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Presença necessária

Para a deputada federal Aline Sleutjes (PR), o número de mulheres no cooperativismo demonstra que elas estão conquistando seu espaço, mas ainda há mais para ser alcançado.

Precisamos criar meios de apoiar e incentivar mulheres para novas missões nas cooperativas e na política”, declarou.

Por ser de uma família e de uma cidade com forte vocação cooperativista e agropecuária, a deputada entende que o protagonismo feminino tem muito a contribuir para o mundo do cooperativismo e do campo.  

Precisamos refletir sobre o espaço das mulheres em todos os níveis hierárquicos no ambiente de trabalho, que deve ser o mais amplo possível em prol não apenas do desenvolvimento coletivo, mas também da equidade social. As mulheres têm conquistado espaços de destaque em diversos setores da sociedade e no agronegócio não é diferente. Um trabalho que sempre foi considerado bruto, pode sim ter a força e o olhar feminino”.

Natural de Castro, cidade do interior do Paraná considerada a capital do leite, Aline foi vereadora por dois mandatos e se tornou a primeira mulher a representar o município na Câmara dos Deputados. Já em seu primeiro mandato, foi a primeira mulher a assumir a presidência da Comissão da Agricultura da Câmara dos Deputados — um desafio e tanto, pois ela assumiu o cargo em plena pandemia. 

No primeiro ano da crise sanitária, a maior parte das atividades parlamentares foi interrompida e as votações estavam restritas ao plenário. As demandas de 2020 foram acumuladas para o ano seguinte, mas sob a presidência da deputada, a comissão tirou muitos projetos da fila. “Tive que acelerar e com o apoio e respeito dos meus colegas, conseguimos votar 160 projetos e realizar mais de 90 audiências públicas”, relata.

A deputada também é titular da Secretaria da Mulher da Câmara e desabafa: ser mulher na política sempre é um desafio, em razão da cobrança que sofre para conciliar o trabalho de fora com a vida doméstica, os estudos, a vida social e o cuidado da família. 

Cuidar da casa e dos filhos ainda é visto muitas vezes como uma obrigação feminina e que os homens não precisam se preocupar. Mas temos conquistado nossos espaços não só na política, mas nas demais funções, provando nossa capacidade, desenvoltura e comprometimento”, comenta Aline.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Sempre em busca de novos desafios

Quando se fala do impacto do protagonismo feminino, os bons exemplos vêm de diferentes gerações de mulheres. Jovens ou mais maduras, iniciantes ou não no cooperativismo, elas não desperdiçam a oportunidade de inovar e romper barreiras.

Mineira de Belo Horizonte, Júnia Bueno Neves, de 58 anos, construiu uma carreira sólida e respeitada como engenheira civil. Trabalhou na Prefeitura de BH por 42 anos e ocupou diferentes cargos, incluindo de gestão, no sistema Confea-Crea (Conselhos Federal e Regional de Engenharia e Agronomia), depois de eleita por seus pares.

Mas Junia nunca se aquietou. Há pouco mais de cinco anos, ela decidiu ingressar no cooperativismo e já vem colhendo frutos de um trabalho diferenciado no mercado de engenharia. Filha de uma grande cooperativista, José Neves, fundador da Unimed BH, ela também se tornou uma fundadora e criou, em 2017, a Cooperativa de Trabalho de Engenharia e Agronomia (Engecoop).

O objetivo era reunir profissionais engenheiros e agrônomos de diferentes especialidades, como civil, mecânica, química, arquitetura, geociências, ambiental, saúde, indústria, entre outras, para prestar serviços técnicos de planejamento, consultoria, elaboração de projetos, estudo de viabilidade econômica, perícia, vistoria, laudos, direção de obras e outros. A cooperativa atende a projetos da iniciativa privada e do setor público e também oferece cursos de capacitação.

Oferecemos uma gama muito grande de serviços. Hoje tem cerca de 100 cooperados que atendem no Brasil inteiro. Mas com a pandemia, tivemos um processo difícil na engenharia em 2020 e 2021. Agora é que a gente está fazendo essa reversão, porque algumas coisas estão sendo modificadas e impulsionadas no mercado de trabalho da engenharia”’, conta.

Como mulher, não é difícil imaginar os desafios enfrentados por Júnia na área da engenharia. Ela se formou no final da década de 1970, quando os cursos da área de exatas eram majoritariamente masculinos. Felizmente, ela não se intimidou e hoje, aos 68 anos, sente-se mais preparada para contornar e confrontar as situações de preconceito. 

Alavancar uma cooperativa que ainda não é tão conhecida na sociedade nem no meio cooperativista não é fácil. É preciso ter uma postura de se impor e entrar nas interlocuções com o masculino sabendo que toda vez é um desafio”, disse.

Junia também preside a Associação de Engenheiros e Arquitetos da Prefeitura de BH e é diretora administrativa da Mútua, o braço assistencial do Confea-Crea. A engenheira ainda integra um grupo de mulheres cooperativistas do Sistema Ocemg, que busca capacitar as cooperadas e aumentar a participação feminina nas cooperativas, principalmente nas instâncias de poder e gestão. 

Começamos a ter as primeiras reuniões para discutir essa questão da mulher no cooperativismo, independente do ramo. O foco é a mulher, não importa se ela é de uma cooperativa de saúde, de trabalho, de crédito. Vamos fortalecendo e criando alternativas para termos representação dentro do sistema, tanto nas regionais, quanto em nível nacional” sugere.

Junia defende que as mulheres precisam ser reconhecidas por seu profissionalismo, ocupando todos os espaços que puder. “A mulher pode estar onde ela quiser, fazer o que ela quiser. Então, é a oportunidade que a gente tem para dizer que se coloque, se apresente. O caminho não é fácil, mas o movimento de ocupação precisa vir da gente”.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Fazendo acontecer

Do início como estagiária em uma cooperativa de crédito no interior do Paraná até a coordenação de uma área estratégica no Sistema OCB, foram mais de 20 anos de uma trajetória de lutas e determinação. Débora Ingrisano ingressou no mundo do cooperativismo ainda muito jovem, quando cursava Administração, e não desperdiçou as oportunidades que surgiram pelo caminho.

Ela começou em uma agência que atende cooperados e passou por diferentes funções, como caixa e o atendimento de clientes, até que o presidente da cooperativa na época notou sua habilidade de comunicação e a convidou para estruturar a área de marketing. Mesmo sendo ainda uma estudante, aceitou o desafio. 

Débora Ingrisano

Comecei a cuidar da área e adorei. Eu me identifiquei demais com comunicação e marketing nessa cooperativa singular. Depois, apareceu uma oportunidade de ir para Brasília, trabalhar na Confederação, daí eu cuidei de um projeto de padronização e ampliação da marca Sicoob”, conta. 

Mais adiante, depois de morar um tempo fora do país com a família, Débora voltou para a área de marketing da cooperativa, quando foi convidada para trabalhar em uma área comercial, de apoio aos negócios. E a guinada mais recente na carreira ocorreu em novembro de 2021, quando foi convidada para ingressar no sistema OCB, como Gerente de Desenvolvimento de Cooperativas.

Esse convite me atraiu muito, porque é um sonho pra todo mundo trabalhar no Sistema OCB, por ser a maior organização do cooperativismo. E também por trabalhar com educação, que é algo que eu gosto muito. Essa é minha história”, resume.

Sobre os desafios enquanto mulher, Débora compartilha que mudou sua percepção à medida que a temática ganhou mais abertura na sociedade. Ao longo de sua carreira, ela reagiu de maneira diversa à medida que foi amadurecendo sobre o assunto.

“Quando eu era mais jovem, eu ensinava as meninas que trabalhavam comigo a não se importar, dar uma risadinha se ouvisse alguma piadinha. Hoje, quando eu lembro, eu até já pedi desculpa para essas mulheres. Eu não tinha noção de que estava errado e que é preciso se posicionar para evitar a normalização do assédio”, relembra.

Outro aprendizado importante na carreira de Débora veio depois da leitura do livro “Faça Acontecer'', de Sheryl Sandberg. A autora fala que homens são promovidos por potencial e mulheres por entregas. “De fato, sempre tive que entregar, entregar, entregar. Cheguei a liderar equipes sem cargo de gestão, para depois receber parabéns. E vi homens chegando com menos experiência do que eu, com quase nenhuma entrega, subindo na carreira com argumentos como: “olha, ele tem muito potencial, tem três pós-graduações", mas e as entregas?”, questiona.

No cargo atual, em um ambiente majoritariamente feminino, Débora sente-se mais encorajada a incentivar outras mulheres a mostrarem seu potencial e avançarem na carreira cooperativista, principalmente no contexto de valorização de uma maior diversidade nas empresas.

O cooperativismo é um movimento socioeconômico. E a parte social, eu acredito que as mulheres fazem com mais destreza porque o feminino é acolhedor, é humano. O protagonismo feminino é essencial para que o cooperativismo tenha futuro. Hoje, temos uma grande quantidade de mulheres no mercado de trabalho, com capacidade de consumo e alto grau de instrução.  Se a gente quer construir o futuro, não pode dispensar as mulheres por razões econômicas, educativas e sociais”, argumenta.

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Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Semeando Futuros

"Falar de protagonismo feminino é falar de empoderamento feminino. As mulheres investem em seu próprio empoderamento quando dedicam tempo para estudar e para investir em sua qualificação”, ressalta Divani Matos, coordenadora do projeto Semeando Futuros, desenvolvido pelo Sistema OCB em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para formar e capacitar lideranças femininas para o Agro, especialmente no âmbito da agricultura familiar.

Ao participar de capacitações como essa, Diva, como é conhecida, tem a oportunidade de compartilhar um pouco de sua própria vivência. Nascida em Januária, norte de Minas Gerais, assim  como muitas meninas do interior, ela teve de lutar muito para estudar.

Aos 18 anos, Diva ouvi seu pai dizer que — para uma mulher — bastava concluir o Ensino Médio.

Divani Matos, coordenadora do projeto Semeando Futuros

Eu tive de sair da minha cidade, que não tinha faculdade na época, para estudar. Meu pai, no começo, não aceitava essa ideia. E minha mãe não sabia como me apoiar”, relata.

Ela conta que discordou, esperneou, chorou e com muita garra, perseverança e, claro, muito estudo, conseguiu ser aprovada no vestibular de Pedagogia na Universidade Federal de Viçosa (UFV), distante cerca de 800 km de sua cidade natal e localizada na zona da mata mineira. “Morei em Viçosa, em alojamento e enfrentei, com essa escolha, uma evidente decepção do meu pai”.

Na Universidade, Diva se engajou no movimento estudantil e despertou uma curiosidade acadêmica pelo tema do protagonismo feminino, inspirada nas próprias barreiras, antes consideradas por ela mesma como intransponíveis. O tema das mulheres continuou em seus estudos no Mestrado em Extensão Rural (UFV). Mas sua trajetória no cooperativismo e associativismo, em especial com lideranças femininas, não ficou só na teoria. Ainda recém-formada, ela passou a trabalhar com associação de mulheres extrativistas cuja principal bandeira era o empoderamento feminino. 

Diva trabalhou por vários anos como consultora do tema em organismos de cooperação internacional, como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Também passou por diferentes cooperativas e trabalha no Sistema OCB desde abril de 2013.

Não importa onde atuo, sempre procurei direcionar o meu olhar para as particularidades e os desafios das mulheres. Ao estimular o protagonismo feminino não estamos querendo o lugar dos homens, queremos a igualdade, a equidade, o respeito. Assegurar espaços para a liderança feminina nas organizações não é uma questão de ser ‘politicamente correto’ e está intrinsecamente ligado ao desempenho das organizações como um todo , incluindo a economia, como diversos estudos comprovam. Inovação é outro tema que surge quando falamos em tendências de futuros, no plural, mesmo. E como inovar contando sempre com as sugestões de um mesmo perfil de liderança?” questiona.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Somando forças

Não é novidade que a colaboração e o trabalho em equipe fazem um time mais forte para vencer desafios. Foi essa lógica da união de esforços e de estratégias para vencer objetivos em comum que deu origem ao CoopMode — projeto de intercooperação que envolve cinco cooperativas do estado do Paraná que decidiram, juntas, desenvolver um ecossistema cooperativista de inovação. 

O projeto foi criado em janeiro de 2021, inicialmente, com a participação das cooperativas agroindustriais Frísia, Castrolanda e Capal, que já mantêm uma parceria institucional intercooperativa representada pela marca Unium

Por estarem sempre trabalhando juntas, as três coops perceberam que estavam enfrentando desafios muito parecidos para implementar a cultura da inovação em suas equipes. Por isso, decidiram montar um projeto conjunto de fomento à inovação. E, como a diversidade de olhares é fundamental para quem deseja criar algo novo, elas decidiram convidar uma quarta cooperativa para incrementar a parceria: a Capal Cooperativa Agroindustrial.

Percebemos que, por meio do CoopMode, poderíamos atender demandas estratégicas das cooperativas participantes e também trabalhar em conjunto e agregar cada vez mais valor aos negócios da região”, destaca Fábio Solano, analista de Estratégia e Inovação da Frísia Cooperativa Agroindustrial.

O gerente de Estratégia, Projetos e Processos da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial, Vitor de Almeida Fonseca, concorda e acrescenta: “Considerando as incertezas do mercado e os desafios envolvidos em cada ideia inovadora, é confortante saber que não estamos sozinhos. Juntos, conseguimos refletir melhor sobre situações novas, e o compartilhamento de experiências tem sido ótimo para tomarmos decisões mais assertivas”.

PILARES DE ATUAÇÃO

O CoopMode é baseado em três pilares. O primeiro é a cultura da inovação, que busca sensibilizar — por meio de palestras e capacitações — colaboradores, cooperados e a alta gestão das cooperativas sobre a importância de investir em novas ideias, processos, produtos e serviços, valorizando a diversidade de olhares, pensamentos e perfis.  

Os outros dois pilares da iniciativa são a realização de projetos conjuntos e a conexão com ecossistemas de inovação, com a promoção de editais de inovação e de ações de inovação aberta — aquelas realizadas em parceria com outras instituições.

