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Vida Nova

Yadira Del Valle Stabilit de Boada, 52 anos, deixou para trás sua casa e seu país em busca de uma vida melhor. Cruzou a fronteira entre a Venezuela e o Brasil por Roraima e, depois de quase um mês de viagem, passando por diversas cidades do país, chegou ao seu destino final: Medianeira (PR), às vésperas do Natal de 2018. Junto com a filha, genro e netos, que também fizeram a travessia, foi lá que encontrou a chance de construir um novo capítulo da sua história, aberto pelo cooperativismo.

Saímos da Venezuela pela situação terrível que passa nosso país. Eu, meu marido, minha filha e meu genro trabalhávamos e mesmo assim não conseguíamos o suficiente para comprar comida”, lembra a venezuelana, que há pouco mais de um ano trabalha na Frimesa Central, cooperativa do ramo alimentício com mais de 40 anos de história na região.

Em todo o país, cooperativas têm aberto as portas para imigrantes e refugiados (saiba a diferença no quadro) que chegam ao Brasil para recomeçar. Nessa caminhada, a conquista do emprego e de uma fonte de renda estável tem um peso muito importante.

“Populações refugiadas são pessoas que, em razão de guerras e conflitos, têm de deixar seus países para preservar a sua vida e de suas famílias. Isso significa recomeçar do zero porque eles deixam tudo para trás, mas trazem suas capacidades, seus talentos e sua experiência profissional. O emprego vai representar a autonomia, a auto sustentabilidade daquela pessoa e da sua família. E, muitas vezes, o trabalho é o que permite à pessoa se integrar em vários âmbitos”, explica o Oficial de Meios de Vida da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR Brasil), Paulo Sérgio Almeida.

ACOLHIMENTO

Banco de imagens

Assim como Yadira, mais de 264 mil venezuelanos entraram e permaneceram no Brasil nos últimos anos, desde o início da crise migratória. Quando chegou, ela vendeu comidas na rua e trabalhou como diarista até conseguir a vaga na Frimesa, há pouco mais de um ano. Hoje, sua filha e genro também trabalham lá.

A empresa começou a receber imigrantes em 1986, mas o maior número chegou a partir de 2019. Atualmente são 328 trabalhadores estrangeiros de diversas nacionalidades: além dos venezuelanos, há paraguaios, haitianos, cubanos, colombianos e sul-africanos.

Acolher esses imigrantes tem sido uma experiência muito positiva. Nós temos na nossa essência a prática da responsabilidade social e é justamente uma oportunidade de trabalhar com a inclusão e diversidade. Também é uma forma de inserir novas culturas e eles podem contribuir muito nas atividades com os talentos que trazem, e assim gerar resultados positivos para a cooperativa”, explica Elisa Fredo, gerente de Gestão de Pessoas da Frimesa.

A chegada dos imigrantes na empresa se deu a partir do contato com organizações da sociedade civil que apoiam essa população e procuraram a Frimesa para estabelecer a ponte. Paulo Almeida, da ONU, explica que muitas vezes as empresas, cooperativas ou não, desconhecem que os processos de contratação de refugiados e imigrantes são os mesmos de um profissional brasileiro.

Fazemos um trabalho de engajamento com o setor produtivo na linha de informar porque há muitas dúvidas sobre o que é essa população. Muita gente desconhece que, seja solicitante de refúgio ou refugiado, essas pessoas têm documentos legalizados, carteira de trabalho, e podem ser contratados como qualquer brasileiro”, explica o oficial do ACNUR.

Para Elisa, o comprometimento dos funcionários imigrantes refugiados é um diferencial. “Às vezes, eles vêm de alguma situação que afetou profundamente a vida deles, então valorizam essa oportunidade, o que é uma vantagem para a cooperativa”, pontua. De acordo com Almeida, há de fato estudos que apontam uma taxa de rotatividade desse público menor do que a média.

RECOMEÇO

Yadira Del Valle Stabilit de Boada

Atualmente, a venezuelana Yadira trabalha na área de produção de frios da Frimesa, mas sua formação é em administração, função que exercia antes na Venezuela. Almeida destaca que imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil são pessoas de todas as classes e com perfis variados.


“Muitas vezes são pessoas com formação educacional elevada, mas que não escolheram sair dos seus países, fizeram para preservar suas vidas”, lembra. Para ele, a contratação desses profissionais é um “ganha-ganha”: os estrangeiros conquistam uma oportunidade e a cooperativa pode ter em seu quadro trabalhadores que trazem inovação e outras perspectivas para a resolução de problemas.

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Imigrante x refugiado

São considerados refugiadas aquelas pessoas que são obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos. Eles são assim reconhecidos por ser extremamente perigoso retornar a seus países de origem e, portanto, precisam de refúgio em outro lugar. Os Estados são responsáveis por assegurar essa proteção. Já o termo imigrante, em geral, compreende pessoas que deixam seus países de forma voluntária. Eles podem migrar em busca de melhores condições de vida, seja por oportunidades de trabalho ou estudo, reunião com familiares e outras diversas razões. Muitas vezes, também deixam seus países para aliviar dificuldades significativas ocasionadas por desastres naturais, pela fome ou extrema pobreza.

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Refugiados no Brasil

50 mil pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro, 55 nacionalidades. 

Número de solicitações de refúgio (2018) 

61,6 mil venezuelanos

7 mil haitianos

2,7 mil cubanos

1,4 mil chineses

947 bengaleses


Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Ninguém fica de fora

Aos vinte e poucos anos, Carlos Alberto de Oliveira quase desistiu de sua terra-natal. Apesar do amor pela Paraíba, pensava em mudar-se para o Rio de Janeiro ou São Paulo em busca de oportunidades de trabalho. Carlos Alberto é deficiente físico. Nasceu sem um segmento de um dos braços, que termina no cotovelo – e essa característica acabava por fechar portas no mercado de trabalho. Sua sorte, no entanto, começou a mudar quando conseguiu o primeiro emprego como porteiro. Três anos depois, mais consciente de que a deficiência não lhe limitava profissionalmente, juntou-se à Cooperativa Paraibana dos Portadores de Deficiência (Coppd), em Campina Grande. Desde então, trabalha organizando o estacionamento rotativo da cidade, a chamada Zona Azul.


“Gosto demais de trabalhar aqui porque estou em contato com o público, atendendo. A maioria das pessoas da cidade já me conhece, pergunta pelas vagas e até deixa a chave do carro comigo porque passamos confiança”, conta, sorridente.


A história de Carlos Alberto é uma em meio a diversas iniciativas cooperativistas de inclusão social espalhadas pelo país. Algumas, como a Coppd, são cooperativas voltadas especialmente para a colocação de deficientes no mercado de trabalho. Outras cuidam de outras minorias, como mulheres, dependentes químicos ou, no caso da Coopereso de Sorocaba (SP), presidiários. Existem, ainda, as cooperativas como a Unimed Londrina, que buscam ativamente inserir deficientes em seu quadro de colaboradores.


Tais iniciativas são importantes para aumentar a representatividade de grupos que têm dificuldade para se inserirem no mercado de trabalho brasileiro. No caso das pessoas com algum tipo de deficiência, apenas 1% (cerca de 403 mil) estão formalmente empregadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um número inexpressivo, considerando a Lei de Cotas (8.213/91), que determina: pelo menos 2% dos colaboradores de empresas com mais de cem funcionários devem ser pessoas com deficiência. Este número está longe de ser realidade.

Carlos Alberto - Arquivo Pessoal

Essa inclusão cooperativista, portanto, cumpre um importante papel social. E ainda gera cooperação interna nas empresas, educação, aperfeiçoamento constante e interesse pela comunidade. Conheça a seguir a história de três cooperativas que já descobriram o poder da inclusão e como seus benefícios atingem não apenas os grupos marginalizados, mas toda a comunidade ao seu redor.

ABRINDO PORTAS

Gisele Rodrigues - Arquivo Pessoal

 

Na Coppd de Carlos Alberto, os cooperados atuam na área de estacionamento tarifado pelo município, conhecida como Zona Azul, por meio de um convênio com a prefeitura. Atualmente, são 19 deficientes físicos trabalhando no local. A parceria existe há 20 anos, mas era celebrada por meio de uma ONG. Em 2009, uma mudança na legislação exigiu a descontinuidade do contrato e foi então que os trabalhadores se organizaram em uma cooperativa para seguirem exercendo sua atividade.
Para muitos deles, a Coppd apresentou a oportunidade do primeiro emprego. Foi assim com Gisele Rodrigues, cooperada há um ano e meio.

Tenho deficiência em uma das pernas, encurtada e mais fina, por isso manco um pouco. Tentei arrumar trabalho em várias empresas e nunca consegui. Aqui eu gosto de trabalhar porque é tranquilo e os clientes nos tratam bem”, diz.

Segundo o presidente Jean Araújo Gomes, a cooperativa oferece uma alternativa mais estável aos cooperados do que empresas comuns. “Há mais de três anos que a fiscalização [da Lei de Cotas] parou de acontecer por aqui e as empresas tradicionais aumentaram as demissões de deficientes. Como cooperativa, damos estabilidade e continuidade”, conta.

A segurança de emprego e a possibilidade de crescimento também são pontos destacados por Carlos Alberto:

O modelo de cooperativa é bom porque é estável. Como todo mundo é dono, cada um dá o seu melhor para a cooperativa crescer e abrir portas para mais pessoas”, afirma.

Essas portas são abertas inclusive para não cooperados. A Coppd encaminha interessados para vagas em outras empresas, como empresas de ônibus, hospitais e indústrias. “Há pouca procura, mas dos pedidos de empresas que já recebemos, 99% conseguimos encaminhar”, conta Jean.

Além de colaborar com a inclusão, a Coppd tem um projeto de doação de equipamentos ortopédicos, como cadeira de rodas, de banho e muletas a pessoas necessitadas. Uma iniciativa apresentada à sociedade, inclusive, no Dia C . Dessa forma, eles estendem os benefícios da cooperativa à toda a comunidade e não somente aos cooperados.

O presidente destaca que para realizarem tantas atividades, o suporte do Sistema OCB/PB é fundamental.

Aqui no Nordeste não se trabalha tanto em cooperativas, não se conhece o cooperativismo a fundo. Então o apoio deles é essencial. Sempre que precisamos de informação, eles vêm, oferecem cursos e nos ajudam”, afirma o presidente.


Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Rede do bem

Distante 206 quilômetros de Palmas (TO), o município de Pedro Afonso vive uma fase de pleno desenvolvimento. Com apenas 13 mil habitantes, essa pequena comunidade vive avanços consideráveis nas áreas de educação, meio ambiente e agricultura. E quando perguntamos a qualquer morador o segredo dessa boa fase, a resposta é certeira: é tudo fruto da cooperação.

Conhecida como a capital da soja no Tocantins, Pedro Afonso viu o progresso chegar juntamente com três cooperativas : a Cooperativa Agroindustrial de Tocantins (Coapa), a Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi),

Esses empreendimentos trouxeram mais movimento, emprego e desenvolvimento para toda a região, e não somente para Pedro Afonso. Desde a chegada do cooperativismo, notamos que cidade se uniu e há mais amizade”, destaca Divina Mendes, 68 anos, cooperada da Coapa — primeira cooperativa a impactar a comunidade.

Criada há exatos 20 anos por um grupo de pequenos produtores rurais, a Coapa ajudou a alavancar a produção agrícola da região, oferecendo  apoio técnico, infraestrutura para armazenagem de grãos, além de núcleos de participação focados em dois públicos até então carentes de atenção: os jovens e as mulheres.

A inclusão e o empoderamento desses dois públicos foram fundamentais para o desenvolvimento da comunidade”, reconhece Divina. “Graças à cooperativa, passamos a participar da vida social e profissional da cidade e, agora, desenvolvemos trabalhos para melhorarmos a renda familiar. No grupo de mulheres, fazemos polpas de frutas, doces em compotas, chocolates, biscoitos, licores, paçocas e vendemos na feira”.

Além da Coapa, outras duas cooperativas se instalaram em Pedro Afonso: a Coed, de ensino, e o Sicredi, do ramo crédito. O trio decidiu viver, na prática, o princípio da intercooperação, desenvolvendo programas e ações em conjunto para beneficiar a comunidade. “É uma verdadeira rede do bem”, explica Ricardo Khouri, presidente da Coapa.

Trabalhamos unidos para promover o desenvolvimento e a alavancagem da região. Além disso, por sermos cooperativistas, temos o compromisso de deixar os recursos gerados por nossas atividades aqui mesmo, na cidade, gerando emprego, renda e oportunidade para muitas pessoas”.


PONTE PARA O FUTURO

Crédito: Lula Lopes

Assim como em centenas de municípios brasileiros, em Pedro Afonso as pessoas descobrem o poder da cooperação desde muito cedo.  Praticamente todos os moradores da cidade são associados a uma cooperativa ou pelo menos estão sendo beneficiados por elas. É comum casais conversarem sobre o dia na cooperativa, trocando ideias sobre como fazê-la crescer ou comemorando os resultados alcançados. Com isso, as crianças aprendem que o cooperativismo é bom, traz comida para a mesa e alegria para toda a família.

Na escola não é diferente. Especialmente na Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed), que educa os estudantes da região desde o maternal até o nono ano do ensino fundamental. “Trabalhamos o cooperativismo com todos os nossos alunos. Temos uma disciplina em que ensinamos a cooperar, a dividir, e acreditamos nesse formato de educação. Um aluno com essa base será um adulto melhor. Não estamos somente preocupados com o lado educacional, mas também com os valores e os princípios que esses estudantes levarão para a vida adulta”,  explicou a diretora-presidente da cooperativa, Gleide Azevedo.

Ainda de acordo com Gleide, as crianças e jovens de Pedro Afonso exergam nas cooperativas um mundo melhor, uma oportunidade de emprego e uma ponte para um futuro melhor. Além disso, em sala de aula, também aprendem a administrar o próprio dinheiro e a poupar, graças ao apoio de projetos educacionais do Sicredi.  

A atuação conjunta da Coed, da Coapa e do Sicredi é fundamental para Pedro Afonso”, elogia Gleide. “Somos três cooperativas, trabalhamos o bem comum da comunidade e almejamos o crescimento pessoal e do município. Essa integração entre as cooperativas facilita o nosso trabalho e a vida de todos”.

A coordenadora do núcleo feminino da unidade Sicredi de Pedro Afonso, Maria Ivanete Maciel, 47 anos, concorda com a colega da Coed e acrescenta: a intercooperação mudou a história do município e alavancou o crescimento da região, inclusive aumentando a oferta de postos de trabalho.

Quando juntamos nossas cooperativas, a população notou que tudo melhorou e se sentiu mais feliz, porque soube que tem o nosso apoio. A vida de Pedro Afonso mudou, pois agora tem mais oferta de empregos e facilidades para a população”, exemplificou Ivanete.

A satisfação dos moradores e a melhora da qualidade de vida proporcionada pelo cooperativismo são facilmente traduzidas no município  pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) <abre hiperlink para site de IDH>, captado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. A taxa aferida na região supera a média brasileira, atingindo 0,732 pontos— em uma escala de zero a um, na qual quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento da região.

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MUDANDO VIDAS, REALIZANDO SONHOS

Crédito: Lula Lopes

A intercooperação realizada em Pedro Afonso já ultrapassou as fronteiras do estado e do Brasil. Um dos projetos apoiados pelas três cooperativas da cidade está levando os jovens da cidade para conhecer outras cidades brasileiras e, em breve, outros países. Trata-se do projeto Amigos do Meio Ambiente (Ama), criado pelo professor Fabrício Rocha, 35 anos, em 2010.

