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SABER COOPERAR
04/11/2025
PodCooperar: nova temporada mostra que o futuro sustentável passa pelo cooperativismo
A nova temporada do PodCooperar, podcast produzido pelo Sistema OCB, apresenta histórias reais de como o cooperativismo brasileiro tem promovido a transformação sustentável em todos os setores em que atua, com boas práticas, inovação e inclusão. “Falar sobre ações ambientais, sociais e de governança hoje é comum. O que muita gente não sabe é que o cooperativismo já vive essa realidade, na prática, há muito tempo. E não poderia haver momento melhor para contar essas histórias do que no Ano Internacional das Cooperativas, e quando o Brasil recebe pela primeira vez a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30)”, explica a gerente de Comunicação e Marketing do Sistema OCB, Samara Araujo. Em oito episódios, a nova temporada do PodCooperar conduz os ouvintes em uma viagem pelo Brasil que dá certo com o cooperativismo. A série passa pela Amazônia, onde as coops promovem a bioeconomia que protege a floresta, mostra a força de mulheres que lideram a produção de cafés sustentáveis em Minas Gerais e apresenta inovações cooperativistas para transformar resíduos em energia no Sul do país. Os episódios também contam histórias sobre construções verdes, mobilidade sustentável e boas práticas de governança. “Esta temporada do PodCooperar reforça a iniciativa e o propósito movimento SomosCoop para dar visibilidade a um modelo de negócios que une desenvolvimento econômico e impacto social e ambiental. Os novos episódios mostram como os princípios do cooperativismo se conectam diretamente às práticas ESG, com histórias de comunidades e regiões que foram transformadas por meio das práticas cooperativistas”, acrescenta Samara Araujo. O primeiro episódio da nova temporada do PodCooperar, sobre a Cooperacre, já está disponível no Spotify. A próxima história, da Cooates, vai ao ar na próxima quinta-feira (6/11). Ao longo do mês de novembro, dois novos programas serão lançados a cada semana.Conheça os novos episódios do PodCooperar: Ep. 1 — Floresta em pé (Cooperacre) Você vai conhecer a história da Cooperacre, uma central de cooperativas no Acre que prova que é possível gerar riqueza e manter a floresta em pé. A trajetória de extrativistas como Seu Raimundo apresenta como a coop aprendeu, com a natureza, produzir sem desmatar. Além disso, você vai descobrir parcerias inovadoras, que valorizam desde a borracha sustentável até a castanha, estão garantindo renda para centenas de famílias e, ao mesmo tempo, incentivando a preservação. Ep. 2 — Inovação a favor da sustentabilidade (Cooates) Do verde da Amazônia, viajamos para o litoral sul de Pernambuco. Lá, a Cooates se tornou uma referência em recuperação ambiental. O episódio vai revelar como a cooperativa assumiu a gestão do maior viveiro de mudas do Nordeste, no Complexo do Porto de Suape, e está reflorestando áreas degradadas da Mata Atlântica e da Caatinga. Você vai entender como eles transformaram agricultores em verdadeiros "produtores de água", remunerados para recuperar nascentes, e como a inovação na apicultura está levando o mel de floradas nativas para o mercado internacional. Ep. 3 — Bioenergia no combate ao aquecimento global (Frimesa) Como uma das maiores processadoras de carne suína do Brasil pode liderar a transição para uma matriz energética 100% limpa? O terceiro episódio responde a essa pergunta ao apresentar o case da Frimesa, no Paraná. A cooperativa transformou um desafio ambiental do descarte de dejetos da produção em uma solução energética revolucionária. Ao converter resíduos em biogás para substituir combustíveis fósseis em suas operações, a Frimesa não apenas reduziu drasticamente suas emissões de gases de efeito estufa, mas também preservou a economia. Ep. 4 — Arquitetura do futuro (Sicredi Dexis) Este episódio conta a história da