Por decisões estratégicas, a implementação dos pilares do CoopMode vai acontecer aos poucos e o primeiro deles, que trata de cultura de inovação, já está em andamento. “Decidimos trabalhar, inicialmente, com a sensibilização da alta liderança, justamente para muni-los de dados sobre o ecossistema de inovação e de cases práticos de uso de novas tecnologias no agronegócio. Cada evento de sensibilização tem contado com uma média de 100 participantes, focando sobre tendências e novidades em todo o setor”, conta Fábio Solano.

Segundo Alessandra Heuer, responsável pela Comunicação e Marketing da Capal, os eventos de sensibilização de lideranças já começaram a trazer resultados positivos para sua cooperativa. 

Hoje, já vemos a cultura da inovação presente no dia a dia da Capal; estamos pensando de forma mais inovadora, buscando parcerias e ferramentas que vão nos ajudar nos resultados. Estamos pensando, também, que a inovação é agora, é hoje, e não algo distante”, observa Alessandra. 

QUANTO MAIS COOPS INOVANDO, MELHOR

No início deste ano, mais uma cooperativa agroindustrial paranaense, a Agrária, foi convidada a fazer parte do CoopMode. 

“Em 2021, tivemos um benchmarking com a Castrolanda na área de Estratégia e Projetos, que abriu portas para a troca de experiências na área da inovação”, conta Danielle Machado, responsável pela área de Estratégia Corporativa da Agrária. “Recebemos o convite das cooperativas do Grupo Unium e encaramos como uma oportunidade para compartilhar experiências em inovação, tecnologia e ASG (sigla para ambiental, social e governança), discutindo e explorando oportunidades para crescimento dos cooperados e das cooperativas”, completa.

Segundo Danielle, o trabalho em intercooperação tem sido excelente para promover a busca por objetivos em comum. “A difusão do modo de ser cooperativista é aplicada na utilização das melhores práticas de cada cooperativa, com vistas à potencialização dos resultados. Dessa forma, nos apoiamos em nos mantermos atualizados sobre as novidades relevantes para o setor. Isso fortalece cada uma das cooperativas frente ao mercado”, observa.

Danielle destaca, ainda, que a parceria já está dando frutos. “Nosso grupo trabalha focado em resultados. Elaboramos uma matriz de priorização dos assuntos de interesse em comum para as cooperativas e definimos um calendário de estudos dos temas mais relevantes. No mês de abril, tivemos a primeira palestra do ano com um especialista externo, que explorou as possibilidades de projetos de Energia Limpa”, conta.

Além das quatro cooperativas, o CoopMode conta com o apoio da Fundação ABC — instituição sem fins lucrativos que realiza pesquisa aplicada para desenvolver e adaptar novas tecnologias, com o objetivo de promover soluções tecnológicas para o agronegócio aos mais de 5 mil produtores rurais filiados às cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal, além de agricultores contribuintes.

Para Luís Henrique Penckowski, gerente técnico de Pesquisa da Fundação ABC, a união de pessoas, trabalhando juntas para um mesmo objetivo, acelera a busca pela solução de um problema. “Nos mais de 95 anos de cooperativismo nos Campos Gerais, nós temos vários exemplos de que isso dá certo. É por isso que a Fundação ABC apoia o CoopMode para buscar soluções inovadoras aos produtores cooperados”, afirma.

ECOSSISTEMA DA INOVAÇÃO

Para 2022, além da continuidade das atividades de capacitação e sensibilização, que serão estendidas a um público mais amplo das quatro cooperativas, as ações do projeto deverão ser ampliadas. 

Estamos agora entrando em uma nova etapa, que se refere às práticas de gestão de projetos específicos compartilhados nas cooperativas. O foco é entrar com esses projetos práticos com o objetivo de melhorar processos e produtos que as cooperativas trabalham”, explica Fábio Solano. “Essa nova fase poderá gerar resultados com alto grau de escalabilidade, uma vez que os projetos são voltados ao core business de todos os membros envolvidos”, completa.

Também está em estudo para este ano a abertura de editais de inovação em conjunto, com temáticas específicas e compartilhadas com os negócios das cooperativas. “Além disso, estamos debatendo a viabilidade de realizar programas de residência com foco em inovação”, conta o analista de Estratégia e Inovação da Frísia.

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A união faz a força

Criada em 2017, a Unium (fusão das palavras “união” e “um”) é uma das mais bem sucedidas iniciativas de intercooperação do país, envolvendo três das principais cooperativas agropecuárias do Brasil: Castrolanda, Frísia e Capal. 

Antes de intercooperarem, essas coops atuavam de maneira independente nos mercados de leite e derivados lácteos, produção e comercialização de carne de suínos, e produção de trigo. Separadas, tinham recursos limitados para investir em pesquisa e em novas tecnologias e gastavam muito com marketing, logística e despesas administrativas. Foi então que decidiram unir forças para tornar o cooperativismo mais forte na região e criaram uma marca conjunta, a Unium.

Desde então,      passaram a dividir despesas e a unir suas produções. Resultado? Em 2021, sob a marca Unium, faturaram R$ 4 bilhões, consolidando-se como a segunda maior produtora de leite do Brasil. Além disso, exportam carne, rações e grãos para mais de 25 países. Para saber mais, acesse o case completo da Unium no site do InovaCoop

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Entenda o poder da intercooperação

Sexto princípio do cooperativismo, a intercooperação é uma maneira inteligente e eficaz de fortalecer o nosso movimento. Afinal, quando uma coop cresce, todo o cooperativismo cresce junto, ganhando maior visibilidade na sociedade.

Ainda segundo a Aliança Cooperativa Internacional (ACI), a intercooperação tem natureza voluntária e consensual, não podendo ser imposta, necessitando do apoio e da contribuição de todas as partes envolvidas. Essas parcerias podem acontecer de diversas maneiras e com diferentes graus de comprometimento entre as partes. Confira: 

  • Intecooperação local, nacional, regional e internacional: é a classificação mais básica e analisa o âmbito geográfico da parceria. Os acordos locais são válidos no município das cooperativas envolvidas; os regionais são mais amplos, abrangendo uma região, com um ou mais estados; a intercooperação nacional é válida em todo o Brasil e a internacional ultrapassa nossas fronteiras. 
  • Intercooperação setorial e intersetorial: a intercooperação setorial é realizada entre cooperativas, centrais ou sistemas de um mesmo ramo; a intercooperação intersetorial é a realizada entre cooperativas, centrais ou sistemas de dois ou mais ramos diversos.
  • Intercooperação formal e informal: essa classificação envolve o formato legal da parceria. A intercooperação formal conta com estruturas ou contratos formais estabelecidos para esse fim; a informal tem, normalmente, mais flexibilidade e menores custos, mas acarreta maior insegurança, o que poderá causar problemas de governabilidade. 

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Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Começar de novo

Existem histórias de superação que merecem ser contadas. E essa fala sobre mulheres que, por influência dos companheiros ou por necessidade, terminaram parando na cadeia. E foi lá, em um momento difícil e com poucas esperanças, que elas descobriram que podiam mudar de vida. Tudo isso, graças à primeira cooperativa social formada por presos do Brasil: a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora (Coostafe), que nasceu da necessidade de criar um instrumento de reinserção social para as detentas e ex-detentas do Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua, no Pará. 

Essa coop inspiradora começou a funcionar em 2013, com 15 detentas que produziam pequenos artesanatos e bordados. Atualmente, são 25, entre mulheres e LGBTQIA+, custodiadas no Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua. Uma informação importante: das quase 300 cooperadas que já passaram pelo projeto, nenhuma voltou a ser presa. 

A cooperativa tem um grau de importância muito alto em nossas vidas, pois é por meio do trabalho exercido que conseguimos nos libertar das amarras do passado, conseguimos aprender novos ofícios, ser      pessoas melhores no conjunto em que vivemos e para onde iremos”, declarou Aretha Corrêa, custodiada integrante da Coostafe.

Assim como todas as colegas cooperadas, Aretha participa constantemente de programas de capacitação,  palestras e oficinas sobre produção de artesanato e gestão do negócio.

Somos bem-aventuradas em ter o apoio do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), e também do Sistema OCB, que nos traz constantemente cursos de cooperativismo e educação financeira. Ter esse suporte nos ajuda a qualificar nosso trabalho e é de extrema importância’’, acrescenta Aretha.

Recém-chegada à Coostafe, Débora Bianca trabalha com tintas e pincéis. “Um pote de ouro”, diz. “A cada quadro pintado, imagino o semblante do cliente. É uma satisfação grande ver meus quadros serem vendidos”, confessa. 

De origem indígena, Débora levou muito de sua cultura para o trabalho. Com dois filhos, sonha ter o próprio ateliê. “A cada trabalho, busco fazer o melhor. Minha alegria é ver a felicidade dos clientes”, afirma.

As peças produzidas pelas cooperadas da Coostafe são comercializadas pelo Instagram (@coostafe.pa) ou em feiras de artesanato promovidas por parceiros, como a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, a Secretaria de Estado de Cultura e uma rede de shoppings local. 

POTENCIAL PARA VENCER 

Reprodução | Facebook

As muitas histórias de superação vividas na Coostafe não poderiam ser contadas sem a participação mais que especial de Carmen Botelho, ex-diretora do Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua. Carmem chegou à unidade em 12 de junho de 2013 e percebeu que as detentas não tinham a oportunidade de trabalhar ou estudar. 

Quando cheguei, conheci muitas mulheres fortes e criativas, mas que não tinham oportunidade. Foi quando tive a ideia de pedir para quem sabia pintar, bordar ou costurar dar aulas para outras mulheres. Elas toparam. Então, comprei o material, selecionamos as participantes e iniciou-se o curso”, recorda Carmen, que atuou no sistema carcerário do Pará por quase 15 anos.  

Com o material produzido, foi organizada uma feira dentro do presídio e todo o material foi vendido. O dinheiro arrecadado foi repassado integralmente para as participantes, que ficaram felizes e pediram para repetirmos a experiência. 

“Fui conversar com o meu superintendente da época e chegaram à conclusão de que não poderíamos fazer as vendas. Então, tive que encontrar outro meio para viabilizar a venda dos produtos feitos por elas. E foi assim que conheci o modelo cooperativo”, afirma.

Carmem entrou em contato com o Sistema OCB e explicou sua ideia de abrir uma cooperativa dentro de uma penitenciária. “Eles apoiaram a iniciativa e me ajudaram e criar a Coostafe, primeira cooperativa de mulheres presas do Brasil”, diz, orgulhosa.

Morando em Fortaleza, já aposentada, Carmem sente falta do contato com a cooperativa e suas cooperadas. “Sinto muita falta delas. Sempre acreditei no potencial das meninas e, da minha parte, só fiz o investimento inicial. O resto foi com elas, que são as protagonistas de suas estórias — mulheres fortes, empreendedoras, criativas. Eu não fiz nada, só minha obrigação enquanto diretora de uma unidade prisional, que é procurar meios para fazer os presos não reincidirem no crime”, avalia Carmem, que ficou no CRF de 2013 a 2018.


Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Tânia, a mulher que faz

Ela está ajudando a mudar a imagem da Casa do Cooperativismo desde 2008, quando assumiu uma vaga de assessora na instituição. Pioneira, arrojada e inovadora, Tânia Zanella foi a primeira mulher a assumir a superintendência da Unidade Nacional do Sistema OCB. Antes disso, foi a primeira pessoa a assumir a Gerência-Geral da OCB — cargo que ajudou a criar e implementar, após ter sido a primeira mulher a assumir a Gerência de Relações Institucionais da instituição. Por essas e outras, Tânia foi eleita, em 2021, uma das 100 mulheres mais poderosas do agronegócio brasileiro pela revista Forbes.

Tânia Zanella

A história da nossa superintendente começou no interior de Santa Catarina, na pequena cidade de Ipumirim. Em um tempo em que a tecnologia não mantinha as crianças somente em casa, ela gostava de subir em árvores, brincar de pique-esconde, pique-pega, bola de gude, queimada e de atirar com estilingue. 

A gente vivia em um ambiente, eu acho, muito mais seguro do que vivemos agora”, compara. Líder desde sempre, era ela quem decidia as brincadeiras, que só acabavam quando a mãe, de dentro de casa, chamava alto as crianças — sujas de tanto brincar — para entrar.

Tânia é de uma família italiana. Os bisavós chegaram ao Brasil vindos de Gênova, cidade portuária da Itália, fugindo da guerra, da fome e da miséria. Os antepassados entraram no país por São Paulo e foram se espalhando pelo Sudeste, até o Sul. Os avós se estabeleceram em Santa Catarina e tiveram 12 filhos, sendo o mais novo o pai de Tânia. Além de agricultores — ofício que se perpetuou pelas gerações seguintes —, a avó de Tânia era professora de latim —      profissão em voga na época. “Meus avós falavam praticamente cem por cento dialeto [variedade linguística regional da Itália]. Quando eu fui começar a fazer um curso de italiano [língua padrão do país todo], vi que era muito diferente”, recorda-se.

O pai de Tânia, Valdir Zanella, iniciou na carreira política muito cedo, aos 18 anos de idade. Chegou a ser prefeito do município, Ipumirim, por cinco mandatos. Enquanto ela seguiu os passos do pai em relação ao direito e à vocação política, o irmão mais velho seguiu a veia agrônoma da família, e hoje é quem dá continuidade aos negócios. Tânia fez todo o ensino fundamental em escolas públicas da cidade, formação à qual é muito grata. Aos 15 anos, decidiu mudar-se para Curitiba para continuar os estudos, pois, na cidade grande, teria condições melhores de alcançar os objetivos profissionais. 

Eu tive que viver muito cedo longe dos meus pais. Foi uma experiência muito bacana, mas que me fez amadurecer muito cedo”, conclui     . 

Quase 30 anos mais tarde, quando levou seu atual marido, Raul Monteiro, para conhecer a família, ele ficou impressionado com a influência dos pais e dos avós na formação da amada.

