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As cooperativas brasileiras estão cada vez mais precisas e eficientes quando o assunto é agronegócio. E uma das tendências mais fortes do momento é a agricultura de precisão, caracterizada pela tomada de decisões a partir de uma análise detalhada das características do solo, do clima e das culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.
Para o Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as cooperativas agropecuárias têm maiores condições de fazer a ponte entre o desenvolvimento da agricultura digital no Brasil e as pequenas e médias propriedades.
Quando falamos em agricultura de precisão, temos a impressão de que ela vai chegar somente nos grandes produtores rurais. Mas, é importante lembrar que, por meio de um cooperativismo sólido, as pequenas e médias propriedades terão acesso a essa inovação também. As cooperativas têm um papel muito importante. O sistema cooperativo vai ser o grande elo entre a agricultura de precisão e os agricultores familiares”, ressalta Márcio Madalena, médico veterinário e coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
O Ministério iniciou, em parceria com a OCB, um trabalho de intercâmbio de boas práticas produtivas entre as cooperativas de todo o país. “Sabemos que algumas cooperativas têm utilizado essas ferramentas de tecnologia e o objetivo é que essa tendência de inovação possa se tornar rotina nas cooperativas”, afirmou Madalena.
A cooperação ocorrerá por meio de eventos regionais para trocas de experiências entre cooperativas mais adiantadas no processo de digitalização e outras que apresentam mais dificuldades. A estratégia ainda não teve início plenamente em razão da pandemia, mas a ideia é começar virtualmente e expandir para encontros e visitas entre os cooperados.
“Todas as regiões do país tem experiências interessantes. Identificamos que o Nordeste tem um potencial muito grande e o Norte do país, por conta da sociobiodiversidade, da bioeconomia, já tem alcançado alguns mercados interessantes, e tem um potencial de crescimento muito grande, não só na área de gêneros alimentícios, mas no setor de cosméticos, seguindo todo um arcabouço de responsabilidade social e ambiental, que o cooperativismo carrega na sua essência”, destacou o coordenador do Departamento de Cooperativismo do Mapa.
FOCO NA PRECISÃO
Uma das cooperativas que oferecem serviços de agricultura de precisão no país é a Castrolanda — cooperativa agroindustrial situada em Castro, Paraná. A assistência técnica especializada na agricultura de base tecnológica é oferecida pela cooperativa desde 2014 e já presta o serviço para 81 cooperados, de um total de 464.
Começamos com o propósito de levar essa oportunidade e esse acesso aos produtores que não tinham a condição de comprar equipamento, máquina para fazer as operações na propriedade. E essa demanda aumentou. Hoje temos uma estrutura bem robusta e oferecemos desde levantamento de dados até corretivo com fertilizantes”, explica o engenheiro agrônomo Rudinei Borgoni, coordenador de Assistência Técnica e Agricultura de Precisão da Castrolanda.
Segundo Borgoni, todos os tipos de produtores têm utilizado os serviços de agricultura de precisão, mas os produtores que apresentam maior demandas têm propriedades com área superior a 300 hectares.
Entre os serviços oferecidos pela cooperativa, está a leitura de condutividade elétrica do solo, para analisar a qualidade do solo e definir as técnicas de manejo. Também é feita coleta de amostras de solo para permitir a aplicação exata de corretivo com taxa variável pelas zonas de manejo, conforme a demanda.
Culturas como soja, milho e trigo estão entre as que mais demandam aplicação de fertilizantes, e o serviço mais utilizado é a aplicação de corretivo no solo, com gesso e calcário.
Temos também a possibilidade de fazer a leitura por NDVI (Índice de Diferença Normalizada de Vegetação, tradução livre) da cultura, para ter essa visibilidade diferenciada sobre o que a cultura está precisando em cada ponto, em termos de aplicação nitrogenada. É a leitura da biomassa que tem no solo e através dos dados a gente consegue ver onde tem maior demanda de nitrogênio ou onde não precisa de nitrogênio”, explicou o agrônomo.
A cooperativa está se preparando para usar novas tecnologias de leitura e interpretação de satélite com o objetivo de começar a oferecer o serviço de recomendação técnica de plantio e semeadura a taxas variáveis, que permitem a aplicação correta de insumo, conforme a característica de cada talhão.
“Todo ano, nossa área de produção vem aumentando. Os produtores e a área técnica veem esse processo como um caminho sem volta. A agricultura de precisão é uma área que deve ter um crescimento bastante grande, em decorrência dos resultados obtidos”, destaca Borgoni.
A base de dados para essa nova etapa está sendo feita pela Fundação ABC, que realiza pesquisas sobre soluções tecnológicas para a agricultura, a pecuária, zootecnia, insumos e outros, para a Castrolanda e outras cooperativas.
A mais nova ferramenta em desenvolvimento na Fundação é a plataforma Sigma, que irá integrar na web todos os dados sobre solos, cultivos, épocas de plantio, tipos de manejo, colheita, produtividade, fatores ambientais, clima e precipitação de todas as cooperativas.
“Essa ferramenta vai nos auxiliar e dar uma segurança muito grande no momento da recomendação técnica e facilitar a vida do produtor, porque ele vai conseguir talhão a talhão fazer a gestão do negócio dele de forma muito assertiva”, completou Borgoni.
Aliado ao trabalho da agricultura de precisão, a cooperativa também tem estimulado os produtores a seguir as boas práticas de produção para conquistar certificações ambientais, como a Certificação RTRS, que assegura a sustentabilidade do processo produtivo, além da saúde e da segurança do trabalhador em campo.
SEGURANÇA ALIMENTAR
O pesquisador da Embrapa Ricardo Inamasu acredita que a revolução digital certamente irá fortalecer o Brasil em sua posição como grande produtor mundial de alimentos e ainda melhorar a imagem do país sobre a qualidade e sustentabilidade dos produtos.
A agricultura de precisão pode favorecer a segurança alimentar mundial, fazendo um sistema mais confiável. É o valor agregado, nesse novo mundo com mais informação. As pessoas tendem até a querer pagar mais por um alimento que promova a sustentabilidade”, destaca Inamasu.
O Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura também aposta que o incremento da tecnologia nos sistemas produtivos levará os produtos brasileiros a outro patamar de qualidade e confiabilidade no mercado internacional.
“Com essa revolução digital, o consumidor tende a exigir um arcabouço de responsabilidades dos setores produtivos. O Brasil tem sentido isso na pele e o cooperativismo carrega na sua essência a responsabilidade social e a ambiental. Então, acreditamos que, dentro dessa questão da inovação e da agricultura 4.0 – já tem gente falando em 5.0 –, o cooperativismo vai ser esse elo forte do avanço tecnológico com pequenos, médios produtores e com a sustentabilidade”, reitera Márcio Madalena, que coordena do Departamento de Cooperativismo e Acesso a Mercados do Ministério da Agricultura.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A vida no campo já não é a mesma. Uma revolução silenciosa tem transformado o modo de produzir alimentos e outros produtos no Brasil. Ciência de dados, inteligência artificial, sistemas robotizados, satélites, tratores inteligentes, tudo isso da porteira para dentro da propriedade rural. E tudo isso com impacto para muito além das fronteiras da fazenda. É o chamado Agro 4.0 — caracterizado pelo uso intensivo de novas tecnologias pelos pequenos, médios e grandes produtores rurais.
