismo me fez um bem muito grande!”

Embora não conheça Cecília pessoalmente, o presidente da C. Vale, Alfredo Lang, orgulha-se de ter dado à moça uma oportunidade de refazer a própria vida. “A gente entende que uma cooperativa precisa ser competitiva para conseguir sobreviver, mas esse não deve ser o seu único propósito. Você precisa gerar oportunidades para as pessoas melhorarem de vida, crescerem profissionalmente. Sem isso, de que vale uma cooperativa forte? Vale mais o que você faz em favor dos outros e não em favor de si mesmo; esse é o legado que uma cooperativa deve deixar!”, argumenta.

É importante esclarecer que essa não é uma história sobre violência contra a mulher, ou apenas sobre isso. Essa é a história de uma mulher que conseguiu mudar de vida quando encontrou uma oportunidade de emprego e renda. Tudo o que ela precisava era de uma chance de conquistar sua independência. Para erguer-se. Para retomar a dignidade que um dia lhe foi tirada.

Olhar para trás é doloroso, mas Cecília respira aliviada e até com certo orgulho, pois consegue dizer para si mesma: “Eu consegui, e vou conseguir muito mais daqui para a frente! Quero ir mais longe”. A moça, de apenas 23 anos, retomou os estudos, pretende formar-se e, um dia, tornar-se uma advogada, para defender a causa de mulheres em situação de violência. “É o meu sonho”, projeta. A jovem também aspira conquistar a casa própria, para viver melhor com o filho e oferecer para ele tudo o que não teve na infância. Hoje, pode atribuir a si um adjetivo antes impensado: livre.

 

A LUTA É GLOBAL

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), no mundo, estima-se que cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência. É mais provável que uma mulher, entre 15 e 44 anos, seja abusada sexualmente e sofra violência doméstica do que desenvolva um câncer, contraia malária ou sofra um acidente de carro, segundo o Banco Mundial.

No Brasil, no ano de 2018, somente o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) recebeu 92.663 denúncias de violações contra mulheres, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). E esses números podem ser ainda maiores, já que considera-se que apenas 10% dos casos de violência contra as mulheres sejam notificados no país.

Um dificultador é um problema social privado ao lar: 78,6% das ocorrências de violência acontecem dentro da residência da vítima, de acordo com o Atlas da Violência de 2018, realizado pelo Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). E, em 73% dos casos, os agressores são companheiros ou ex-companheiros, segundo o DataSenado (2015), realizada pelo Senado Federal. (Fonte: Revista Saber Cooperar)

O sabor do cuidado

Brasília (7/1/19) – Em uma terra rodeada por montanhas, o sol brilha e aquece centenas de pés de café, que logo darão frutos. Ao mesmo tempo em que acalora a plantação, ele queima e marca a pele de cerca de 20 mulheres que zelam por um mar de pequenas sementes vermelhas. Elas serão colhidas quando estiverem maduras; em seguida, selecionadas, lavadas, ressecadas, novamente escolhidas a dedo; e finalmente torradas até virarem o Póde Mulheres — um café encorpado e de personalidade forte, como a de Arlete, Eliane e Maria José (algumas das cafeicultoras responsáveis pelo produto, 100% produzido por mãos femininas).

Mães, filhas, irmãs e amigas uniram-se para criar uma bebida de qualidade, que oferece uma experiência completa para quem a degusta. Quando o aroma do Póde Mulheres exala, é difícil resistir. A bebida quente, apetitosa e cheia de amor combina com o olfato e o paladar de quem aprecia o “pretinho” mais popular do mundo. E esse sabor especial tem sua razão de ser.

“O diferencial do nosso produto está no cuidado que as mulheres têm na seleção e na torra de cada grãozinho cultivado”, explica Natércia Vencioneck, gerente administrativa da Cooperativa dos Cafeicultores do Sul do Espírito Santo (Cafesul), localizada no município de Muqui, há 178 km de Vitória. Ela foi uma das idealizadoras do projeto Póde Mulheres, criado para enaltecer o café produzido pelas pequenas produtoras rurais da região.

A bebida produzida pelo grupo de agricultoras da Cafesul é feita a partir do café conilon (veja quadro da página 35), espécie de origem africana de intensidade mais forte. A planta cresce no formato de uma árvore ou um arbusto, podendo chegar a até 10 metros de altura. Durante o plantio e a replantagem, as produtoras seguem técnicas tradicionais de manejo. O segredo para ter um café diferenciado, segundo elas, está no pós-colheita. “É preciso saber selecionar os melhores grãos e levar para a lavagem no mesmo dia”, explica Maria José da Silva, 54 anos, uma das cafeicultoras beneficiadas com o projeto.

Maria José sempre foi agricultora e viveu nos campos. Com a família, aprendeu a apreciar, cultivar e separar os grãos de conilon. O amor pelo cafezal transborda em seus olhos e chega a deixar a voz trêmula — principalmente quando ela se lembra das palavras do pai em dias de colheita. “Ele sempre nos ensinou a só guardar o que era bom. Dizia para procurarmos o melhor e a deixar de lado o que não acrescentava”, recorda. O conselho, segundo ela, vale para o café e para vida.