Ela já estava com os meninos na casa dos pais [os dois filhos, Luiz Felipe e Isabel, do casamento anterior de Tânia], e eu fui conhecer a cidade de origem dela. E me impressionou muito a qualidade da cidade, que vinha do compromisso do pai da Tânia com a comunidade, pois ele teve cinco mandatos como prefeito. Essa parte da ligação da Tânia com a política, a capacidade de realizar coisas, a seriedade e o compromisso, ela puxou do pai. E da mãe, ela herdou a força, a energia. A mãe dela, em casa, não para, está sempre fazendo tudo. É uma família bem tradicional italiana, laços de família muito fortes. Então, me surpreendeu ver como essa origem tem a ver com as características dela hoje”, avalia o marido.

Entretanto, de todas as heranças que Tânia recebeu da família, a maior é, sem dúvida, afetiva: “Como eu tive um contato muito grande com meus avós, porque eles moravam com a gente, nossa casa estava sempre muito cheia. Foi isso o que me marcou: a casa cheia. Uma família de 12 irmãos, muitas visitas, a casa cheia de tios e primos. Essa coisa da família, de estar sempre ali, discutindo tudo, decidindo tudo em conjunto; aquela gritaria, que você não sabe se está falando ou brigando”, diverte-se a caçula, que acredita ter herdado também o hábito de elevar o tom de voz quando está entusiasmada. 

AMOR ANTIGO

Tania em família: com os pais e os filhos

A paixão pelo cooperativismo é outra herança que Tânia recebeu da família. “Meu contato com o cooperativismo começou na infância, porque Santa Catarina é um estado extremamente cooperativista. Meus pais eram cooperados; então, eu já tinha esse contato e esse convívio ali”, explica.

Outra paixão antiga foram os esportes. Alta e esguia, Tânia era ponteira de um time de handebol, e das boas. Tanto que jogou profissionalmente, disputou o campeonato nacional pela Seleção Brasileira Juvenil e continuou praticando o esporte até o início da faculdade de direito, que cursou na Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Logo que se formou, Tânia prestou exame para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e passou de primeira. Em seguida, começou a cursar a Escola Superior do Ministério Público, já com o objetivo de fazer carreira na instituição, na qual fizera estágio. Ela chegou a prestar concurso e trabalhou no Ministério por um período, mas, por questões financeiras, resolveu voltar para casa para montar o próprio escritório.

De volta a Ipumirim, ela mal teve tempo de desfazer as malas. Poucos dias depois, recebeu uma proposta que mudaria sua vida: Odacir Zonta, que já foi vice-prefeito e prefeito de Ipumirim, e deputado estadual por Santa Catarina por dois mandatos, deixaria a Secretaria de Agricultura do estado para se candidatar a deputado federal, e convidou Tânia para assumir a assessoria jurídica do gabinete. 

Ele ganhou as eleições e, em princípio, não ia trazer ninguém para Brasília, mas, como eu tinha feito um bom trabalho com a administração da campanha, ele me convidou pro gabinete. Eu aprendi muito com o deputado, iniciei toda a minha carreira com ele e estou em Brasília por causa dele”, reconhece Tânia.

Foi na capital do país que Tânia conheceu o primeiro marido, com quem teve os dois filhos, Felipe e Isabel. “Passei um susto muito grande com meu primeiro filho. Ele teve um problema muito sério de saúde quando nasceu; então, foi talvez meu primeiro grande desafio na vida. O interessante era que não dependia de mim: dependia dele. Eu — que sempre fui muito afoita pras coisas, muito dinâmica em querer fazer e acontecer —tive de exercitar minha paciência: o tempo era dele, não meu. Hoje ele é um menino extremamente saudável e inteligente”, diz, grata. 

Voltando à trajetória profissional, Tânia trabalhou com Zonta por todo o primeiro mandato federal, de 2003 a 2006, e até a metade do segundo, quando ele foi reeleito. Em 2008, o então superintendente do Sistema OCB, Ramon Belisário, a convidou para integrar a equipe de assessoria parlamentar da organização. Fabíola Nader Mota, atualmente gerente-geral do Sistema, lembra-se da chegada dela na empresa e de como se tornaram amigas e parceiras profissionais. 

“Eu era estagiária na época e ela foi contratada como assessora parlamentar para apoiar nossos trabalhos de relacionamento com os Três Poderes. Ela já tinha uma convivência bem legal com a equipe do Sistema, porque trabalhava para o deputado Zonta, que era o presidente da Frente Parlamentar do Cooperativismo. A gente já dialogava muito com ela, para nos apoiar nos temas que estavam tramitando e diziam respeito ao cooperativismo. Ela era o nosso apoio lá no Congresso e, como já conhecia muito sobre o coop, foi convidada para trabalhar aqui, ajudando a profissionalizar ainda mais o nosso trabalho de relações governamentais, que hoje já foi ampliado para Relações institucionais”, recorda-se. 

MENTORA

A capacidade de sonhar e realizar foi a grande característica que a trouxe para o Sistema OCB e marcou sua trajetória na organização. Quando Ramon a convidou, o projeto deles era justamente estruturar a Gerência de Relações Institucionais da organização. Infelizmente, Ramon faleceu em abril daquele ano, devido a um acidente de carro, apenas um mês depois da chegada de Tânia. Foi um grande baque para a recém-chegada, que, no entanto, não esmoreceu e levou a cabo a missão, com toda a equipe.

Tânia foi a minha mentora durante toda a minha carreira, sempre me apoiando, me dando oportunidades, me ensinando, apoiando ideias malucas e propondo ideias, também, sempre inovadoras, ousadas. A gente sempre teve um trabalho muito forte de parceria, uma relação de muito respeito que cresceu, também, para ser, inclusive uma, uma amizade”, reconhece, com alegria, Fabíola.

Na mesma época, Tânia engravidou da segunda filha, Isabela. Quando voltou da licença-maternidade, o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, a convidou para assumir a Gerência de Relações Institucionais, cargo que ela ocupou de 2008 a 2012. 

Esse foi apenas o pontapé para novos desafios e estruturações na casa. Já havia no planejamento estratégico da instituição a previsão de contratação de um gerente-geral — cargo que, até então, não tinha saído do papel. Mais uma vez pioneira, Tânia foi a primeira pessoa a assumir o cargo, em 2012, e lá ficou até o ano passado, quando assumiu a superintendência da casa.

Foi uma escolha natural”, disse Márcio Lopes de Freitas. “Tânia é uma profissional respeitada na Casa, benquista nos estados e muito dedicada ao cooperativismo. Era muito lógico, para mim, que ela assumisse essa posição. Não a escolhemos como superintendente para cumprir algum tipo de cota na instituição. Ela vinha de uma carreira muito  muito bem-sucedida: foi gerente; depois, gerente-geral, e agora é superintendente. É justo.”

A pergunta que fica agora é: que novidades Tânia ainda trará para o Sistema OCB? Se considerarmos a trajetória dela até aqui, o certo é que ainda virá muita inovação, competência e pioneirismo.

O que mais me chama atenção na Tânia é a competência dela, sem dúvida, mas, principalmente, a vontade de realizar as coisas. Ela é uma pessoa extremamente focada, que tem uma missão, um objetivo. Ela tem isso claro de que essa missão dela é desenvolver e fazer a diferença na vida das nossas cooperativas, e para isso, dedica todo o esforço, toda a atenção, e não deixa nada tirá-la desse curso. Ela é uma pessoa que gosta de inovação, e exige inovação constante da equipe dela. Nada pode ficar no mesmo lugar, do mesmo jeito, tem que estar sempre melhorando e criando”, elogia Fabíola.

Sucessora de Tânia no cargo de gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola também destaca o cuidado com a equipe. “Ela gosta de conhecer as pessoas, entender quem está cuidando de cada projeto, e agradecer à pessoa pela dedicação, pelo compromisso. Mas ela exige, também, o mesmo compromisso e dedicação que ela tem. Afinal, ela quer garantir que a gente entregue os resultados que as cooperativas merecem e esperam da Unidade Nacional.”

Para finalizar a matéria, vale destacar que Tânia é uma dessas mulheres que podem se orgulhar de serem felizes na carreira e no amor.  No fim do ano passado, ela e Raul se casaram. O marido lhe deu também dois enteados, Ravi e Maria. 

Tania e o marido, Raul Monteiro

Tânia e Raul se conheceram durante o carnaval, mas de uma maneira diferente do habitual – não foi em um bloquinho ou em um baile, como se esperaria. “Nem eu e nem ela gostamos; estávamos fora do carnaval, mais em casa. Nós nos conhecemos fazendo compras. Sentíamos a necessidade de conhecer alguém que valesse a pena.”, conta Raul. 

Hoje, eles moram em uma casa em Brasília, onde Tânia — que passou mais da metade da vida em apartamentos — pode voltar a experimentar a sensação de espaço e liberdade que tinha na infância. Feliz e sentindo-se realizada, ela, aos poucos, vê a casa voltando a ficar cheia, nos finais de semana, como quando era criança. E durante a semana, segue conquistando seu espaço e fazendo muito pelo coop. E tem conquista melhor do que essa?


Esta matéria foi escrita por Devana Babu e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Uma nova chance

Valdemar de Jesus, motorista da Cooperativa | Crédito: Marília Lima

O cooperativismo enxerga em quem já passou por muitas dificuldades na vida uma qualificação para a qual o mercado muitas vezes fecha os olhos, em uma espécie de cegueira que vai na contramão da empatia e da própria movimentação da economia e do trabalho. Enxergamos em cada uma dessas pessoas o desejo de se sentirem úteis e produtivas. Por isso, de norte a sul do país há exemplos de cooperativas que os contratam como colaboradores ou oferecem a eles uma opção de emprego e renda como cooperados. 

Um exemplo de como essas pessoas têm a vida transformada pelo cooperativismo pode ser visto no Distrito Federal. Valdemar de Jesus, 38 anos, o Dema, ingressou na cooperativa Sonho de Liberdade em outubro de 2021. Ele conseguiu uma vaga de ajudante de caminhão logo após deixar a Penitenciária da Papuda, após cumprir 18 anos de prisão — sendo o último deles no regime semiaberto, quando recebeu a liberdade condicional. Dema soube da existência da cooperativa quando ainda estava privado de liberdade e contou com um pedido da mãe para fazer parte do grupo. 

Se não fosse a cooperativa, eu poderia ter voltado ao mundo do crime. O desespero faz as pessoas cometerem besteira nessa vida. Graças a Deus, e ao trabalho que faço na cooperativa, estou com vida nova, podendo sustentar a família, comprar chinelo, me alimentar. Consegui até tirar minha identidade e CPF, pois eu não tinha nada”, conta.

Hoje, Dema diz ter tudo: uma casa simples, uma esposa, um objetivo na vida. “Esse projeto de reeducandos é maravilhoso, mudou a minha vida. Até o fim do ano, eu quero ter meu próprio carrinho, para trabalhar com reciclagem de lixo”, conta o homem que, na cooperativa, trabalha das 7h às 17h, de segunda a sexta-feira, descarregando material de obra de caminhões de construtoras. O material vai para a reciclagem e volta em formato de madeira para faixas, painéis e outros objetos. 

Crédito: Marília Lima

Pelo trabalho, Valdemar recebe café da manhã, almoço, lanche da tarde e R$ 70 por dia, no caso de descarregar dois caminhões. Se descarregar dois caminhões a mais por dia, ganha um acréscimo de R$ 40 — um pagamento que ele pode receber por semana, por quinzena ou por mês, de acordo com sua escolha.

“A cooperativa tem motorista de caminhão e de trator, tem operador de máquina, tem soldador. Eu sou ajudante de caminhão, carrego o caminhão com os restos de material de obra. Estou trabalhando no Setor Noroeste, onde tem muita obra, muito prédio sendo construído. Eu passo o dia limpando as obras. Mas estou aprendendo a fazer de tudo”, conta.

Com suas funções na cooperativa, ele confessa ter mudado de vida e diz que é, sim, um novo homem. “Esse lugar é muito importante para um egresso do sistema prisional. Aprendi a dar valor ao meu suor, ao meu dinheiro, à minha vida. Não uso mais droga, nem bebo”, garante o cooperado, que se tornou uma pessoa responsável, aprendeu a cumprir compromissos e a ter disciplina. “Tem gente que está na cooperativa desde o início. Pretendo ficar muito tempo. Eu me esforço e quero crescer. E quero transmitir essa experiência de vida para outros ex-detentos”, fala, emocionado.  

RECICLAGEM DE SONHOS

Crédito: Marília Lima

A cooperativa Sonho de Liberdade surgiu em 2007, quando um grupo de quatro detentos da Penitenciária da Papuda resolveu se unir em busca de um sonho: reconstruir a própria vida sem depender de ninguém. Eles trabalhavam no regime semiaberto, costurando bolas de futebol em um projeto chamado Pintando a Liberdade. O trabalho era muito bem feito, mas poucas pessoas queriam pagar R$ 30 por uma daquelas bolas, preferindo adquirir marcas famosas, por exemplo, por R$ 100. Insatisfeito com a situação, Fernando de Figueiredo, 49 anos, propôs ao grupo que eles mudassem o foco da produção, trabalhando com sobras de material de construção. 

Quando eu estava no regime semiaberto, fui morar perto de um lixão. Lá, percebi que muito resto de madeira era jogado fora, desperdiçado. A gente, então, pediu para os motoristas do caminhão deixarem o material na chácara de um amigo. Eu e mais três companheiros começamos a fazer reciclagem. Vimos que dava para aproveitar muita madeira e conseguir dinheiro com ela”, conta Fernando.

A cooperativa, que começou informalmente, com quatro pessoas, chegou a ter 100 integrantes. Hoje, conta com 40 membros. Metade é formada por ex-detentos e metade, por pessoas que estavam em situação de rua. “E não estão mais, graças a Deus”, diz Fernando. De acordo com ele, a média de salário dos cooperados gira entre R$ 2 mil e R$ 4 mil por mês. Os carpinteiros, cooperados que dominam as ferramentas, ganham mais; os carregadores de caminhão recebem salário um pouco menor.

