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SABER COOPERAR
06/01/2025
Cooperativa mirim do Marajó transforma realidade de crianças ribeirinhas
A 16 horas de barco de Belém (PA), a comunidade Santo Ezequiel Moreno, no Arquipélago do Marajó, reúne cerca de 200 ribeirinhos que têm na floresta e nas águas sua fonte de trabalho e renda. Assim como em outros territórios amazônicos, as crianças e adolescentes da comunidade precisavam de mais espaços de lazer, cultura e educação. Em 2024, a criação da Cooperativa Mirim Marajoara começou a mudar essa realidade. Desenvolvido pelo Sicoob Cooesa em parceria com o Sistema OCB/PA, o Instituto Sicoob e a Coopiaçá, uma cooperativa de produtores de açaí da comunidade, o projeto beneficia diretamente 68 filhos e filhas de cooperados extrativistas, com impactos para toda a comunidade. A iniciativa ganhou reconhecimento nacional com o primeiro lugar no Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 na categoria Cultura Cooperativista. De acordo com a diretora financeira do Sicoob Cooesa, Andrea Almeida, as crianças e adolescentes da comunidade sempre estiveram envolvidos em projetos das cooperativas que atuam no local, mas não tinham um espaço exclusivo em que pudessem conhecer os valores e a cultura cooperativistas. "Desenvolver o sentimento de cooperativismo entre essas crianças e adolescentes será algo ímpar na educação e na vida delas. A cooperativa mirim tem a preocupação de formar, capacitar e estimular a sucessão cooperativista, considerando as atividades do extrativismo e a necessidade de promover a permanência das crianças e adolescentes na escola, o preparo para a inclusão no mundo do trabalho, de forma decente, dentro de suas realidades culturais, mas com proteção social, protagonismo, cooperação, cidadania e autonomia, afirma. Para a implantação da Cooperativa Mirim Marajoara, quatro professores e 68 crianças e jovens receberam capacitação sobre o funcionamento de uma coop, princípios e valores cooperativistas, importância da formação de novos líderes cooperativistas para sucessão, entre outros temas. Além disso, as cooperativas do projeto construíram uma brinquedoteca completa e um espaço de convivência para os encontros dos cooperados mirins. “Com a cooperativa formada por elas, as crianças já vão entender o processo do cooperativismo dentro da comunidade, vivenciando na prática, na sala de aula e em pequenas ações, a importância do cooperativismo e das cooperativas para o desenvolvimento das comunidades do Marajó”, destaca o presidente da Coopiaçá, Teofro Lacerda Gomes. Cooperada da Coopiaçá e mãe de participantes do projeto, Sonia do Socorro espera que o projeto abra novas oportunidades de educação e trabalho para os filhos.“Para nós, da cooperativa e da comunidade, é muito importante que os nossos filhos participem e conheçam o cooperativismo para, futuramente, nos ajudarem a tocar a cooperativa sem precisar sair da escola ou da comunidade”, planeja. Exemplo de transformação Mais do que uma iniciativa local, a Cooperativa Mirim Marajoara Santo Ezequiel Moreno demonstra o potencial do cooperativismo como ferramenta de transformação social de comunidades. Além de formar jovens conscientes, o projeto reforça os laços comunitários e fortalece o compromisso com a educação de qualidade, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em plena Amazônia, a cooperativa mirim também tem como foco fortalecer entre as crianças e jovens da comunidade o cuidado com o meio ambiente como estratégia para melhoria da qualidade de vida das populações ribeirinhas do Marajó. Depois dos bons resultados em Santo Ezequiel Moreno, a meta é implantar cooperativas mirins em outros territórios amazônicos e comunidades tradicionais. O Programa Cooperativa Mirim é um projeto do Instituto Sicoob voltado para crianças e jovens de 8 a 17 anos para promover a formação de cooperativas em escolas e instituições, com base nos princípios do cooperativismo. A metodologia é interdisciplinar, focada na educação para o desenvolvimento de competências sociais e coletivas.
SABER COOPERAR
12/12/2024
Brasileiro presidente da ACI-Américas diz que cooperativas podem reduzir desigualdades no continente
Um cooperativista brasileiro lidera a representação regional da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) nas Américas e tem a missão de fortalecer o cooperativismo no continente no momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhece e valoriza o segmento como ferramenta para construção de um mundo melhor.