No Brasil de 2020, 84% dos produtores rurais usam pelo menos um tipo de tecnologia no campo, segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 556 municípios.
O estudo também revela algumas das motivações dos produtores para o uso das tecnologias. A obtenção de informações para o planejamento das atividades de produção é o principal objetivo de 65% dos produtores entrevistados. Em seguida, estão a gestão da propriedade rural (43% dos agricultores), compra e venda de insumos (40%) e previsão de riscos climáticos, como geadas, granizo, veranico e chuvas intensas (30%).
Desde a preparação do solo até a colheita, tem vários elementos que reduzem o potencial de crescimento das plantas, falta de nutrientes, pragas, enfermidades, falta de água. E a informação pode favorecer o seu crescimento. É aí que a agricultura de precisão – ou Agro 4.0 – vai ajudar o produtor a colocar a semente no local certo”, explica Ricardo Inamasu, pesquisador da Embrapa Instrumentação.
A principal característica da agricultura de precisão é a utilização de sistemas sustentáveis de produção e coleta de informações relacionadas às características detalhadas do solo, clima e culturas de uma propriedade. Assim, o produtor rural pode ser preciso no planejamento do plantio, da irrigação, da colheita, do armazenamento e da distribuição.
“Ao utilizar os insumos de forma precisa, o produtor rural também economiza e pode transferir os custos para o beneficiamento ou outra etapa da produção, ganhando mais rentabilidade e competitividade”, explica o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, um entusiasta do Agro 4.0.
COOPERAÇÃO NO CAMPO
A inovação digital invadiu a agropecuária brasileira, que viu na última década um crescimento exponencial do emprego das novas tecnologias em campo. Ainda de acordo com a pesquisa da Embrapa, os ganhos percebidos pelos produtores são vários, desde aumento da produtividade, maior eficiência da mão de obra até a melhoria da qualidade da produção, redução do impacto ambiental, melhor planejamento, aumento do lucro e das vendas diretas aos consumidores.
Outro dado relevante que a pesquisa traz é sobre o meio pelo qual o produtor teve contato com as tecnologias digitais. A maior parte dos entrevistados teve acesso às soluções tecnológicas por meio de consultoria ou serviços oferecidos por associações, cooperativas, sindicatos e Organizações Não Governamentais (ONGs).
Segundo o Censo Agropecuário do IBGE (2017), aproximadamente 11% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil estão vinculados a uma cooperativa. Se levar em consideração a área das propriedades, a porcentagem sobe para 20%. Entre os cooperados, quase 64% recebem algum tipo de orientação técnica do cooperativismo, aponta o censo do IBGE.
“A cooperativa traz algo muito favorável para os pequenos produtores. Eles não conseguem investir em grandes máquinas e talvez a cooperativa, por disponibilizar, consiga trabalhar com produtos diferenciados com maior valor agregado. Nesse sentido, eu acho que o produtor cooperado tem uma vantagem tremenda”, comenta Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação.
“A cooperativa tem um potencial enorme para fornecer informação, principalmente para os pequenos produtores, permitindo que eles possam negociar de igual pra igual”, acrescenta o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos.
Foi a qualificação que garantiu ao tunisiano Yousseff Arendt Ben Nessib uma vaga na área de comércio exterior da C.Vale, cooperativa agroindustrial com sede no Paraná. Há 7 anos no Brasil, Youssef fala seis idiomas e trabalha justamente com mercados do Oriente Médio e África.
O grande diferencial dos imigrantes para a empresa é a cultura. Eu cuido do mercado do Oriente Médio, que é de onde eu venho. Então eu sou mais familiarizado com o jeito de pensar das pessoas, os tipos de negociação, como tem que conversar com o cliente”, explica.
Foi a paixão por uma brasileira - hoje mãe dos seus filhos nascidos aqui - que o trouxe para o Brasil e o fez conhecer o modelo do cooperativismo. “Meu sogro é associado à Coamo, que é uma cooperativa de agricultores, e por meio dele eu entendi como funciona o modelo que eu acho que é bem eficiente, um trabalho em equipe e um sucesso no Brasil”, acredita.
A C.Vale hoje conta com 526 estrangeiros no seu corpo de funcionários, de diversas nacionalidades - o maior grupo, cerca de 80%, é de haitianos. O terremoto de 2010, que atingiu diversas localidades do país e matou mais de 200 mil, fez com que diversas pessoas deixassem o país e viessem ao Brasil em busca de novas oportunidades.
Essa abertura começou a partir de uma necessidade de mão-de-obra. Tínhamos uma carência grande e isso foi se consolidando com a chegada dos haitianos. Nós nos estruturamos para lidar com esse público e nos organizamos para oferecer treinamentos. O número de imigrantes tem crescido em razão do sucesso do programa. Hoje acolhemos sem nenhum receio sabendo que são uma força de trabalho promissora, eles têm um bom potencial e acabam se adaptando”, conta Neivaldo Burin, gerente do Abatedouro de Aves da C.Vale.
A maioria dos funcionários imigrantes e refugiados da C.Vale trabalha em atividades operacionais e passam por treinamento para conhecer as normas e boas práticas de higiene, segurança alimentar e do trabalho. “O abate é uma atividade muito procedimental, existia no início o receio, mas a prática foi mostrando que sim, eles se adaptam”, diz Burin.
COOPERAÇÃO

Ainda não há um levantamento da participação dos imigrantes estrangeiros nas cooperativas brasileiras, apesar dos relatos de várias partes do país do aumento dessas contratações. Professora do programa de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas da Pontifícia Universidade do Paraná (PUC-PR), Leila Dissenha estuda o tema para entender as potencialidades dessa parceria.
Nós temos o princípio do interesse pela comunidade e o da educação, então essa atitude de acolhimento se coaduna perfeitamente com as bases do cooperativismo”, afirma.
Há um projeto de iniciação científica em andamento na instituição para fazer uma radiografia da presença de imigrantes e refugiados nas cooperativas brasileiras. “É preciso aprimorar esse trabalho de intermediação porque muitos refugiados que chegam ao Brasil já têm uma formação que interessa às cooperativas: são veterinários, agrônomos, técnicos em segurança do trabalho. A cooperativa já faz seu papel econômico tão brilhantemente, ela também pode fazer esse papel social que é tão relevante”, acredita.
IDIOMA

Para os que chegam ao Brasil, o idioma ainda é um obstáculo. Na C.Vale, os os principais documentos, normativos e materiais de treinamento foram traduzidos para as diversas línguas. E os funcionários estrangeiros mais antigos, com o tempo, tornam-se uma espécie de “monitores” para auxiliar a adaptação dos novatos.
Para Burin, o investimento compensa pela entrega desses funcionários à cooperativa. “A maior parte deles está na área de produção, desde o abate até embalagem dos produtos. Mas já temos casos em que o funcionário foi evoluindo e crescendo na empresa, chegando às áreas administrativas”, conta.
Um desses destaques é Jackenson Forestal, um dos 462 haitianos empregados na cooperativa. Ele chegou no país há cinco anos - veio juntar-se a um primo que já morava no Paraná, em busca de crescimento profissional. Começou na C.Vale há dois anos em atividades operacionais e hoje trabalha na área de recursos humanos da empresa. Auxilia, principalmente, a contratação de outros trabalhadores imigrantes, mas também desempenha outras atividades de atendimento ao público.