Para ingressar na Sonho de Liberdade, o primeiro passo é comprovar o desejo de mudar de vida.

Crédito: Marília Lima

A gente não dá o peixe, mas dá a vara pro cabra pescar. Nosso objetivo é resgatar a vida do ex-detento não por meio do assistencialismo, mas do trabalho”, conta, enquanto ajuda a equipe a separar os diferentes tipos de madeira que servirão para a fabricação de painéis e de confecção de diversas tábuas para as obras. Madeira que iria para o lixo é transformada, dia a dia, em cavacos, madeira triturada, pallets

Muita gente encontrou na cooperativa uma chance de mudar de vida. São pessoas que estavam no mundo do crime, roubavam, traficavam e até matavam. Hoje, deixaram de cometer delitos e ocupam a mente com trabalho, com uma perspectiva de futuro. Um ajuda o outro; um cai, o outro apoia. A gente conversa quando eles têm recaída. Aqui não tem discriminação ou exclusão. A gente está lá para estender a mão, fazer com que a pessoa se sinta em casa. Eu me sinto o cara mais rico do mundo sem ter dinheiro na conta”, define. 


Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Olhar maduro

Para muitas pessoas a cooperativa é a oportunidade de sustentar a família, além da conquista da casa própria – por meio de projetos habitacionais da cooperativa – e de estudos, também pelas parcerias com instituições educacionais. "Temos sócios com mais de 80 anos de idade que desempenham brilhantemente suas atividades e são gratos pelo trabalho, que lhes dá prazer de viver, em primeiro lugar”, afirma a presidente da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa), Imanjara Marques de Paula.

Imanjara Marques de Paula, presidente da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa)

Aos 69 anos,  Sandra Chaves é uma dessas cooperadas que não pretende deixar de trabalhar. Associada da Cootravipa desde 1991, ela foi supervisora da varrição durante 30 anos. Hoje, exerce a função de auxiliar de serviços gerais nos sanitários públicos do centro da capital gaúcha. Com o trabalho na cooperativa, criou os cinco filhos e construiu a casa própria.

A Cootravipa é tudo para mim, eu vivo pela Cootravipa. É uma porta aberta para quem precisa de ajuda e de traballho”, confessa.

A presidente da instituição, filha dos fundadores da cooperativa, orgulha-se de sempre ouvir depoimentos como esse.

Nossa missão é oportunizar acesso ao trabalho e proporcionar renda àqueles que não se enquadram no perfil do mercado, além dos idosos, muitos deles responsáveis pela renda familiar. Eles merecem mais do que nossa acolhida, merecem nosso respeito pela experiência e o muito que têm a nos ensinar”, elogia Imanjara.

Fundada em 15 de julho de 1984, a Cootravipa é oriunda do movimento comunitário da Zona Sul de Porto Alegre, mais precisamente da Grande Cruzeiro, onde, na década de 80, mais de 3 mil desempregados viviam com suas famílias à margem da sociedade, muitos deles sem trabalhar há mais de nove meses. A União de Vilas e comunidade decidiram montar acampamento na Praça da Matriz, para reivindicar junto aos governos municipal e estadual uma solução para o desemprego e miséria. A oferta foi de 200 vagas de trabalho pela Prefeitura. 

Animada com a possibilidade, a comunidade começou a discutir a proposta de abrir uma cooperativa. “Naquela época, eram necessárias 20 pessoas com capital suficiente para pagar a cota-capital, mas a maioria era desempregada. Foi organizada uma arrecadação para quem não tinha o valor necessário e cada um colaborou com o que podia”, conta Imanjara Marques de Paula. A Cootravipa iniciou com 23 fundadores: 18 homens e cinco mulheres. Atualmente, são 706 mulheres no quadro de sócios, de um total de cerca de 2.500 associados. 

DNA PARA INCLUSÃO 

O advogado Waldyr Colloca, 54 anos, especialista em direito cooperativo, considera as cooperativas importantes ferramentas de inclusão social e financeira, à disposição de qualquer pessoa ou grupo.

Elas são uma sociedade ferramental, um utensílio, não têm um fim em si mesmas, só têm sentido se estão nas mãos das pessoas. Qualquer pessoa ou grupo que se junta tem potencial para criar uma cooperativa”, afirma.

No atual cenário econômico — em que não há vagas para a grande massa que está procurando emprego, no auge da capacidade produtiva —, fica ainda mais difícil encontrar alternativas para quem está à margem da sociedade, seja porque são mais velhas, seja porque já foram ou estão presas. Nessa realidade, o cooperativismo faz sentido, por juntar o saber fazer com um projeto.

As cooperativas fazem muito sentido para idosos, ex-detentos e detentos, mas não são um modelo criado para eles; não têm essa intenção intrínseca, mas podem ser utilizadas para esse fim. Há vários projetos bacanas que se preocupam com a reintrodução das pessoas a partir dos 50 anos no mercado de trabalho. O mais legal seria formar não uma cooperativa só de idosos, mas com uma mistura de idades. Ambos os grupos têm muito a ensinar e a aprender em um mundo que descarta uma geração mais antiga e pega uma nova”, considera Waldyr Colloca.

Ainda segundo Colloca, quando se fala em cooperativismo para pessoas acima dos 50 anos, não faz muito sentido pensar em outro ramo que não o das cooperativas de trabalho. “Enquanto as demais cooperativas servem para incluir ou reincluir empreendedores de qualquer idade no mercado de negócios, as cooperativas do ramo de serviços são aquelas que, por natureza e vocação, se consubstanciam na mais preciosa e adequada ferramenta de reinserção dos profissionais excluídos no mercado de trabalho”, explica.

De fato, cooperativas são instrumentos de inclusão, jamais de isolamento. Por isso, elas deveriam abrir espaço para pessoas de todas as idades. “Me parece uma ideia bastante plausível e interessante que a ‘comunidade madura’ se reúna em torno de um projeto cooperativista; não há dúvida nenhuma de que faz mais sentido ainda que esse mesmo grupo, visando não só a integração entre gerações, como também — e sobretudo — a inversão dessa perversa lógica, segundo a qual uma geração precisa desaparecer para dar lugar à outra, aceite de braços abertos o ingresso de associados mais jovens”, finaliza o advogado.


Esta matéria foi escrita por Freddy Charlson e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


De mãos dadas

Aureliana Rodrigues Luz

Atravessar o temporal de pé enxuto: essa é a meta que Aureliana Rodrigues Luz, 49 anos, se impõe quando está diante de dificuldades. Presidente da Unidade Estadual do Sistema OCB no Maranhão, ela traz da Assistência Social (sua área de formação) uma série de contribuições para tornar o cooperativismo uma via de emancipação para as mulheres. 

Nas andanças pelo estado, Aureliana se reúne com as cooperadas e as estimula a participar do dia a dia de suas organizações. As ações de promoção da equidade de gênero já surtiram efeito e fizeram com que a participação feminina alcançasse 30% no cooperativismo maranhense.

As mulheres foram galgando posições de liderança no cooperativismo, desenvolvendo áreas e funções que outrora eram exclusivamente ocupadas por homens. Mas sabemos que ainda existe significativa resistência e preconceitos contra a potencialidade feminina”, alerta a executiva, que foi a responsável pela criação de duas cooperativas: uma de pescadores e outra de marisqueiros. 

Em meio à pandemia, a presidente do Sistema OCB-Sescoop do Maranhão incentivou as cooperativas a investirem nos cursos a distância e a buscar caminhos de intercooperação.

Por incrível que pareça, nos aproximamos mais, fizemos mais parcerias e só assim atravessamos esse temporal de pé enxuto”, conta Aureliana. 

“Estamos agora mantendo nossas conexões com os parceiros, na certeza de que esses desafios serão vencidos e o cooperativismo continuará contribuindo para o desenvolvimento social, político e econômico.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Guardiã da semente

Micheli Bresolin

Uma das lideranças mais jovens do cooperativismo Agropecuário mora no Rio Grande do Sul e preside a Cooperativa Mista de Agricultores Familiares de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas (Coomafitt). Micheli Bresolin tem 32 anos e é formada em matemática. A família trabalha com o cultivo de banana há três gerações, produção que começou com os avós maternos.

Minha avó capinava de guinchado. Minha mãe nasceu e cresceu naquela propriedade. Casou-se e permaneceu ali. Eu saí pra estudar, mas já pensando em voltar”, conta Micheli. Hoje, a família trabalha com a produção de banana orgânica voltada, principalmente, para o mercado de alimentação escolar. A transição para um cultivo sem agrotóxico teve a ajuda da Coomafitt, cooperativa criada há 15 anos.

“Foi necessário adaptar a produção para o uso de roçadeira e biofertilizantes. Durante a transição, houve queda na produtividade, já que as bananeiras estavam acostumadas a crescer com a adubação química. Quando você tira isso, a produção decai, mas, com as técnicas adequadas, logo volta a subir”, explica a agricultora, que, além de cursar matemática, fez curso de manejo do açaí e gestão comercial. Em 2015, iniciou a carreira na Coomaffit. Primeiro, como funcionária; depois, como cooperada e diretora.

Micheli junto à família | Divulgação Coomafitt

Na presidência da cooperativa desde março de 2021, Micheli lidera 272 pequenos produtores, compartilhando com eles as experiências da própria família. No contato diário com os cooperados, mostra como o cooperativismo pode melhorar a vida dos agricultores, que deixam de depender de atravessadores para comercializar seus produtos. O objetivo é alcançar autonomia e garantir um preço justo pela produção. A diversificação dos cultivos e a parceria com as escolas também são caminhos defendidos por ela.

A presidente da Coomaffit reconhece que, nos últimos anos, houve um aumento da liderança feminina no cooperativismo e no agro. Antes, as cooperadas trabalhavam apenas em casa e na roça. Os homens assumiam a parte comercial. 

As mulheres não tinham sequer talão para emitir nota fiscal no nome delas. É um longo histórico de submissão. Temos atuado para mudar isso, por meio de rodas de conversa e formação”, conta. 

Outro eixo de trabalho de Micheli é a juventude. Ela quer garantir a permanência dos jovens no campo. Para isso, estabelece parcerias com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Redecoop — cooperativa de abastecimento de alimentos da agricultura familiar que fomenta a intercooperação no campo — para a realização de cursos e assistência técnica. Com o apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ofereceu até mesmo um curso sobre liderança de jovens e mulheres.

Durante a pandemia, um dos maiores desafios da presidente da Coomafitt foi manter as cooperativas motivadas. Com o fechamento das escolas, o escoamento da produção sofreu um grande impacto. A alternativa foi investir nas vendas on-line para os municípios do litoral gaúcho. A cooperativa chegou a entregar cerca de 100 cestas semanais.

Este ano, a estratégia de ampliação de vendas está focada no aumento da certificação da produção agroecológica e na adoção de ferramentas de rastreabilidade, que oferecem ao consumidor a possibilidade de checar por QR Code a procedência dos produtos dos cooperados — principalmente da banana orgânica. 

Estou tão focada no nosso trabalho que levei até um susto quando fui avisada do prêmio da Forbes. Nunca imaginei que pudesse causar um impacto tão grande. Os homens perguntam como conseguimos chegar lá. Parece até que não é pelo nosso esforço”, reclama Micheli, que hoje se vê como uma mulher representando outras.

“A mulher na história sempre foi importante para a agricultura familiar. A mulher é a guardiã da semente. Estamos desafiando a lógica do machismo. A mulher é capaz de produzir, coordenar e mostrar para tantas mulheres que elas podem se desafiar, e que vai dar certo.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Mulher atual

A história de Débora Cristiane Noordegraaf, 50 anos, com o agro e o cooperativismo começou há quase três décadas, no Paraná. O interesse do marido pela suinocultura envolveu toda a família e levou o casal para o cooperativismo. A Castrolanda Cooperativa Agroindustrial ajudou a transformar os sonhos dos Noordegraaf em realidade.

Fiz um curso na cooperativa, que se chamava Mulher Atual e era voltado para autoconhecimento, bem-estar e saúde. Estávamos em um grupo de seis mulheres e ficamos tão maravilhadas com esse curso que resolvemos mostrar nosso interesse em realizar mais cursos”, lembra a hoje coordenadora da Comissão Mulher Cooperativista da Castrolanda. 

Débora Cristiane Noordegraaf

Depois da primeira formação, Débora seguiu em busca de mais capacitação para ela e para outras mulheres, tanto na área técnica do agronegócio como na parte de liderança, oratória e posicionamento gerencial. A Comissão da Mulher, criada há 12 anos, passou a organizar iniciativas de difusão dos princípios do cooperativismo nas escolas de ensino fundamental e médio, o que tornou a Castrolanda pioneira na implementação das cooperativas escolares. Essas ações contribuíram para que as mulheres cooperadas hoje sejam 30% do quadro social da cooperativa.

Vemos que as mulheres estão mais atuantes, buscando conhecimento, se capacitando. Quando você começa a entender o que é a cooperativa e como ela funciona, a tendência é querer se capacitar mais, e isso só traz benefícios para nós, mulheres, e para a Castrolanda”, avalia Débora.

De olho na sustentabilidade da cooperativa, a coordenadora da Comissão da Mulher sonha trazer mais cooperadas e formar novas lideranças femininas dentro da Castrolanda.

Fico muito feliz e grata pelo reconhecimento a nível nacional, isso nos incentiva a seguir com nossas ações.”


Esta matéria foi escrita por Juliana Nunes e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Rainha da soja

Ela transformou o luto em força para construir um novo futuro. Cecilia Falavigna, 77 anos, ficou viúva há 25 anos. Na época, não tinha experiência nem conhecimento sobre os negócios da família. O marido trabalhava com plantação e venda de café no Paraná. Cecília era professora de matemática e ciências no ensino fundamental. Ele cuidava da fazenda. Ela se dedicava aos filhos em Maringá. Uma das filhas, com síndrome de Down, exigia mais dedicação e cuidados especiais. 