Ao longo de mais de 30 anos dedicados ao cooperativismo, José Alves de Souza Neto conheceu de perto o potencial de transformação das cooperativas e acredita que elas são um modelo de negócios capaz de promover a equidade, autonomia e justiça social em uma região com tantas desigualdades.
Com décadas de experiência no comando de uma das maiores centrais de cooperativas de saúde do país, a Uniodonto do Brasil, Dr. José Alves, como é conhecido, afirma estar pronto para conduzir a ACI-Américas no Ano Internacional das Cooperativas e aproveitar a oportunidade de 2025 para construir um legado cooperativista para as novas gerações.
“É fundamental aproveitarmos esse momento não apenas para realizar ações pontuais ao longo de 2025, mas para desencadear processos e projetos que tenham continuidade e impacto nos anos seguintes”, disse Alves em entrevista concedida ao Sistema OCB após participar, em Nova Delhi, na Índia, da Conferência Global da ACI. Confira a entrevista completa:
Sistema OCB: Como o senhor recebeu o desafio de liderar a ACI-Américas em um momento tão importante para o cooperativismo, às vésperas do Ano Internacional das Cooperativas?
Dr. José Alves: Recebi a missão de liderar a ACI-Américas com profundo senso de responsabilidade e entusiasmo. Estar à frente de uma organização tão representativa neste momento histórico é uma oportunidade única de potencializar o impacto do cooperativismo nas Américas e no mundo. O reconhecimento da ONU ressalta a relevância do nosso movimento para o desenvolvimento econômico e social, e estamos comprometidos em aproveitar essa oportunidade para fortalecer e promover iniciativas que evidenciem nosso impacto positivo nas comunidades.
Como líder da ACI-Américas, qual a expectativa do senhor para o Ano Internacional das Cooperativas? Como o segmento pode aproveitar a visibilidade desse reconhecimento global?
O Ano Internacional das Cooperativas é uma oportunidade única para aumentar a visibilidade do movimento em todo o mundo. Pretendemos destacar como as cooperativas constroem um mundo melhor, promovendo eventos, campanhas de conscientização e fortalecendo parcerias com governos e organizações internacionais.
No entanto, é fundamental que aproveitemos esse momento não apenas para realizar ações pontuais ao longo de 2025, mas para desencadear processos e projetos que tenham continuidade e impacto nos anos seguintes. Nosso objetivo é criar movimentos que fortaleçam o cooperativismo de forma duradoura, consolidando práticas, iniciativas e parcerias que permaneçam e continuem gerando benefícios para as comunidades e para a sociedade global.
Qual o papel do cooperativismo nas Américas, tendo em vista os indicadores econômicos e sociais do continente, e também a diversidade de realidades entre os países?
O cooperativismo nas Américas desempenha um papel crucial na promoção da inclusão social, geração de empregos e desenvolvimento sustentável. Embora rico em recursos e culturas, o continente apresenta profundas desigualdades sociais e de direitos, que demandam soluções inovadoras e inclusivas. Nesse contexto, as cooperativas se destacam por oferecer modelos que promovem equidade, autonomia e justiça social.
Além disso, é fundamental que a ACI-Américas se aproxime de organismos internacionais que possam potencializar nossas ações, reconhecendo nas cooperativas um parceiro estratégico que comprovadamente promove a distribuição de renda, justiça e inclusão social. Essa articulação não apenas amplia o impacto das iniciativas cooperativistas, mas também fortalece o movimento como uma força transformadora para enfrentar os desafios sociais e econômicos do continente. Nossa missão é fortalecer essas iniciativas por meio da intercooperação e do compartilhamento de boas práticas, contribuindo para a construção de sociedades mais justas e igualitárias.
Quais os principais desafios para o cooperativismo nas Américas e como a ACI pode apoiar entidades e cooperativas para ampliar o conhecimento sobre o coop e aumentar a adesão ao modelo de negócios cooperativista?
Os principais desafios para o cooperativismo nas Américas incluem o fortalecimento do alinhamento legal entre os países, a diversificação e modernização dos modelos de negócios cooperativos e a disseminação de boas práticas para ampliar a adoção do modelo cooperativista. A ACI-Américas atua como facilitadora, promovendo o diálogo e a intercooperação entre as cooperativas do continente.
Um aspecto fundamental é aproveitar os modelos de sucesso como exemplos para o desenvolvimento de outras cooperativas. Existem países com mais experiência em determinados ramos do cooperativismo, como o agropecuário, financeiro ou de saúde, que podem servir de referência para outros países menos desenvolvidos nesses setores. Vale destacar que o alinhamento legal entre os países é crucial para reduzir barreiras burocráticas, facilitar a intercooperação e criar um ambiente favorável para o crescimento do cooperativismo.
Quais são as prioridades e perspectivas de sua gestão à frente da ACI-Américas?
Minha gestão à frente da ACI-Américas tem como prioridade o fortalecimento institucional do movimento cooperativista, criando uma base sólida para que as cooperativas possam se desenvolver e prosperar. Isso inclui fomentar a intercooperação entre cooperativas de diferentes países, harmonizar marcos legais e promover uma governança mais eficiente e inclusiva.
O fortalecimento institucional passa também por assegurar que as cooperativas sejam reconhecidas como atores-chave nos debates econômicos e sociais, tanto no nível local quanto no internacional. Precisamos ampliar nossa capacidade de articulação com governos, organismos internacionais e outros parceiros estratégicos, destacando o papel das cooperativas como motores de desenvolvimento sustentável e inclusão social. Outro ponto essencial é apoiar as cooperativas na adoção de modelos de negócios inovadores e sustentáveis, garantindo que possam enfrentar os desafios do futuro com competitividade e resiliência.
Que mensagem o senhor gostaria de transmitir aos cooperativistas do Brasil e do continente?
Aos cooperativistas do Brasil e das Américas, reforço que o cooperativismo é mais do que um modelo de negócios – é um movimento de transformação social. Unidos pelos nossos valores e princípios, temos a força necessária para construir um futuro mais justo, sustentável e inclusivo. Juntos, podemos superar os desafios e aproveitar as oportunidades que se apresentam, deixando um legado de impacto positivo para as próximas gerações.
Agenda da ACI-Américas para o Ano Internacional das Cooperativas
A ACI-Américas estruturou uma agenda estratégica de eventos para 2025, com foco em quatro áreas temáticas de grande relevância para o desenvolvimento sustentável e a promoção do modelo cooperativista:
Produtividade e Desenvolvimento Local e Territorial
Data: 12 e 13 de maio de 2025
Local: Chile
Economia do Cuidado
Data: 8 e 9 de julho
Local: Panamá
Finanças Cooperativas para o Desenvolvimento Sustentável
Data: 27 e 28 de agosto
Local: México
Educação e Cooperativismo
Data: 9 e 10 de outubro
Local: Paraguai
SABER COOPERAR
05/12/2024
Cooperativa refloresta área de Mata Atlântica com apoio de cooperados
Já pensou em adotar uma árvore? Com essa proposta, o Sicoob Coopemata, de Minas Gerais, mobilizou seus cooperados e conseguiu recompor quase 9 mil metros quadrados de Mata Atlântica. De árvore em árvore, a iniciativa “Transformação Sustentável: Neutralização de CO² e Reflorestamento para um Futuro Verde” recuperou uma área degradada de vegetação nativa com a força da cooperação e venceu o Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 na categoria Desenvolvimento Ambiental.
Tudo começou com uma ideia que parecia simples: plantar algumas árvores para compensar o uso de papel nos trâmites do dia a dia da cooperativa, como uma devolução simbólica à natureza das que haviam sido transformadas em celulose. O que os colaboradores da cooperativa não imaginavam é que a missão ganharia uma proporção muito maior e resultaria na restauração florestal de uma grande área de Mata Atlântica em Juiz de Fora, no sudeste de Minas.
Historicamente formado pelos ciclos do café, pecuária e indústria, o município mantém apenas cerca de 12% da floresta original de Mata Atlântica que cobria seu território. Para proteger o que resta de vegetação e recompor as zonas degradadas, algumas áreas de conservação formam um cinturão verde ao redor da cidade. Uma delas é a Reserva Santuário, um oásis de 920 mil metros quadrados (m²) utilizados para pesquisa, ensino e recepção de animais silvestres resgatados.
Uma parceria firmada entre o Sicoob Coopemata e a Associação dos Amigos (Aban)Associação dos Amigos (Aban), responsável pela reserva ecológica, juntou a vontade de plantar com uma floresta inteira em processo de recuperação. Para cumprir a tarefa, a cooperativa sabia que ia precisar do apoio dos cooperados, e lançou a campanha Adote uma Árvore, em que os interessados contribuíam com R$ 195, aportados em suas contas capitais, para levar o projeto adiante.
Com o apoio dos associados, a cooperativa investiu R$ 18 mil na realização de seu inventário de gases de efeito estufa (para calcular as emissões da cooperativa) e R$ 133,6 mil no plantio e manutenção das árvores.
De muda em muda, a campanha resultou em mais de 2,2 mil árvores, contribuindo para a recuperação do solo e da vegetação de 8,9 mil m² de áreas degradadas inseridas na Reserva Santuário, e a neutralização do equivalente a 43 toneladas de gás carbônico (CO²), gás de efeito estufa que agrava as mudanças climáticas.
Pai adotivo de algumas árvores do projeto, o voluntário da Aban e analista do Centro Cooperativo Sicoob, Luiz Edmundo Rosa Júnior, participou da construção e execução da campanha e destaca a importância de iniciativas de desenvolvimento socioambiental como essa. “É muito coerente com os princípios cooperativistas. Envolver cooperados, comunidades e a parceria com o terceiro setor é exemplo prático de cooperação a favor de uma economia sustentável.”
Resultados estratégicos
As ações não apenas reforçaram o compromisso do Sicoob Coopemata com a sustentabilidade, mas também contribuíram diretamente para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 - Combater a Mudança do Clima e seus Impactos, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além disso, o projeto demonstrou como práticas sustentáveis podem gerar valor econômico e social. O case exemplifica, ainda, como a inovação e a colaboração podem criar um impacto positivo duradouro, fortalecendo a cooperação e promovendo um ambiente mais saudável e sustentável para todos.
Além do plantio de árvores, em outra estratégia de redução de emissões de gases de efeito estufa, a cooperativa instalou uma usina fotovoltaica composta por 70 painéis solares em sua sede administrativa, melhorando a eficiência energética e reduzindo os custos operacionais.
A superintendente de Gestão Estratégica do Sicoob Coopemata, Vanessa Lacerda Alves Fajardo, destaca o orgulho de ter colaboradores voluntários engajados em fazer a diferença para a preservação ambiental e combate à crise climática. “A neutralização de CO² é uma preocupação de todos, por isso o Adote uma Árvore deu tão certo, porque é um pouco de cada um, que se transforma em muito e pode melhorar o mundo.”
Outro ganho do projeto vencedor do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024 foi o fortalecimento da imagem institucional e ampliação do engajamento de cooperados e empregados do Sicoob Coopemata na agenda de sustentabilidade. “Assim que o projeto foi iniciado, decidi adotar uma árvore para ajudar na neutralização do CO². Tive a oportunidade de participar pessoalmente do plantio, o que fortaleceu ainda mais meu sentimento de pertencimento a essa cooperativa. À medida que fui conhecendo os projetos, princípios e valores, passei a considerá-la minha principal instituição”, afirma Nelci Cardoso Mendonça, cooperada há mais de quatro anos.
O diretor da Aban e voluntário da Reserva Santuário, Renato Lopes, destaca a parceria com a cooperativa como um marco para a cooperação em prol do meio ambiente, que pode inspirar projetos sustentáveis em outras regiões. “Fazer parte do processo de recomposição de biomas com o Sicoob Coopemata é uma realização pessoal. Após 10 anos na Amazônia, onde vi a beleza e a destruição causadas pelo atual sistema de desenvolvimento, a parceria nos permite restaurar florestas usando a agricultura sintrópica, que imita a natureza e ainda gera alimentos para famílias vulneráveis. Somos gratos pelas oportunidades que essas parcerias proporcionam”, afirmou.
Saiba mais sobre os vencedores do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano 2024.
SABER COOPERAR
03/12/2024
Cooperativas com mais de 70 anos de atuação mostram resiliência do cooperativismo brasileiro
Em um país em que a duração média de uma empresa é de cinco anos, completar décadas de atuação em um negócio é uma prova de excelência, capacidade de adaptação e potencial para inovar. E o cooperativismo tem tudo isso. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024, mais da metade (53,3%) das 4.509 cooperativas do país têm mais de 20 anos no mercado. É comum conhecer cooperativas que comemoram bodas de prata ou de ouro e há algumas centenárias espalhadas pelo Brasil.
“O cooperativismo é um modelo de negócio resiliente e sustentável. Pelo país todo, temos muitas cooperativas com décadas de histórias, em vários ramos. Essa longevidade está diretamente ligada à capacidade do cooperativismo de gerar trabalho e prosperidade com foco nas pessoas e no desenvolvimento das comunidades”, afirma a gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta.
O maior exemplo de resiliência e longevidade do coop brasileiro é a Sicredi Pioneira, a primeira cooperativa do país. Prestes a completar 122 anos em dezembro, a coop segue de portas abertas e em pleno crescimento. Fundada em 1902 pelo padre Theodor Amstad em Nova Petrópolis (RS), Capital Nacional do Cooperativismo, a Pioneira também foi a primeira cooperativa de crédito da América Latina e inaugurou no continente o modelo de instituição financeira que apoia as pessoas em momentos de crise.
Em mais de um século de história, a Sicredi Pioneira esteve ao lado dos cooperados durante a gripe espanhola, as duas Guerras Mundiais, os períodos de instabilidade política e econômica do país, a hiperinflação nos anos 1980, a pandemia de covid-19, e em muitos outros.
Para o atual presidente da cooperativa, Tiago Luiz Schmidt, o fato de estar ao lado da comunidade em todos esses momentos históricos é justamente um dos motivos da longevidade da Sicredi Pioneira. “A Pioneira vivenciou esses desafios e dificuldades junto com as pessoas e foi se adaptando. Conseguimos chegar aos 122 anos vivendo a comunidade, fazendo parte dos sonhos, das alegrias e dos desafios. Se fazer presente é um dos requisitos para essa atuação tão longeva”, afirma.
Além da Pioneira, o Sicredi tem mais cinco cooperativas centenárias pelo país. Segundo Schmidt, para se manterem atualizadas em um segmento em que a transformação tecnológica é tão dinâmica, as cooperativas apostam nos diferenciais cooperativistas. Um exemplo é a presença de agências físicas no interior do país: enquanto os bancos fecham suas portas, as cooperativas fazem questão de oferecer atendimento presencial para alguns públicos, principalmente nas áreas rurais.
“Esse é um dos grandes segredos para a cooperativa conseguir se manter atualizada: ter um vínculo forte com as escolas, com as entidades de classe, os sindicatos rurais, as universidades, empresas, e, claro, com os cooperados”, explica. Cooperado da Sicredi Pioneira desde 2005, Schmidt é o sétimo presidente da cooperativa, que atualmente reúne 250 mil cooperados.
Por ano, a Sicredi Pioneira recebe mais de 10 mil pessoas interessadas na história e trajetória de solidez da cooperativa, entre estudantes, associados, colaboradores, conselheiros, diretores, dirigentes de Organizações Estaduais e de outros ramos do cooperativismo. “Isso para nós é uma honra e uma grande responsabilidade. Um dos nossos papéis é compartilhar nossa trajetória, porque ela também é a história do cooperativismo brasileiro”, orgulha-se Schmidt.
Precursora das compras coletivas
Em outubro, a Coop, uma cooperativa de consumo criada em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, completou 70 anos com participação consolidada no mercado e histórias que marcam gerações de clientes.
Com 1 milhão de cooperados e mais de 6 mil colaboradores, a Coop tem mais de 100 unidades de negócios, entre elas 35 supermercados e 68 drogarias, além de canais digitais. No setor de varejo alimentar, o grupo tem 30% de participação de mercado na região do Grande ABC.
Tudo começou em 1954, quando um grupo de 292 funcionários da Rhodia, uma indústria química e têxtil tradicional da região, decidiu se unir para criar uma alternativa para a compra de alimentos e outros produtos. Em conjunto, eles conseguiam negociar preços no atacado, estocar os itens em um armazém e vender a preços mais justos por meio da Cooperativa de Consumo dos Empregados das Companhias Rhodia, Rhodiaceta e Valisère – que em 1997 mudou de nome para Coop.
Em poucos anos, o número de cooperados saltou para mais de 3 mil e, ainda na década de 1950, a cooperativa começou a abrir mais unidades. Em 1970, tornou-se uma cooperativa de livre adesão, ou seja, aberta a qualquer pessoa interessada em fazer compras com preços justos. No fim da década, a Coop já tinha quase 75 mil associados de várias cidades do Grande ABC.
Nos anos 1990, passou atuar também no setor de farmácias e criou uma marca própria de produtos, abrindo caminho para se tornar a maior cooperativa de consumo da América Latina na década seguinte e chegar ao primeiro milhão de cooperados. Durante a pandemia de covid-19, criou dois canais de compras online, um para os supermercados e outro para produtos das farmácias.