Os primeiros anos no Brasil foram difíceis e Jackenson se dedicou aos estudos enquanto não conseguia emprego. “Na C.Vale, eu entrei na filetagem do peixe e na época eles precisavam de alguém para ajudar os estrangeiros que só falavam francês. Depois de algum tempo, eu fiz uma seleção e fui contratado para a área de recursos humanos”, lembra.
Casado e com uma filha brasileira, ele terminou o ensino médio no Brasil e sonha em cursar o ensino superior em tecnologia da informação - e quem sabe trabalhar nesta área dentro da própria cooperativa. “Foi uma grande oportunidade para mim, na minha área eu sou o único estrangeiro. No início eu achei que não fosse dar conta do trabalho, que não fossem me aceitar por eu ser negro e imigrante. Mas depois de um mês de trabalho, minha encarregada disse que eu entregava mais do que ela esperava. Eu vou seguir em frente e chegar no lugar onde eu quero”, sonha.
Depois de alguns meses no Brasil, Yadira conseguiu trazer o marido, que tinha ficado na Venezuela por problemas de saúde. Espera que ele também possa conseguir um emprego e se diz muito feliz com a nova vida, em especial com o trabalho.
Sou muito grata à cooperativa pela oportunidade e pela forma como tratam os estrangeiros. A cooperativa é uma empresa maravilhosa e tenho muito orgulho de trabalhar lá porque sei que é uma empresa pujante. Estou feliz em colaborar e colocar meu grãozinho de areia para que a empresa siga adiante e eu também ajude o Brasil a se desenvolver”, diz emocionada.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Apesar do fluxo recente de imigrantes, a história deles com o cooperativismo é antiga. Um dos exemplos foi a criação da Cooperativa Agrária, em Guarapuava, no Paraná. Em 1951, ela nasceu com o objetivo de apoiar cerca de 500 famílias de Suábios do Danúbio, que chegaram ao Brasil na década de 1940 em razão dos conflitos da Segunda Guerra Mundial.
Essa população origina-se na região que hoje é o Sul da Alemanha e tinha a agricultura como principal atividade. A partir do século 18, colonizaram o sudeste europeu e, com a guerra, passaram a viver em abrigos para refugiados na Áustria. Com o apoio de uma instituição humanitária, vieram para o Brasil e a comunidade criou a Cooperativa Agrária. Hoje, as principais culturas produzidas pelos cooperados são soja, milho, trigo e cevada. São 630 cooperados, 1.450 empregados e R$3,5 bilhões em faturamento.
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Yadira Del Valle Stabilit de Boada, 52 anos, deixou para trás sua casa e seu país em busca de uma vida melhor. Cruzou a fronteira entre a Venezuela e o Brasil por Roraima e, depois de quase um mês de viagem, passando por diversas cidades do país, chegou ao seu destino final: Medianeira (PR), às vésperas do Natal de 2018. Junto com a filha, genro e netos, que também fizeram a travessia, foi lá que encontrou a chance de construir um novo capítulo da sua história, aberto pelo cooperativismo.
Saímos da Venezuela pela situação terrível que passa nosso país. Eu, meu marido, minha filha e meu genro trabalhávamos e mesmo assim não conseguíamos o suficiente para comprar comida”, lembra a venezuelana, que há pouco mais de um ano trabalha na Frimesa Central, cooperativa do ramo alimentício com mais de 40 anos de história na região.
Em todo o país, cooperativas têm aberto as portas para imigrantes e refugiados (saiba a diferença no quadro) que chegam ao Brasil para recomeçar. Nessa caminhada, a conquista do emprego e de uma fonte de renda estável tem um peso muito importante.
“Populações refugiadas são pessoas que, em razão de guerras e conflitos, têm de deixar seus países para preservar a sua vida e de suas famílias. Isso significa recomeçar do zero porque eles deixam tudo para trás, mas trazem suas capacidades, seus talentos e sua experiência profissional. O emprego vai representar a autonomia, a auto sustentabilidade daquela pessoa e da sua família. E, muitas vezes, o trabalho é o que permite à pessoa se integrar em vários âmbitos”, explica o Oficial de Meios de Vida da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR Brasil), Paulo Sérgio Almeida.
ACOLHIMENTO

Assim como Yadira, mais de 264 mil venezuelanos entraram e permaneceram no Brasil nos últimos anos, desde o início da crise migratória. Quando chegou, ela vendeu comidas na rua e trabalhou como diarista até conseguir a vaga na Frimesa, há pouco mais de um ano. Hoje, sua filha e genro também trabalham lá.
A empresa começou a receber imigrantes em 1986, mas o maior número chegou a partir de 2019. Atualmente são 328 trabalhadores estrangeiros de diversas nacionalidades: além dos venezuelanos, há paraguaios, haitianos, cubanos, colombianos e sul-africanos.
Acolher esses imigrantes tem sido uma experiência muito positiva. Nós temos na nossa essência a prática da responsabilidade social e é justamente uma oportunidade de trabalhar com a inclusão e diversidade. Também é uma forma de inserir novas culturas e eles podem contribuir muito nas atividades com os talentos que trazem, e assim gerar resultados positivos para a cooperativa”, explica Elisa Fredo, gerente de Gestão de Pessoas da Frimesa.
A chegada dos imigrantes na empresa se deu a partir do contato com organizações da sociedade civil que apoiam essa população e procuraram a Frimesa para estabelecer a ponte. Paulo Almeida, da ONU, explica que muitas vezes as empresas, cooperativas ou não, desconhecem que os processos de contratação de refugiados e imigrantes são os mesmos de um profissional brasileiro.
Fazemos um trabalho de engajamento com o setor produtivo na linha de informar porque há muitas dúvidas sobre o que é essa população. Muita gente desconhece que, seja solicitante de refúgio ou refugiado, essas pessoas têm documentos legalizados, carteira de trabalho, e podem ser contratados como qualquer brasileiro”, explica o oficial do ACNUR.
Para Elisa, o comprometimento dos funcionários imigrantes refugiados é um diferencial. “Às vezes, eles vêm de alguma situação que afetou profundamente a vida deles, então valorizam essa oportunidade, o que é uma vantagem para a cooperativa”, pontua. De acordo com Almeida, há de fato estudos que apontam uma taxa de rotatividade desse público menor do que a média.
RECOMEÇO

Atualmente, a venezuelana Yadira trabalha na área de produção de frios da Frimesa, mas sua formação é em administração, função que exercia antes na Venezuela. Almeida destaca que imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil são pessoas de todas as classes e com perfis variados.
“Muitas vezes são pessoas com formação educacional elevada, mas que não escolheram sair dos seus países, fizeram para preservar suas vidas”, lembra. Para ele, a contratação desses profissionais é um “ganha-ganha”: os estrangeiros conquistam uma oportunidade e a cooperativa pode ter em seu quadro trabalhadores que trazem inovação e outras perspectivas para a resolução de problemas.