Quando meu marido morreu de câncer, muita gente falou ‘vende, arrenda, cria gado’. Mesmo sem entender nada de roça, decidi não fazer nada disso e estou aqui, até hoje, com a minha propriedade”, conta a paranaense, que atribui boa parte da jornada de sucesso ao apoio dado pela Cocamar Cooperativa Agroindustrial, onde se tornaria conselheira e diretora.

Eu disse para a cooperativa: estou aqui, preciso do apoio de vocês. Eu preciso de apoio para poder tocar os negócios da família. Foi aí que comecei. Não tinha noção de quantidade, mas a cooperativa me orientou sobre os alqueires, quanto eu precisava de adubo e de fertilizantes. Esta parte técnica toda ficou por conta da cooperativa.” 

Com a decisão de que continuaria com o agronegócio, Cecília passou a frequentar periodicamente o campo, para se familiarizar com a rotina, e contou com o apoio de funcionários antigos. Fez cursos sobre novas tecnologias, mercado de compra e venda de produtos agrícolas. 

A agricultora resolveu apostar na diversificação do cultivo e passou a plantar milho, soja e laranja nas terras da família em Floraí, a 50km de Maringá, no Paraná. A ousadia e a persistência logo renderam bons frutos. A fazenda passou a ser uma das principais produtoras de laranja do Brasil.

Nem todo mundo, no entanto, reconheceu de imediato o talento de Cecília para os negócios. Afinal, era uma mulher plantando grãos em um ambiente predominantemente masculino. Ela sentiu dificuldade até em conseguir financiamentos para continuar investindo na produção.

 

Recebi vários nãos. Mas pensava: se eu não conseguir aqui, consigo lá. Nunca tive medo. Eu sempre enfrentei, sempre fui atrás”, lembra.  

 

 

 

 

O resultado não poderia ser diferente: as fazendas de Cecília — Santa Ana e Esperança — são referência em produtividade e acumulam vários prêmios no currículo. A agricultora é tricampeã no concurso de máxima produtividade em soja, promovido pela Cocamar. No primeiro ano em que participou da premiação (2012), produziu 74 sacas de soja por hectare. Na colheita de 2018, a produtividade foi de 95 sacas — o equivalente a 5,7 toneladas de grãos —, um aumento de quase 30% em relação ao primeiro ano.

De tanto ganhar prêmios pela produtividade de suas terras, Cecília passou a ser conhecida no setor como “rainha da soja”. O título foi concedido após ela ganhar a premiação de uma multinacional que avaliou a safra de grãos em 2015/2016. Desde então, ela vem, aos poucos, reduzindo o ritmo de trabalho para que o filho assuma os negócios. 

Ainda assim, acompanha o plantio, a colheita e permanece atenta às inovações tecnológicas.

Enfrentamos dificuldades com a pandemia e vamos enfrentar ainda mais agora, com essa guerra da Ucrânia, por conta da importação de fertilizantes”, lamenta Cecília. “Mas nós, mulheres, não podemos ter medo de plantar. Temos que colher para nós e para o mundo.”

 

 



Tu trabalhas, ele e ela trabalham. E eu? Também quero trabalhar!

Com uma deficiência intelectual que a impediu de aprender a ler e escrever quando criança, Jéssica Teixeira, 28 anos, também estaria afastada de uma atividade produtiva, não fosse a iniciativa pioneira de uma organização que já tem muita história para contar: a Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (Coepad), que fica em Florianópolis.

Eu sempre quis ir à escola, trabalhar também. Mas, logo no início, quando eu era pequena, não conseguia unir as palavras. Então, acabei me afastando da escola. Depois, adulta, tentei emprego em três lugares, mas era difícil porque as empresas não dão muita importância quando veem que a gente é deficiente. Hoje, na Coepad, eu tenho mais do que um emprego; tenho amigos e, graças a esse trabalho, eu me desenvolvi e voltei a estudar. Estou na Educação de Jovens e Adultos, aprendendo a ler e a escrever. Trabalhar aqui me estimulou a aprender”, relata Jéssica, emocionada ; ela trabalha na produção de papéis reciclados, papéis-semente, material de escritório e papelaria.

Fundada há 22 anos, por pais e mães de pessoas com síndrome de Down, a Coepad emprega atualmente 40 pessoas com variados tipos de deficiência intelectual. Alguns dos cooperados estão empregados em empresas que procuram a cooperativa para cumprir a Lei das Cotas para pessoas com deficiência (Lei 8.213/1991) . Alguns dão expediente na empresa terceirizadora, outros continuam trabalhando na produção de papéis nas dependências da Coepad. 

MAIS QUE NÚMEROS

Pioneira do cooperativismo na busca por inclusão de pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho, a Coepad nasceu do ato coletivo e desprendido de vários pais e mães. Mas pode-se dizer que o pontapé dessa história foi o “incômodo” de um deles, Aldo Brito. 

Quando a filha de Aldo tinha apenas dois anos e brincava no jardim, uma senhora que a viu      perguntou se ela era “tolinha”.

Não foi por preconceito, acredito eu. Era o jeito que ela tinha de se expressar [a filha de Aldo tem síndrome de Down e hoje está com 44 anos]. Eu disse que sim, mas fiquei curioso pra saber o motivo daquela pergunta. Então, ela me deu um conselho: 'põe ela com gente boa, porque ela vai ficar boa também'. E foi o que fiz, ao lutar pela inclusão dela. Anos depois, lembrei do que disse aquela senhora de um jeito diferente. Percebi que não é só minha filha que ganha ao conviver com outras pessoas. Quem convive com pessoas como ela também se tornam seres humanos melhores”, explica.

A Coepad nasceu do desejo de Aldo e outros pais de integrar pessoas com deficiência no mercado de trabalho, para aumentar sua dignidade, autonomia e autoestima. “Nós nos dividimos em três grupos: um foi estudar o que era necessário para montar uma cooperativa, outro, que foi cuidar da documentação e a base legal; e o terceiro ficou de definir em que atividade devíamos nos concentrar. De 50 sugestões, testamos três: a produção de vassouras, fraldas e papel. Abandonamos logo as vassouras, pois o produto não teve saída. As fraldas, no início, tiveram mercado, chegamos a produzir. Mas logo a concorrência nos fez deixar pra trás esse nicho. Como o papel que produzíamos, a partir da reciclagem, era todo diferenciado, com o tempo, ganhou mercado e passou a ser a matéria-prima de nossos produtos”, recorda.  

AMIGOS PARA SEMPRE

Diferentemente de Jéssica Teixeira, a personagem do início desta reportagem que lutou para estar envolvida numa atividade produtiva, Nívia Maria Silva, 48 anos, nunca pensou que poderia, um dia, voltar a trabalhar. Sim, voltar. Aos 19 anos, ela sofreu um acidente que teve efeitos permanentes sobre sua capacidade mental. No início, as sequelas afetaram até mesmo a fala e o caminhar – funções que, mais tarde, ela retomou. Mas o raciocínio e a adaptabilidade à vida social nunca mais foram os mesmos. Nívia perdeu a capacidade de memorização e ficou desorientada. E, assim, ela se tornou totalmente inabilitada para atividades comuns e corriqueiras para muitas pessoas.

Nívia já tinha trabalhado como secretária e no comércio também — setor em que chegou a ser empresária, ao ter montado um pet shop. Mas, depois do acidente e de suas consequências, nem cuidar do filho — que era um bebê à época e ainda mamava, — ela conseguia. 

Foi bem difícil pra mim pensar em trabalhar como antes, eu tinha muito medo da rejeição. Porque, ainda mais que a minha deficiência não é algo visível. Então, se alguém com deficiência física já é difícil encontrar um espaço no mercado de trabalho, imagina com uma deficiência que não se vê”, constata.

E ela confessa que seu caso não foi como o de seus amigos da Coepad, que viram na cooperativa um bote seguro no meio de uma enchente. “Eu nem queria vir aqui. Meu cunhado e minha irmã insistiram. Eu tinha medo que me olhassem diferente ou exigissem de mim o desempenho de uma pessoa neurotípica. Mas, hoje, sete anos depois, não me vejo fora daqui. Trabalhar me fez me sentir útil, capaz de muitas coisas, novos pensamentos e ideias”.

O acolhimento é a filosofia que norteia a Coepad. Silvana Zimmermann, diretora administrativa-financeira da cooperativa, foi quem entrevistou Nívia quando ela chegou em busca de uma vaga. 

Ela chorava de um lado e eu, do outro, sem saber o que fazer. Não tinha nem como começar a entrevista. Porque ela só chorava. Hoje, eu vendo o relato dela sobre a trajetória aqui, na Coepad, eu me emociono. Quando a cooperativa começou, há mais de 20 anos, não se falava em inclusão como hoje. Agora, quando vejo que quem faz a construção do dia a dia são eles, vejo que isso é fruto também do nosso jeito de tratá-los, pois a gente primeiro vê a pessoa, não a deficiência. Vemos que todos têm suas capacidades e, aqui, envolvidos com seus pares, pessoas com o mesmo tipo de limitação, eles desenvolvem sua autoestima. É um orgulho pra mim”, celebra.

Mas o espírito desse negócio inclusivo não se resume à atividade econômica: os cooperados ali têm acesso a atividades esportivas, por meio de um convênio com o Instituto Guga Kuerten. E, claro, a socialização, por meio de confraternizações e outras atividades, une ainda mais os associados que já têm tanto em comum. “Os amigos que fiz aqui são fundamentais na minha vida”, afirma Nívia.

INSERÇÃO E RENDA

É certo dizer que a Coepad pode servir de modelo para outras cooperativas, até pelo seu pioneirismo, mas isso não significa, necessariamente, inspirar-se nos mesmos pilares. Em Franca, cidade que fica na porção nordeste do estado de São Paulo, inserida em um polo de grande expressão econômica, nasceu a Cooperativa Social de Pessoas com Deficiência Intelectual, Familiares e Amigos (Codifa), com forte atuação na capacitação e busca pelo cumprimento da lei que determina a contratação mínima de pessoas com deficiência por parte das empresas. E quem conta como isso aconteceu é Cristiane Olegário Barbosa, articuladora da cooperativa, supervisora de Gestão e Pessoas, e responsável pela área de responsabilidade social da Sicoob Credicocapec.

A Codifa é resultado de um projeto de responsabilidade social do Sicoob Credicocapec em parceria com o Centro de Educação Integrada (CEI) — instituição mantida pela prefeitura de Franca com foco na inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 

Começamos com a capacitação de pessoas com deficiência intelectual, que é a expertise do CEI, com quem fizemos parceria logo no início. E isso engloba desde o curso de relações de trabalho, elaboração de currículos, até a inserção nas empresas”, explica Cristiane.

A diretora do CEI, Sandra Cristina Calandria Pedigone, revela que a união com a Codifa permitiu ampliar o alcance do projeto educacional da instituição. “Antes, nós trabalhávamos somente com a Lei de Cotas, buscando encontrar vagas para nossos alunos no mercado de trabalho. Depois da parceria com a Codifa, conseguimos incluir as pessoas com deficiência que são beneficiárias do BPC [Benefício de Prestação Continuada] na cooperativa. No começo foi difícil, porque as famílias tinham medo de perder o benefício, caso os filhos começassem a trabalhar. Havia o receio de eles serem demitidos, e acabarem sem nada”, explica Sandra.

Para criar um mecanismo eficiente — capaz de dar um mínimo de garantia de acesso a uma vaga de trabalho às pessoas treinadas no CEI e cooperadas da Codifa —, foram feitas outras parcerias, envolvendo ainda auditores-fiscais do Trabalho, a Justiça do Trabalho de Franca, o Juizado Especial da Infância e da Adolescência e o Senac. Agora, os beneficiários do BPC podem trabalhar — sentindo-se mais úteis e cidadãos — sem perder a ajuda de custo do governo. 

Mas nem sempre há o que se comemorar. Sandra Pedigone, por exemplo, acredita que deveria haver mais conscientização por parte das empresas para incluir as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, de forma que buscassem a inclusão não só em função da obrigatoriedade, mas também por acreditarem que essas pessoas têm potencial. 

“Na pandemia, por exemplo, constatamos que, diante da perda econômica vinda com o lockdown, os primeiros a serem dispensados foram pessoas com deficiência. Nas incubadoras do cooperativismo, foram registradas 36 demissões, sendo que, em todo o ano de 2016, foram 23.”     

UMA FAMÍLIA

Brian Eduardo da Silva, 29 anos, já trabalhou como empacotador de congelados e operador de esteira, separando sapatos. Há dois anos trabalhando na Codifa, mesmo não tendo uma renda pelo trabalho que faz (Brian tem problemas neurológicos que prejudicaram sua capacidade de memorização e, em função de sua deficiência, é beneficiário do BPC), a cooperativa tem um significado mais do que especial para ele. “É como uma família para mim, um lugar onde a gente conversa, ri, se entende, trabalha. Eu não vivo sem a Codifa. Mais pessoas como eu deveriam conhecer a cooperativa”, defende.

Treinado em uma das turmas de capacitação em mídias sociais abertas pelo Senac, Brian agora faz parte da equipe de produção de conteúdo da Codifa. Com outros meninos e meninas, ele alimenta o perfil da cooperativa no Instagram e faz a propaganda dos produtos. Os cooperados produzem papel e artefatos que têm o papel como matéria-prima, como produtos de patchwork, sacolas de festas infantis, calendários, porta-retratos, agendas, blocos de anotação, porta-retratos, marcadores de livro, cartões de fim de ano. Aliás, é exclusivamente por meio da rede social que a produção da cooperativa é vendida, no perfil @codifafranca.

Sempre que vê uma peça da cooperativa ser vendida, Brian se orgulha de ter uma atividade que exige mais do seu raciocínio do que uma ocupação artesanal. “Eu comecei aqui com muita dificuldade de memorizar. Mas as pessoas foram tendo paciência comigo e me ajudaram. Tem lugar que tem preconceito e não nos aceita como somos. Quando eu escuto a experiência dos meus amigos, por exemplo, penso em mim e vejo que, se eles tivessem tido mais apoio, teriam ido mais longe”, diz ele, dando a tônica de que não basta atingir os percentuais estipulados por lei. É preciso alcançar a totalidade do princípio da inclusão e abraçar a causa dessas pessoas, que são capazes e podem ser produtivas.