Para o diretor-geral da Coop, Pedro Mattos, atuar com base nos princípios cooperativistas é um dos motivos para os resultados da cooperativa paulista em 70 anos de atuação. “Por sete décadas seguimos os princípios do cooperativismo, contribuindo com a comunidade não apenas no emprego e geração de renda, como também ao colaborar com pessoas menos favorecidas, por meio de programas e projetos sociais, culturais, esportivos e de promoção da saúde”, afirma.
Em 70 anos, muitos cooperados tiveram a Coop como parte do cenário de suas vidas e de momentos com suas famílias, como o aposentado Antônio Albardeiro, cooperado desde 1968. “Tenho histórias com a Coop que marcaram minha vida. Além de sempre poder comprar o que precisamos na cooperativa, como cooperado também aprendi a valorizar a honestidade e o caráter. A Coop foi uma escola para mim”, afirma. A história de Albardeiro com a Coop está na websérie SomosCoop na Estrada e no podcast PodCooperar, produzidos pelo Sistema OCB.
Tradição no agro
No setor agropecuário, a tradição cooperativista é reconhecida nacionalmente. Responsáveis por metade da produção de grãos do país e com participação significativa no mercado de leite e carnes, as cooperativas agropecuárias estão no dia a dia dos brasileiros, com marcas e produtos reconhecidos por várias gerações.
A Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), que completa 76 anos em 2024, criou e manteve por mais de 50 anos a marca Itambé, uma das mais conhecidas pelos consumidores brasileiros. Criada em 1948, a central atualmente reúne 31 cooperativas e 25 mil cooperados e capta 90 milhões de litros de leite por mês.
A CCPR tem a trajetória marcada pela colaboração com instituições acadêmicas para o desenvolvimento de pesquisas sobre a produção de laticínios e pela atuação institucional em defesa dos interesses dos cooperados ao longo de décadas.
Para o presidente da central, Marcelo Candiotto, a história da CCPR é um exemplo de como a união e a cooperação podem gerar resultados duradouros e positivos para as pessoas diretamente envolvidas e para a sociedade como um todo.
“Chegar aos 76 anos de história com solidez e estabilidade, mesmo diante das adversidades econômicas do nosso país, é algo que merece ser celebrado. Para os cooperados, a longevidade representa segurança e confiança, eles sabem que estão associados a uma organização sólida, capaz de enfrentar crises e se adaptar às mudanças do mercado. Para a sociedade, demonstra a viabilidade e a resiliência do modelo cooperativista. Isso inspira outras iniciativas e reforça a importância da cooperação e da solidariedade como pilares para o desenvolvimento econômico e social”, afirma.
Presidente da CCPR desde 2017, Candiotto diz que uma das estratégias da central para se manter firme e relevante no mercado por tantas décadas é investir continuamente na capacitação de cooperados e colaboradores e no desenvolvimento de processos e produtos para acompanhar as transformações tecnológicas do setor. “Outro fator importante é a sustentabilidade. Investimos em práticas que garantem a preservação ambiental e a responsabilidade social”, acrescenta.
Infográficos
Cultura cooperativista pelo mundo
As cooperativas foram declaradas Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, graças à sua contribuição essencial para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Com presença em mais de 150 países, o modelo de negócio se destaca por oferecer soluções inovadoras para desafios sociais, promoção de empregos e cuidados com o meio ambiente. Descubra exemplos inspiradores de como o cooperativismo impacta positivamente o mundo.
O que é intercooperação
A intercooperação é um dos pilares essenciais do cooperativismo, promovendo o fortalecimento das cooperativas por meio de parcerias estratégicas. Ao trabalhar em conjunto, as cooperativas criam um ambiente mais competitivo, ampliando oportunidades de negócio, reduzindo custos e oferecendo mais valor aos seus membros. Essa união entre diferentes cooperativas, tanto em nível local quanto internacional, potencializa o movimento cooperativista e solidifica sua presença no mercado.
O que é cooperativismo?
Nem sempre é fácil explicar o que é o cooperativismo, mas estamos aqui para te ajudar a entender! Este infográfico foi criado para responder as principais perguntas sobre o movimento cooperativista de forma clara e simples. Com 7 perguntas e respostas, você vai aprender o que é o cooperativismo, seu propósito, como funciona e quem pode participar. Vamos juntos explorar o poder da cooperação e como ela impacta a vida de pessoas e comunidades. Clique nos tópicos abaixo e descubra mais!
A relação entre Cooperativas e Bioeconomia
Qual é a relação entre cooperativas e bioeconomia?
A onda verde chegou com força ao setor econômico. A chamada bioeconomia está em alta, mas você saber o que ela propõe, na prática?