 

VALOR AGREGADO

Não são apenas o sabor e a qualidade do produto que atraem as pessoas para o Póde Mulheres. Hoje, o principal valor agregado do produto é o fato de ele incentivar e reconhecer a mão de obra feminina. “É animador participar de um projeto que incentiva tanto as mulheres. Essa ação me deixou mais feliz comigo mesma” esclarece Eliane de Almeida, 42 anos, dona do rosto que estampa a embalagem do Póde Mulheres.

Ao ver seus traços na embalagem pela primeira vez, a moça tímida e de mãos calejadas sorriu. “Me senti valorizada”, revela Eliane, que vive na zona rural de Muqui, e — estimulada pela Cafesul — passou a produzir queijos artesanais para combinar com a bebida quente. Quem também não poupa elogios ao Póde Mulheres é a pedagoga Helen Lima, 48 anos. Nascida e criada em uma lavoura de conilon, encantou-se cedo com a vida na roça e, mesmo depois de formada, fez questão de continuar a mexer com a terra. No sítio onde mora, em Muqui, ela e o esposo cultivam flores, pimentas e café. “Eu fazia mais por hobby, até que participei de uma capacitação da Cafesul e descobri que o meu sítio poderia ser uma empresa.”

Helen tornou-se cooperada da Cafesul em 2015. Desde então, aprendeu a administrar sua terra e a viabilizar o que é possível cultivar nela. Na próxima colheita, prevista para março de 2019, a expectativa é de aumentar a produção do café conilon. “Meu marido ficou desempregado e agora me ajuda no sítio. Hoje, é de lá que tiramos nossa renda”, diz, animada.

 

APRENDER PARA CRESCER

Além de gerar trabalho e renda para as cooperadas, o Póde Mulheres está transformando o árduo trabalho no campo em prazer para as envolvidas. “O contato com a terra me deixa calma, me alegra. As meninas do grupo são como uma família. Eu não sei o que estaria fazendo se não estivesse aqui, com elas, com esse trabalho”, declara Arlete Alves, 64 anos. Ela é uma das cooperadas premiadas pela Cafesul pela excelência de seu café.

Vale destacar: o nome Póde Mulheres é uma alusão não somente ao pó de café, mas ao poder do universo feminino. Afinal, com um pouco de incentivo, essas agricultoras têm conseguido transformar as vidas de suas famílias e de toda a comunidade. Justamente por isso, a Cafesul investe não apenas na comercialização do produto, mas na capacitação e na autoestima de suas cooperadas. “A cooperativa tem sido muito importante em nossas vidas”, reconhece Maria José. “Ela está sempre investindo na gente, e está sempre disposta a nos incentivar para o melhor”.

Na avaliação do presidente da Cafesul, Renato Theodoro, a capacitação é a base de tudo para cooperativa. “Nós fazemos cursos, seminários, palestras. Temos parcerias com o Sistema OCB e também com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)”, comenta.

Outro fator decisivo para o crescimento da cooperativa foi a conquista da certificação Fairtrade (Comércio Justo), concedida por empresas de certificação especializadas. Para manter o selo, é preciso que a cooperativa cumpra com um cronograma social, ambiental e econômico junto aos cooperados, com programas de valorização do trabalho, das mulheres e da juventude, por exemplo.

A certificação é renovada a cada três meses. O selo Fairtrade (Comércio Justo) reconhece a produção ética e sustentável de produtos e serviços. Ele assegura aos consumidores que os produtos adquiridos respeitem normas sociais, econômicas e ambientais justas para todos os envolvidos na cadeia produtiva. Hoje, o selo Fairtrade gera benefícios para mais de 1,2 milhão de famílias de agricultores em 70 países em desenvolvimento.

“O selo de Comércio Justo é uma forma de agregar ainda mais valor ao nosso produto, e ajuda a melhorar não só a renda do produtor, mas a condição de vida dele no campo”, explica Theodoro.

Com concursos de qualidade internos sendo realizados periodicamente desde 2011, a Cafesul tem conseguido se destacar no mercado de café. O Póde Mulher, por exemplo, foi o produto vencedor de um concurso interno de qualidade, realizado em 2016. O projeto ganhou tanta força e deu tanto retorno para as mulheres envolvidas que terminou ganhando as ruas em 2018.

“Se eu pudesse fazer nosso café se multiplicar para suprir o Brasil inteiro, eu faria. Afinal, ele é cuidado com carinho e com muito amor. E o meu prazer seria esse: que um café produzido apenas por mulheres chegasse a todas as mesas para que o Brasil conhecesse o poder que vem das nossas mãos”, diz a sonhadora Maria José, enquanto passeia pelos cafezais de Muqui.

 

VOCÊ SABIA?

Apesar de seu sabor marcante, o café conilon não é o mais consumido do Brasil. Aqui, os grãos do tipo arábica — mais doces e aromatizados — costumam ser mais apreciados. Entenda a diferente entre os grãos:

 

CAFÉ CONILON

Origem: Congo e Guiné

Formato: Grão arredondado

Sabor: Marcante e amargo

Teor de açúcar: Entre 3 a 7%.

Teor de Cafeína: 2,2%

 

CAFÉ ARÁBICA

Origem: Etiópia

Formato: Grão oval

Sabor: Adocicado com leve acidez

Teor de açúcar: Entre 6 e 9%

Teor de Cafeína: 1,2%

 

Fonte: Revista Saber Cooperar (edição nº 24)