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ENTENDA O CONCEITO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PCD)

De acordo com orientações internacionais, consideram-se pessoas com deficiência os indivíduos que afirmam ter pelo menos muita dificuldade em uma ou mais questões relacionadas às habilidades de enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus, se relacionar com outras pessoas ou aprender. Tomando como base essa definição, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que elabora o Censo, constatou que o Brasil tem mais de 12,5 milhões de brasileiros com deficiência, o que corresponde a 6,7% da população, de acordo com o ano do censo.

O Transtorno do Desenvolvimento Intelectual ou Deficiência Intelectual é um quadro caracterizado por limitações nas habilidades mentais em geral. São habilidades ligadas à inteligência, que envolvem raciocínio, resolução de problemas e planejamento. A condição também afeta o comportamento adaptativo do indivíduo, expresso nas habilidades conceituais, sociais e práticas.

A Deficiência Intelectual não é uma doença, e a pessoa com esse quadro deve ser devidamente acompanhada por um médico e receber estímulos por meio do acompanhamento psicológico, fonoaudiológico e com terapeutas ocupacionais. Assim, as limitações podem ser superadas por meio da ajuda profissional, com vistas ao seu desenvolvimento.

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Esta matéria foi escrita por Lana Cristina e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Promoção da equidade é um chamado internacional

A igualdade de gênero é condição indispensável para a construção de um futuro equitativo e sustentável. Das mais de 1,3 bilhão de pessoas vivendo em condições de pobreza no globo, 70% são mulheres, segundo relatório das Nações Unidas. Elas são ainda as chefes de família em 40% dos lares mais pobres em áreas urbanas. Em áreas rurais, predominam na força de trabalho mundial da produção alimentar (de 50% a 80%), mas dispõem de menos de 10% das terras.

Pensar em um mundo mais igualitário, portanto, inclui a necessidade de empoderamento financeiro de mulheres.

Sempre à frente do seu tempo, as cooperativas são um modelo econômico centrado nas pessoas e que pode contribuir para o alcance dessa meta em todo o planeta.  

Por meio de seus valores de ajuda mútua, igualdade e justiça, e princípios de adesão aberta e voluntária e controle democrático, as cooperativas estão prontas para enfrentar muitas das questões que afetam negativamente as mulheres, especialmente para abordar o problema multifatorial da pobreza e ajudar a moldar o bem-estar delas. 

As cooperativas são, dessa forma, uma ferramenta potente para alcançar a equidade de gênero.

Na avaliação da presidente do Comitê de Igualdade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), María Eugenia Perez, as cooperativas aumentam o acesso das mulheres aos recursos e às oportunidades econômicas e capacitam as mulheres, não apenas economicamente, mas também individual e socialmente, para desafiar as normas sociais e culturais. Além disso, criam um ambiente propício para que mulheres e meninas usem essas oportunidades e recursos para alcançar resultados iguais aos dos homens.

 O modelo cooperativo provou ser um meio de construir resiliência a longo prazo, permitindo que as comunidades, especialmente mulheres e meninas, superem múltiplas crises e choques, incluindo a pandemia e a guerra que estamos enfrentando”, avalia María Eugenia Perez que, em março, em virtude do Dia Internacional da Mulher, publicou uma declaração mundial sobre o assunto

Vale destacar: o Comitê de Igualdade de Gênero da ACI trabalha extensivamente pela integração do impacto do modelo cooperativo, pela conquista da equidade de gênero e da justiça climática. “Abordar a desigualdade de gênero e empoderar as mulheres é um pilar essencial de nosso trabalho para promover os direitos humanos e o desenvolvimento econômico sustentável e resiliente.”

ESFORÇO NA EUROPA

Recentemente eleita, a presidente da ACI Europa, Susanne Westhausen, também acredita na importância das cooperativas para a construção de um mundo mais justo e democrático. Para ela, os princípios e valores do cooperativismo já norteiam a ideia de igualdade de gênero. 

Quando você tem valores como autoajuda, autorresponsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade, isso, obviamente, orienta você em uma direção. Quando você tem democracia e direitos iguais, isso resulta em um melhor uso dos recursos – tanto recursos naturais quanto recursos humanos. Porque quanto mais diversidade, mais igualdade, mais bons cérebros você tem ao redor da mesa para encontrar as soluções certas”, completa. 

Em entrevista exclusiva à Saber Cooperar, Susanne, que também é presidente da Confederação Dinamarquesa de Cooperativas, afirma que o modelo cooperativo está à frente de outros modelos de negócios no quesito igualdade de gênero e aposta no conhecimento e nos bons exemplos para guiar novas iniciativas. 

Susanne Westhausen, presidente da ACI Europa

Acho que o que precisamos fazer é olhar para os bons exemplos. Então, onde vemos os bons exemplos? E temos que nos orgulhar de que o movimento cooperativo esteja à frente desse processo. Podemos não estar milhas à frente, pode não ser 50-50, mas o movimento cooperativista está à frente do que está acontecendo no mundo.” 

“Para mim, essa é a maneira de fazê-lo: é compartilhar conhecimento e bons resultados. É muito bom reconhecer que uma das únicas coisas no mundo que quanto mais você compartilha mais você ganha é o conhecimento. E isso é uma coisa que reconhecemos nas cooperativas que o compartilhamento de conhecimento é a base do nosso modelo de negócios.”

Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da ACI Europa, Susanne não credita sua eleição ao fato de ser mulher, e sim, ao de ser a melhor candidata no pleito. 

Não vejo a minha eleição para presidente das cooperativas Europa como algo que tenha a ver com o fato de eu ser mulher. É uma curiosidade que eu seja a primeira mulher presidente? Sim. Mas alguém acabaria chegando lá. Foi uma eleição aberta e eu ganhei porque era a mais qualificada”. 

Para a sua gestão, entretanto, Susanne garante que haverá preocupação com a equidade. “Quando eu apresentei meu programa para as eleições, a igualdade e a igualdade de gênero estavam incluídas no sentido mais amplo. Então, é claro que estou comprometida com isso. No momento, estamos trabalhando em nossa estratégia para nosso mandato e a igualdade de gênero será uma das prioridades dessa estratégia”, garante.

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Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Diversidade é atalho para o desenvolvimento

Esqueça o discurso politicamente correto: sua cooperativa precisa investir em diversidade, sim —      e o mais rápido possível —, se quiser ter resultados melhores que os da concorrência. Não é questão de ser bonzinho ou socialmente responsável. Diversidade é um caminho para crescer. Por isso, sua cooperativa precisa pensar sobre isso. 

De acordo com o estudo A diversidade como alavanca de performance, publicado em 2021 pela McKinsen — líder mundial em consultoria empresarial —, organizações com maior diversidade de gênero em cargos executivos têm 21% mais chance de ter resultados acima da média. No caso de diversidade étnica, isso é ainda mais aparente: 33%. 

Até aí, tudo bem, exceto por um pequeno detalhe: embora a diversidade seja comprovadamente um atalho para o crescimento de qualquer negócio, 39% dos líderes acreditam que as pautas sobre equidade, empoderamento e inclusão são perda de tempo, de esforço e de dinheiro. Os dados são de uma pesquisa publicada pela United Minds, consultoria de RH e transformação organizacional, no fim      do ano passado.  

O dado acima fez a equipe da revista Saber Cooperar se perguntar como o tema da diversidade é visto dentro do cooperativismo. As respostas para essa pergunta foram dadas por duas mulheres que  convivem diariamente com os benefícios e com os desafios da gestão da diversidade: Fabíola Nader Motta,  gerente-     geral do Sistema OCB, e Sil Bahia, codiretora executiva do Olabi — organização social com foco em inovação social, tecnologia e diversidade — e coordenadora da PretaLab —      projeto que estimula mulheres negras e indígenas a trabalhar no mercado de inovação e novas tecnologias. 

Confira, a seguir, os principais trechos dessa entrevista.

Revista Saber Cooperar: O que significa diversidade para você?

Fabíola Nader Motta: Diversidade, para mim, é poder conviver — na minha vida e no meu trabalho — com pessoas que são diferentes de mim. Diferentes em todos os sentidos: sexo, raça, formação, condição social, visão de futuro, religião, orientação sexual... Esses diferentes pontos de vista ajudam a construir uma diversidade de pensamentos e visão sobre o mundo. Além disso, diversidade, para mim, é um papel ativo; é promover um ambiente plural dentro das nossas vidas, dentro das nossas organizações; é entender que, ao estar rodeado de pessoas que pensam diferente, temos mais chances de criar produtos e serviços que possam atender      um maior número de pessoas. 

Sil Bahia: Diversidade é a possibilidade de se ter um espaço, uma possibilidade de convivência a partir da diferença. Isso, para mim, é diversidade: conviver a partir das diferenças, respeitando essas diferenças como algo positivo. 

Como trazer esse conceito para as nossas vidas e para o nosso trabalho?

FM: O primeiro passo para a gente trazer esse conceito para a nossa vida, para o nosso trabalho, é estarmos abertos a isso. É óbvio que é muito mais fácil a gente trabalhar com quem tem a mesma origem, o mesmo estilo, a mesma idade que a gente... Quando trabalhamos com pessoas diferentes, temos de alinhar nossa comunicação, ouvir outros pontos de vista, defender ideias, mediar conflitos. E no meio dessa ebulição de ideias vem a inovação. 

SB: Existem caminhos para isso, e um deles é trazer essa discussão sobre a importância da diversidade para dentro das organizações. Na sequência, temos de buscar caminhos para que, de fato, essa diversidade possa existir, florescer e aparecer, com a criação de um ambiente que não apenas possibilite, mas que também estimule diversidade. 

Abraçar a diversidade pode aumentar a produtividade e a competitividade de um negócio? Como?

FM: A diversidade consegue, sim, ampliar a competitividade de um negócio. Um time mais diverso traz melhor compreensão do mundo e do seu público-alvo. Se a gente só se conecta com pessoas que são iguais à gente, como vamos entender a necessidade do outro? Por isso, um time diverso tem menos pontos cegos. Isso faz com que, sim, você aumente a sua competitividade. 

SB: Muitos estudos dizem que quanto mais diversidade em um negócio, maiores as chances de inovação, assim como a performance em relação ao lucro aumenta. Temos estudos que defendem que a diversidade é um incentivo à inovação. E isso acontece porque você acaba tendo múltiplos olhares para determinado problema e para a criação de soluções. Quando você tem essa pluralidade presente, de fato, dentro do negócio, acaba tendo mais inovação, melhor performance e, consequentemente, melhor resultado em relação ao lucro. 

Cite as principais vantagens de se ter um time diverso dentro de uma organização.      

FM: Em primeiro lugar, um ambiente diverso ajuda a atrair talentos. E esses talentos vão formar uma equipe mais plural, empática e engajada. De acordo com um estudo da Harvard Business, empresas nas quais o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a ir além das suas responsabilidades. Um segundo ganho importante é o aumento da criatividade e da inovação. Por fim, a diversidade ajuda a oferecer melhores produtos e serviços, ampliando nossa capacidade de atingir a necessidade real de seus clientes. 

SB: Os ganhos são muitos: ter mais inovação, ter um ambiente mais seguro para que as pessoas possam expor suas ideias, ter um ambiente no qual as soluções possam vir de outros lugares. Ter um ambiente diverso também tem a vantagem de estar colaborando para uma sociedade melhor, por estarmos expandindo o olhar e as possibilidades de criatividade, a possibilidade de ter novos produtos que sejam mais inclusivos, principalmente no campo da tecnologia. 

Por ser um movimento com foco nas pessoas, o cooperativismo tem no respeito às diferenças um princípio. Como isso facilita a integração dos diferentes tipos de pensamentos? 

FM: O cooperativismo é um modelo de negócios que estimula a cooperação. Estimula o foco nas pessoas, independentemente de etnia, raça, sexo, religião, condição social. Então, é um modelo ideal para a gente estimular a participação de todas as pessoas por um objetivo em comum. É um modelo de negócios que consegue estimular a participação de diferentes, convidando todos os cooperados a se unirem para melhorar a vida não apenas do grupo, mas de toda a comunidade.

SB: Acredito que sim. Se as cooperativas têm um espaço maior de escuta do que as empresas tradicionais, acho que isso acaba facilitando a integração, o diálogo entre diferentes tipos de pensamento. 

No cooperativismo, existe uma preocupação grande em aumentar a participação de jovens e mulheres em posições de liderança. Qual seria a melhor maneira de fazer isso?

FM: Sem dúvida, atrair jovens e mulheres para o cooperativismo, principalmente para cargos de liderança, é o objetivo de todo o nosso movimento. Cooperativas de diferentes segmentos, de diferentes      portes, terão estratégias diferentes para isso. O que importa de verdade é que isso seja uma decisão consciente da liderança da cooperativa. Que a liderança da cooperativa tome a decisão de fazer ações efetivas para atrair esses públicos. Isso significa ter um planejamento, pessoas na sua equipe direcionadas para executar esse plano e prever recursos para isso. Não adianta fazer apenas um discurso bonito sem fazer mudanças efetivas. O que não faltam são opções de como fazer. A questão é colocar isso como prioridade, dedicando recursos e pessoas para esse objetivo. 

SB: Abrir espaço para mulheres ocuparem posições de lideranças é um bom começo. Além disso, concomitantemente, colaborar com a formação e o desenvolvimento de novas lideranças, pensando isso em relação à juventude, em como a gente pode investir no desenvolvimento. Estou falando de todas as competências; não apenas das habilidades técnicas, mas também das soft skills (habilidades comportamentais). Há um trabalho bem grande a ser feito em relação ao desenvolvimento de pessoas e de lideranças. 

Falamos bastante da diversidade dentro das equipes de trabalho de uma empresa. No entanto, é preciso pensar em diversidade na hora de lidar com os clientes externos, que precisam ser respeitados em suas diferenças. Como isso pode ser trabalhado?