Historiador, enfermeiro e pedagogo, Rocha entendeu que um bom educador  pode contribuir com o desenvolvimento da comunidade também fora dos muros da escola. “Decidi  contribuir com a preservação do meio ambiente para mostrar aos alunos que é possível transformar o mundo com atitudes simples, como dar a correta destinação a materiais recicláveis”, recorda.  

O professor fundou o Ama com um grupo de 30 alunos e decidiu  buscar apoio do poder público e das três cooperativas da cidade, que sempre tiveram um trabalho muito voltado para a valorização dos projetos locais. Trabalhando de forma intercooperativa, o projeto deu início a uma pequena revolução na cidade.

 Os jovens se engajaram e começaram a recolher materiais, antes ignorados, para reciclá-los.  A partir daí, as atividades evoluíram e o Ama conseguiu colocar em prática um projeto de sustentabilidade e recuperação ambiental, dando nova destinação a uma área na qual antes funcionava um lixão. O espaço foi revitalizado e transformado, em 2014, na Praça Ecológica Pedro de Souza Pinheiro, motivo de orgulho para a população.

Localizada em meio a  exuberantes exemplares de palmeiras, ipês, imbaúba e mogno do Pará, a praça é ornamentada por  500 pneus e mais de 10 mil garrafas pet recicladas. “Os alunos aprenderam que através da união promovida pelo cooperativismo, com o trabalho em equipe, é possível mudar a realidade. O cooperativismo nos ajudou a  resgatar valores como a determinação, o engajamento da comunidade e a importância do trabalho voluntário. Isso é algo firme e consistente na formação de cada um que passa pelo Ama”, ressaltou.

OUTROS ARES

Crédito: Lula Lopes

O projeto criado por Rocha e apoiado pelas três cooperativas da cidade fez mais do que transformar uma praça da cidade. Ele ajudou a mudar a mentalidade dos moradores que não tinham perspectiva de crescimento. Foi também do lixo, por meio de produtos recicláveis, que o Ama deu sentido às vidas de dezenas de adolescentes e jovens.

Expandindo o formato de atuação, Rocha, seus alunos e voluntários recolhem latinhas, garrafas pet e de vidro, dentre outros materiais, para comercializá-los. Com o valor arrecadado, são promovidas viagens, ações que enriquecem culturalmente os participantes e abrem portas para a visita a locais, antes, inimagináveis e inacessíveis para pessoas de baixa renda.

Nestes anos de projeto, já rodamos quatro regiões do País. O nosso objetivo, com isso, é proporcionar que os nossos alunos conheçam outras cidades através de seu próprio  trabalho e esforço”, comenta o professor. Vale destacar: desde o início do projeto, o grupo já visitou, dentre outras cidades, Rio de Janeiro, Fortaleza, Natal, Aracajú, Maceió e São Paulo.

Daniela Bezerra Costa, 15 anos, é uma das alunas voluntárias que fazem parte do Ama. No grupo desde agosto de 2018, ela garante que a motivação para participar veio do desejo  de ajudar o próximo “Depois que comecei a trabalhar com eles, me senti melhor. Saber que estou ajudando a alguém, fazendo doação, por menor que seja, me fez sentir melhor”.

Um pouco mais antigo no grupo, Luiz Gustavo Bezerra Pinheiro, 16 anos, faz parte do Ama há seis anos e viu a evolução da cidade, bem como dos moradores. Um dos voluntários da construção da praça, ele lembra que o apoio das cooperativas tem sido fundamental para os avanços da região.

Muitos falaram que não era possível que um lixão se transformasse em algo tão bonito, como a praça ecológica que temos hoje. Esse projeto foi criando pernas, ganhando apoiadores, somamos forças com as cooperativas, que nos ajudam sempre que precisamos”, comemora o garoto que, por meio do projeto, pode conhecer o mar em uma das viagens do grupo. “Foi uma viagem inesquecível. Sabíamos que éramos capazes de fazer, e fizemos”, completou.

O projeto social, com a ajuda das cooperativas, pretende ir mais longe, alçar voos maiores. Neste ano, a viagem será com destino à Argentina e à tríplice fronteira. Até o momento, 80% do passeio estão pagos, tudo com dinheiro arrecadado com a coleta de material reciclável.

De acordo com o professor Fabrício Rocha, uma das metas do projeto é levar os participantes à Europa. “Nossa meta é, em 20 anos, chegar a Paris, de avião. Essa é uma ponte que nos mostra o quanto a união, o cooperativismo e o trabalho voluntário são importantes para o desenvolvimento de todos”, concluiu o educador.

O Dia C é um compromisso das cooperativas brasileiras com a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. Durante um dia, elas realizam milhares de ações voluntárias em todo o país para demonstrar um pouco do que o cooperativismo faz, diariamente, para colaborar com o desenvolvimento de suas comunidades.


Impacto comprovado

Confira o Índice de Desenvolvimento Humano de Pedro Afonso em comparação à média brasileira e ao estado do Tocantins

IDHMIDHM RendaIDHM LongevidadeIDHM Educação
Brasil0,7270,7390,8160,637
Tocantins0, 6990,6900,7930,624
Pedro Afonso (TO)0,7320,6990,8460,664

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano (Brasil – 2010)


Esta matéria foi escrita por Kelly Ikuma e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


LGPD: adequação exige trabalho multidisciplinar

A entrada em vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) surpreendeu às empresas e cooperativas que atuam nos mais diversos setores da economia. A assessora jurídica OCB, Ana Paula Rodrigues, afirma que boa parte do setor cooperativista já está se estruturando para atender à legislação, mas acreditava na prorrogação do prazo. Segundo ela, pela diversidade do cooperativismo, é difícil precisar de forma geral o estágio em que as cooperativas do Sistema OCB se encontram, porém, tanto a unidade nacional quanto as estaduais têm desenvolvido ações para apoiar as iniciativas em capacitação e envio de materiais sobre as novas regras.

Nossas entidades iniciaram o trabalho de adequação em janeiro deste ano, mas, com a pandemia da Covid-19, foram necessários alguns ajustes no cronograma para concluir a primeira etapa, que se refere ao mapeamento e à entrega dos relatórios das ações e medidas a serem tomadas. Esperamos concluir esse processo em novembro”, explica a assessora jurídica.

Ainda segundo ela, o trabalho conta com a atuação de um grupo interno que envolve várias áreas das três entidades que compõem o Sistema OCB (Sescoop, OCB e CNCoop) e que foi formado especificamente para acompanhar as atividades de adequação à lei, em uma atuação conjunta com uma consultoria especializada. Para além disso, o grupo tem trabalhado iniciativas para apoiar as cooperativas neste momento de adequação. “Realizamos webinários tratando das medidas emergenciais de implementação da lei e, já no início de novembro, lançaremos uma cartilha de apoio às cooperativas nesse processo de adequação”, completa.

ESTRUTURA PRONTA

No Banco Cooperativo Sicredi, o processo de adequação já foi concluído, e a instituição conta com áreas e processos dedicados ao tratamento dos dados e ao atendimento à legislação. “Iniciamos este trabalho em março de 2019. Procuramos revisar cada operação, a fim de verificar o que era preciso ser feito e implementar políticas corporativas de proteção de dados e avisos de privacidade”, explica Júlio Pereira Cardozo, diretor executivo de riscos.

Segundo ele, o processo de mudança tem ocorrido por meio de treinamentos on-line, workshops, ações de endomarketing, melhoria nos controles de segurança e na formação de facilitadores nas áreas, chamados de agentes de riscos. “Buscamos identificar meios para uma correta adequação de processos e colaboradores, bem como maneiras de comunicar essas mudanças a nossos stakeholders e fornecedores. A adequação à LGPD representa uma mudança de cultura; por isso, a importância de implantarmos treinamentos, controles, rastreamento e eventuais medidas referentes a condutas, para que todas as áreas estejam alinhadas”, destaca.

Ainda de acordo com Cardozo, o programa de privacidade de dados do Sicredi está dividido em quatro pilares: jurídico (contempla as relações entre o banco e suas diferentes possíveis partes); tecnologia da informação (administração e segurança dos dados e dos sistemas); análise dos processos de negócio (avaliação de dados utilizados e adequação à finalidade a que se destinam); e treinamento e conscientização (necessários para promover uma mudança de consciência diante do uso de dados).

“Trata-se de um trabalho conduzido em sinergia entre diferentes áreas e que não se encerra com a adequação mínima à LGPD. Privacidade de dados é um assunto de extrema importância dentro do Sicredi, e vamos continuar avançando no tema durante os próximos anos”, conclui.

 INVESTIMENTO

A Frísia Cooperativa Agroindustrial, com sede no Paraná e Tocantins, iniciou o processo de adequação à LGPD no fim de 2018. “Começamos a discutir o tema e a nos informar internamente. Ao mesmo tempo, entramos para o Programa de Compliance da Ocepar (Paraná Cooperativo). Acreditamos que poderíamos nós mesmos cuidar de todo o processo, mas, ao longo do tempo, descobrimos que seria muito difícil, devido ao tamanho e à complexidade dos negócios da cooperativa”, conta Marta Auer, assessora jurídica, membro do Comitê de Segurança da Informação e responsável pelo sistema de Compliance da Frísia.

A primeira medida que eles adotaram, segundo Marta, foi criar uma equipe multidisciplinar, com colaboradores das áreas de recursos humanos, marketing, jurídico, tecnologia da informação, segurança do trabalho, medicina e auditoria. “Pretendíamos fazer um mapeamento dos dados que coletamos para ter um panorama geral, inclusive da finalidade dada a eles, mas acabamos contratando uma consultoria para realizar essa ação. Por outro lado, já temos várias políticas prontas. Assim que o mapeamento estiver completo, podemos aplicar essas políticas e iniciar a fase de treinamento, capacitação e comunicação”.

Marta acredita que será necessário pelo menos um ano de dedicação ao processo de adequação para que a cooperativa consiga chegar à fase de auditoria, a fim de testar o sistema, identificar inconsistências, fazer os ajustes necessários e concluir os requisitos mínimos exigidos.

Nossa perspectiva é que iniciemos os testes entre janeiro e fevereiro do próximo ano”, afirma. Apesar da complexidade, a assessora acredita que o processo deve ser visto como um investimento. “Estamos trabalhando para oferecer mais segurança e transparência em nossas ações”, enfatiza.

Fonte: Midnal Consutoria

Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

A hora da mudança chegou

“Informação é poder”, já dizia Steve Jobs, fundador da Apple. Quando uma empresa, um partido político ou uma rede social conhece os dados, os gostos e os hábitos de uma pessoa, fica mais fácil convencê-la a fazer quase qualquer coisa. Pode parecer exagero, mas não é! Hoje, existem pessoas e empresas especializadas em coletar e comercializar dados ou bases de clientes, sem sequer pedir a autorização deles. Quem nunca recebeu aquelas chatíssimas ligações de telemarketing com uma oferta imperdível?

Ana Paula Rodrigues, assessora jurídica da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)

A boa notícia é que essa prática está com os dias contados, graças à entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em 18 de setembro. A má é que empresas, cooperativas e organizações que coletavam dados pessoais para melhorar processos, ampliar redes de relacionamento ou fidelizar clientes terão de rever todas essas práticas, sob o risco de pagarem multas, que podem chegar a R$ 50 milhões por infração.

A LGPD propõe medidas de segurança jurídica que transcendem as relações firmadas no ambiente virtual. Por isso, é de suma importância que as cooperativas estejam atentas aos procedimentos que devem ser adotados, especialmente por se tratar de um modelo de sociedade formado, em muitos casos, por pessoas físicas, a quem a legislação buscou dar proteção”, explica Ana Paula Rodrigues, assessora jurídica da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

Ainda segundo ela, os cuidados na coleta de dados devem ser redobrados, de modo a evitar que sejam perdidos, vazados, transmitidos para pessoas erradas ou tenham sua utilização desvirtuada, sob pena de gerar danos às cooperativas e também às pessoas envolvidas. “Será fundamental solicitar apenas os dados pessoais necessários ao cumprimento das finalidades da organização e dar clareza ao seu quadro social quanto à utilização dessas informações”, afirma.

O consultor em proteção de dados (DPO) Sanclé Landim Albuquerque concorda: as cooperativas, de fato, têm uma sensibilidade maior às regras da LGPD, por conta de suas características de filiação. “Nesses empreendimentos, o cooperado é, ao mesmo tempo, sócio, fornecedor e cliente. Além disso, em alguns casos, há repasse de informação para outras organizações, como as cooperativas de crédito, por exemplo, que podem estar encarregadas da gestão dos recursos da cooperativa, da distribuição dos resultados, e precisarão responder ao Banco Central. Isso exige minimalismo e a definição de finalidades claras para os dados coletados, principalmente os considerados sensíveis, que abrangem questões de gênero, raça, religião, posicionamento político, entre outros”, alerta.

MULTAS APLICADAS

Ainda que a data para o início da aplicação das sanções previstas para quem desrespeitar as regras seja 1º de agosto de 2021, o início da vigência da lei afeta de forma imediata os negócios das cooperativas, empresas públicas e privadas, e demais organizações. Isso porque as disposições exigidas podem ser fiscalizadas pelos órgãos competentes e até mesmo utilizadas como fundamentação em eventuais discussões no âmbito judicial.

Sanclé Albuquerque cita como exemplo uma multa de R$ 60 mil aplicada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) a uma grande marca de roupas por ter utilizado tecnologias de reconhecimento facial em sua loja no Shopping Morumbi, em São Paulo. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), responsável pela denúncia, a empresa conseguia captar as reações dos consumidores e traçar um perfil de seus visitantes sem informação clara e adequada, e sem o devido consentimento de seus clientes.

A prática foi considerada abusiva, utilizando como referência o Marco Civil da Internet e a LGPD, e a empresa foi multada nos termos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Esse caso deixa clara a importância da finalidade e do consentimento explícitos para a coleta e uso dos dados pessoais”, destaca o consultor.

Uma das maiores empresas do ramo imobiliário no Brasil também foi penalizada sob os termos da LGPD no mês de outubro, acusada de compartilhar dados pessoais e de contato de seus clientes com parceiros que ofereciam mobília planejada e afins. Pela decisão, a companhia terá que pagar uma multa indenizatória de R$ 10 mil, com um adicional de R$ 300 para cada contato que venha a ser compartilhado novamente no futuro.

Vale destacar: a legislação prevê punições que vão desde advertências até multas, que podem chegar a 2% do faturamento da empresa ou organização, sob o limite de até R$ 50 milhões por evento. “Poucos se atentaram para o fato de que o limite da penalidade é por evento, ou seja, uma empresa pode ser penalizada por mais de um ao mesmo tempo e a multa não se limitará aos R$ 50 milhões. Significa dizer que desrespeitar as regras da LGPD pode gerar custos que inviabilizem a manutenção do negócio”, acrescenta Sanclé Albuquerque.

IMPLEMENTAÇÃO

Precisar o tempo médio necessário para a adequação das cooperativas à LGPD ou os custos a serem dispendidos nessa adaptação não é tarefa fácil. De acordo com Ana Paula Rodrigues, as estimativas dependem não apenas do porte da cooperativa, mas do nível de complexidade de suas operações e de procedimentos internos que envolvam coleta e uso de dados pessoais e do nível de organização dessas informações nos bancos de dados.