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Imigrante x refugiado
São considerados refugiadas aquelas pessoas que são obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos. Eles são assim reconhecidos por ser extremamente perigoso retornar a seus países de origem e, portanto, precisam de refúgio em outro lugar. Os Estados são responsáveis por assegurar essa proteção. Já o termo imigrante, em geral, compreende pessoas que deixam seus países de forma voluntária. Eles podem migrar em busca de melhores condições de vida, seja por oportunidades de trabalho ou estudo, reunião com familiares e outras diversas razões. Muitas vezes, também deixam seus países para aliviar dificuldades significativas ocasionadas por desastres naturais, pela fome ou extrema pobreza.
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Refugiados no Brasil
50 mil pessoas reconhecidas como refugiadas pelo Estado brasileiro, 55 nacionalidades.
Número de solicitações de refúgio (2018)
61,6 mil venezuelanos
7 mil haitianos
2,7 mil cubanos
1,4 mil chineses
947 bengaleses
Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Aos vinte e poucos anos, Carlos Alberto de Oliveira quase desistiu de sua terra-natal. Apesar do amor pela Paraíba, pensava em mudar-se para o Rio de Janeiro ou São Paulo em busca de oportunidades de trabalho. Carlos Alberto é deficiente físico. Nasceu sem um segmento de um dos braços, que termina no cotovelo – e essa característica acabava por fechar portas no mercado de trabalho. Sua sorte, no entanto, começou a mudar quando conseguiu o primeiro emprego como porteiro. Três anos depois, mais consciente de que a deficiência não lhe limitava profissionalmente, juntou-se à Cooperativa Paraibana dos Portadores de Deficiência (Coppd), em Campina Grande. Desde então, trabalha organizando o estacionamento rotativo da cidade, a chamada Zona Azul.
“Gosto demais de trabalhar aqui porque estou em contato com o público, atendendo. A maioria das pessoas da cidade já me conhece, pergunta pelas vagas e até deixa a chave do carro comigo porque passamos confiança”, conta, sorridente.
A história de Carlos Alberto é uma em meio a diversas iniciativas cooperativistas de inclusão social espalhadas pelo país. Algumas, como a Coppd, são cooperativas voltadas especialmente para a colocação de deficientes no mercado de trabalho. Outras cuidam de outras minorias, como mulheres, dependentes químicos ou, no caso da Coopereso de Sorocaba (SP), presidiários. Existem, ainda, as cooperativas como a Unimed Londrina, que buscam ativamente inserir deficientes em seu quadro de colaboradores.
Tais iniciativas são importantes para aumentar a representatividade de grupos que têm dificuldade para se inserirem no mercado de trabalho brasileiro. No caso das pessoas com algum tipo de deficiência, apenas 1% (cerca de 403 mil) estão formalmente empregadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um número inexpressivo, considerando a Lei de Cotas (8.213/91), que determina: pelo menos 2% dos colaboradores de empresas com mais de cem funcionários devem ser pessoas com deficiência. Este número está longe de ser realidade.

Essa inclusão cooperativista, portanto, cumpre um importante papel social. E ainda gera cooperação interna nas empresas, educação, aperfeiçoamento constante e interesse pela comunidade. Conheça a seguir a história de três cooperativas que já descobriram o poder da inclusão e como seus benefícios atingem não apenas os grupos marginalizados, mas toda a comunidade ao seu redor.
ABRINDO PORTAS

Na Coppd de Carlos Alberto, os cooperados atuam na área de estacionamento tarifado pelo município, conhecida como Zona Azul, por meio de um convênio com a prefeitura. Atualmente, são 19 deficientes físicos trabalhando no local. A parceria existe há 20 anos, mas era celebrada por meio de uma ONG. Em 2009, uma mudança na legislação exigiu a descontinuidade do contrato e foi então que os trabalhadores se organizaram em uma cooperativa para seguirem exercendo sua atividade.
Para muitos deles, a Coppd apresentou a oportunidade do primeiro emprego. Foi assim com Gisele Rodrigues, cooperada há um ano e meio.
Tenho deficiência em uma das pernas, encurtada e mais fina, por isso manco um pouco. Tentei arrumar trabalho em várias empresas e nunca consegui. Aqui eu gosto de trabalhar porque é tranquilo e os clientes nos tratam bem”, diz.
Segundo o presidente Jean Araújo Gomes, a cooperativa oferece uma alternativa mais estável aos cooperados do que empresas comuns. “Há mais de três anos que a fiscalização [da Lei de Cotas] parou de acontecer por aqui e as empresas tradicionais aumentaram as demissões de deficientes. Como cooperativa, damos estabilidade e continuidade”, conta.
A segurança de emprego e a possibilidade de crescimento também são pontos destacados por Carlos Alberto:
O modelo de cooperativa é bom porque é estável. Como todo mundo é dono, cada um dá o seu melhor para a cooperativa crescer e abrir portas para mais pessoas”, afirma.
Essas portas são abertas inclusive para não cooperados. A Coppd encaminha interessados para vagas em outras empresas, como empresas de ônibus, hospitais e indústrias. “Há pouca procura, mas dos pedidos de empresas que já recebemos, 99% conseguimos encaminhar”, conta Jean.
Além de colaborar com a inclusão, a Coppd tem um projeto de doação de equipamentos ortopédicos, como cadeira de rodas, de banho e muletas a pessoas necessitadas. Uma iniciativa apresentada à sociedade, inclusive, no Dia C . Dessa forma, eles estendem os benefícios da cooperativa à toda a comunidade e não somente aos cooperados.
O presidente destaca que para realizarem tantas atividades, o suporte do Sistema OCB/PB é fundamental.
Aqui no Nordeste não se trabalha tanto em cooperativas, não se conhece o cooperativismo a fundo. Então o apoio deles é essencial. Sempre que precisamos de informação, eles vêm, oferecem cursos e nos ajudam”, afirma o presidente.
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Distante 206 quilômetros de Palmas (TO), o município de Pedro Afonso vive uma fase de pleno desenvolvimento. Com apenas 13 mil habitantes, essa pequena comunidade vive avanços consideráveis nas áreas de educação, meio ambiente e agricultura. E quando perguntamos a qualquer morador o segredo dessa boa fase, a resposta é certeira: é tudo fruto da cooperação.
Conhecida como a capital da soja no Tocantins, Pedro Afonso viu o progresso chegar juntamente com três cooperativas : a Cooperativa Agroindustrial de Tocantins (Coapa), a Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed) e o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi),
Esses empreendimentos trouxeram mais movimento, emprego e desenvolvimento para toda a região, e não somente para Pedro Afonso. Desde a chegada do cooperativismo, notamos que cidade se uniu e há mais amizade”, destaca Divina Mendes, 68 anos, cooperada da Coapa — primeira cooperativa a impactar a comunidade.
Criada há exatos 20 anos por um grupo de pequenos produtores rurais, a Coapa ajudou a alavancar a produção agrícola da região, oferecendo apoio técnico, infraestrutura para armazenagem de grãos, além de núcleos de participação focados em dois públicos até então carentes de atenção: os jovens e as mulheres.
A inclusão e o empoderamento desses dois públicos foram fundamentais para o desenvolvimento da comunidade”, reconhece Divina. “Graças à cooperativa, passamos a participar da vida social e profissional da cidade e, agora, desenvolvemos trabalhos para melhorarmos a renda familiar. No grupo de mulheres, fazemos polpas de frutas, doces em compotas, chocolates, biscoitos, licores, paçocas e vendemos na feira”.