FM: Isso é um pouco sobre o que conversarmos anteriormente. Para você conseguir ter uma visão ampla e entender toda a sua base de clientes, você precisa ter diversidade dentro da sua organização. Quanto mais diversidade, quanto mais pontos de vista, quanto mais contextos diferentes, maiores serão as chances de entender as reais necessidades de seus clientes. 

SB: Acho que todo mundo tem de ser respeitado, independentemente de qual seja a sua diferença. Acho que isso tem de ser trabalhado a partir da empatia. A empatia é fundamental e é uma chave importante para a gente lidar com quem é diferente e não pensa igual a gente. De quem não veio do mesmo lugar que a gente e não ocupa os mesmos espaços. Então, acho que a empatia é a chave para tudo. 


Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 37 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Como inovar no cooperativismo?

O mercado está em constante mudança. Por isso, estar atento aos seus movimentos e, principalmente, trazer a inovação para dentro da cooperativa é um dos principais desafios para se manter competitivo no mercado. 

Mas afinal, o que é inovar? O presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, está em contato constante com as principais cooperativas do Brasil e sabe da importância da inovação no setor.

Inovação não é inventar um chip novo de computador ou um novo aplicativo. Inovação está em tudo: está no simples e no óbvio. Está no social. E a relação é o grande mote para que [a inovação] aconteça”, afirmou durante a abertura da semana InovaCoop em setembro deste ano. 

Hoje grande parte das cooperativas já colocaram a mão na massa em projetos inovadores, utilizando ferramentas e metodologias imprescindíveis para se destacar no mercado. Uma pesquisa divulgada pelo Sistema OCB em março de 2021 trouxe perspectivas interessantes sobre a inovação dentro das cooperativas do país. A pesquisa mostra que, o que antes era visto como exclusividade nas indústrias ligadas diretamente à tecnologia, está sendo recebida com novos olhos pelo cooperativismo. Entre as quase 500 cooperativas que participaram da pesquisa, 84% afirmam que a inovação é importante para o crescimento e desenvolvimento do setor. 

As áreas em que as cooperativas mais inovaram, de acordo com a pesquisa, são, respectivamente, atendimento ao cliente (64%), marketing e comunicação externa (60%), tecnologia (53%) e comercial (45%). O impacto já foi sentido entre as cooperativas e cooperados: 88% delas obtiveram resultados positivos em 12 meses após implementarem projetos inovadores. Entre eles, destaca-se o aumento na agilidade dos procedimentos internos; maior crescimento na oferta de novos produtos e serviços; maior visibilidade e competitividade; e, claro, crescimento de faturamento - as cooperativas viram um acréscimento de 20%, de acordo com dados da pesquisa. 

Afinal, como inovar? 

Inovar está longe de ser uma missão impossível. Apesar de não existir uma fórmula específica, há muitas metodologias e ferramentas já testadas e aprovadas que podem impulsionar a inovação dentro de uma cooperativa. “Nós temos visto ao longo da história humana que fora da inovação não há solução durável. E, nas cooperativas, essa busca constante pelo aperfeiçoamento de seus processos, produtos e serviços é algo que faz parte do DNA delas. É isso que assegura que as nossas coops ampliem sua competitividade no mercado. Inovar é a resposta”, afirma Márcio Lopes de Freitas. 

Foi pensando nisso que o Sistema OCB preparou o livro Inovação no Cooperativismo, lançado em 2022. Um dos capítulos destaca as principais metodologias e ferramentas usadas dentro do setor, todas ao alcance de qualquer cooperativa que busque inovar. 

Dividido em Metodologias para Inovação, Ferramentas para Inovação e Ferramentas de Teste, o capítulo, estruturado por Samara Araújo, então coordenadora de inovação do Sistema OCB, surgiu da necessidade de adaptar instrumentos de gerenciamento à construção de novos projetos com agilidade, foco no cliente, flexibilidade e antecipação de estratégias.

Uma das metodologias mais importantes e que trouxe resultados satisfatórios no desenvolvimento de projetos inovadores entre as cooperativas é o Design Thinking (pensamento de design). Desenvolvida na década de 1990 na Universidade de Stanford, Estados Unidos, a metodologia possui três principais pilares (empatia, colaboração e experimentação) e quatro etapas principais, divididas no que ficou conhecido como Duplo Diamante: Descobrir, Definir, Desenvolver e Entregar. 

O primeiro passo, Descobrir, é onde se forma a estrutura do projeto. É aqui que se descobre o problema a ser solucionado e onde se pesquisa todas as informações necessárias para o desenvolvimento do projeto. No segundo passo, Definir, é preciso organizar e filtrar as informações coletadas na etapa anterior para se chegar a uma definição clara do problema. Em terceiro, já no segundo diamante, está a etapa mais prática: Desenvolver e criar a solução do problema identificado. Neste momento são feitas vários vários estudos de soluções até que uma seja selecionada, para então Entregar o produto na última parte, de preferência através de ferramentas de testes para corrigir erros que possam eventualmente surgir. 

Um case de sucesso com o uso do Design Thinking entre as cooperativas de crédito aconteceu na Sicredi Pioneira, em Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul. Foi neste município de apenas 21 mil habitantes que um projeto inovador foi construído graças à junção dessa e de outras ferramentas de inovação. 

O gerente de negócios estratégicos do Sicredi, Jonas Rauch, destaca que a metodologia os ajudou a criar projetos que impactam diretamente na vida dos cooperados. Um exemplo é o Fidelidade Juntos, programa de fidelidade em que os associados adquirem pontos a serem trocados por brindes da cooperativa, isenção e descontos em serviços, e até por produtos da região, fomentando o comércio local.

Com o Design Thinking aumentamos o nível de engajamento, tivemos uma assertividade maior e conseguimos validar o projeto e ajustá-lo ao longo do processo”, diz Jonas. 

Para se chegar até o resultado final, a equipe de negócios da cooperativa uniu diversas metodologias e ferramentas de inovação além do Design Thinking, como o Design Sprint —uma forma de criar um projeto do zero e obter resultados em até cinco dias; e as ferramentas de testes, como Projetos Piloto, protótipos e o MVP (Mínimo Produto Viável), usadas para testar a solução antes de lançá-la definitivamente no mercado. 

Jonas explica que o olhar para o cliente, através do Mapa da Empatia, foi fundamental para construir o projeto em parceria com o cooperado.

Essas ferramentas e metodologias fazem parte da nossa caminhada para olhar a inovação de forma estruturada, pensar em como fazer diferença nos negócios e nos manter relevantes na nossa área de atuação. As empresas até então tinham o hábito de construir as soluções de forma mais fechada, olhando para dentro da cooperativa. Metodologias como o Design Thinking se propõem a trazer o associado ao centro da construção da solução”, explica. 

Outras cooperativas pelo Brasil também possuem cases de projetos inovadores. A Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, PR, foi apontada como uma das 10 mais inovadoras do sul do Brasil, segundo levantamento feito pela revista Amanhã em parceria com o instituto britânico IXL-Center. Para chegar a esse ponto, a cooperativa incorporou as ferramentas de inovação em programas de incentivo e ensino entre os colaboradores. O projeto Kaizen, por exemplo, foi criado utilizando o conceito do Lean Startup e Lean Six Sigma, ferramentas focadas na otimização do tempo e redução de custos ao elaborar soluções para determinados problemas. 

No dia-a-dia dos profissionais da Cresol, cooperativa de crédito presente em onze estados brasileiros,  termos como Business Model Canvas, Mapa de Stakeholders, benchmarking e Análise SWOT, além dos já citados Design Thinking e Design Sprint, são comuns. 

Business Model Canvas é uma ferramenta prática, em que se coloca em uma tabela informações essenciais da cooperativa, como palavras-chave, fontes de receita, principais parceiros e canais de comunicação, entre outros. Outra ferramenta muito utilizada pela cooperativa é a Análise SWOT (FOFA, em português), sigla para Strenghts (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). 

Buscamos, através da inovação, uma experiência do moderno. Apoiados em uma estratégia de negócios robusta e pautando as ações em nossos valores, através de processos, metodologias ágeis e do Laboratório de Inovação, impulsionamos a transformação digital e cultural com entregas de valor em todas as nossas esferas”, explica Andressa Bremer, gerente de projetos da área de MPS da Cresol Confederação. 

Andressa destaca projetos inovadores criados dentro da Cresol utilizando essas metodologias, como o lançamento de novos produtos de investimento (LCA), criação do Laboratório de Inovação dentro da cooperativa, melhorias no Seguro Prestamista e nos Produtos de Crédito, além de novos protótipos do Gerenciador Financeiro do Cooperado e da abertura de conta de forma totalmente digital.  

Para a Cresol, inovar constantemente não é benéfico somente para uma única cooperativa, mas para todo o setor. “A inovação no cooperativismo também desempenha um papel importante no crescimento econômico. A capacidade de resolver problemas críticos com inovações, especialmente em países em desenvolvimento, podem fazer toda a diferença em suas comunidades. Países com ecossistemas de inovação maduros desenvolvem-se mais rápido e tornam-se mais sustentáveis, têm a macroeconomia forte, reverberando o bem-estar em todas as camadas da sociedade”, afirma Andressa. 


Esta matéria foi escrita por Renato Crozzatti e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Coop digital

Seguindo esse movimento de digitalização de serviços, a Integrada Cooperativa — em parceria com outras 11 cooperativas do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e São Paulo — criou o marketplace Supercampo para venda de insumos, peças e ferramentas para os cooperados e colaboradores. Até o fim do ano a plataforma terá 200 mil itens disponibilizados.

E a expectativa é que no futuro próximo o marketplace atenda ao público em geral, nos moldes de plataformas digitais como a Orbia, a Magalu, do ramos de eletrodomésticos, entre outras redes.

O professor da FGV, Leandro Guissoni, destaca: "em virtude dos riscos e especificidades que existem no agro, maiores que em outros setores, os produtores já vinham se organizando para integrar atividades da cadeia de valor. As cooperativas são prova disso. Elas integram diversos produtores, diversas atividades, buscam ganhos coletivos. A meu ver, de todos os canais do agro, as cooperativas têm potencial disruptivo extremamente forte. Elas tendem a ser mais cirúrgicas sobre que solução e que tecnologia trazer para os produtores”.

A Cooperativa também tem vínculo com grandes empresas do setor, como a Bayer, de onde recebe sementes com tecnologia agregada, entre outros insumos. No caso do produtor João Francisco, a parceria com a empresa ocorre por meio do projeto Valore, que promove a certificação da propriedade rural pela RTRS, uma iniciativa europeia que atesta o cultivo sustentável da soja e a responsabilidade socioambiental do setor.

“Instalamos placas fotovoltaicas para gerar nossa própria energia, captamos água com poço artesiano, isolamos a sede da propriedade para proteger os funcionários em área delimitada, uma série de práticas de utilização dos insumos e das máquinas agrícolas, de acordo com o bem estar social e ambiental. Isso é uma coisa que já estamos desempenhando na nossa propriedade”, conta João Francisco.

NÚMEROS QUE IMPRESSIONAM

Os resultados da política de inovação da Integrada já trouxeram frutos para a cooperativa. Em 2020, ela superou a barreira dos R$ 4 bilhões de faturamento, mesmo com a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. E com o novo ciclo estratégico, a meta é faturar R$ 8 bilhões.

Buscamos em cinco anos dobrar nosso faturamento em resultado percentual. A transformação digital é uma das estratégias que utilizamos para essa frente. É o cooperativismo de resultado, que mantém a essência e os princípios do cooperativismo, buscando a eficiência operacional em todas as frentes”, comentou Galletti.

Com mais de 700 mil hectares de área produtiva, a Integrada atua nos estados do Paraná e de São Paulo. A produção é voltada para os grãos, principalmente soja, milho, trigo, café e laranja, mas também tem algumas indústrias de beneficiamento dos produtos.

MERCADO EM MOVIMENTO

A tendência de especialização das atividades do agro foi um dos pontos destacados por Leandro Guissoni, professor da FGV, na semana InovaCoop, realizada em setembro pelo Sistema OCB. O professor explicou que esse processo é resultado de uma mudança de foco no mercado, que passou a direcionar sua visão para a tecnologia e para a satisfação das necessidades do cliente.

O Agro sempre teve uma lógica de visão de produto. Por isso tem empresas especializadas em fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas e sementes. As principais empresas do agro cresceram com essa orientação do produto, mas aí vem a visão de tecnologia [que atua com muitas empresas diferentes]” e com foco no cliente”.

O especialista ressaltou, ainda, que essa pulverização do trabalho no campo alterou a correlação de forças no mercado agro, antes dominado por grandes corporações. O movimento também é percebido em outros modelos de negócio.

“Tradicionalmente, as empresas fabricantes, por meio de muitos canais de distribuição, inclusive cooperativas, queriam estar presentes em todas essas etapas para oferecer um pacote completo para o produtor. Mas, os bancos tradicionais não conseguiram fazer isso, no setor automotivo grandes marcas não conseguiram fazer isso, então, eu acho difícil alguém conseguir no agro. A única solução é saber qual etapa eu quero fazer melhor para o produtor. Afinal, quem quer fazer tudo bem feito não faz nada. Tem que ser preciso”, explica Guissoni.

Para o professor Marcos Fava, o cenário de inovação favorece o cooperativismo, que já ocupa papel colaborativo no modelo de produção e pode se fortalecer ainda mais com a possibilidade de desacoplamento das atividades de produção.

Como a cooperativa é uma entidade acopladora, ela tem que descobrir as melhores peças, às vezes fazer como no setor privado, e ser a protagonista dessa questão toda. Entendendo os problemas, mapeando onde tem solução e com isso entregar o principal de uma cooperativa que é valor para o produtor rural”, comentou Fava.