Júlio Pereira Cardozo, diretor executivo de riscos

O cooperativismo é diverso e possibilita que qualquer tipo de atividade seja desempenhada por meio desse tipo de sociedade. Assim, cada caso exige um mapeamento específico para diagnosticar a estrutura existente, o tempo de adequação e os investimentos necessários para a adequação. Além disso, existem outros fatores que podem influenciar no custo, como a necessidade de apoio técnico especializado, de contratação de colaboradores específicos ou de investimentos em suporte e ferramentas de TI, que podem aumentar os valores necessários”, explica.

Sanclé Albuquerque acrescenta que, em uma estimativa realista, o prazo pode variar de seis meses a um ano e meio, dependendo do tamanho e das complexidades envolvidas no negócio. Já os custos dependerão da realidade de cada empresa. “Importante salientar que se trata de um processo contínuo, que vai exigir aprimoramentos constantes para garantir a segurança e a privacidade dos dados, bem como a manutenção dos sistemas, ou seja, não se limita apenas a atender os princípios básicos da legislação.”

O consultor lembra ainda que programas de conformidade (compliance) e de atendimento às normas Isso – especialmente a ISO 27701 – contribuem para a adequação à LGPD. “Essa ISO traz especificações sobre práticas de privacidade da informação em nível mundial e já em sintonia com a lei que inspirou a nossa LGPD — o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), legislação aprovada pela União Europeia para o tratamento das informações pessoais, em vigência desde maio de 2018”, destaca.

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PASSO A PASSO PARA A ADEQUAÇÃO DAS COOPERATIVAS À LGPD

PASSO 1 – DIAGNÓSTICO (estratégico)

Nesta etapa, realiza-se o mapeamento dos bancos de dados e sistemas onde estão armazenados quaisquer tipos de dados pessoais coletados pela organização, a fim de identificar como é realizado o tratamento <abre hiperlink> desses dados. Aqui, é importante identificar:

QUAIS SÃO AS DIFERENTES FONTES DE ORIGEM DOS DADOS ARMAZENADOS?

O QUE É REALMENTE NECESSÁRIO COLETAR E MANTER?

Ícone de regador — COMO É FEITO O TRATAMENTO? QUAIS PRÁTICAS SÃO PERMITIDAS DENTRO DA LGPD?

PASSO 2 — PLANO DE AÇÃO (tático)

Planejamento da adequação de procedimentos, normativas, contratos e políticas de privacidade da cooperativa, bem como para a revisão da estrutura de tecnologia e armazenamento das informações. Aqui, é importante zelar pela TRANSPARÊNCIA com o cooperado. Ele precisa entender os motivos da coleta dos dados considerados essenciais para o seu negócio e concordar expressamente com a coleta deles.

PASSO 3 — VALIDAÇÃO DAS MUDANÇAS (operacional)

O objetivo, agora, é efetivar o plano de ação proposto com testes para a verificação da adequação e da efetividade das medidas implementadas, confirmando se foram atendidas todas as exigências previstas na lei.

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ÁREAS ENVOLVIDAS NO PROJETO DE ADAPTAÇÃO

O trabalho de adaptação de uma cooperativa à LGPD é multidisciplinar, ou seja, envolve diferentes áreas, incluindo diretorias, gerências, jurídico, tecnologia de informação, recursos humanos e marketing. Cada uma tem diferentes responsabilidades, que vão desde a análise da finalidade de negócio até a implementação de todo o programa e a resposta a possíveis incidentes.


Fonte: Midnal Consultoria

PROFISSIONAIS NECESSÁRIOS APÓS A ADAPTAÇÃO

De acordo com a LGPD, para o funcionamento do sistema de proteção de dados, será necessária a atuação de três agentes importantes, denominados como controlador, operador e encarregado. Entenda o papel de cada um deles:

CONTROLADOR — agente de tratamento de dados pessoais que deve manter registro das operações realizadas. Ao controlador, cabe: decidir o porquê da coleta de dados do titular; lidar com a base legal para fazer a coleta; definir a finalidade ou os propósitos para os quais os dados serão usados, para quem pretende divulgar, compartilhar ou transferir os dados, bem como por quanto tempo reterá as informações. Ele é responsável ainda por elaborar relatórios de impacto, quando necessário.

OPERADOR — realiza o tratamento dos dados pessoais em nome do controlador. Ele deve seguir as diretrizes determinadas e tratar os dados de acordo com as políticas de privacidade e o ordenamento jurídico. O operador e o controlador também respondem pelos danos patrimoniais, morais, individuais ou coletivos, a exemplo de violações da legislação e que exijam algum tipo de reparação.

ENCARREGADO — pessoa indicada para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). A identidade e as informações de contato do encarregado devem ser públicas, claras e objetivas. Ele deve aceitar reclamações e comunicações dos titulares dos dados; prestar esclarecimentos e adotar providências; receber comunicações da autoridade nacional e adotar providências; orientar os funcionários e os contratados da organização sobre as práticas a serem tomadas em relação à proteção de dados pessoais; e executar as demais atribuições determinadas pelo controlador ou estabelecidas em normas complementares (art. 41, § 2º).


Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Quando a cooperação vence a seca

  Foram seis anos sem ver uma gota de água cair do céu. Seis anos de seca, de escolhas difíceis e de superação no interior da Paraíba. Quitéria dos Santos, 36 anos, chegava a chorar quando tinha de escolher a qual planta daria água e qual delas deixaria morrer. Prioridade — para essa e para tantas outras mulheres do sertão — é dar de beber e comer aos filhos. Só que esses mesmos filhos dependem do dinheiro gerado pela produção da terra; uma produção que depende da água para prosperar. A história de Quitéria só começou a mudar quando ela conheceu uma cooperativa determinada a driblar São Pedro: a Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Auto Promoção (Coonap). Junto com a comunidade, essa coop desenvolveu técnicas para transformar água salobra (com muitos sais minerais) em água potável e instalou sistemas de reciclagem da água nos assentamentos da região. Desde então, Quitéria nunca mais teve de escolher a quem dar água. Resultado? A produção cresceu e, hoje, parte dela é vendida ao governo. Vale destacar: a tecnologia desenvolvida pela Coonap levou água para cerca de 150 pessoas. São 37 famílias de agricultores familiares que passaram a ter água potável para atividades cotidianas. Além de melhorar a segurança hídrica, a iniciativa proporcionou vários benefícios socioeconômicos e ambientais.
Tivemos a participação ativa dos nossos 25 cooperados e um apoio essencial da Universidade Estadual da Paraíba, que trouxe a tecnologia de dessanilização e adaptou à realidade dos assentamentos”, conta Jonas Marques, presidente da Coonap-PB. “É uma tecnologia de baixo custo e muita efetividade. Contribui principalmente para a autonomia dos agricultores familiares. Mostra que podemos fazer acontecer por nós mesmos.”
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- FICHA TÉCNICA Cooperativa: Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Auto Promoção (Coonap) Projeto vencedor: Dessalinizador Solar de Baixo Custo Ramo: Trabalho Estado: Campina Grande, Paraíba Beneficiados diretos: 37 famílias de agricultores familiares ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
Esta matéria foi escrita por Guaira Flor e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 

De amor e de sonhos

No momento mais difícil de sua vida, Celma Grace de Oliveira, 51 anos, buscou ajuda e inspiração nas duas figuras femininas mais importantes de sua jornada: a filha Ana Carolina, vítima de uma leucemia aos 10 anos; e a mãe, Maria José de Oliveira, hoje com 72 anos, uma apaixonada por trabalhos manuais. Com base na força dessas mulheres, ela criou e fundou a Bordana, cooperativa de bordado em Goiânia. Tudo começou em 2007, após a morte de Ana Carolina, filha caçula de Celma. “Fui buscar nos sonhos dela, na minha história de vida, na história da minha mãe e das mulheres que admiro um novo significado para minha vida. Tenho uma longa trajetória ligada aos movimentos sociais, de resistência, de lutar por um mundo melhor para diminuir as desigualdades e contribuir para melhorar a qualidade de vida das mulheres”, lembra. Antes de adoecer, Ana Carol acalentava o sonho de ser designer de moda, sempre gostou de artes manuais e tinha como brincadeira preferida fazer roupas para as bonecas. Uma paixão herdada da avó. E foi pensando nelas que Celma decidiu convidar outras mulheres para criarem —com ela — novos contornos, pontos e tramas para suas vidas.  
MAIS INCLUSÃO
  [caption id="attachment_76755" align="alignnone" width="1080"] Crédito: Arquivo Pessoal[/caption]   O embrião da Bordana surgiu como um projeto social de geração de renda para as mulheres, em especial mães solteiras e donas de casa. Celma convidou um grupo de moradoras do bairro de Caiçaras, onde ainda mora, em Goiânia, e começou a empreitada que mudaria a sua vida — e a de muitas mulheres — para sempre.
Eu queria me transformar, mantendo viva a memória da minha filha, mas fazendo algo que fosse bastante significativo. Porque eu tenho certeza de que era isso o que ela gostaria que eu fizesse”, completa. Uma ideia que foi amadurecendo e crescendo até chegar ao formato de cooperativa.
Desde o início, a intenção da Bordana era atender mulheres com dificuldades de se inserir no mercado de trabalho, que encontrariam no bordado uma oportunidade de trabalho e renda. Para levar o projeto adiante, Celma fez uma parceria com a incubadora social da Universidade Federal de Goiás (UFG) e recebeu apoio para estudar e dar início à cooperativa. Quando começaram as atividades, a Bordana era formada por 10 mulheres. Já na fundação oficial, em 2011, eram 34. Atualmente, a cooperativa goiana conta com 21 mulheres e um homem. “Muitas mulheres acabaram saindo, porque mudaram de bairro”, conta.  
DESAFIOS
  [caption id="attachment_76753" align="alignnone" width="1657"] Celma Grace, fundadora da Bordana[/caption]   Hoje, com a cooperativa consolidada, Celma afirma que o desafio é incluir mais mulheres – em especial, as mais jovens. Segundo ela, muitas das cooperadas ainda são as fundadoras, com idade  média de 75 anos. “Queremos repassar essa técnica do bordado manual — que é milenar — para mais mulheres, em especial às mães solo, que podem ter dificuldade no mercado de trabalho ou até mesmo de encontrar creches. As cooperativas oferecem oportunidade de trabalho e renda de forma muito digna para que a mulher possa conciliar as atividades laborais com o cuidar de si e da família”, afirma. Um outro desafio da Bordana, na visão de sua fundadora, é alcançar melhores resultados financeiros. A Bordana faz um trabalho belíssimo de inclusão social, e isso está sendo cumprido de forma muito concreta. O impacto na vida delas é muito grande. Mas o impacto econômico ainda é um desafio. Nós precisamos avançar”, afirma, destacando que o bordado, assim como o artesanato em geral, é um produto muito complexo de ser comercializado, precificado e de gerar maior produtividade. Outro problema é o reconhecimento, por parte do consumidor, do esforço e do trabalho para a geração do produto.
Queremos introduzir novas técnicas na cooperativa, com foco em um maior resultado financeiro”, diz, sobre o futuro.
Atualmente, a Bordana mantém uma loja no Shopping Bougainville, localizado em um bairro nobre da capital goiana. Com a pandemia e a consequente queda nas vendas, a cooperativa buscou formas de se manter no mercado por meio das redes sociais – em especial, o Instagram – e também fez parcerias com grandes marcas, como o Magazine Luiza, onde hoje mantém uma loja virtual.  
PAIXÃO PELO COOPERATIVISMO
 
[caption id="attachment_76756" align="alignnone" width="1600"] Crédito: Arquivo Pessoal[/caption]
 
Celma destaca que, no meio da caminhada de construção da Bordana, descobriu sua paixão pelo cooperativismo. Ela acredita, entretanto, que muita coisa ainda pode (e deve) ser melhorada em nosso movimento – em especial, a intercooperação.
É preciso que as maiores [cooperativas] olhem mais para as menores e ajudem a fortalecer a ideia de cooperativismo enquanto modelo de negócio, para que mais pessoas possam participar e se beneficiar desse que é o modelo do futuro”, aposta.
“A gente já viu que, de forma individual e com base em um capitalismo ganancioso e sem escrúpulos que passa por cima de tudo, nossa sociedade não vai crescer.  É preciso pensar um novo modelo de negócios que faça inclusão social e econômica; que pense nas pessoas de verdade. E o cooperativismo faz isso.”  
 DIVISOR DE ÁGUAS
É com essas palavras que Rosenelia Theiss, 65 anos, define a sua relação com a Bordana, de quem é cooperada desde a primeira reunião, em 2008.
Eu era muito tímida; não conseguia falar em público, sempre muito retraída. Na Bordana, nós fizemos vários cursos, fizemos exposições e, com isso, a vida foi mudando bastante. Pra mim, foi uma diferença da água pro vinho: antes e depois da Bordana. Aliás, não só para mim, como para a maioria das nossas cooperadas”, revela.
Na avaliação de Rosenelia, que não sabia a arte do bordado, a cooperativa foi uma “superação coletiva” para as mulheres que resolveram abraçar o projeto. “Para mim, foi uma válvula de escape. Fiz cursos, gostei muito de bordar. Agora, o bordado faz parte da minha rotina. Aliás, nessa pandemia, o trabalho manual foi a minha salvação, porque ele é terapêutico. Não podia sair de casa, então, eu ficava bordando.” A cooperada Gleidy Marques, 53 anos, afirma que, antes de entrar para a cooperativa, bordava por conta própria, quando recebia encomendas. Agora, entretanto, a palavra-chave é união. “A gente trabalha juntas, unidas. Sou uma das donas da cooperativa, mas esse trabalho é em união. Fica mais fácil para lidar com as coisas. Você sempre tem ajuda. É muito aprendizado”, destaca. Sócia fundadora da Bordana, Gleidy conta que, no início, as mulheres se reuniam, mas não sabiam direito o que queriam fazer. A partir das discussões em conjunto, chegaram ao consenso de criar uma cooperativa de bordado. “A gente queria resgatar os pontos da vovó, que hoje em dia quase não se faz mais. E queríamos fazer o resgate do bioma Cerrado. Unindo as nossas ideias, chegamos a essa conclusão. Eu amei a ideia [de criar uma cooperativa] porque eu já bordava [ponto cruz], mas quase não trabalhava com o bordado livre.” Para dar conta da missão, ela conta que, ao lado de outras cooperadas, foi buscar capacitação em bordado em uma associação na capital goiana. “O que a gente aprendia lá, trazia e ensinava na cooperativa”, revela. E não foi só sobre linhas e pontos que Gleidy procurou saber mais. Foram nove meses de aulas sobre cooperativismo, com a ajuda da UFG; inúmeras palestras sobre gestão de negócios; atualização sobre ferramentas e programas de computador (como o Excel), e de conhecimento sobre o mercado e a concorrência.
A gente vai crescendo, como cooperado e como pessoa”, garante.
  __________________________________________________________________________________________________________________________________  Vitrine nacional O trabalho feminino e manual com linhas e agulhas desenvolvido pela Bordana foi destaque no Relatório de Gestão 2019 da OCB, que contou com os bordados feitos pelas mãos talentosas das cooperadas de Goiânia. O intuito era mostrar que os resultados do nosso sistema são como um grande bordado, feito ponto a ponto, com suor, risos, lágrimas e paixão. Para Celma, foi um orgulho ilustrar um dos mais importantes documentos da OCB. “Eu tenho certeza de que esse é o caminho. Achei superbacana a OCB procurar uma cooperativa para fazer o trabalho [de ilustrar], especialmente o relatório, que é um momento tão importante e tem tanta visibilidade. É essa intercooperação que tem de existir e se fortalecer cada vez mais”, destaca. __________________________________________________________________________________________________________________________________   ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  Inspiração para livro A história de vida de Celma virou inspiração e se transformou em livro. Um sonho feito de linhas é uma narrativa baseada em histórias reais de consultoras de uma empresa de cosméticos. De autoria da psicóloga e escritora de obras infantojuvenis Ana Carolina Carvalho, o livro foi lançado em setembro – mês em que se celebra o Dia Mundial da Alfabetização e da Educação Básica no Brasil. As ilustrações são de Andreia Vieira. A autora ouviu muitas mulheres desbravadoras que superaram desafios, em diferentes partes do país, e escreveu a obra, uma espécie de “colcha de retalhos” feminina. Celma destaca que a empresa que escreveu o livro teve um papel muito importante de apoio à Bordana, em diferentes momentos. Em 2013, o cooperativa recebeu o Prêmio Acolher, destinado a apoiar consultoras que desenvolvem ações sociais. Além de R$ 15 mil para o projeto, Celma recebeu um ano de consultoria técnica como premiação. “Foi muito importante, porque a gente estava começando e aprendi muito sobre gestão e empreendedorismo social”, afirma. Também por indicação dessa empresa, Celma chegou a ser finalista do Prêmio Mulher, da Revista Claudia, em 2015, destinado a contar a história de mulheres inspiradoras. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