sede da Sicredi Dexis, o primeiro prédio verde do interior do Paraná, com certificações de sustentabilidade do mais alto nível mundial: o LEED Platinum. O edifício gera sua própria energia, capta água da chuva e foi projetado para garantir o máximo de bem-estar para colaboradores e associados. Ep. 5 — Inclusão feminina no campo (Coopfam) As montanhas de Poço Fundo, em Minas Gerais, trazem histórias de superação, igualdade e sabor com as mulheres da Coopfam, que transformaram a dor da perda em um movimento de empoderamento. Lideradas por pioneiras como Dona Maria José, elas criaram o "Café Feminino Sustentável", um produto orgânico e de alta qualidade, 100% produzido por elas. Ep. 6 — Extraindo jóias da floresta (Xambiart) Este episódio nos leva para conhecer a biodiversidade do Tocantins, com a Xambiart. A cooperativa transforma sementes, fibras, cocos e madeiras locais em peças de artesanato únicas, que carregam a identidade cultural da região. Além de ser premiada por suas práticas de economia solidária, a Xambiart também mostra como é possível gerar trabalho e renda de forma sustentável, valorizando os recursos naturais sem esgotá-los e fortalecendo os laços comunitários por meio da arte. Ep. 7 — Frota verde (Coopmetro) A redução de emissão de gases do efeito estufa é um dos principais desafios ambientais do ramo Transporte. Em Minas Gerais, a maior cooperativa de transporte de cargas do Estado mostrou ser possível mudar de rota. O episódio detalha a jornada de transição energética da cooperativa, que começou com a substituição de veículos a diesel por versões mais limpas, movidos com gás natural, etanol e até energia elétrica. Já são mais de 1.600 veículos rodando com fontes de energia mais ecológicas — combustível para um futuro com menos impacto ambiental. Ep. 8 — Resultados transparentes (Unimed do Brasil) Saiba como uma gigante do cooperativismo de saúde, a Unimed do Brasil, aplica os princípios ESG em sua essência. O episódio vai além dos consultórios para mostrar como o investimento em ações sociais, culturais e de valorização das equipes se traduz em bem-estar para toda a comunidade, além dos resultados dos relatórios de sustentabilidade. Ouça o PodCooperar no Spotify ou acesse o podcast no site do SomosCoop.
SABER COOPERAR
22/10/2025
Parcerias que transformam: com intercooperação, cooperativas colocam ODS 17 em prática
Enfrentar desafios globais como fome, pobreza, desigualdade e mudanças climáticas exige colaboração. Para mobilizar recursos, conhecimento e tecnologias para essa tarefa, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 17, que trata de parcerias para viabilizar as demais metas e construir um mundo melhor. No cooperativismo, essa aliança tem nome: intercooperação. Por meio dela, o setor implementa ações que geram impacto econômico, social e desenvolvimento sustentável.
“As cooperativas são fundamentais para o cumprimento dos ODS e podem fortalecer os meios de implementação com seus valores e princípios, tornando os processos mais eficazes e participativos”, destaca o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Maior mobilização de voluntariado do cooperativismo brasileiro, o Dia de Cooperar (Dia C) é um exemplo nacional de parceria pelo bem comum. Todos os anos, milhares de cooperativas se unem para realizar ações socioambientais que, apenas em 2024, beneficiaram 5,54 milhões de pessoas, segundo dados do AnuárioCoop 2025.
O Sicoob Central ES, sistema regional com atuação no Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, participa do Dia C com ações sociais articuladas entre suas seis cooperativas. Este ano, os voluntários promoveram mais de 70 projetos – como atividades culturais, serviços gratuitos, lazer e educação – alcançando diretamente cerca de 25 mil pessoas em 57 municípios. As ações estão ligadas ao ODS 3 – Saúde e bem-estar, ODS 4 – Educação de qualidade, ODS 10 – Redução das desigualdades, entre outros.