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FIQUE DE OLHO

O impacto da digitalização no campo foi debatido no painel “Transformação Digital e Novos Canais para o Agro”, durante a semana InovaCoop, promovida pela OCB. Participaram do debate o professor da FGV EAESP, Leandro Guissoni; o Doutor em Agro, Marcos Fava, e o diretor da Natura, Murilo Boccia. Confira a íntegra da mesa redonda.

Clique na imagem para assistir ao vídeo

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Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Celeiro da inovação

Mapear a condição do solo, prever a temperatura, selecionar, plantar as sementes, adubar a terra, aplicar defensivos, enfim, colher. Da semeadura à colheita, são várias as etapas do processo de cultivo de alimentos e outros produtos essenciais para a sociedade. E para cada passo dessa jornada existe uma startup ou empresa capaz de auxiliar o pequeno, médio e grande produtor rural a gastar menos e a produzir mais — com o mínimo de impacto ambiental e o máximo de valor socioeconômico possível.

O agro é composto pelo antes da porteira e pelo elo de distribuição. Então, quando falamos do digital no agro, são muitas oportunidades, desde contratos que podem ser assinados pelo computador até o uso de drones para controlar pragas. É um universo muito grande nessa cadeia produtiva, dentro da qual as cooperativas têm um papel muito forte. ”, comentou Marcos Fava, autor e organizador de mais de 67 livros sobre agronegócios, conhecido na internet pelo pseudônimo de “Doutor Agro”. 

Para se ter uma ideia do impacto do cooperativismo no agro, cerca de 50% da produção alimentícia brasileira passa por uma cooperativa, segundo Fava. E com a adoção de novas tecnologias e incorporação de processos inovadores, o cooperativismo agro tende a aumentar seu protagonismo na produção nacional.

DO ARADO PARA TECNOLOGIA EMBARCADA

Com a presença das novas tecnologias  no campo, a agricultura, de fato, mudou. Essa é a percepção de milhares de produtores rurais de todo o país. Gente como João Francisco, 59 anos, engenheiro agrônomo e produtor rural do município de Guaíra, no interior do Paraná.

A vocação de João para a agricultura vem de sua família, uma das pioneiras na abertura de terras para plantio na região oeste do Paraná, na década de 60. Ele está no campo há pelo menos 38 anos. 

Começamos arando com boi, e hoje tem trator que anda sozinho. Estamos com bastante tecnologia embarcada nas máquinas. Tem colheitadeira que liga o sinal do GPS e vai sozinha. Aí, quando chega no final da plantação, você vira o volante para ela continuar sozinha. Não tem limite”, conta o produtor.

No verão, João produz soja; e no período do inverno, alterna para milho, aveia e outras culturas. Há mais ou menos 30 anos, começou a utilizar a técnica do plantio direto — prática tradicional que revolucionou a agricultura brasileira ao mudar o manejo do solo para causar menor impacto e gerar maior produtividade.

O plantio direto abriu caminho para incorporação de outras práticas inovadoras na produção. Nos últimos 20 anos, a propriedade foi transformada pela introdução de novas tecnologias desenvolvidas por startups e diferentes empresas.

“Eu tenho máquina de aplicar corretivo de solo, com taxa variável, há 10 anos. Quando saíram as primeiras máquinas, a gente adquiriu uma.  A economia com calcário, gesso e fósforo foi tão grande que e, no primeiro ano, a máquina já se pagou”, relata.

A INOVAÇÃO ESTÁ NO PRODUTOR

Para o professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP), Leandro Guissoni; toda essa disrupção no mercado do agro não é causada pelas novas tecnologias e startups, mas pelo próprio produtor, que decidiu inovar e adotar as novas ferramentas.

Na propriedade de João Francisco, por exemplo, a incorporação em campo do novo maquinário e de métodos ágeis de planejamento rendeu aumento significativo nos resultados.

Em 20 anos, a gente dobrou a produtividade da soja e triplicou a de milho”, comemora o produtor.

Além da maior eficiência na gestão e da redução de custo, o professor Fava destaca outras características do agro digital que agregam valor ao agronegócio, como segurança, conhecimento, transparência, valor social, melhoria na comunicação, gestão e adoção de um comércio mais desregulamentado.

Mas para extrair todas essas vantagens, a recomendação do especialista é seguir um planejamento estruturado, que passa pela busca de ajuda e conhecimento, entre outros pontos.  “Quem quer se transformar deve mudar a mentalidade para o digital, fazer diagnóstico, formar opinião com casos existentes”, sugere o especialista.

INOVAÇÃO COLABORATIVA

Crédito: Revista Agrícola

João Francisco não alavancou sozinho a produtividade de sua propriedade. Em todo esse processo de modernização, ele contou com o apoio  da Integrada Cooperativa Agroindustrial, da qual é cooperado e vice-presidente. 

A Integrada carrega a cultura da inovação desde suas origens. Iniciamos um novo ciclo estratégico onde a inovação é, mais uma vez, um ponto chave para o salto que estamos buscando. Trabalhamos com inovação aberta, estimulando nossos colaboradores e cooperados a buscarem parcerias com startups e empresas de consultoria para o desenvolvimento de soluções”, comenta André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

Com o objetivo de estreitar laços com startups inovadoras, a cooperativa desenvolveu o programa Conexão Integrada e firmou parcerias com hubs de inovação, como o Agtech Garage, que tem mais de 800 startups conectadas e disponíveis para atuar em parcerias com cooperativas ou outras empresas.

Outro hub parceiro é o Cocriago, que está em fase de implementação e atuará dentro do parque tecnológico SR Valley, mantido pela Sociedade Rural do Paraná, em Londrina.

FUNIL DA INOVAÇÃO

Antes de validar um produto ou uma solução, a Integrada passa os projetos que recebe de empresas e startups por um funil de inovação , que seleciona aquelas capazes de gerar valor para o cooperado.

Para nós, inovação na propriedade rural é tudo o que permite o aumento da produtividade e rentabilidade para o nosso cooperado. E a transformação digital é o caminho que a gente busca para essa geração de valor”, explica Galletti.

Segundo o gerente, a cooperativa chegou a tocar quase 30 projetos junto com startups e empresas para validação de produtos e geração de valor. O trabalho realizado pelas parceiras abrange, por exemplo, coleta de dados no campo, monitoramento da temperatura, do vento, do nível de chuva, monitoramento remoto por imagens, telemetria, conversão de sinal, entre outras atividades.

André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

“Isso tudo com empresas diferentes, startups diferentes. Quem faz a telemetria é uma startup A, quem coleta sensor uma startup B, quem monitora o processo de previsão de produtividade por talhão é outra independente”, ressalta Galletti.

O QUE VEM PELA FRENTE

O desafio atual da Integrada é driblar os entraves de conectividade, ainda baixa no campo, e disponibilizar de forma agregada ao produtor todos os dados gerados em cada uma dessas etapas. A expectativa é desenvolver uma ferramenta onde ficarão concentrados todo o volume de informação gerada pelas tecnologias.

Na Integrada temos um big data bem estruturado, muita coleta de informação, mas com a preocupação de fazer toda essa base de dados realmente servir para tomada de decisão do cooperado, que permita aumento da produtividade. Temos sistemas, plataformas, estrutura, mas se eu não tenho a tomada de decisão associada a essa tecnologia, eu não consigo ter a geração de valor que queremos. Então, o nosso papel é fazer a coleta e ter essa informação rápida e ágil na mão do cooperado, agrônomos e técnicos que acompanham a propriedade” explica Galletti.

A cooperativa também tem investido em inteligência artificial, com o desenvolvimento de robôs e máquinas para agilizar a análise da base de dados. A estrutura tem sido projetada para gerar alertas customizados que serão enviados diretamente a cada cooperado com as informações de interesse. As notificações serão personalizadas considerando as características da propriedade rural e as metas de produtividade e rentabilidade.

“Nossa estratégia é investir em inteligência artificial e buscar padronizações para acelerar o processo de tomada de decisão do produtor ou do técnico”, comenta Galletti.

O próximo passo é ampliar o uso de produtos da biotecnologia, como inoculantes para soja e milho, além de outras ferramentas biológicas para controle de pragas. 

“Muitos produtores ainda não usam nada. Mas dá um ganho de produtividade muito expressivo com baixo investimento. E vai ao encontro do que a gente acha que é correto, que é sustentabilidade econômica, ambiental e social”, disse o gerente da cooperativa.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


Cases de sucesso

Responsável pela gestão do maior sistema cooperativista de saúde do mundo, a Unimed do Brasil, Omar Abujamra Junior acredita que a comunicação cumpre seu papel quando as informações são confiáveis, as mensagens estão alinhadas ao propósito da organização e os conteúdos impactam a vida das pessoas. 

“O trabalho da Unimed está fundamentado no cuidado integral em todas as fases da vida e essa nossa responsabilidade permeia os serviços assistenciais e as ações de comunicação. Entregamos uma comunicação única e confiável, que propicia experiências positivas e agrega valor aos clientes e sociedade, além de fortalecer a marca como fonte de informações confiáveis de saúde”, afirmou Abujamra, à Saber Cooperar.

Segundo o presidente da Unimed Brasil, não deixa de ser um grande desafio administrar uma comunicação que integra 341 cooperativas, presentes em 86% do território nacional. “Como líder do mercado de saúde suplementar no Brasil, entendemos que a Unimed tem um papel relevante e genuíno para contribuir com a conscientização e estimular o olhar cuidadoso – coletivo e individual – na busca de alternativas mais saudáveis no dia a dia”, disse Abujamra. 

Para alinhar esse entendimento com a rede, a Unimed do Brasil coordena mecanismos internos de integração que envolvem a Central da Marca Unimed, diretrizes nacionais de comunicação, presença digital, patrocínios, ambientação, manual de crises, entre outras iniciativas para conformidade com as regras da marca, tais como boletins informativos, um comitê que reúne as áreas de Comunicação e Marketing, eventos nacionais e workshops periódicos.   

Além de trabalhar com mensagens diferenciadas para públicos diversos, a Unimed do Brasil tem implementado iniciativas com a finalidade de engajar os cooperados nas causas de promoção à saúde e bem-estar. Um exemplo é o Movimento Mude 1 Hábito, que busca incentivar a melhoria na qualidade de vida por meio da alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e equilíbrio emocional. 

Outro desafio imposto à rede, trabalhado por meio de campanhas nacionais, foi a pandemia provocada pelo novo coronavírus. “Logo na primeira onda da Covid-19, criamos a campanha VacinAção: é hora de se proteger, em que a marca se posiciona amplamente a favor da imunização e leva informações à sociedade sobre quaisquer dúvidas que surjam sobre o tema. Destaco também a campanha institucional Superar este momento juntos. Esse é o plano, em âmbito nacional, criada para reforçar a contribuição dos profissionais da saúde no enfrentamento da pandemia junto com a sociedade”, exemplificou Abujamra. 

Ainda segundo o presidente, a comunicação eficiente tem sido uma aliada no processo de contenção da crise sanitária: “Implementamos estratégias e ações para transmitir informações confiáveis, com foco em prevenção, entre outras formas de conscientizar sobre a pandemia e que possam ajudar a mitigar a transmissão do coronavírus”. 

Nas ondas do podcast

 A inovação dentro das cooperativas ainda foi abordada em outro canal, o podcast The Shift, conduzido pelas jornalistas especializadas em transformação digital Cristina de Luca e Silvia Bassi. Com o tema Cooperação e Inovação, a edição 94 do programa

aprofundou, ao longo de 50 minutos, as proximidades entre o cooperativismo e a economia digital, que encontram nas novas tecnologias formas de operação colaborativas e, também, competitivas. Samara Araújo foi uma das entrevistadas do programa, ao lado do diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mario De Conto.

Aos ouvintes, Samara explicou que o Sistema OCB fomenta e mapeia a inovação no ecossistema cooperativista do país, por meio do site InovaCoop.

“Temos feito um radar da inovação, justamente, para a gente mapear o que as cooperativas tem feito. E temos visto a transformação digital, de fato, mudando, trazendo plataformas para dentro do cooperativismo”, afirmou a Gerente de comunicação. 

Segundo ela, o momento atual favorece as cooperativas, já que o efeito de rede da economia compartilhada, trazido com bastante intensidade pelo movimento digital, se reflete dentro do cooperativismo. “O interessante é que a lógica do digital não opera na cópia do modelo capitalista. Então, o que eles fazem é entender, se apropriar do que está acontecendo no mundo e converter aquilo para um modelo de negócios cooperativista, beneficiando os cooperados e o modelo de negócios deles”, apontou. 

Os princípios do cooperativismo foram lembrados pela coordenadora de Inovação, em especial, a intercooperação. “Nesse modelo, os cooperados se ajudam para que o negócio vá em frente. Temos exemplos de algumas plataformas onde as cooperativas se juntam para fazer uma oferta coletiva, ajudando diretamente aos cooperados e, por fim, melhorando também a oferta ao cliente, que recebe o produto em um preço menor e uma velocidade maior, pois a cooperativa está operando com uma eficiência maior”, exemplificou. 

“Temos fomentado essa importância de trazer o digital, formar essa cultura de inovação para a competitividade, para a sustentabilidade do negócio”, completou. 

Na avaliação de Conto, o cooperativismo é a verdadeira economia compartilhada, na medida em que a propriedade e a gestão se dão pelos próprios associados. Ele indicou que o conceito de “empreendedorismo coletivo” é mais elaborado e, por isso, deve continuar sendo estimulado na sociedade. “Não acreditamos que apenas uma pessoa tenha uma ideia brilhante. Acreditamos que as pessoas unidas conseguem melhores resultados”, resumiu. 

Ainda segundo ele, o momento atual traz mais desafios do que aquele em que o cooperativismo foi originado.

“A solidariedade sempre esteve presente no cooperativismo, principalmente porque surge em uma classe de pessoas que estão em situação de desvantagem. Hoje, discutimos um outro paradigma, de conectividade. É um pouco diferente daquela solidariedade clássica, do surgimento das primeiras cooperativas, onde havia uma certa homogeneidade dos quadros sociais. Hoje, sociedades mais plurais trazem desafios bem maiores”.


Esta matéria foi escrita por Larissa Leite e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação