Mau tempo para o café
O aquecimento global está prejudicando o cultivo de café arábica na Colômbia e em outras regiões da América Latina, levando o produto a atingir valores recordes no mercado. Enquanto os pequenos agricultores colombianos veem sua renda despencar com a menor produtividade, consumidores de supermercados em Nova York aos cafés de Paris se assustam com a alta nos preços, informou o “New York Times” na sua edição de ontem.
Segunda maior exportadora de café arábica do mundo, atrás apenas do Brasil, a Colômbia produziu mais de 12 milhões de sacas de 60 quilos de café em 2006 e tinha meta de atingir 17 milhões em 2014. No ano passado, porém, a produção foi de apenas 9 milhões de sacas. Não são incomuns casos como o de Luis Garzón, pequeno fazendeiro da região colombiana de Cauca cuja família sobrevive há décadas fornecendo café arábica cultivado à sombra para grandes marcas como Nespresso e Green Mountain, que viu sua produção dos grãos cair 70% nos últimos cinco anos. No Brasil, no entanto, onde a produção é centrada em fazendas maiores e mecanizadas, ela continua a crescer.
Mistura certa de calor, chuva e seca
Os cafezais requerem a mistura certa de temperatura, precipitação e períodos de seca para que os grãos cresçam apropriadamente e mantenham seu sabor. Já as pragas preferem o clima mais quente e úmido resultante do aumento da temperatura e chuvas mais intensas e imprevisíveis, fenômenos que muitos cientistas creditam ao aquecimento global. Os cafés arábica e robusta respondem por praticamente todo o consumo da bebida no planeta. Com seu sabor mais delicado e menor nível de cafeína, o arábica é mais popular e mais caro, embora geralmente mais sensível em suas necessidades climáticas.
— A produção de café está ameaçada pelo aquecimento global, e particularmente para o arábica a perspectiva não é boa — disse ao jornal americano Peter Baker, especialista em café da CABI, grupo de pesquisas britânico especializado em agricultura e meio ambiente, destacando que as mudanças climáticas, com suas tempestades e secas, atingiram as plantações em muitas áreas das Américas do Sul e Central.
Como uma das maiores autoridades científicas sobre o café, Baker tem agitado os fóruns de discussão dos negociantes com alertas da possibilidade de termos atingido o “pico do café”, isto é, que, como o petróleo, o suprimento mundial de café caminha inexoravelmente para sua redução, a não ser que os produtores concentrem esforços em expandir seu cultivo globalmente. (Fonte: O Globo)