“Mais do que somar esforços, a intercooperação representa o entendimento de que o desenvolvimento sustentável depende da articulação entre atores locais comprometidos com a transformação social”, afirma a diretora de Recursos Humanos e Sustentabilidade da central, Sandra Kwak.
Além das ações conjuntas internas, o Sicoob Central ES atua com outras cooperativas e parceiros institucionais para promoção de ações sociais e comunitárias, em uma articulação multissetorial, uma das ferramentas previstas no ODS 17. No programa Bikes, por exemplo, a central de cooperativas de crédito viabiliza, junto com a Unimed e a empresa Serttel, o compartilhamento de bicicletas para melhorar a mobilidade urbana em Vitória e Vila Velha, contribuindo para o ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis.
“A intercooperação faz parte da nossa essência como instituição cooperativa. Acreditamos que parcerias são fundamentais para promover o desenvolvimento sustentável e ampliar nosso alcance social. Essas experiências demonstram que, ao unirmos competências e propósitos, conseguimos gerar transformações significativas para os territórios onde atuamos”, destaca a gestora.
Desde 2019, o Sicoob Central ES também apoia instituições do terceiro setor por meio do Edital de Projetos Sociais, que financia ações de cultura, empreendedorismo, educação e esporte. O programa já investiu quase R$ 20 milhões e impactou diretamente cerca de 500 mil pessoas, fortalecendo instituições comprometidas com o desenvolvimento das regiões onde atuam.
Intercooperação no campo
No Sul do Brasil, a Central de Negócios da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina (Fecoagro) atua com intercooperação para melhorar a produtividade e os resultados de 72 mil produtores rurais cooperados, contribuindo para o ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável, ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico e ODS 12 – Consumo e produção responsáveis.
A central realiza negociações conjuntas que superaram R$ 1,64 bilhão em 2024, com R$ 47,8 milhões em economia gerada no período. De acordo com o diretor executivo da federação, Ivan Ramos, a união fortalece a competitividade das cooperativas agropecuárias catarinenses e amplia sua capacidade de investimento e inovação.
“A Fecoagro conecta suas ações regionais às metas globais de desenvolvimento sustentável, entre elas o ODS 17, que trata de intercooperação. Essas práticas reforçam nosso compromisso em gerar valor compartilhado, equilibrando resultados econômicos, inclusão social e preservação ambiental”.
Em outra frente de cooperação para apoiar os produtores, a federação tem parcerias institucionais como o Programa Terra Boa, junto ao Governo de Santa Catarina, que facilita o acesso a sementes, fertilizantes e outros insumos para melhorar a produtividade e a renda. Há mais de 25 anos, a aliança entre o poder público e a cooperativa vem gerando impacto econômico e social em larga escala e já beneficiou mais de 58 mil agricultores da região.
“A atuação da Fecoagro dialoga com a Agenda Global de Sustentabilidade e foi estruturada a partir de uma rede de parcerias com outras cooperativas, governo e outras instituições, mostrando que o trabalho em conjunto gera impacto econômico e social significativo para a região e para as pessoas”, destaca Ramos.
Saiba mais sobre a contribuição do coop para os ODS no infográfico Como as cooperativas constroem um mundo melhor? Acesse aqui!
SABER COOPERAR
16/10/2025
“DICC é oportunidade de propagar cooperativas de crédito”, diz coordenador
Um futuro mais próspero começa com cooperação. Com esse olhar, o mundo celebra hoje (16/10) o Dia Internacional das Cooperativas de Crédito (DICC) – data que, desde 1948, reconhece a contribuição das instituições financeiras cooperativas para o desenvolvimento socioeconômico e seu papel como agentes de transformação.
Este ano, o mote da campanha global liderada pelo Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (WOCCU, na sigla em inglês) é “Cooperação por um mundo próspero”. No Brasil, o Sistema OCB e os sistemas cooperativos de crédito se uniram em uma mobilização de intercooperação para aproximar o tema da realidade brasileira e mostrar o impacto do segmento para a inclusão e o desenvolvimento no país.