As possibilidades do Pix

Talvez você não saiba, mas o Brasil é líder mundial em eficiência, agilidade e segurança nas operações bancárias. Sistemas automatizados de transferências bancárias como DOC e TED são genuinamente brasileiros e servem de modelo para muitas instituições internacionais. Este ano, o Brasil deu mais um passo à frente e o Banco Central anunciou a chegada do PIX, um novo sistema instantâneo de transação financeira que promete revolucionar o mercado de pagamentos no país. Funcionando de forma experimental desde o dia 16 de novembro, o PIX permite que você faça pagamentos e transferência em tempo real, 24 horas por dia, todos os dias da semana, usando apenas o celular. Com ele, não é mais preciso preencher com a conta, a agência e o CPF do beneficiado. Basta escanear um código de barras ou digitar a “Chave Pix” (código individual) da pessoa no celular. E o melhor de tudo: você não pagará nenhuma taxa por isso, se estiver usando uma conta de pessoa física. As cooperativas de crédito de todo o País enxergaram as inúmeras oportunidade abertas pelo PIX e — além de já estarem oferecendo esse serviços aos cooperados — começaram a estudar novas maneiras de usar a tecnologia.  O objetivo é um só: potencializar as vantagens do PIX para os nossos cooperados. E para falar sobre o assunto, convidamos especialistas dos dois bancos cooperativos do Brasil:  Sicoob e Sicredi. Em um bate-papo cheio de revelações, o diretor executivo de produtos e negócios do Sicredi, Cidmar Stoffel, e o diretor de Operações  do Centro Cooperativo Sicoob, Marcus Vinicius Borges, contaram quais os impactos esperados pela implantação do PIX em suas cooperativas.  Confira:   Revista Saber Cooperar: O que muda na vida dos brasileiros com a chegada do Pix? Cidmar Stoffel: O Pix representa uma inovação na forma de transferir, pagar e receber valores, trazendo ainda mais liberdade, segurança, agilidade e conveniência aos usuários. Sabe quando você precisa transferir uma quantia em dinheiro no meio da tarde e a outra pessoa que vai receber precisa esperar até o dia seguinte para a confirmação do valor? Ou quando você lembra de pagar uma conta durante o final de semana?  Com o Pix, o valor entrará instantaneamente na conta do recebedor — seja uma pessoa física, pessoa jurídica ou governo para pagamentos das Guias de Recolhimento da União. O Sicredi está sempre em busca de oferecer novas e melhores experiências aos associados na sua relação com as finanças, e o Pix chega como um recurso importante nesse sentido.   Marcus Vinícius Borges: O Pix tem o potencial de trazer mudanças estruturantes na vida cotidiana das pessoas e das empresas que possuem necessidade de realizar pagamentos de diversas naturezas, como compras em estabelecimentos comerciais, presenciais ou digitais, por meio de boletos de cobrança, contas de consumo (água, luz, telefone), tributos e ainda da realização de transferências entre pessoas e empresas. Tal potencial é gerado pelos novos conceitos trazidos pelo Pix, como a instantaneidade da realização das transações, que se efetivam em até 10 segundos; a disponibilidade, já que o sistema funcionará 24 horas, sete dias por semana; a diminuição de custos, pois há uma redução significativa na quantidade de intermediadores das transações de pagamentos; o custo muito baixo das transações Pix e ainda a regulação do Banco Central determinando isenções em algumas transações, como, por exemplo, entre pessoas físicas. E para as cooperativas de crédito? O que o Pix traz de benefícios para o nosso sistema? CS - O grande diferencial do novo meio de pagamento é que ele é um passo importante na evolução do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e, portanto, do cooperativismo de crédito brasileiro. A novidade chega para modernizar os mecanismos, que até então eram guiados por um conjunto de regras existentes há quase duas décadas. O Pix, é mais uma opção importante com a qual os associados podem contar em nossas cooperativas. E além de muito mais segurança, eficiência e agilidade nas operações, a plataforma também vai ao encontro de uma série de iniciativas das instituições financeiras voltadas para uma jornada de transformação digital na relação com clientes e associados. MVB: As cooperativas de crédito enfrentarão desafios importantes com o lançamento do Pix. Há uma forte tendência no aumento da concorrência promovida pela entrada de diversos novos players fornecendo contas correntes e contas de pagamentos para que as pessoas e empresas possam realizar suas transações. Porém, as cooperativas estão bem posicionadas para enfrentar esse desafio. Com uma atuação que mescla soluções digitais completas e presença nas localidades, tendem a ter maior fidelidade dos cooperados no uso de produtos e serviços, e, portanto, poderão utilizar todos os argumentos positivos do Pix e ainda complementá-los com uma oferta do portfólio de produtos/serviços em condições mais justas. Em relação ao mercado, a nova solução de pagamento está muito alinhada aos pilares do Sicoob, tais como o incentivo à maior inclusão e justiça financeira no Brasil. Como o seu sistema está se preparando para a chegada do Pix? MVB: O Sicoob foi uma das primeiras instituições a se homologar perante o Banco Central para realização das transações previstas no Pix. Com isso, tivemos ainda a oportunidade de realizar testes de forma antecipada e disponibilizar, na data e horário previstos, a solução para cadastro de chaves Pix conforme cronograma do Banco Central. Toda nossa solução tecnológica já está pronta para a entrada em funcionamento das transações de pagamentos e recebimentos previstas para o próximo dia 16/11. CS: Em setembro, o Sicredi ativou a etapa de pré-cadastro do Pix, para que nossos associados pudessem antecipar o registro do seu interesse em utilizar a modalidade conosco. Agora, até 15 de novembro, faremos o cadastramento de associados para uso do Pix, que começa a funcionar no dia 16 de novembro. Os associados interessados em usar a solução podem cadastrar as “Chaves Pix”, que podem ser CPF, CNPJ, e-mail e números de telefones celulares, em nosso aplicativo Sicredi e Woop Sicredi. As chaves servirão como identificação dos usuários no momento da operação financeira. Para o Sicredi, a chegada do Pix ao mercado marca uma evolução importante e reforça as iniciativas que temos desenvolvido para fomentar a inovação no segmento de meios de pagamento eletrônicos, pois segurança e praticidade são duas questões de extrema importância para nós, e essas tecnologias favorecem isso. Aproveito para comentar que, em maio deste ano, antecipamos aos nossos associados uma experiência semelhante ao Pix, com o lançamento de pagamentos eletrônicos via QR Code pelo aplicativo para transferências e pagamentos entre associados, o que demonstra o caráter inovador que buscamos entregar. O Banco Central se surpreendeu com a lista de mais de 600 cooperativas pedindo adesão ao Pix. A que se deve essa grande demanda? MVB: As cooperativas financeiras estão bastante alinhadas às principais inovações do mercado financeiro. Sempre foi assim. Oferecer as melhores ferramentas para que nossos cooperados tenham um cotidiano mais facilitado por um portfólio completo e pela tecnologia de ponta está no nosso DNA, sendo um dos nossos princípios. Além disso, mesmo sendo um segmento específico no mercado financeiro, as cooperativas financeiras competem no dia a dia com os demais bancos e, agora mais recentemente, com as soluções trazidas pelas fintechs. Portanto, elas não poderiam ficar de fora da oferta da solução Pix, pois terão assim condições igualitárias de competir por novos cooperados e continuar levando soluções completas e justas aos seus atuais quadros de cooperados. CS: Essa demanda mostra que inovações como essa não são apenas uma tendência, algo do futuro, mas já são realidade e vieram para ficar. A sociedade está mudando, são novas formas de nos relacionarmos, novas maneiras de consumo e não é diferente com a forma como gerenciamos nossas vidas financeiras. No Sicredi, nossas cooperativas estão muito próximas das comunidades e entendem que a adesão é importante para oportunizar as melhores experiências, mais convenientes, simples, ágeis e seguras, aos seus associados. Existem outras possibilidades de uso para o Pix ainda não implementadas no Brasil? Quais? MVB: O Pix trará diversas possibilidades de aplicações em casos de usos das mais variadas naturezas financeiras e, com certeza, muitas ainda não previstas ou sequer imaginadas até então por se tratarem de algo tão novo. Mas podemos pensar em Pix Internacional, antecipação de Pix agendado, Pix garantido, entre outras possibilidades. Acredito ainda que o Pix, conjugado com o projeto de Open Banking do próprio Banco Central, trará uma nova dinâmica de mobilidade no relacionamento com as instituições financeiras e na realização de suas transações, pois oferecerá mais facilidade na abertura de contas e ainda na realização de transações financeiras de provedores a partir de um único App, trazendo assim mais competitividade ao mercado. CS: Sim, existem diversas possibilidades de uso do Pix. Podemos citar como exemplo as transações online to offline, chamado de O2O, onde uma das partes do pagamento (pagador ou recebedor) está sem conexão de dados. Isso é muito positivo para um contexto de regiões com menor abrangência de rede de dados. Outra possibilidade de uso muito interessante é o pagamento por documento, com transações inteligentes que vincularão os documentos de transferências de bens ao pagamento via Pix. Além disso, no âmbito de Pagamentos Instantâneos, também poderão ser explorados os pagamentos transfronteiriços. Atualmente, mais de 60% da população brasileira ainda usa dinheiro vivo. O senhor acha que o Pix vai mudar essa realidade? MVB:  É bastante provável que o Pix modifique ao longo do tempo essa realidade. Além de conferir maior rapidez às transações digitais, ele também é muito mais seguro. Veja: será muito mais confortável e prático fazer um pagamento ou uma transferência a partir do celular, com um simples toque, do que andar com dinheiro vivo por aí. Acredito que a população vai se adaptar aos poucos a essa nova realidade. CS: Acredito que essa realidade irá mudar aos poucos e a agilidade e praticidade que o Pix entrega com certeza impulsionará esse movimento. Essa mudança também vai acontecer por meio de outros recursos apresentados pelas instituições financeiras nos últimos anos. A adesão a essas tecnologias irá ocorrer de maneira gradual e o cooperativismo de crédito, com sua capilaridade e potencial de gerar inclusão financeira, levando os benefícios dos serviços financeiros a diversas regiões do país, tem muito a contribuir com isso. Caminhamos para nos tornar uma “sociedade cashless”, com operações financeiras mais sustentáveis, sem circulação de moeda em espécie, sem os riscos gerados na movimentação do dinheiro físico, com menos impacto ambiental e muito mais digital, com tudo disponível por meio de um simples clique, 24 horas por dia, sete dias por semana. Alguns impostos até pouco tempo só podiam ser pagos em bancos públicos ou por bancos cadastrados junto às concessionárias. O Pix vai resolver esse problema? MVB: Sim, as pessoas e empresas poderão pagar impostos e taxas de serviços (assim que disponíveis) diretamente pela plataforma Pix, pois essas transações não estarão limitadas a serem realizadas apenas em instituições que possuem convênio de arrecadação com o governo ou com as empresas concessionárias. Isso vai facilitar demais o dia a dia e até evitará deslocamentos de determinadas IF’s para pagamentos de contas, por serem pagáveis somente nelas. CS: Ele ajudará a promover mudanças neste mercado, porém a velocidade de progresso dependerá de atualizações de processos e tecnologia dos entes governamentais para mudarem seus fluxos de conciliação e controles fiscais, bem como mudanças regulamentares para contratação de entidades financeiras para prestação de serviços. Já no segmento de serviços de consumo, como água, energia e telecomunicações, a sua adequação tende a ser mais rápida. Também cabe salientar que a cultura de pagamentos em espécie, ainda existente, é um freio a uma adequação mais intensiva ao PIX por este meio no curto prazo. Você acredita que o Pix vai acabar com meios de pagamento como o DOC/TED e os boletos? CS : O Pix será uma alternativa à TED (Transferência Eletrônica Disponível) e ao DOC (Documento de Ordem de Crédito). Mesmo com a nova forma de pagamento, no Sicredi, as opções de TED e DOC continuarão disponíveis. O diferencial é que a partir de 16 de novembro os associados terão mais uma opção. Não será uma substituição, e, sim, algo que vem para acrescentar. MVB: Ao longo do tempo, esses meios de pagamentos, assim como o pagamento por cartão de débito, realmente serão os mais ameaçados com a entrada do Pix. Porém, não acredito que irão acabar de uma hora para outra. Haverá um tempo para as pessoas e empresas conhecerem, confiarem e se adaptarem. Entendo que o Pix será complementar aos demais meios de pagamentos existentes que possuem características e facilidades que, em determinados momentos, continuarão fazendo sentido serem utilizados em detrimento ao Pix.   E como ficam os cartões de crédito com a chegada do Pix? CS: Em um primeiro momento, espera-se um baixo impacto nas transações com cartões de crédito, visto que o PIX necessita de disponibilidade imediata do recurso financeiro em conta corrente. Já o cartão de crédito se equivale a um instrumento de crédito, que visa o financiamento/parcelamento de compras de maior valor, pagamento em até 40 dias das compras do dia-a-dia, além dos benefícios e programas de recompensas muito valorizados pelos usuários de cartão. MVB:  Os cartões de crédito possuem características comerciais, como por exemplo: comprar com pagamento em data futura, possibilidade de parcelar uma compra e ainda participar de programas de fidelidade robustos que ainda não são contemplados pelo Pix. Com isso, eles ainda terão uma representatividade muito forte no dia a dia de compras da população e de empresas. É sempre importante destacar que o Pix possui características e facilidades que promoverão sua utilização pelas empresas/pessoas, mas os meios de pagamentos atuais estão bem consolidados e com características que facilitam o dia a dia, trazendo benefícios aos usuários. Portanto, haverá uma convivência entre eles. A chegada do Pix seria possível sem a participação do Banco Central? CS: O Sistema Financeiro Nacional (SFN) já vinha na direção de criar recursos semelhantes ao Pix, algo que vem sendo impulsionado há alguns anos pela disseminação do conceito de Open Banking. No entanto, o Banco Central exerce papel fundamental para a implementação de uma inovação como essa em grande escala e de modo que os princípios éticos concorrenciais sejam respeitados. MVB: O papel do Banco Central está sendo fundamental para a implementação do Pix, pois, mais do que atuando como um órgão regulador, ele está sendo o grande orquestrador de todo o processo, estruturando grupos de trabalho que envolvem todos os segmentos do mercado, realizando eventos de divulgação e criando uma regulamentação que permite um aumento expressivo da competitividade no uso de meios de pagamento no Brasil. Sem dúvida, a atuação até então do Banco Central será um dos principais pilares de sucesso do Pix. Agora, cabe às instituições exercerem o grande papel de fornecedores das soluções de uso do Pix, sendo esse o segundo pilar. Como o terceiro e mais importante, serão as empresas e a população que deverão compreender o Pix como um grande facilitador do seu dia a dia de transações financeiras e utilizá-lo cotidianamente.
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Guga: um brasileiro como nós

Se tem uma coisa que me dá alegria é ser brasileira. A gente tem a Floresta Amazônica, maior reserva do mundo de plantas, de pássaros e de água. Também tenho orgulho das pessoas que moram aqui e fazem bem para muitas outras pessoas. Gente que acredita que sorrisos contagiam e se multiplicam rapidamente. E falando em sorriso e orgulho, vem logo a imagem de um jovem BRASILEIRO que deu orgulho demais para o nosso país: Gustavo Kuerten. Eu ainda estudava jornalismo e, nos intervalos das aulas na Universidade Católica de Pelotas (RS), assistia um cabeludo pouco preocupado com a postura de um tenista, um tanto extravagante, surpreender nas quadras de Roland Garros. O que mais me impressiona no Guga não é o fato de ele se  sagrar campeão de Roland Garros aos 20 anos. O que me impressiona é o fato de ele ter conseguido ganhar o coração de tantos brasileiros, virar uma celebridade e continuar sendo o Guga. Foi o número 1, sim, mas não viveu como tal. Segue curtindo como um cara normal e deu um exemplo a todos nós de que o sucesso pode ser conquistado sem perder o CARISMA e a simpatia.  Ele é uma pessoa que soube lidar com a vida e não esconde suas emoções. Um homem TRANSPARENTE, SIMPLES, que luta para se manter fazendo o que gosta. Não foram poucos os sacrifícios imperfeitos por ele. Cirurgias nos quadris, incontáveis sessões de fisioterapia. Mas Guga transformou as dificuldades em aprendizados, as tristezas em combustível e o luto em inspiração. Aprendeu cedo que a vida nos desenha caminhos novos.  Ele sempre entendeu que para chegar mais longe, para ser campeão, além de toda a disciplina possível,  precisava da FAMÍLIA e das outras pessoas. Em casa, seu irmão mais novo mostrou que força e persistência eram necessários. Guilherme Kuerten nasceu com paralisia cerebral. Engatinhar ou segurar um garfo foram conquistas que exigiram dele muita dedicação e persistência. Guga observava e admirava o irmão. O pai jogava tênis e foi com ele que Guga, aos 6 anos de idade, conheceu a bola e a raquete que o tornariam vencedor de três torneios de Roland Garros. Esse pai, que foi sua maior inspiração, partiu cedo e Guga precisou continuar. Encontrou em seu treinador, na mãe, na avó e no irmão Rafael força para não desistir dos sonhos.  Ele sabia que tinha pessoas dispostas a lutar com ele e isso deu força e esperança para seguir. Guga fez um bem para o Brasil mostrando que conseguimos ir mais longe quando compartilhamos nossas vitórias. E por isso o cooperativismo se apaixonou por Guga e descobriu que também pode ser assim: simples, descomplicado, HUMILDE e motivo de orgulho para todos . Guga continua dando orgulho para nós e, quando ele falar em cooperativismo, ficará fácil entender porque os seus valores pessoais tem tudo a ver com o nosso jeito de fazer negócios — alicerçado em solidariedade, responsabilidade, democracia e igualdade. Sua fundação tem gerado oportunidades de inclusão econômica e social às pessoas, e já transformou a vida de mais de 62 mil pessoas. Era de uma força assim que o cooperativismo precisava. Juntos, vamos mostrar que o cooperativismo pode fazer a diferença na retomada da economia que vai precisar muito de foco, DETERMINAÇÃO, persistência e SOLIDARIEDADE. Vamos juntos em um grande movimento que não quer deixar ninguém para trás, que se preocupa com o outro, valoriza a construção coletiva, e que está totalmente em sintonia com o que o mundo busca hoje.   [caption id="attachment_76739" align="alignnone" width="1280"] Arquivo Pessoal: Daniela Lemke - Gerente de comunicação do Sistema OCB[/caption]
Esta matéria foi escrita por Daniela Lemke e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
       

Vem ser coop! Tudo ao seu redor já é!

Já está no ar, em todo o Brasil, a primeira campanha nacional de divulgação do cooperativismo. E ela tem como embaixador Gustavo Kuerter, o Guga, um atleta ético, ligado à família, cuidadoso com as pessoas e consciente de que toda conquista duradoura depende do trabalho duro. Enfim, um brasileiro que tem tudo a ver com os valores do nosso movimento.   [embed]https://www.youtube.com/watch?v=ww-DEiEzFOk[/embed]
  Para mim é sempre especial trabalhar com o cooperativismo, porque está dentro da nossa filosofia de colaborar e trabalhar em equipe. Há praticamente 10 anos nós iniciamos uma parceria com uma cooperativa que fez todo o sentido, porque podemos aprender ainda mais sobre esse tema. Eu me sinto muito confortável em poder falar sobre o cooperativismo, porque é algo que vem desde a nossa infância dentro de casa, passando pela carreira no esporte, até a filosofia da nossa empresa”, explica Guga.
Idealizada pelo Sistema OCB e assinada pelo movimento SomosCoop, a campanha publicitária tem quatro objetivos principais:
  1. Difundir o cooperativismo para a sociedade;
  2. Estimular potenciais empresários a adotarem o cooperativismo como modelo de negócio;
  3. Incentivar as cooperativas a adotarem o carimbo SomosCoop;
  4. Fazer nosso público interno cada vez mais engajado e orgulhoso de ser coop.
Para o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, a campanha teve outro significado especial: “O Brasil pós-pandemia precisará de mais cooperação e do cooperativismo para voltar a crescer.  Era fundamental posicionar nosso modelo de negócios agora, mostrando a todos os brasileiros que já estamos presentes nos principais setores da economia, fazendo o possível para melhorar as vidas de todos os brasileiros”.
 
DIVULGAÇÃO EM ONDAS
Para garantir a visibilidade do cooperativismo tanto em meios tradicionais, como TV e rádio, quanto nas internet, nossa campanha será dividida em duas ondas. A primeira delas acontece na primeira quinzena de novembro e a segunda na primeira quinzena de janeiro (veja imagem).
No intervalo entre as ondas teremos a sustentação exclusivamente on-line, nas redes sociais”, explica a gerente de comunicação do Sistema OCB, Daniela Lemke. “Após a campanha, continuaremos contando com a imagem do Guga em nossa comunicação”.
Vale destacar, atualmente, o tenista lidera, ao lado do irmão, uma holding que tem como visão semear bons princípios e como missão gerar oportunidades e negócios com responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Uma sintonia total com o nosso modelo de negócios.   -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- COMO ESTAMOS NOS APRESENTANDO NA CAMPANHA? Todas as peças publicitárias destacam: o cooperativismo é um movimento feito por pessoas e para pessoas. E ele já está em toda parte, gerando trabalho, emprego e renda para milhares de brasileiros. Além disso, nosso embaixador esclarece que, no cooperativismo, a rede (de pessoas) está sempre a nosso favor, colaborando com a construção de uma sociedade mais justa, ética e sustentável. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- __________________________________________________________________________________________________________________________ COOPERATIVISMO EM NÚMEROS
  • 50 milhões de brasileiros

    estão ligados de alguma forma a uma cooperativa. Esse número equivale a 25% da população brasileira, se somarmos o número de cooperados, familiares, empregados e fornecedores diretos;
  • 425,3 mil empregos

    gerados
  • R$ 7 bilhões injetados na economia por meio de impostos e tributos recolhidos

  • 828

    cooperativas
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Esta matéria foi escrita por Guaira Flor e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 

Prevenção é sempre melhor remédio

Iniciativas aparentemente simples são, sim, capazes de mudar a vida de muita gente. Prova disso é o projeto Viver Bem na Escola, da cooperativa Unimed Brusque, de Santa Catarina, vencedora do Prêmio SomosCoop 2018 na categoria Cooperativa Cidadã. O objetivo do projeto era promover a conscientização de 650 estudantes do 5º ano ao Ensino Médio da escola Francisco de Araújo Brusque, na área de saúde sexual e reprodutiva. A comunidade escolar participou de palestras e oficinas sobre gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis (DST). Além disso, a Unimed Brusque ofereceu consultas médicas e ginecológicas gratuitas para as alunas da escola e elaborou apostilas na linguagem dos jovens estudantes. Resultado? Em apenas dois anos, a iniciativa conseguiu reduzir em 80% o número de adolescentes grávidas da escola.
"Já pensamos inclusive em ampliar o projeto para outras escolas porque percebemos o impacto positivo que ele tem na vida e no futuro das adolescentes. É uma iniciativa que dialoga com o nosso negócio, ou seja, com a promoção de saúde”, comemorou Camile Bruns, que coordenava a área de Responsabilidade Social da Unimed Brusque na época da premiação.
Um dos segredos do sucesso do programa é a multiplicação de conhecimento entre as próprias alunas. Após aprenderem sobre métodos contraceptivos e DST, elas passam esse conhecimento para as amigas de outras turmas. Tudo de um jeito muito simples e fácil de entender, para garantir a adesão do maior número possível de meninas. Depois de vencer o Prêmio SomosCoop 2018, a Unimed Brusque intensificou o projeto, ampliando-o para o público masculino. Uma maneira de abrir o diálogo da prevenção da gravidez também com os adolescentes do sexo masculino. Afinal, eles precisam entender que a contracepção não é uma tarefa exclusiva das meninas, que acabam sendo culpabilizadas em caso de gravidez.
Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Uma cidade dentro da escola

Imagine uma cidade construída no interior de uma escola! Com prefeitura, mercado, banco, uma cooperativa e tudo o que uma comunidade deve ter. Pois essa minicidade existe, dentro do Colégio CEM (Cooperativa Educacional Magna), fundado por 36 professores da região de Concórdia, em Santa Catarina. O projeto teve início em maio de 2007, com o objetivo de fazer os alunos experimentarem na prática a vida em comunidade. Para tanto, criou-se uma pequena cidade com pólos de vivência em áreas como cultura, política, finanças e comércio. Lá, os quase 500 alunos da instituição são estimulados a aplicar os princípios da cidadania e da cooperação em atividades que envolvem todas as disciplinas curriculares. O projeto deu tão certo que virou referência nacional em metodologia psicopedagógica. A presidente da cooperativa, Elizeth Pelegrini, conta que o projeto permitiu uma maior integração entre associados, estudantes e a comunidade escolar, com excelentes resultados.
Nós temos a oportunidade de vivenciar todos os dias o cooperativismo na nossa instituição. Os alunos podem colocar em prática o que aprendem em sala de aula e aplicar isso ao longo da vida. O potencial de difusão do cooperativismo é enorme”, comemora Pelegrini.
Uma das iniciativas já realizadas com os alunos: envolvê-los na vivência do processo eleitoral. Eles puderam participar de uma campanha interna para eleger quem seriam os responsáveis pela administração da cidade. As instalações e as atividades curriculares foram adequadas para que as iniciativas dos pequenos gestores pudessem sair do papel, guiadas por valores do cooperativismo como criatividade e consciência crítica.  
Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Capacitar para crescer

[caption id="attachment_76439" align="aligncenter" width="717"] * Valdir Simão, advogado, ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU) e ex-ministro do Planejamento Orçamento e Gestão * Aldo Leite, advogado e assessor jurídico do Sescoop Nacional[/caption]   Toda cooperativa já nasce com algumas marcas inerentes ao nosso DNA: qualidade, força e integridade são algumas delas. Outras características são desenvolvidas com o tempo, como a excelência da gestão, a eficácia dos processos e a habilidade de olhar de maneira estratégica e sustentável para a condução dos negócios. E é para ajudar o cooperativismo a evoluir nesses últimos aspectos contamos com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) — serviço social autônomo, com personalidade jurídica de direito privado, instituído a partir da Medida Provisória 1.715/98, e respectivas reedições. Em atividade desde 1999, o Sescoop foi criado para aperfeiçoar a governança, a gestão e as atividades de responsabilidade socioambiental das cooperativas brasileiras. Até então, nosso modelo de negócios avançava de forma intuitiva, sem um modelo de governança e planejamento estratégico estruturados. Com o lançamento do “S” cooperativista , o governo federal e as cooperativas brasileiras esperavam alcançar um novo patamar de gestão e profissionalização da base de cooperados e colaboradores.  Mas será que isso de fato aconteceu? Para discutir os reais impactos do Sescoop no cotidiano das cooperativas brasileiras, entrevistamos dois profissionais da Lei: o ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), Valdir Simão, que também já ocupou o cargo de ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão (2015-2016), e o  assessor jurídico do Sescoop, Aldo Leite.   Saber Cooperar: O que mudou para as cooperativas brasileiras após a criação do Sescoop? Valdir Simão: A partir da criação do Sescoop, o sistema cooperativista passou a contar com um instrumento para a promoção da cultura cooperativista e para a formação profissional e desenvolvimento gerencial das cooperativas e seus associados. Investindo fortemente em estratégia e na integração do sistema, o Sescoop vem pavimentando o caminho para o desenvolvimento contínuo do modelo cooperativista brasileiro, que apresenta índices de crescimento surpreendentes. Aldo Leite: Antes da criação do Sescoop, os empreendimentos cooperativos não tinham o suporte adequado e específico para suas necessidades de aperfeiçoamento da gestão e capacitação de seus empregados. A depender do ramo de atuação, elas tinham de buscar ajuda em  diversas outras instituições — públicas ou privadas — que não compreendiam muito bem a essência e os princípios cooperativistas, como a autogestão e a estrutura de governança própria das cooperativas. O Sescoop mudou esse quadro e passou a desempenhar um papel importantíssimo na oferta de soluções para a sustentabilidade do nosso modelo de negócios [veja encarte especial sobre o Sescoop].   No atual contexto de reformas políticas e econômicas, qual seria o principal desafio do Sescoop? V.S: As cooperativas têm, em seu DNA, o empreendedorismo. A formação de profissionais com essa característica é fundamental para o nosso desenvolvimento econômico e para a diminuição da dependência estatal. E esse é justamente um dos objetivos estratégicos do Sescoop: capacitar pessoas. Ao participar de vários segmentos da economia nacional, o sistema cooperativista contribui para estimular a produtividade e competitividade, em prol do consumidor e do país. A.L: A economia brasileira está passando por um processo de ressignificação. Diversos processos estão sendo reestruturados  e a qualificação profissional é o eixo motor desse processo. Nesse sentido, o Sescoop pode contribuir significativamente para o crescimento e aumento da importância das cooperativas na economia brasileira, criando novas oportunidades de geração de renda e trabalho para a população.   E em relação à melhora da eficiência e da gestão das cooperativas, qual o papel desempenhado pelo Sescoop? V.S: O papel é central, de identificação e disseminação de boas práticas de gestão e formação de pessoas, o que garante eficiência e entrega de bons resultados. A.L: O Sescoop detém papel importantíssimo na melhoria da gestão e da governança dos empreendimentos cooperativos, ajudando inclusive na projeção das cooperativas brasileiras no cenário econômico nacional e internacional. Fazemos isso por meio de programas próprios de capacitação, como o Programa de Desenvolvimento da Gestão Cooperativa (PDGC), mas também por intermédio de parcerias firmadas com diversos atores nacionais, como o Banco Central do Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação Unimed, Fundação Sicredi, dentre outros. Também firmamos parcerias voltadas ao fortalecimento do cooperativismo com atores internacionais, a exemplo da Organização das Nações Unidas (Onu), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Confederação Nacional das Cooperativas da Alemanha (DGRV), dentre outros.   Existe diferença entre a chamada “governança cooperativista” e a governança corporativa das empresas tradicionais? V.S: Governança, gestão de riscos e controles são ferramentas essenciais para organizações de qualquer natureza, públicas ou privadas, de fins lucrativos ou não. Os princípios da boa governança aplicados em empresas privadas devem ser aplicados também nas cooperativas, para garantir um processo decisório equilibrado, transparência e accountability. A.L:  Não obstante os princípios aplicáveis à boas práticas de governança e gestão sejam universais, transversais e essenciais, temos de ter a clareza:  enquanto o modelo de governança corporativa visa atender aos interesses dos sócios ou acionistas das sociedades empresarias em geral, a governança cooperativista é um modelo de direcionamento estratégico fundamentado nos valores e princípios cooperativistas. Portanto, tem um impacto mais positivo no ambiente ao qual está inserido, pois visa garantir a execução dos objetivos sociais e assegurar a gestão das cooperativas de modo sustentável, e em consecução com os interesses dos associados. As boas práticas da governança cooperativista — além de seguir os princípios gerais e boas práticas de governança e gestão — observam princípios próprios, dentre os quais ressalto a autogestão, bem como diversos outros regramentos próprios disciplinados na própria Lei 5.764/71. Além disso e a depender do ramo de atuação, observam-se regras/resoluções de agentes públicos normalizadores, a exemplo do Banco Central para as instituições financeiras cooperativas e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para as cooperativas de saúde. Por isso o Sescoop fomenta tão fortemente o aperfeiçoamento e as boas práticas de governança e gestão nas cooperativas. Acreditamos que essas boas práticas ajudarão no avanço e no fortalecimento das cooperativas e, com isso, a comunidade em volta da cooperativa também será beneficiada.   Todos os anos, o Sescoop realiza a capacitação técnica de milhares de cooperados e  trabalhadores de cooperativas. Na sua opinião, a forma de atuação e disponibilização dessas informações está satisfatória? Onde é possível melhorar? V.S: É satisfatória, mas sempre é possível melhorar, com olhar voltado para as novas tecnologias e para as necessidades do mercado, em constante evolução. A.L: Sabemos que a atuação e disponibilização das informações, em qualquer instituição, precisa estar em constante processo de evolução e interconexão.  As ferramentas e os resultados obtidos pelo Sescoop precisam ser melhor divulgados à sociedade. Temos muito a contribuir com a sociedade e a economia brasileiras e precisamos divulgar melhor nossas ações.   Sabemos que toda e qualquer organização, seja privada ou pública, pode e deve otimizar recursos e revisitar seus custos periodicamente. Na sua opinião, como o Sescoop pode melhorar nesse sentido? V.S: Inovando e refletindo continuamente sobre o seu modelo de atuação, para identificar novas formas de atuação, em especial com a utilização de tecnologia, bem como para gerar sinergia na utilização dos recursos e das estruturas de cada unidade de negócio. A.L: Como já dito, toda e qualquer organização, seja ela pública ou privada, deve promover e incentivar a otimização de seus recursos. E o Sescoop já vem trabalhando nessa tônica há alguns anos. Criamos, por exemplo, um centro de serviços compartilhados que centralizou na unidade nacional, em Brasília, os serviços de processamento da folha de pagamento e  contabilidade dos estados. Com isso, conseguimos liberar as equipes das unidades estaduais, que são reduzidas, para se dedicarem ao atendimento das cooperativas. Destaco, ainda, que outras iniciativas estão em processo de reflexão e discussão interna. Estamos, inclusive, dialogando com alguns Ministérios do novo governo, no sentido de estruturar uma cadeia de formação e qualificação profissional que fomente a sustentabilidade, colocação ou recolocação profissional dos trabalhadores de cooperativas.   Quais são as expectativas para o Sescoop e para as nossas cooperativas nos próximos anos? V.S: Tenho confiança que o sistema continuará crescendo de forma sustentável. O cooperativismo já é compreendido pela sociedade e pelos governos como modelo de negócio capaz de gerar valor aos associados e produzir bens e serviços de qualidade. Também gera oportunidade de entrada no mercado de trabalho para aqueles que pretendem desenvolver determinada atividade econômica mas dependem de algum tipo de cooperação para isso. Esse desenvolvimento contínuo tem como motor propulsor o Sescoop, seja na formação profissional ou na qualificação gerencial das cooperativas. A.L: Minhas expectativas para o Sistema Cooperativista Nacional são as melhores possíveis, já que é visível e significativo o crescimento e participação das cooperativas no cenário econômico nacional e internacional. O mundo tem buscado alternativas para um crescimento consciente e sustentável. E cada vez mais, pessoas e organizações se engajam nesse propósito. Segundo estudo da Nielsen Global de Responsabilidade Social Corporativa, 66% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços advindos de instituições/empresas comprometidas com  impacto social e ambiental positivos. E o cooperativismo é uma alternativa extremamente conectada, desde o início, com esse tema  e com seus princípios, já que estamos falando de adesão livre e voluntária, gestão democrática, intercooperação, interesse pela comunidade, dentre outros. Especificamente em relação ao Sescoop, posso afirmar com a certeza de quem trabalha há 10 anos no Sistema S: fazemos muita diferença na vida dos dirigentes, cooperados e empregados das cooperativas. Os números de crescimento do cooperativismo são fruto direto da atuação do Sescoop na melhoria da gestão e governança das cooperativas.   ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O Sescoop é parte do Sistema OCB, composto por  três instituições complementares entre si, mas com desafios distintos: MISSÃO Sescoop          promover a cultura cooperativista e o aperfeiçoamento da gestão para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras. OCB                promover um ambiente favorável para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras, por meio da representação político-institucional. CNcoop          defender o cooperativismo e os interesses da categoria econômica das cooperativas brasileiras. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Hiperlink 01: Termo que define um grupo de instituições paraestatais dedicadas à capacitação, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica da principais categorias econômicas existentes no país, incluindo o cooperativismo. Hiperlink 02: expressão inglesa que pode ser livremente traduzida como “prestação de contas” ou “responsabilização da gestão”. Consiste na boa prática de apresentar aos públicos  interessados (acionistas, clientes, fornecedores etc.) os resultados financeiros e as decisões estratégicas tomados por uma organização, pública ou privada, durante a condução dos negócios.  
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 

O coop é pop

Nos últimos anos ele vestiu atrizes para o tapete vermelho de prêmios do cinema internacional. Esteve no Vaticano, onde foi elogiado pelo próprio papa Francisco. Participou do Prêmio Nobel da Paz. Fez até uma ponta em novela do horário nobre e firmou parceria com grandes nomes do design brasileiro. Poderíamos estar falando de algum artista, mas estamos falando de um velho conhecido: o cooperativismo. No início de 2018, o Papa Francisco fez uma declaração que emocionou quem é coop de coração.
As cooperativas são inovadoras e criativas e promovem uma matemática em que 1+1 é igual a 3", disse o pontífice.
Na ocasião, ele ainda destacou como o cooperativismo transforma realidades sociais e combate práticas de mercado injustas. Mas esta não foi a primeira vez que Francisco mencionou o cooperativismo. Em 2015, ele associou o princípio da solidariedade – parte da doutrina social da Igreja Católica – com o trabalho das cooperativas e elogiou sua busca “pela relação entre a economia e justiça social” observando “sempre a pessoa e não o dinheiro”. Mais cedo, no mesmo ano, ele já havia afirmado que cooperativas “têm enfrentado as dificuldades da crise econômica com os seus meios, unindo forças, e não às custas de outros.” No Brasil, em 2016, a mensagem cooperativista chegou às casas de milhões de telespectadores que acompanharam a novela “Velho Chico”. Na trama, o protagonista Santo (interpretado pelo saudoso Domingos Montagner) foi eleito presidente de uma cooperativa de pequenos produtores agrícolas que enfrentava os desmandos de um coronel. Quando Santo desapareceu, seu filho Miguel (Gabriel Leone) passou a liderar a cooperativa, enfatizando o desenvolvimento sustentável. "Você concorda em continuar produzindo do jeito convencional? Jogando veneno na terra? No rio? Extraindo o resto de vida do solo?", questionava em cena. Além de estar na pauta do dia, o cooperativismo tem mostrado sua popularidade com o interesse crescente de personalidades, empresas e entidades do terceiro setor, que cada vez mais buscam se associar ao que as cooperativas defendem: comércio justo, desenvolvimento econômico com responsabilidade social e sustentabilidade. A atriz Emma Watson, embaixadora da boa vontade das Organizações das Nações Unidas (ONU) costuma ir a eventos de gala com vestidos feitos por marcas “eticamente responsáveis”. Ou seja, marcas que evitam promover sofrimento e desgaste no processo de fabricação de seus produtos, levando em consideração tanto recursos naturais quanto humanos. Uma de suas parceiras é a Zady , marca parceira de cooperativas que produzem tecidos na Índia e em fazendas de orgânicos nos Estados Unidos. A Fundação  Nobel — responsável pelos Prêmio Nobel da Paz, de Química, Física, Medicina e Literatura — também contrata, desde 2015, duas cooperativas mineradoras colombianas para fazer suas medalhas: a Codmilla Cooperativa  e a Cooperativa Agromineradora de Iquira. “É um reconhecimento do trabalho árduo, porém decente, que estamos fazendo em uma comunidade tradicional mineradora para garantir o sustento de nossas famílias e o desenvolvimento de nossas comunidades. Todos os dias arriscamos nossas vidas nas profundezas das montanhas e, além disso, é um desafio viver em paz em um país com tantos conflitos”, disse Harbi Guerrero, membro da Codmilla, por ocasião do segundo ano de fabricação das medalhas do Nobel. Com a repercussão gerada pelo prêmio, ambas as mineradoras passaram a ser contratadas por marcas de joias eticamente responsáveis de todo o mundo.   DESIGN COOPERATIVO [caption id="attachment_76428" align="alignnone" width="1920"] Crédito: Getty Imagens[/caption]   No Brasil, no coração da Amazônia, uma cooperativa vinculada ao Sistema OCB chamou atenção de alguns dos maiores designers de móveis brasileiros da atualidade. Desde o início de 2017, a Cooperativa Mista da Floresta Nacional dos Tapajós (Coomflona) <abre hiperlink>  tem recebido designers brasileiros de renome internacional para sessões de capacitação e eventuais parcerias comerciais. Pelo menos dez designers como Leo Lattavo (Lattoog), Zanini de Zanine (Studio Zanini), Carlos Motta e Paulo Alves fizeram imersão de troca de conhecimentos com os cooperados. Os cursos foram ministrados em parceria com o Instituto BVRio, uma ONG do setor ambiental, Todos os 203 cooperados da Coomflona são moradores tradicionais da floresta ou indígenas. Eles fazem manejo florestal comunitário, com foco principal no manejo madeireiro, e tiveram a ideia da parceria ao observar que, em grandes centros brasileiros, há interesse e demanda por produtos sustentáveis, tanto do ponto de vista ambiental quanto social. Uma descoberta feita quase que por acaso, quando os cooperados buscavam maneiras de aproveitar 100% da madeira extraída de forma sustentável da floresta. De acordo com o analista ambiental da Coomflona, Angelo Ricardo Chaves, a primeira tentativa nesse sentido ocorreu com a  abertura de uma loja de móveis produzidos com pedaços de madeira em formato natural. O estabelecimento foi aberto em Santarém (PA) com recursos de um programa do governo federal para a geração de renda às populações de unidades de conservação federal. As vendas, no entanto, não foram tão bem quanto o esperado. "Vimos que em Santarém não havia vantagem em vender, pois o pessoal aqui não valorizava tanto o aspecto sustentável. A região tem muitos móveis feitos a partir de madeira ilegal ou com madeira não certificada, que são mais baratos justamente por não respeitarem a natureza”. A Coomflona, ao contrário, tem certificação FSC —sistema de garantia internacionalmente reconhecido, que identifica produtos madeireiros e não madeireiros originados do bom manejo florestal. Ao perceberem que não tinham demanda local, os cooperados começaram a procurar parceiros na região Sudeste, onde acreditavam que os produtos com certificação ambiental seriam mais valorizados.
Fomos buscar parcerias para desenvolver um projeto de promoção comercial. Não queríamos apenas compradores, mas pessoas que entendessem que a nossa madeira vem de uma comunidade tradicional, que é certificada, e cujo manejo preserva a floresta, zela por suas populações e gera benefícios socioambientais. Queríamos pessoas que entendessem todo o valor por trás desse trabalho”, explica Angelo.
Ao longo desta busca, alguns cooperados participaram de uma oficina da BVRio. Lá, surgiu a ideia de levar designers para a cooperativa. O projeto Design & Madeira Sustentável foi formatado, então, com o objetivo de levar esses profissionais para transmitirem seus conhecimentos sobre a criação de móveis para a região. Em muitos casos, desses encontros surgiram novas e produtivas parcerias comerciais.   UM OUTRO OLHAR [caption id="attachment_76429" align="alignnone" width="5760"] Crédito: Paulo Alves[/caption]   O designer paulista Paulo Alves esteve na Coomflona em junho de 2018 e desenvolveu peças como mesa de jantar, mesinhas e bancos utilizando galhos e pranchas costaneiras — primeiras pranchas a serem retiradas quando se fatia uma tora. Esses materiais são geralmente descartados por serem irregulares e de difícil aproveitamento em produções convencionais.
A ideia era provocá-los e mostrar possibilidades. Queria que olhassem para a madeira e imaginassem como seria possível criar uma cama, uma cadeira. Ao final da minha estadia, um dos madeireiros me falou: ‘Nunca mais vou conseguir olhar para um galho sem pensar em tudo que dá pra fazer a partir dele’. Isso para mim é o mais interessante”, recorda o designer.
Ainda segundo Paulo Alves, mais do que simplesmente criar uma dinâmica em que a cooperativa forneça mão de obra, o projeto busca capacitá-la a produzir suas próprias peças de design. Ângelo, o analista ambiental da Coomflona, confirma que o principal objetivo é promover “o empoderamento da comunidade por meio da sua história de lutas, de decisão e de território”. Animado, ele conta como foram os primeiros resultados da parceria com Paulo Alves: “Ele acabou desenhando um projeto sofisticado para a gente desenvolver, fizemos um protótipo e fomos a São Paulo visitá-lo e acompanhá-lo numa feira de design. Ele nos disse que estamos preparados para competir no mercado nacional, para estar com grandes designers. Foi legal ver que o nosso trabalho não tem sido em vão e que estamos oferecendo o que pessoas que têm consciência ambiental estão buscando.”   MARKETING SOCIAL [caption id="attachment_76430" align="alignnone" width="1024"] Crédito: Shutterstock[/caption]   O pesquisador de marketing e cooperativismo Rumeninng Abrantes, professor da Universidade Federal do Tocantins, considera que ao divulgar ações que naturalmente já adotam, as  cooperativas acabam por melhorar sua imagem perante à sociedade. Em paralelo, conseguem agregar valor aos seus produtos.
O sétimo princípio do cooperativismo, que é o interesse pela comunidade, é um tipo de marketing social. Então algo que as cooperativas já fazem como obrigação, como princípio, pode fazer com que elas sejam vistas com outros olhos”, explica.
  Esta é a aposta da Coomflona: focar no consumo consciente como tendência que os consumidores mais atentos já têm buscado. Além das sessões de capacitação, o projeto Design & Madeira Sustentável prevê participação em feiras de negócios, a realização de uma exposição em 2019 e a produção comercial de algumas peças. Carlos Motta, o primeiro designer a visitar a Coomflona já colocou no mercado uma linha de 12 bowls e 3 modelos de bancos produzidos na Coomflona. A cooperativa trabalha, agora, na implementação de uma serraria para poder dar melhor tratamento e finalização às peças e para aumentar a escala de produção. Atualmente, desenvolvem apenas peças sob encomenda e têm em designers, hotéis e construtoras seus principais clientes. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Coomflona desenvolve móveis apenas sob encomenda. Para saber mais, procure por Comflona na internet, ou mande um e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.  consumo consciente ou sustentável envolve a busca por produtos ou serviços social e ecologicamente corretos. Ele é caracterizado por quatro dimensões: consciência ecológica, economia de recursos, reciclagem e planejamento do consumo para evitar quaisquer tipo de desperdício -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------    
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Aliada do Campo

Tereza Cristina foi a primeira mulher confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro para os seus Ministérios. Para ela, foi reservada uma das pastas mais estratégicas: a da Agricultura, Pecuária e Abastecimento — um justo reconhecimento à trajetória de uma liderança que começou a vida profissional muito jovem. A família de Tereza já tinha um histórico no agronegócio em sua terra natal, Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Visionária, ela quis continuar essa história e optou por cursar a faculdade de engenharia agrônoma na Universidade Federal de Viçosa (Minas Gerais). Logo que se formou, mudou para São Paulo e já começou a colecionar um extenso currículo dedicado à área agrícola e ao setor de alimentos. Determinada ao cuidar dos negócios da família, decidiu voltar a Mato Grosso do Sul. Assumiu a administração, profissionalizou a gestão e segmentou os negócios. Para o secretário executivo do ministério, Marcos Montes, a determinação é um dos traços característicos de Tereza.
A conheço profissionalmente e pessoalmente. É uma mulher dura, mas serena. Uma mulher meiga, amiga e determinada”, conta.
O dinamismo e comprometimento da hoje ministra foram sendo reconhecidos e ela então começou a ser convidada a participar da diretoria de várias federações e associações que representam o setor agropecuário brasileiro. “A dedicação à área pública sempre esteve presente em minha família”, conta Tereza. Ela é bisneta de Pedro Celestino Corrêa da Costa e neta de Fernando Corrêa da Costa, ex-governadores de Mato Grosso (quando o estado ainda não havia sido separado). Entre 2007 e 2014, Tereza Cristina assumiu a Secretaria Estado de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo do Mato Grosso do Sul (Seprotur). Em sua gestão, conseguiu importantes conquistas para o estado. Uma delas foi tornar o MS livre da febre aftosa. A conquista foi reconhecida internacionalmente por meio da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Nesse período como secretária, a agricultura do Mato Grosso do Sul cresceu 12% ao ano. Em sete anos, o PIB do estado aumentou 152,42%. Os empregos na área industrial também dispararam: o aumento foi de 40,7%. Após essa experiência, foi eleita deputada federal para o seu primeiro mandato pelo estado de Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2015 a 2018. “Meu foco sempre foi o desenvolvimento do país”, afirma. Nesse período, continuou buscando melhorias para o setor agropecuário e para o seu estado. A busca, ela faz questão de enfatizar, sempre foi por legislações mais eficientes e justas.
Buscamos melhorias em questões fundamentais para o setor produtivo nacional, como o crédito rural, investimentos em política agrícola, renegociação de dívidas, fortalecimento das relações comerciais, abertura de mercado para o Brasil, direito de propriedade, dentre outras pautas”, explica.
Em 2018, foi reeleita para a legislatura que se encerra em 2022, mas encontra-se afastada do mandato para se dedicar ao Mapa.   UNÂNIMIDADE [caption id="attachment_76353" align="alignnone" width="853"] Crédito: Guilherme Martimon[/caption]   O nome de Tereza Cristina foi indicado ao presidente Jair Bolsonaro pela Frente Parlamentar da Agricultura.
Nós tínhamos vários perfis. Temos excepcionais parlamentares lá dentro. Mas no pente fino que fizemos, ela preenchia todos esses requisitos. Não havia pessoa mais adequada para assumir essa responsabilidade”, recorda Marcos Montes (MG), então deputado da Frente.
Ainda segundo o secretário, todos ficaram animados com a escolha. “Podemos ver a receptividade com que ela foi recebida em todos os meios. No meio parlamentar, não apenas na nossa Frente, mas em todas as bancadas. Ele também foi muito bem recebida pelos produtores rurais e pelo meio empresarial”, conclui. Naquela época, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, João Martins, também comemorou a escolha. “A deputada sempre atuou na defesa dos produtores rurais brasileiros e agora terá condições de trabalhar ainda mais em benefício do setor”, destacou.   MADRINHA [caption id="attachment_76344" align="alignnone" width="1280"] Crédito: Guilherme Martimon[/caption]   Teresa Cristina sempre teve certeza de que o cooperativismo tem um papel fundamental para o avanço do Brasil. “Hoje as cooperativas têm um papel pujante no crescimento econômico e social do País com enorme representatividade no Congresso Nacional. Para o campo, elas também são o motor do progresso. Promovem oportunidade, geram renda e desenvolvimento sustentável”, argumenta. Justamente por isso, este ano ela foi convidada para ser madrinha do Dia de Cooperar (Dia C) — projeto de responsabilidade social das cooperativas brasileiras que tem por objetivo colocar em prática os valores e os princípios do cooperativismo através de programas para o desenvolvimento social da comunidade onde essas cooperativas estão inseridas. Confira a mensagem que ela enviou para nossas cooperativasno evento:   [embed]https://www.youtube.com/watch?v=s-Cxc2FN1Fc[/embed]
Esta matéria foi escrita por Tchérena Guimarães e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
   

Existe espaço para o cooperativismo de plataforma no Brasil?

Sim, mas ainda pouco explorado. Temos um longo caminho a percorrer, cheio de desafios, até a consolidação de um mercado de economia digital cooperativista. “Quanto mais precária é a relação de trabalho de um país, maior o interesse pela implantação das cooperativas de plataformas  ”, analisa Trebor Scholz, idealizador do conceito. Segundo ele, aqui no Brasil, existem muitas oportunidades na área da educação, da saúde, dos transportes.
O que percebo, tanto aqui quanto em outros países, é que o principal obstáculo à constituição dessas cooperativas ainda são as pessoas. É difícil reunir um grupo, sentar todos em uma sala e fazê-los fechar um acordo. Elas ainda não sabem abrir mão das suas vontades pessoais em prol de um bem maior. Esse é o principal desafio do cooperativismo de plataforma em todo o mundo”, lamenta.
Já o professor-doutor e diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mário de Conto acredita que faltam instrumentos na legislação brasileira para apoiar o desenvolvimento de iniciativas como essas. “Analisando as características da Lei Geral das Cooperativas, evidentemente, há desafios que concernem à novidade do modelo, como formas de efetivar a participação democrática e o processo de tomada de decisões em um contexto digital”, pondera.   BENCHMARKING INTERNACIONAL [caption id="attachment_76307" align="alignnone" width="1170"]  Crédito: Depositphotos[/caption]   Usando o exemplo de experiências nos Estados Unidos, Espanha e França, uma ideia capaz de adubar o terreno para cooperativas de plataforma é a criação de incubadoras dessas empresas nas universidades, organizações não governamentais e dentro das próprias cooperativas. A proposta da incubação é apoiar novos empreendimentos com suporte técnico, jurídico e contábil, muitas vezes oferecendo consultorias e mentorias especializadas na potencialização de um negócio. E foi justamente esse modelo que resultou na criação da Up and Go — cooperativa de plataforma criada para oferecer emprego e renda às mulheres de uma comunidade de imigrantes, em Nova Iorque. A Up and Go possui, hoje, cerca de 40 cooperadas. Graças à plataforma, pela primeira vez desde que chegaram à América, essas mulheres conseguiram uma remuneração justa por seu trabalho. Quem nos conta essa história é Sylvia Morse, gerente de projeto do Center for Family Life (CFL) — organização sem fins lucrativos que realiza a incubação de cooperativas de plataforma na cidade de Nova Iorque. 
 Antes de fazerem parte da cooperativa, essas mulheres ganhavam muito mal e não tinham garantia de serem pagas pelo serviço que prestavam. Às vezes limpavam a residência e o dono dizia estar sem dinheiro para pagá-las na hora. Outras vezes, pagavam as passagens para ir até a casa do cliente e, ao chegar, eram avisadas que ele tinha desistido. Com isso, tinham um prejuízo grande porque não eram ressarcidas pelo deslocamento”
Desde 2006, o CFL capta fundos e oferece suporte técnico e financeiro à criação de cooperativas de plataforma nas áreas de serviços de limpeza e cuidado de crianças pequenas. “Nossa equipe trabalha para ajudar esses trabalhadores a constituírem sua cooperativa, ajudando a definir como deve ser o site, o aplicativo, o atendimento aos clientes, a política de preços e as assembleias de cooperados”, resume Sylvia, que também participou como palestrante do 14º CBC. No caso da Up and Go, por exemplo, cada cooperada recebe 95% do valor pago pelos clientes. Os outros 5% são revertidos para o fortalecimento da plataforma.
Antes, quando trabalhavam como empregadas de outros sites que oferecem serviços de limpeza, elas recebiam bem menos por hora trabalhada. E isso, apesar de o cliente pagar mais caro que na pelo serviço”, constata a gerente do CFL.
Além de ganharem mais como cooperadas e de serem as donas do próprio negócio, as mulheres da Up and Go utilizam os 5% destinados para a plataforma para fortalecerem o próprio negócio e para garantirem alguns benefícios importantes para elas, como cursos de inglês e capacitação profissional. “A cooperativa empodera essas mulheres e muda as vidas delas e a de suas famílias”, comemora Sylvia. De acordo com a norte-americana, as cooperativas têm impactado tão positivamente Nova Iorque que a cidade foi a primeira dos Estados Unidos a criar um fundo exclusivo para o financiamento desse tipo de empreendimento. “As cooperativas de plataforma têm ajudado a incluir públicos que nem sempre encontram boas oportunidades de trabalho no mercado formal, como as mulheres, os negros e os imigrantes. Por isso, elas têm recebido suporte de entidades públicas e privadas para se desenvolverem no meu país”, constata. Sylvia acredita que essas incubadoras de cooperativas de plataforma poderiam funcionar também no Brasil. “Vocês têm uma organização que cuida especificamente do cooperativismo”, diz, referindo-se ao Sistema OCB. “Esse é um primeiro passo importante, porque já existe um centro de referência para os trabalhadores que desejem montar uma cooperativa no país. O próximo passo é buscar apoio de outras organizações públicas e privadas para criar um ecossistema favorável à criação de cooperativas de plataforma no Brasil”, conclui.  
Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e Guaira Flor e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 

Plataforma para o desenvolvimento

O motorista desliza as mãos pelo volante. Os olhos dividem a atenção entre as ruas de Brasília e a tela do celular, posicionado na saída de ar. A notificação avisa: alguém solicita os serviços do rapaz e o carro de lataria vermelha e reluzente transforma-se em instrumento de trabalho. Desde janeiro de 2018, Ezequiel Avelino, de 25 anos, estudante de Gestão Pública, é motorista de aplicativo de transporte de passageiros. Uma forma alternativo de trabalho cada vez mais procurada por quem foge da estatísticas do desemprego, que hoje aflige 13,1 milhões de brasileiros em todo o Brasil, segundo o IBGE. Antes de completar a primeira semana no trabalho, dirigindo de seis a oito horas por dia, Ezequiel tinha transportado cerca de 200 passageiros e os rendimentos ficaram em torno de R$1mil — valor bem próximo ao que ele demorava um mês para embolsar em um ofício formal.
Dirigindo para os aplicativos, posso alternar os meus horários. Se eu não conseguir trabalhar de manhã, vou à noite. Se eu não lucrar bem na semana, posso ir no sábado e no domingo”, explica.
Só existe um problema: ele e tantos outros motoristas de aplicativo estão dividindo o resultado de seu trabalho com os donos da plataforma, perpetuando um modelo de trabalho que explora a mão de obra do trabalhador em busca do maior lucro possível, sem lhe dar nenhuma garantia ou segurança jurídica. Ao perceber essa realidade, pesquisadores dos Estados Unidos e Europa começaram a se perguntar: não seria mais justo que os motoristas fossem os verdadeiros donos do negócio, já que possuem o carro e fornecem a mão de obra? E se os princípios cooperativistas, consolidados na busca por relações mais dignas, justas e solidárias fossem aliados à veia democrática da internet, nascida da noção pública de propriedade coletiva? E se, no contexto de economia compartilhada, pudéssemos desenvolver alternativas de negócios conduzidas por ideais comunitários? E foi para responder a essas perguntas que surgiu um novo conceito: o cooperativismo de plataforma — proposta de empreendimento que combina os princípios e os valores do cooperativismo com o imenso potencial disruptivo das novas tecnologias da informação.   O COMEÇO DE TUDO [caption id="attachment_76300" align="alignnone" width="800"] Crédito: Shutterstock[/caption]   O conceito “cooperativismo de plataforma” foi utilizado pela primeira vez por Trebor Scholz, professor de cultura e mídia associado à The New School  autor do livro Cooperativismo de Plataforma. Ele esteve no Brasil em maio especialmente para o 14º CBC. Em palestra que lotou um dos auditórios do evento, afirmou: o cooperativismo é o modelo de negócios capaz de tornar mais justas as novas relações de trabalho impostas pelo “ubercapitalismo” — nova onda capitalista caracterizada pela supressão do Estado como mediador entre o capital e o trabalho, um modelo que transforma todos em trabalhadores individuais, apartados entre si, cada qual, lutando por sua sobrevivência. Scholz alerta que por trás de todo o conceito “descolado” e engajado da economia compartilhada — que vende aos cidadãos a ideia de que é possível ganhar mais, tendo liberdade de escolher quando e por quanto tempo se quer trabalhar, com a vantagem de não estar subordinado a um chefe direto — existe a crise econômica, o desemprego e a necessidade de complementação de renda. Uma realidade bem conhecida dos brasileiros nos últimos anos. Ainda segundo o autor, essa nova forma de trabalho ofertada por alguns aplicativos de serviço pode ser, na verdade, uma armadilha para a precarização dos direitos do trabalhos.
Eu estudo as mudanças trazidas pela internet no mercado de trabalho desde 2008 e fui percebendo que as relações estabelecidas entre algumas plataformas de serviço e as pessoas são uma nova forma de exploração da mão de obra do trabalhador ainda mais perversa que a anterior, pois lhes tira todos os direitos e benefícios, maximizando ao extremo o enriquecimento dos donos dessas plataformas”, critica.
De fato, de acordo com o IBGE, o rendimento de um trabalhador informal é, em média, 40% menor do que quem atua com carteira assinada. Também é importante lembrar da falta de garantias para os funcionários nessas plataformas de compartilhamento. O que mais preocupa Ezequiel Avelino, motorista de aplicativos, é a segurança. Em uma situação de sequestro ou roubo, enquanto estiver dirigindo, o prejuízo é 100% do dono do automóvel. Por isso, ele pondera ao aceitar corridas em determinados horários e lugares, o que pode colocar em risco sua pontuação nos apps. Em poucos cliques — medido em estrelinhas que variam de uma a cinco — está na mão do consumidor o poder de classificar um motorista da plataforma. Quem ficar abaixo de uma média de corte, que controla a qualidade dos funcionários, pode ter o cadastro suspenso ou cancelado.   POR UMA RELAÇÃO MAIS JUSTA [caption id="attachment_76305" align="alignnone" width="5760"] Crédito: Pexels[/caption]   Outro papa do cooperativismo de plataforma é o professor de estudos de mídia da Universidade do Colorado, Nathan Schneider, coautor do livro Nosso para hackear e possuir: a ascensão do cooperativismo de plataforma, uma nova visão para o futuro do trabalho e uma internet mais justa. Em entrevista exclusiva à Saber Cooperar, ele definiu o cooperativismo de plataforma como “uma comunidade transnacional de usuários-trabalhadores. Uma nova geração de pessoas que entram no movimento cooperativo e tentam usá-lo para criar uma economia on-line mais justa, responsável e democrática”. Scheider defende que a natureza do compartilhamento de informações, software de código aberto, colaboração distribuída e comunicação rápida da internet é não apenas propícia às práticas cooperativistas, como trata-se de uma oportunidade de renovar o espírito transformador da economia cooperativa, fundada há quase dois séculos. Também entusiasta do potencial transformador da internet para o cooperativista, o advogado, professor-doutor e diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mário de Conto, tem pesquisado sobre o conceito no Brasil, com o incentivo do Sistema OCB. Para ele, a modalidade poderia melhorar o desenvolvimento local, sob a forma de trabalho democrático e colaborativo. Tratam-se de iniciativas em que os trabalhadores são proprietários das plataformas, tomam as decisões de maneira democrática através de mecanismos digitais e a distância, de forma muito diferente da experimentada nas cooperativas tradicionais”, explica o pesquisador. Na visão de de Conto, as “CoopTechs” (cooperativas de base tecnológica) podem não apenas incluir quem está de fora da digitalização na troca de serviços, como ajudar a reduzir as desigualdades e a concentração do poder que está nas mãos dos agentes que detêm o capital (o software hoje em dia). “Nesse contexto, o cooperativismo de plataforma tem como principal impacto no eixo social viabilizar a inserção de trabalhadores em plataformas digitais nas quais eles tenham maior possibilidade de definir suas margens de retorno e fazer sua autogestão”, avalia. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- NÚMEROS Existem pelo menos 350 Cooperativas de plataforma ao redor do mundo  26 Países já colocaram a ideia em prática, incluindo o Brasil USS 1 milhão Valor aportado pelo Google para o financiamento de cooperativas em 2019 --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e Guaira Flor e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 

Quantidade Com Qualidade

Além de gerar novos postos de trabalho, as cooperativas financeiras mantêm a preocupação constante de aperfeiçoar seu quadro de pessoal. Em 27 anos atuando no setor, o diretor executivo do Sicredi União (PR/SP), Rogério Machado, perdeu as contas de quantos cursos fez com o apoio do sistema cooperativista. Só pós-graduações, foram três — a mais recente, um MBA Executivo na Fundação Dom Cabral, na qual ele atualmente é mestrando em Gestão Empresarial. As visitas para conhecer boas práticas de cooperativas nos Estados Unidos, na Inglaterra e em Singapura também foram muitas.
Minha evolução enquanto profissional se confunde muito com o próprio desenvolvimento do Sicredi e a necessidade de busca por novos conhecimentos e metodologias que pudesse aplicar aqui. Sempre tive aqui muito apoio, tanto de me darem força e incentivo quanto financeiro”, conta.
O acesso aos estudos fomentados pela cooperativa foram, além de uma ferramenta profissional, uma conquista pessoal. Rogério, que veio de família humilde, começou a trabalhar como auxiliar de oficina mecânica aos 14 anos e sempre quis crescer por meio dos estudos, pois essa era a orientação dos seus pais. “Eles diziam que a gente precisava buscar crescer, enquanto pessoa, por meio dos estudos”, conta. Hoje, homem feito, tenta cultivar no Sicredi União a cultura de aperfeiçoamento que um dia lhe foi passada. Atualmente, a cooperativa tem um curso de MBA somente para os colaboradores, chamado Academia Cooperativa. A primeira turma forma-se em outubro deste ano. E há também uma Escola de Talentos, que funciona com pequenos módulos de formação ao longo de 12 meses, e todos os funcionários participam. Além disso, Rogério destaca que, antes de colocarem a mão na massa, todos os novos funcionários passam quinze dias de trabalho em um projeto de integração:
Eles têm esse tempo para conhecer a cultura cooperativa e enxergarem que, no cooperativismo, as pessoas são valorizadas pelo que são, e não pelo que têm. Isso ressignifica a forma como se veem como profissionais. Por isso, nossos profissionais atuam com paixão e engajamento em tudo o que fazem”.
Na avaliação do executivo, essa é uma forma de manter coesão na cooperativa — que tem 1.300 funcionários (300 contratados somente em 2019 para 25 novas agências) e é uma das quatro maiores do Brasil. “Construímos isso com respeito aos colaboradores, humildade nas nossas ações e coerência naquilo no que somos. Passamos para o time nosso posicionamento no mercado, de maneira clara. Aqui, buscamos não só o desenvolvimento técnico das pessoas, mas o interpessoal”  
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Oásis Na Crise

Existe uma ilha de oportunidades de trabalho em meio à crise econômica que atinge o Brasil. Enquanto o setor privado demite e o Brasil convive com um índice de desemprego de 12,5% — segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) —, as cooperativas financeiras abriram 20,5 mil novos postos de trabalho entre 2014 e 2018. Um crescimento de 19,7%, bem acima da média nacional para o período (5%), superando até mesmo a média geral do cooperativismo (17%), segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2018. Hoje, o setor emprega 67,3 mil pessoas. Na contramão do desemprego, está contratando em vez de demitir. Para a gerente técnica do Sistema OCB, Clara Máfia, o aumento do emprego nas cooperativas financeiras deve-se à expansão do setor e à abertura de novos postos de atendimento.
É um movimento interessante, pois, enquanto os bancos tradicionais estão caminhando no sentido da completa digitalização do relacionamento com o cliente, o cooperativismo financeiro — mesmo adotando a tecnologia —, faz questão de manter uma relação de proximidade,  de olho no olho com o cooperado”, observa.
Tal proximidade “gera um laço mais firme de confiança entre o cooperado e sua cooperativa financeira”, diz Clara.  Além disso, alinha-se aos princípios cooperativistas ao promover o desenvolvimento sustentável com a criação de postos de trabalhos para aquecer a economia local, gerando trabalho e renda para profissionais com perfis variados, como Jonathan Villalba, assistente financeiro do Sicoob Norte em Porto Velho (RO). Contratado em maio deste ano, Jonathan sentiu na pele os efeitos da crise econômica ao ficar desempregado por seis meses. A empresa em que ele trabalhava como gerente administrativo, no Paraná, decretou falência, e ele se viu sem trabalho pela primeira vez, aos 34 anos. Incomodado, avaliou que a situação do estado não era boa e decidiu buscar novas oportunidades em Rondônia, onde viveu por alguns anos, anteriormente. Lá, não encontrou uma situação muito diferente. Muitas empresas recusavam-se a contratá-lo porque tinham um teto salarial incompatível com sua experiência. “Foi difícil, encontrei muita dificuldade em recolocação no mercado de trabalho”, lembra. Desgastado pela busca, Jonathan optou por mudar a rota profissional e investir em um antigo sonho: trabalhar no mercado financeiro. Tirou uma certificação e partiu em busca de oportunidades na nova área. “No entanto, desta vez me deparei com outro obstáculo — a idade —, pois as grandes instituições financeiras no país costumam contratar assistentes de até 25 anos”, diz. A oportunidade que ele buscava surgiu no Sicoob Norte. “Encontrei uma oportunidade de recolocação e a realização de um sonho de menino, de trabalhar de roupa social em uma instituição financeira. Foi uma oportunidade importante, pois o Sicoob não faz distinção de idade”, diz. Hoje ele credita sua oportunidade ao mesmo fator apontado pela gerente do Sistema OCB: a capilaridade de um sistema que investe em contato presencial para se expandir. “Nosso sistema tem tudo para continuar crescendo, devido ao excelente atendimento, que é diferenciado justamente por ser personalizado”, afirma Jonathan.   GESTÃO PROFISSIONAL [caption id="attachment_76226" align="alignnone" width="512"] Crédito: Pixabay[/caption] Crescendo em contratações, o sistema cooperativista tem atraído profissionais cada vez mais qualificados, como a gerente regional de investimentos do Sicredi Vale do Piquiri (SP/PR), Márcia Guerra. Trabalhando na área de investimentos há 16 anos e com várias certificações, Márcia tornou-se alvo de recrutamento de diversas instituições quando decidiu sair do banco no qual trabalhava, em 2017, por conta de mudanças internas de gestão. Ela já tinha fechado uma proposta com uma grande instituição financeira quando foi contatada pelo Sicredi, que identificou seu currículo em uma plataforma on-line de empregos e vagas.
Eles me convidaram para que eu viesse conhecer a cooperativa e, até então, eu não conhecia bem o cooperativismo. Comecei a estudar a história e o modelo de negócios pelo mundo. Me encantei”, relembra Márcia.
Além disso, ela achou que a proposta de trabalho era mais desafiadora do que o que ela encontraria em uma instituição tradicional. “O Sicredi me oferecia um desafio maior, por atuar com uma marca nova em São Paulo, que é uma praça forte e consolidada. Inserir uma marca aqui é difícil e requer muito conhecimento técnico. E eu quis muito esse desafio.” Em dois anos no cargo, Márcia e sua equipe conseguiram implantar uma assessoria de investimentos e entregar as metas inicialmente propostas. Ela também fez uma formação internacional em cooperativismo, na Alemanha. As propostas de trabalho continuam chegando (“o mercado assedia bastante, viu?”), mas o ambiente de trabalho saudável é, para ela, algo valioso. “O Sicredi me abraçou. A diretoria e a presidência entenderam as ideias que eu trouxe, a mudança de cultura na forma de ver investimentos que propus. Eles abraçaram a causa e me veem não como gestora, mas como pessoa. Sabe aquela coisa de assistir à televisão no domingo à noite com preguiça de vir trabalhar no dia seguinte? Comigo não tem isso: eu amo trabalhar aqui”, conta. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estados que mais empregam ESTADO           NÚMERO DE EMPREGADOS     CRESCIMENTO ENTRE 2017 E 2018 Paraná                               12.055                                           21,1% Minas Gerais                     11.439                                          14,5% Rio Grande do Sul            10.719                                           11,4% Santa Catarina                  9.519                                              15,3% São Paulo                         6.860                                              7.7% *Números absolutos de 2018. Variação percentual entre 2017 e 2018. Dados Anuário OCB 2010. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estados em que a empregabilidade mais cresce* ESTADO           NÚMERO DE EMPREGADOS     CRESCIMENTO ENTRE 2017 E 2018 Amazonas                                   80                                196,3% Tocantins                                    395                              59,9% Sergipe                                        54                                38,5% Ceará                                           273                              25,2% Piauí                                             42                                23,5 * Números absolutos de 2018.Variação percentual entre 2017 e 2018. Dados Anuário OCB 2018. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------  
AGENDA BC# Reconhecendo o potencial de crescimento, empregabilidade e inclusão financeira do cooperativismo financeiro, o Banco Central destacou a importância do setor no lançamento da Agenda BC#, em junho deste ano. “Mesmo durante as crises na década anterior, o cooperativismo manteve-se firme na trajetória de crescimento. A gente precisa agora consolidar essa atuação”, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos, no evento. A Agenda BC# lista medidas para melhorar a saúde financeira do brasileiro e, por consequência, a economia do país, com foco em quatro pilares: Inclusão — o foco dessa dimensão é facilitar o acesso ao mercado financeiro para todos: pequenos e grandes, investidores e tomadores, nacionais e estrangeiros. Entre as medidas para alcançar esse objetivo, estão plataformas digitais, menos burocracia e simplificação de procedimentos. É intenção do BC atuar para que fontes privadas de financiamento ocupem mais espaço no mercado, de forma que se permita a redução da participação do governo nesse segmento. Competitividade — busca a adequada precificação por meio de instrumentos de acesso competitivo aos mercados. Há diversas inovações, impulsionadas por tecnologia, que incentivam a competição. Paralelamente, há desafios para reduzir barreiras, agilizar procedimentos e gerenciar riscos. Transparência — nessa dimensão, trabalha-se para aprimorar o processo de formação de preço e as informações de mercado e do BC. Ela investe no incremento da comunicação, na avaliação de resultados e na simetria de informação. Para tanto, é fundamental o relacionamento com parlamentares, investidores e o grande público. O BC trabalha para que a informação flua transparentemente em todos os aspectos, como no direcionamento de crédito e nos serviços financeiros. Educação — a dimensão Educação almeja conscientizar o cidadão para que todos participem do mercado e cultivem o hábito de poupar. Nesse sentido, é chave a participação de agentes de mercado, como cooperativas e distribuidores de microcrédito. Para atingir alta capilaridade, a dimensão prossegue também no esforço de plena implementação da Base Nacional Comum Curricular, de que consta a educação financeira como conteúdo programático elegível para escolas.
 
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 27 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 

Lives No Universo Coop

Caetano Veloso e Teresa Cristina não dominam sozinhos o universo das lives. Todo mundo entrou na onda de se conectar ao vivo por meio das redes sociais. Inclusive nós, do cooperativismo. Grandes eventos cooperativistas como o Dia C  e o World Coop Management  estão sendo realizados 100% online. Afinal, mesmo após a flexibilização da quarentena, recomenda-se evitar espaços fechados e aglomeração de pessoas. Das coops que aderiram aos eventos virtuais com sucesso destaca-se a Cooperativa Agroindustrial do Tocantins (Coapa)
“Antes da pandemia, nossas capacitações eram feitas no modo presencial, reunindo um grande número de cooperados. Agora elas são feitas via web”, constata Ricardo Khouri, presidente da cooperativa.
Como isso está acontecendo? Por meio de um aplicativo, no qual o quadro técnico recebe orientações via comunicados e até videoconferências. Além disso, o planejamento da safra 2020/2021 também não foi feito nos moldes tradicionais, porque os cooperados — habituados a uma relação de proximidade com os técnicos — passaram a recorrer mais a computadores ou aplicativos de celular para essa comunicação. “Desde fevereiro, o departamento comercial também tem feito uso mais frequente de plataformas digitais para a aquisição de insumos”, explica o presidente. Segundo Khouri, as atividades do processo produtivo de grãos não sofreram grandes mudanças, tendo em vista as exigências naturais da agricultura: determinadas épocas de plantio, manejo de pragas e doenças, colheita, transporte e armazenamento. A execução dessas atividades, entretanto, precisou incorporar ações de garantia da segurança dos cooperados, como o reforço nos cuidados sanitários, implementação de distanciamento social, uso de máscaras e higienização frequente das mãos e das superfícies de contato.   VITRINE VIRTUAL Outra mudança importante foi o aumento da visibilidade da Coapa. Em maio deste ano, por exemplo, Khouri participou de um painel virtual da Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins (Agrotins) — maior evento de negócios da Região Norte, que teve sua 20ª edição realizada 100% pela internet.
“Essa experiência foi inédita para mim. Eu falo muito para produtores rurais, para 50 ou até 200 pessoas, mas nessa live eu falei para 1.600 pessoas! Você atinge um público maior e não precisa do aparato de ter de viajar ou promover o deslocamento de produtores. É algo que veio para ficar. É uma revolução no jeito de levar informação para o produtor rural”, analisa o executivo.
Para acompanhar o calendário de lives do cooperativismo, acesse a aba de notícias do site somoscooperativismo.coop.br.