A ideia foi traduzida em uma pergunta simples e que está no cotidiano de milhões de pessoas, mas com uma resposta inovadora: “No crédito ou no débito? No coop!” Com linguagem acessível, a campanha lembra que escolher o cooperativismo tem um impacto coletivo: movimenta a economia, fomenta negócios locais e promove a prosperidade compartilhada.
“Com a ação unificada, queremos que nossas estruturas, nossas cooperativas, estejam alinhadas. Que as iniciativas sejam coordenadas e a gente consiga propagar de forma muito clara e didática para a sociedade o que é o cooperativismo de crédito, seus princípios, seus objetivos, e, claro, alcançar o maior número de pessoas”, explica o coordenador do Ramo Crédito no Sistema OCB, Thiago Borba.
A campanha para o DICC 2025 terá ações coordenadas nas redes sociais do SomosCoop, com postagens em colaboração com Sicoob, Sicredi, Unicred, Cresol, Ailos e Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e chamado ao engajamento de cooperativas de crédito, tanto as filiadas a sistemas quanto as independentes.
Em entrevista ao Sistema OCB, Borba explica a importância do DICC e de que forma o cooperativismo de crédito brasileiro gera prosperidade e transforma o futuro do país. Leia a seguir:
Sistema OCB: Qual é a importância de uma data mundial para celebrar o cooperativismo de crédito?
Thiago Borba: É um momento em que todos os envolvidos no cooperativismo de crédito, ou seja, um movimento de milhões de pessoas, relembram a causa que os une. O DICC é um movimento mundial que, pelo seu alcance, chama a atenção de toda a sociedade, inclusive de pessoas que ainda não estão dentro do cooperativismo. Nós mostramos que existe um modelo de instituição financeira que trabalha em uma linha mais democrática, sustentável e inclusiva.
Como o Sistema OCB mobiliza as cooperativas brasileiras para a data?
Isso acontece por meio de conversas nos fóruns em que os sistemas cooperativos de crédito estão presentes. Buscamos alinhar estratégias e a comunicação. É claro que cada coop e sistema tem a sua característica, sua particularidade, mas a intenção é garantir uma identidade. Também buscamos desenvolver ações e iniciativas de modo coordenado para engajar os diferentes públicos, de forma que nos dê mais força, mais alcance.
Quais os principais objetivos da mobilização nacional deste ano para o DICC?
O que nós sempre buscamos é o engajamento, esse ano não vai ser diferente. Que as iniciativas sejam coordenadas e a gente consiga propagar de uma forma muito clara e didática para a sociedade o que é o cooperativismo, seus princípios, seus objetivos e, obviamente, alcançar o maior número de pessoas. Precisamos fazer com que o cooperativismo de crédito seja mais conhecido pela sociedade, pelos gestores, pelos tomadores de decisão e criadores de políticas públicas. Temos que ser claros na nossa mensagem para explicar nossos diferenciais, porque não somos uma instituição financeira como outra qualquer.
O mote do DICC 2025 é o papel das cooperativas financeiras para um mundo próspero. Como isso acontece na prática?
Nosso propósito é estar presente onde instituições financeiras de outra natureza societária não estão. Essa forma de atuação mostra claramente a preocupação do cooperativismo de crédito com a inclusão financeira. E nós demonstramos isso por meio de números: fisicamente, as cooperativas de crédito estão em aproximadamente 60 a 70% dos municípios brasileiros. E mais: dos 5.570 municípios, em 469 deles, as cooperativas de crédito são a única instituição financeira no local. Então, em quase 10% dos municípios brasileiros, enquanto outros agentes bancários se retiram e migram para o virtual, nós permanecemos. Sabemos que, muitas vezes, o brasileiro não tem acesso a essas ferramentas digitais, por isso as cooperativas continuam expandindo a sua presença e a sua atuação, inclusive fisicamente.
No Brasil, a questão da inclusão financeira tem alguma particularidade em relação ao restante do mundo?
Essencialmente, a característica geográfica que a gente tem é um desafio. Estamos em um país de dimensões continentais, com culturas completamente distintas. A própria ocupação dos territórios é um traço que, muitas vezes, facilita ou dificulta a entrada do cooperativismo. Há algum tempo temos trabalhado no fortalecimento do cooperativismo de crédito de forma mais contundente nas regiões Nordeste e Norte. Com o propósito de levar a inclusão, bancarização e desenvolvimento local, temos trabalhado fortemente para que o cooperativismo se desenvolva cada vez mais nessas regiões. Muito em breve, teremos indicadores de market share, de penetração, similares ao que já temos no Sul e em alguns estados da região Centro-Oeste.
Como a estratégia de investir no atendimento físico, e não apenas nos serviços digitais, se conecta com os princípios do cooperativismo?
Nesse aspecto, temos o casamento de uma necessidade com um diferencial. Ainda temos a necessidade de comunicar para a sociedade o que é o cooperativismo. E a presença física tem esse potencial: “Olha, cheguei, estou aqui no seu município, sou o Sistema X, sou uma cooperativa de crédito”. E um traço muito característico do cooperativismo de crédito é a confiança. O relacionamento virtual ainda não está maduro o suficiente na sociedade brasileira para transmitir confiança entre partes, entre a instituição financeira e o seu cooperado. Essa presença olho no olho é importante, em especial para alguns públicos atendidos pelas cooperativas de crédito, como o cooperado rural, que tem essa necessidade do aperto de mão e da confiança, eles precisam desse acesso. Precisam conhecer quem é o presidente, o diretor, o gerente que o atende. Essas características continuam impulsionando o cooperativismo de crédito para que a gente avance na ocupação territorial física.
Como valorizar esses diferenciais das cooperativas de crédito e ampliar o conhecimento sobre elas?
Desde a pessoa que está ali no posto de atendimento, o segurança que cuida da porta giratória da agência, o presidente da cooperativa, as instituições de representação, sejam estaduais ou a OCB Nacional, todos têm que entender qual é o propósito da instituição em que trabalha. Temos que ter uma comunicação muito fluida, linear e homogênea sobre o que a gente é, porque existimos e qual é o nosso diferencial.
Assista ao vídeo da campanha do Dia Internacional das Cooperativas 2025:
SABER COOPERAR
13/10/2025
“Cooperativas são estratégicas para o desenvolvimento da Amazônia”, afirma pesquisador da UFV
Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), que colocará a Amazônia no centro das discussões sobre o futuro do planeta, o cooperativismo deve ser reconhecido como um agente estratégico para o desenvolvimento da região. A avaliação é do professor e pesquisador Alair Freitas, que há quase duas décadas se dedica ao estudo desse modelo de negócios e atualmente coordena o Centro de Referência em Empreendedorismo e Cooperativismo para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
“As cooperativas são fundamentais para a Amazônia porque estruturam a produção, viabilizam a comercialização e garantem renda a milhares de famílias que vivem da sociobiodiversidade. Elas são estratégicas para transformar o potencial econômico da floresta em pé em oportunidades concretas de desenvolvimento sustentável para a região”, afirmou Freitas em entrevista ao Sistema OCB.
A conclusão está em um estudo feito pelo pesquisador para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com análises sobre o papel do cooperativismo entre produtores da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais na Amazônia. Além dessa contribuição, Freitas atua em pesquisas sobre o futuro do cooperativismo e afirma que o coop precisará ser mais empreendedor para garantir resiliência e competitividade.
Ex-aluno e docente do curso de Cooperativismo da UFV, que acaba de completar 50 anos, Freitas também destaca a importância da formação especializada no setor e defende a educação cooperativista como ferramenta de fortalecimento da gestão.
Leia a entrevista completa:
Sistema OCB: Qual o papel das cooperativas hoje no Brasil?
Alair Freitas: As cooperativas ocupam hoje praticamente todos os setores da economia brasileira, do agropecuário à saúde, do crédito ao consumo, do transporte à habitação. Essa presença difusa mostra que elas não são apenas alternativas, mas parte estrutural da economia nacional. O diferencial, no entanto, está no seu papel inclusivo: em um país com níveis históricos de desigualdade, as cooperativas têm se mostrado capazes de gerar trabalho e renda para famílias vulneráveis, abrir mercados para pequenos produtores e agricultores familiares, e proteger interesses coletivos diante de um mercado cada vez mais concentrado.
Elas também cumprem funções que extrapolam a dimensão econômica: atuam como mediadoras no acesso a políticas públicas, como estruturadoras de cadeias produtivas, e como indutoras de ciclos virtuosos em territórios, ao reinvestirem excedentes em atividades locais e em serviços relevantes para a comunidade. Esse efeito multiplicador é talvez a contribuição mais poderosa do cooperativismo ao Brasil contemporâneo: transformar resultados econômicos em desenvolvimento social e territorial.
Na Amazônia, essa relação entre cooperativas e desenvolvimento é mais direta? O que as cooperativas representam para as comunidades tradicionais?
Na região amazônica, o cooperativismo não é apenas uma opção, mas uma estratégia decisiva para garantir que a riqueza da floresta permaneça nas mãos das comunidades que a preservam. As cooperativas permitem que essas populações captem valor de forma organizada e coletiva, em vez de serem apenas fornecedoras periféricas de matérias-primas. Em muitos casos, já não se trata apenas de comercializar produtos extrativos, mas de coordenar cadeias inteiras, com controle sobre diferentes elos produtivos e de comercialização, garantindo maior autonomia e protagonismo aos extrativistas.
Esse movimento conecta-se diretamente às agendas globais de bioeconomia e de desenvolvimento sustentável. O fortalecimento do cooperativismo amazônico significa alinhar o Brasil a compromissos internacionais de preservação ambiental e justiça social, mas com um diferencial: a floresta viva se mantém não porque está intocada, mas porque as comunidades conseguem viver dela com dignidade e governar seus recursos de forma cooperativa. É nesse ponto que sustentabilidade deixa de ser discurso e se torna prática concreta.
Como as cooperativas contribuem para colocar a agenda sustentável em prática na região?
Elas não apenas valorizam os saberes tradicionais, mas podem ser instrumentos de proteção das comunidades e de seu patrimônio imaterial. O modelo cooperativo permite criar estruturas de governança adaptadas, nas quais as representações comunitárias participam efetivamente dos processos decisórios. Nos próximos anos, com o aumento da demanda por produtos rastreáveis, de origem sustentável e socialmente justos, as cooperativas podem se consolidar como meios privilegiados para conectar comunidades tradicionais a mercados globais, garantindo autonomia e evitando sua marginalização nas cadeias produtivas.
Quais são, na sua avaliação, os principais desafios que o movimento cooperativista tem hoje e que definirão seu futuro?
O cooperativismo brasileiro enfrenta hoje desafios que colocam em xeque sua vitalidade. O primeiro é profissionalizar a gestão sem perder a essência democrática. Isso implica repensar a governança para que, mesmo em organizações grandes e complexas, a participação real dos cooperados seja preservada e valorizada. A cooperativa precisa demonstrar, de forma concreta, que continua sendo cooperativa, que gera valor coletivo e que não se reduz a uma empresa convencional.
Outro grande desafio é a transformação digital e a inovação. Mas aqui o ponto central não é apenas incorporar tecnologia, e sim mudar o mindset organizacional, estimulando comportamentos mais criativos, colaborativos e abertos ao risco. A inovação será o motor da competitividade futura, e sua força está mais no campo cultural do que no tecnológico.
E talvez o desafio mais estratégico seja o da renovação geracional. Atrair, formar e engajar jovens não é apenas uma questão de continuidade, mas de sobrevivência. O cooperativismo precisa se mostrar relevante e desafiador para as novas gerações, sob pena de perder espaço na sociedade e se tornar irrelevante em poucos anos.
Quais os caminhos para o cooperativismo do futuro e como tornar o movimento mais conhecido pela sociedade?
O futuro do cooperativismo dependerá da sua capacidade de se posicionar de forma estratégica em um cenário de transformações aceleradas. Não basta reafirmar princípios; é necessário traduzi-los em práticas que dialoguem com os desafios contemporâneos. Isso significa consolidar o cooperativismo como estratégia de desenvolvimento sustentável e modelo de negócios de impacto, capaz de gerar valor econômico, social e ambiental de maneira integrada.
Um caminho decisivo é aproximar-se das agendas globais de sustentabilidade, transição ecológica e economia de impacto, comunicando melhor à sociedade o que o diferencia das empresas convencionais. Outro elemento central é a capacidade de se articular em redes e ecossistemas inovadores, fortalecendo parcerias com universidades, governos e empresas, e ocupando espaços estratégicos em políticas públicas.
Qual o papel da educação nessa missão de tornar o cooperativismo ainda mais relevante?
A educação cooperativista, em seu sentido amplo, precisa ser assumida como estratégia institucional, e não como atividade secundária. Em um mundo marcado pela digitalização dos negócios e pelas mudanças no comportamento de consumo, o que fidelizará o cooperado é a percepção clara do valor que a cooperativa gera para ele. A educação pode ser o principal instrumento para fortalecer esse vínculo, traduzindo princípios em práticas e qualificando a gestão. Além disso, precisamos impulsionar uma transformação empreendedora dentro das cooperativas. Isso começa pela mudança de mentalidade, e a educação é chave para catalisar essa transformação.
Por que a formação empreendedora é essencial para o cooperativismo?
A formação empreendedora prepara as cooperativas para os desafios de um mundo em constante transformação. Mais do que ensinar técnicas, ela desenvolve mentalidades criativas, colaborativas e proativas, fundamentais para que as cooperativas inovem sem perder sua essência participativa. Ela é o que conecta tradição e futuro: fortalece a identidade cooperativa ao mesmo tempo em que abre caminho para a profissionalização da gestão, o protagonismo da juventude e a inserção em mercados cada vez mais competitivos e exigentes. E essa necessidade não é apenas da juventude. As lideranças cooperativistas em geral também precisam assumir comportamentos mais empreendedores, exercitando criatividade, ousadia e proatividade no cotidiano das cooperativas. O cooperativismo do futuro terá que ser mais empreendedor para ser mais resiliente e competitivo.
Vídeos Saber Cooperar
Representação política e institucional
O trabalho de representação política e institucional do Sistema OCB estabelece um diálogo estratégico e constante com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, para defender os interesses do movimento cooperativista e promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de políticas públicas que valorizem o cooperativismo brasileiro.O que é a intercooperação
A intercooperação abre portas para novos negócios e ajuda a ampliar a participação de mercado e os resultados das cooperativas envolvidas. Assista ao vídeo e veja como a união entre cooperativas pode potencializar os resultados dos negócios cooperativos.
Cooperativismo e ESG
Qual é a relação entre cooperativas e bioeconomia?
A onda verde chegou com força ao setor econômico. A chamada bioeconomia está em alta, mas você saber o que ela propõe, na prática?
Infográficos
Como as cooperativas constroem um mundo melhor?
O cooperativismo é um modelo reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) por sua capacidade de promover desenvolvimento econômico com responsabilidade social e respeito ao meio ambiente. Essa atuação está diretamente conectada aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma série de metas para construir um mundo mais justo e próspero até 2030. Descubra no infográfico interativo como as cooperativas contribuem para cada ODS.
Relatório de Sustentabilidade
Por que sua cooperativa deve elaborar um relatório de sustentabilidade?