Além da Coapa, outras duas cooperativas se instalaram em Pedro Afonso: a Coed, de ensino, e o Sicredi, do ramo crédito. O trio decidiu viver, na prática, o princípio da intercooperação, desenvolvendo programas e ações em conjunto para beneficiar a comunidade. “É uma verdadeira rede do bem”, explica Ricardo Khouri, presidente da Coapa.
Trabalhamos unidos para promover o desenvolvimento e a alavancagem da região. Além disso, por sermos cooperativistas, temos o compromisso de deixar os recursos gerados por nossas atividades aqui mesmo, na cidade, gerando emprego, renda e oportunidade para muitas pessoas”.
PONTE PARA O FUTURO

Assim como em centenas de municípios brasileiros, em Pedro Afonso as pessoas descobrem o poder da cooperação desde muito cedo. Praticamente todos os moradores da cidade são associados a uma cooperativa ou pelo menos estão sendo beneficiados por elas. É comum casais conversarem sobre o dia na cooperativa, trocando ideias sobre como fazê-la crescer ou comemorando os resultados alcançados. Com isso, as crianças aprendem que o cooperativismo é bom, traz comida para a mesa e alegria para toda a família.
Na escola não é diferente. Especialmente na Cooperativa Educacional de Pedro Afonso (Coed), que educa os estudantes da região desde o maternal até o nono ano do ensino fundamental. “Trabalhamos o cooperativismo com todos os nossos alunos. Temos uma disciplina em que ensinamos a cooperar, a dividir, e acreditamos nesse formato de educação. Um aluno com essa base será um adulto melhor. Não estamos somente preocupados com o lado educacional, mas também com os valores e os princípios que esses estudantes levarão para a vida adulta”, explicou a diretora-presidente da cooperativa, Gleide Azevedo.
Ainda de acordo com Gleide, as crianças e jovens de Pedro Afonso exergam nas cooperativas um mundo melhor, uma oportunidade de emprego e uma ponte para um futuro melhor. Além disso, em sala de aula, também aprendem a administrar o próprio dinheiro e a poupar, graças ao apoio de projetos educacionais do Sicredi.
A atuação conjunta da Coed, da Coapa e do Sicredi é fundamental para Pedro Afonso”, elogia Gleide. “Somos três cooperativas, trabalhamos o bem comum da comunidade e almejamos o crescimento pessoal e do município. Essa integração entre as cooperativas facilita o nosso trabalho e a vida de todos”.
A coordenadora do núcleo feminino da unidade Sicredi de Pedro Afonso, Maria Ivanete Maciel, 47 anos, concorda com a colega da Coed e acrescenta: a intercooperação mudou a história do município e alavancou o crescimento da região, inclusive aumentando a oferta de postos de trabalho.
Quando juntamos nossas cooperativas, a população notou que tudo melhorou e se sentiu mais feliz, porque soube que tem o nosso apoio. A vida de Pedro Afonso mudou, pois agora tem mais oferta de empregos e facilidades para a população”, exemplificou Ivanete.
A satisfação dos moradores e a melhora da qualidade de vida proporcionada pelo cooperativismo são facilmente traduzidas no município pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) <abre hiperlink para site de IDH>, captado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. A taxa aferida na região supera a média brasileira, atingindo 0,732 pontos— em uma escala de zero a um, na qual quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento da região.
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MUDANDO VIDAS, REALIZANDO SONHOS

A intercooperação realizada em Pedro Afonso já ultrapassou as fronteiras do estado e do Brasil. Um dos projetos apoiados pelas três cooperativas da cidade está levando os jovens da cidade para conhecer outras cidades brasileiras e, em breve, outros países. Trata-se do projeto Amigos do Meio Ambiente (Ama), criado pelo professor Fabrício Rocha, 35 anos, em 2010.
Historiador, enfermeiro e pedagogo, Rocha entendeu que um bom educador pode contribuir com o desenvolvimento da comunidade também fora dos muros da escola. “Decidi contribuir com a preservação do meio ambiente para mostrar aos alunos que é possível transformar o mundo com atitudes simples, como dar a correta destinação a materiais recicláveis”, recorda.
O professor fundou o Ama com um grupo de 30 alunos e decidiu buscar apoio do poder público e das três cooperativas da cidade, que sempre tiveram um trabalho muito voltado para a valorização dos projetos locais. Trabalhando de forma intercooperativa, o projeto deu início a uma pequena revolução na cidade.
Os jovens se engajaram e começaram a recolher materiais, antes ignorados, para reciclá-los. A partir daí, as atividades evoluíram e o Ama conseguiu colocar em prática um projeto de sustentabilidade e recuperação ambiental, dando nova destinação a uma área na qual antes funcionava um lixão. O espaço foi revitalizado e transformado, em 2014, na Praça Ecológica Pedro de Souza Pinheiro, motivo de orgulho para a população.
Localizada em meio a exuberantes exemplares de palmeiras, ipês, imbaúba e mogno do Pará, a praça é ornamentada por 500 pneus e mais de 10 mil garrafas pet recicladas. “Os alunos aprenderam que através da união promovida pelo cooperativismo, com o trabalho em equipe, é possível mudar a realidade. O cooperativismo nos ajudou a resgatar valores como a determinação, o engajamento da comunidade e a importância do trabalho voluntário. Isso é algo firme e consistente na formação de cada um que passa pelo Ama”, ressaltou.
OUTROS ARES

O projeto criado por Rocha e apoiado pelas três cooperativas da cidade fez mais do que transformar uma praça da cidade. Ele ajudou a mudar a mentalidade dos moradores que não tinham perspectiva de crescimento. Foi também do lixo, por meio de produtos recicláveis, que o Ama deu sentido às vidas de dezenas de adolescentes e jovens.
Expandindo o formato de atuação, Rocha, seus alunos e voluntários recolhem latinhas, garrafas pet e de vidro, dentre outros materiais, para comercializá-los. Com o valor arrecadado, são promovidas viagens, ações que enriquecem culturalmente os participantes e abrem portas para a visita a locais, antes, inimagináveis e inacessíveis para pessoas de baixa renda.
Nestes anos de projeto, já rodamos quatro regiões do País. O nosso objetivo, com isso, é proporcionar que os nossos alunos conheçam outras cidades através de seu próprio trabalho e esforço”, comenta o professor. Vale destacar: desde o início do projeto, o grupo já visitou, dentre outras cidades, Rio de Janeiro, Fortaleza, Natal, Aracajú, Maceió e São Paulo.
Daniela Bezerra Costa, 15 anos, é uma das alunas voluntárias que fazem parte do Ama. No grupo desde agosto de 2018, ela garante que a motivação para participar veio do desejo de ajudar o próximo “Depois que comecei a trabalhar com eles, me senti melhor. Saber que estou ajudando a alguém, fazendo doação, por menor que seja, me fez sentir melhor”.
Um pouco mais antigo no grupo, Luiz Gustavo Bezerra Pinheiro, 16 anos, faz parte do Ama há seis anos e viu a evolução da cidade, bem como dos moradores. Um dos voluntários da construção da praça, ele lembra que o apoio das cooperativas tem sido fundamental para os avanços da região.
Muitos falaram que não era possível que um lixão se transformasse em algo tão bonito, como a praça ecológica que temos hoje. Esse projeto foi criando pernas, ganhando apoiadores, somamos forças com as cooperativas, que nos ajudam sempre que precisamos”, comemora o garoto que, por meio do projeto, pode conhecer o mar em uma das viagens do grupo. “Foi uma viagem inesquecível. Sabíamos que éramos capazes de fazer, e fizemos”, completou.
O projeto social, com a ajuda das cooperativas, pretende ir mais longe, alçar voos maiores. Neste ano, a viagem será com destino à Argentina e à tríplice fronteira. Até o momento, 80% do passeio estão pagos, tudo com dinheiro arrecadado com a coleta de material reciclável.
De acordo com o professor Fabrício Rocha, uma das metas do projeto é levar os participantes à Europa. “Nossa meta é, em 20 anos, chegar a Paris, de avião. Essa é uma ponte que nos mostra o quanto a união, o cooperativismo e o trabalho voluntário são importantes para o desenvolvimento de todos”, concluiu o educador.
O Dia C é um compromisso das cooperativas brasileiras com a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. Durante um dia, elas realizam milhares de ações voluntárias em todo o país para demonstrar um pouco do que o cooperativismo faz, diariamente, para colaborar com o desenvolvimento de suas comunidades.
Impacto comprovado
Confira o Índice de Desenvolvimento Humano de Pedro Afonso em comparação à média brasileira e ao estado do Tocantins
IDHM | IDHM Renda | IDHM Longevidade | IDHM Educação | |
Brasil | 0,727 | 0,739 | 0,816 | 0,637 |
Tocantins | 0, 699 | 0,690 | 0,793 | 0,624 |
Pedro Afonso (TO) | 0,732 | 0,699 | 0,846 | 0,664 |
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano (Brasil – 2010)
Esta matéria foi escrita por Kelly Ikuma e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A entrada em vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) surpreendeu às empresas e cooperativas que atuam nos mais diversos setores da economia. A assessora jurídica OCB, Ana Paula Rodrigues, afirma que boa parte do setor cooperativista já está se estruturando para atender à legislação, mas acreditava na prorrogação do prazo. Segundo ela, pela diversidade do cooperativismo, é difícil precisar de forma geral o estágio em que as cooperativas do Sistema OCB se encontram, porém, tanto a unidade nacional quanto as estaduais têm desenvolvido ações para apoiar as iniciativas em capacitação e envio de materiais sobre as novas regras.
Nossas entidades iniciaram o trabalho de adequação em janeiro deste ano, mas, com a pandemia da Covid-19, foram necessários alguns ajustes no cronograma para concluir a primeira etapa, que se refere ao mapeamento e à entrega dos relatórios das ações e medidas a serem tomadas. Esperamos concluir esse processo em novembro”, explica a assessora jurídica.
Ainda segundo ela, o trabalho conta com a atuação de um grupo interno que envolve várias áreas das três entidades que compõem o Sistema OCB (Sescoop, OCB e CNCoop) e que foi formado especificamente para acompanhar as atividades de adequação à lei, em uma atuação conjunta com uma consultoria especializada. Para além disso, o grupo tem trabalhado iniciativas para apoiar as cooperativas neste momento de adequação. “Realizamos webinários tratando das medidas emergenciais de implementação da lei e, já no início de novembro, lançaremos uma cartilha de apoio às cooperativas nesse processo de adequação”, completa.
ESTRUTURA PRONTA
No Banco Cooperativo Sicredi, o processo de adequação já foi concluído, e a instituição conta com áreas e processos dedicados ao tratamento dos dados e ao atendimento à legislação. “Iniciamos este trabalho em março de 2019. Procuramos revisar cada operação, a fim de verificar o que era preciso ser feito e implementar políticas corporativas de proteção de dados e avisos de privacidade”, explica Júlio Pereira Cardozo, diretor executivo de riscos.
Segundo ele, o processo de mudança tem ocorrido por meio de treinamentos on-line, workshops, ações de endomarketing, melhoria nos controles de segurança e na formação de facilitadores nas áreas, chamados de agentes de riscos. “Buscamos identificar meios para uma correta adequação de processos e colaboradores, bem como maneiras de comunicar essas mudanças a nossos stakeholders e fornecedores. A adequação à LGPD representa uma mudança de cultura; por isso, a importância de implantarmos treinamentos, controles, rastreamento e eventuais medidas referentes a condutas, para que todas as áreas estejam alinhadas”, destaca.
Ainda de acordo com Cardozo, o programa de privacidade de dados do Sicredi está dividido em quatro pilares: jurídico (contempla as relações entre o banco e suas diferentes possíveis partes); tecnologia da informação (administração e segurança dos dados e dos sistemas); análise dos processos de negócio (avaliação de dados utilizados e adequação à finalidade a que se destinam); e treinamento e conscientização (necessários para promover uma mudança de consciência diante do uso de dados).
“Trata-se de um trabalho conduzido em sinergia entre diferentes áreas e que não se encerra com a adequação mínima à LGPD. Privacidade de dados é um assunto de extrema importância dentro do Sicredi, e vamos continuar avançando no tema durante os próximos anos”, conclui.
INVESTIMENTO
A Frísia Cooperativa Agroindustrial, com sede no Paraná e Tocantins, iniciou o processo de adequação à LGPD no fim de 2018. “Começamos a discutir o tema e a nos informar internamente. Ao mesmo tempo, entramos para o Programa de Compliance da Ocepar (Paraná Cooperativo). Acreditamos que poderíamos nós mesmos cuidar de todo o processo, mas, ao longo do tempo, descobrimos que seria muito difícil, devido ao tamanho e à complexidade dos negócios da cooperativa”, conta Marta Auer, assessora jurídica, membro do Comitê de Segurança da Informação e responsável pelo sistema de Compliance da Frísia.
A primeira medida que eles adotaram, segundo Marta, foi criar uma equipe multidisciplinar, com colaboradores das áreas de recursos humanos, marketing, jurídico, tecnologia da informação, segurança do trabalho, medicina e auditoria. “Pretendíamos fazer um mapeamento dos dados que coletamos para ter um panorama geral, inclusive da finalidade dada a eles, mas acabamos contratando uma consultoria para realizar essa ação. Por outro lado, já temos várias políticas prontas. Assim que o mapeamento estiver completo, podemos aplicar essas políticas e iniciar a fase de treinamento, capacitação e comunicação”.
Marta acredita que será necessário pelo menos um ano de dedicação ao processo de adequação para que a cooperativa consiga chegar à fase de auditoria, a fim de testar o sistema, identificar inconsistências, fazer os ajustes necessários e concluir os requisitos mínimos exigidos.
Nossa perspectiva é que iniciemos os testes entre janeiro e fevereiro do próximo ano”, afirma. Apesar da complexidade, a assessora acredita que o processo deve ser visto como um investimento. “Estamos trabalhando para oferecer mais segurança e transparência em nossas ações”, enfatiza.

Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
“Informação é poder”, já dizia Steve Jobs, fundador da Apple. Quando uma empresa, um partido político ou uma rede social conhece os dados, os gostos e os hábitos de uma pessoa, fica mais fácil convencê-la a fazer quase qualquer coisa. Pode parecer exagero, mas não é! Hoje, existem pessoas e empresas especializadas em coletar e comercializar dados ou bases de clientes, sem sequer pedir a autorização deles. Quem nunca recebeu aquelas chatíssimas ligações de telemarketing com uma oferta imperdível?

A boa notícia é que essa prática está com os dias contados, graças à entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em 18 de setembro. A má é que empresas, cooperativas e organizações que coletavam dados pessoais para melhorar processos, ampliar redes de relacionamento ou fidelizar clientes terão de rever todas essas práticas, sob o risco de pagarem multas, que podem chegar a R$ 50 milhões por infração.
A LGPD propõe medidas de segurança jurídica que transcendem as relações firmadas no ambiente virtual. Por isso, é de suma importância que as cooperativas estejam atentas aos procedimentos que devem ser adotados, especialmente por se tratar de um modelo de sociedade formado, em muitos casos, por pessoas físicas, a quem a legislação buscou dar proteção”, explica Ana Paula Rodrigues, assessora jurídica da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Ainda segundo ela, os cuidados na coleta de dados devem ser redobrados, de modo a evitar que sejam perdidos, vazados, transmitidos para pessoas erradas ou tenham sua utilização desvirtuada, sob pena de gerar danos às cooperativas e também às pessoas envolvidas. “Será fundamental solicitar apenas os dados pessoais necessários ao cumprimento das finalidades da organização e dar clareza ao seu quadro social quanto à utilização dessas informações”, afirma.
O consultor em proteção de dados (DPO) Sanclé Landim Albuquerque concorda: as cooperativas, de fato, têm uma sensibilidade maior às regras da LGPD, por conta de suas características de filiação. “Nesses empreendimentos, o cooperado é, ao mesmo tempo, sócio, fornecedor e cliente. Além disso, em alguns casos, há repasse de informação para outras organizações, como as cooperativas de crédito, por exemplo, que podem estar encarregadas da gestão dos recursos da cooperativa, da distribuição dos resultados, e precisarão responder ao Banco Central. Isso exige minimalismo e a definição de finalidades claras para os dados coletados, principalmente os considerados sensíveis, que abrangem questões de gênero, raça, religião, posicionamento político, entre outros”, alerta.
MULTAS APLICADAS
Ainda que a data para o início da aplicação das sanções previstas para quem desrespeitar as regras seja 1º de agosto de 2021, o início da vigência da lei afeta de forma imediata os negócios das cooperativas, empresas públicas e privadas, e demais organizações. Isso porque as disposições exigidas podem ser fiscalizadas pelos órgãos competentes e até mesmo utilizadas como fundamentação em eventuais discussões no âmbito judicial.
Sanclé Albuquerque cita como exemplo uma multa de R$ 60 mil aplicada pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacom) a uma grande marca de roupas por ter utilizado tecnologias de reconhecimento facial em sua loja no Shopping Morumbi, em São Paulo. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), responsável pela denúncia, a empresa conseguia captar as reações dos consumidores e traçar um perfil de seus visitantes sem informação clara e adequada, e sem o devido consentimento de seus clientes.
A prática foi considerada abusiva, utilizando como referência o Marco Civil da Internet e a LGPD, e a empresa foi multada nos termos do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Esse caso deixa clara a importância da finalidade e do consentimento explícitos para a coleta e uso dos dados pessoais”, destaca o consultor.
Uma das maiores empresas do ramo imobiliário no Brasil também foi penalizada sob os termos da LGPD no mês de outubro, acusada de compartilhar dados pessoais e de contato de seus clientes com parceiros que ofereciam mobília planejada e afins. Pela decisão, a companhia terá que pagar uma multa indenizatória de R$ 10 mil, com um adicional de R$ 300 para cada contato que venha a ser compartilhado novamente no futuro.
Vale destacar: a legislação prevê punições que vão desde advertências até multas, que podem chegar a 2% do faturamento da empresa ou organização, sob o limite de até R$ 50 milhões por evento. “Poucos se atentaram para o fato de que o limite da penalidade é por evento, ou seja, uma empresa pode ser penalizada por mais de um ao mesmo tempo e a multa não se limitará aos R$ 50 milhões. Significa dizer que desrespeitar as regras da LGPD pode gerar custos que inviabilizem a manutenção do negócio”, acrescenta Sanclé Albuquerque.
IMPLEMENTAÇÃO
Precisar o tempo médio necessário para a adequação das cooperativas à LGPD ou os custos a serem dispendidos nessa adaptação não é tarefa fácil. De acordo com Ana Paula Rodrigues, as estimativas dependem não apenas do porte da cooperativa, mas do nível de complexidade de suas operações e de procedimentos internos que envolvam coleta e uso de dados pessoais e do nível de organização dessas informações nos bancos de dados.

O cooperativismo é diverso e possibilita que qualquer tipo de atividade seja desempenhada por meio desse tipo de sociedade. Assim, cada caso exige um mapeamento específico para diagnosticar a estrutura existente, o tempo de adequação e os investimentos necessários para a adequação. Além disso, existem outros fatores que podem influenciar no custo, como a necessidade de apoio técnico especializado, de contratação de colaboradores específicos ou de investimentos em suporte e ferramentas de TI, que podem aumentar os valores necessários”, explica.
Sanclé Albuquerque acrescenta que, em uma estimativa realista, o prazo pode variar de seis meses a um ano e meio, dependendo do tamanho e das complexidades envolvidas no negócio. Já os custos dependerão da realidade de cada empresa. “Importante salientar que se trata de um processo contínuo, que vai exigir aprimoramentos constantes para garantir a segurança e a privacidade dos dados, bem como a manutenção dos sistemas, ou seja, não se limita apenas a atender os princípios básicos da legislação.”
O consultor lembra ainda que programas de conformidade (compliance) e de atendimento às normas Isso – especialmente a ISO 27701 – contribuem para a adequação à LGPD. “Essa ISO traz especificações sobre práticas de privacidade da informação em nível mundial e já em sintonia com a lei que inspirou a nossa LGPD — o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês), legislação aprovada pela União Europeia para o tratamento das informações pessoais, em vigência desde maio de 2018”, destaca.
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PASSO A PASSO PARA A ADEQUAÇÃO DAS COOPERATIVAS À LGPD
PASSO 1 – DIAGNÓSTICO (estratégico)
Nesta etapa, realiza-se o mapeamento dos bancos de dados e sistemas onde estão armazenados quaisquer tipos de dados pessoais coletados pela organização, a fim de identificar como é realizado o tratamento <abre hiperlink> desses dados. Aqui, é importante identificar:
QUAIS SÃO AS DIFERENTES FONTES DE ORIGEM DOS DADOS ARMAZENADOS?
O QUE É REALMENTE NECESSÁRIO COLETAR E MANTER?
Ícone de regador — COMO É FEITO O TRATAMENTO? QUAIS PRÁTICAS SÃO PERMITIDAS DENTRO DA LGPD?
PASSO 2 — PLANO DE AÇÃO (tático)
Planejamento da adequação de procedimentos, normativas, contratos e políticas de privacidade da cooperativa, bem como para a revisão da estrutura de tecnologia e armazenamento das informações. Aqui, é importante zelar pela TRANSPARÊNCIA com o cooperado. Ele precisa entender os motivos da coleta dos dados considerados essenciais para o seu negócio e concordar expressamente com a coleta deles.
PASSO 3 — VALIDAÇÃO DAS MUDANÇAS (operacional)
O objetivo, agora, é efetivar o plano de ação proposto com testes para a verificação da adequação e da efetividade das medidas implementadas, confirmando se foram atendidas todas as exigências previstas na lei.
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ÁREAS ENVOLVIDAS NO PROJETO DE ADAPTAÇÃO
O trabalho de adaptação de uma cooperativa à LGPD é multidisciplinar, ou seja, envolve diferentes áreas, incluindo diretorias, gerências, jurídico, tecnologia de informação, recursos humanos e marketing. Cada uma tem diferentes responsabilidades, que vão desde a análise da finalidade de negócio até a implementação de todo o programa e a resposta a possíveis incidentes.

Fonte: Midnal Consultoria
PROFISSIONAIS NECESSÁRIOS APÓS A ADAPTAÇÃO
De acordo com a LGPD, para o funcionamento do sistema de proteção de dados, será necessária a atuação de três agentes importantes, denominados como controlador, operador e encarregado. Entenda o papel de cada um deles:
CONTROLADOR — agente de tratamento de dados pessoais que deve manter registro das operações realizadas. Ao controlador, cabe: decidir o porquê da coleta de dados do titular; lidar com a base legal para fazer a coleta; definir a finalidade ou os propósitos para os quais os dados serão usados, para quem pretende divulgar, compartilhar ou transferir os dados, bem como por quanto tempo reterá as informações. Ele é responsável ainda por elaborar relatórios de impacto, quando necessário.
OPERADOR — realiza o tratamento dos dados pessoais em nome do controlador. Ele deve seguir as diretrizes determinadas e tratar os dados de acordo com as políticas de privacidade e o ordenamento jurídico. O operador e o controlador também respondem pelos danos patrimoniais, morais, individuais ou coletivos, a exemplo de violações da legislação e que exijam algum tipo de reparação.
ENCARREGADO — pessoa indicada para atuar como canal de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD). A identidade e as informações de contato do encarregado devem ser públicas, claras e objetivas. Ele deve aceitar reclamações e comunicações dos titulares dos dados; prestar esclarecimentos e adotar providências; receber comunicações da autoridade nacional e adotar providências; orientar os funcionários e os contratados da organização sobre as práticas a serem tomadas em relação à proteção de dados pessoais; e executar as demais atribuições determinadas pelo controlador ou estabelecidas em normas complementares (art. 41, § 2º).
Esta matéria foi escrita por Raquel Sacheto e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Tivemos a participação ativa dos nossos 25 cooperados e um apoio essencial da Universidade Estadual da Paraíba, que trouxe a tecnologia de dessanilização e adaptou à realidade dos assentamentos”, conta Jonas Marques, presidente da Coonap-PB. “É uma tecnologia de baixo custo e muita efetividade. Contribui principalmente para a autonomia dos agricultores familiares. Mostra que podemos fazer acontecer por nós mesmos.”--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- FICHA TÉCNICA Cooperativa: Cooperativa de Trabalho Múltiplo de Apoio às Organizações de Auto Promoção (Coonap) Projeto vencedor: Dessalinizador Solar de Baixo Custo Ramo: Trabalho Estado: Campina Grande, Paraíba Beneficiados diretos: 37 famílias de agricultores familiares ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta matéria foi escrita por Guaira Flor e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
MAIS INCLUSÃO
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Eu queria me transformar, mantendo viva a memória da minha filha, mas fazendo algo que fosse bastante significativo. Porque eu tenho certeza de que era isso o que ela gostaria que eu fizesse”, completa. Uma ideia que foi amadurecendo e crescendo até chegar ao formato de cooperativa.Desde o início, a intenção da Bordana era atender mulheres com dificuldades de se inserir no mercado de trabalho, que encontrariam no bordado uma oportunidade de trabalho e renda. Para levar o projeto adiante, Celma fez uma parceria com a incubadora social da Universidade Federal de Goiás (UFG) e recebeu apoio para estudar e dar início à cooperativa. Quando começaram as atividades, a Bordana era formada por 10 mulheres. Já na fundação oficial, em 2011, eram 34. Atualmente, a cooperativa goiana conta com 21 mulheres e um homem. “Muitas mulheres acabaram saindo, porque mudaram de bairro”, conta.
DESAFIOS
[caption id="attachment_76753" align="alignnone" width="1657"]
Queremos introduzir novas técnicas na cooperativa, com foco em um maior resultado financeiro”, diz, sobre o futuro.Atualmente, a Bordana mantém uma loja no Shopping Bougainville, localizado em um bairro nobre da capital goiana. Com a pandemia e a consequente queda nas vendas, a cooperativa buscou formas de se manter no mercado por meio das redes sociais – em especial, o Instagram – e também fez parcerias com grandes marcas, como o Magazine Luiza, onde hoje mantém uma loja virtual.
PAIXÃO PELO COOPERATIVISMO
[caption id="attachment_76756" align="alignnone" width="1600"]

Celma destaca que, no meio da caminhada de construção da Bordana, descobriu sua paixão pelo cooperativismo. Ela acredita, entretanto, que muita coisa ainda pode (e deve) ser melhorada em nosso movimento – em especial, a intercooperação.
É preciso que as maiores [cooperativas] olhem mais para as menores e ajudem a fortalecer a ideia de cooperativismo enquanto modelo de negócio, para que mais pessoas possam participar e se beneficiar desse que é o modelo do futuro”, aposta.“A gente já viu que, de forma individual e com base em um capitalismo ganancioso e sem escrúpulos que passa por cima de tudo, nossa sociedade não vai crescer. É preciso pensar um novo modelo de negócios que faça inclusão social e econômica; que pense nas pessoas de verdade. E o cooperativismo faz isso.”
DIVISOR DE ÁGUAS
É com essas palavras que Rosenelia Theiss, 65 anos, define a sua relação com a Bordana, de quem é cooperada desde a primeira reunião, em 2008.Eu era muito tímida; não conseguia falar em público, sempre muito retraída. Na Bordana, nós fizemos vários cursos, fizemos exposições e, com isso, a vida foi mudando bastante. Pra mim, foi uma diferença da água pro vinho: antes e depois da Bordana. Aliás, não só para mim, como para a maioria das nossas cooperadas”, revela.Na avaliação de Rosenelia, que não sabia a arte do bordado, a cooperativa foi uma “superação coletiva” para as mulheres que resolveram abraçar o projeto. “Para mim, foi uma válvula de escape. Fiz cursos, gostei muito de bordar. Agora, o bordado faz parte da minha rotina. Aliás, nessa pandemia, o trabalho manual foi a minha salvação, porque ele é terapêutico. Não podia sair de casa, então, eu ficava bordando.” A cooperada Gleidy Marques, 53 anos, afirma que, antes de entrar para a cooperativa, bordava por conta própria, quando recebia encomendas. Agora, entretanto, a palavra-chave é união. “A gente trabalha juntas, unidas. Sou uma das donas da cooperativa, mas esse trabalho é em união. Fica mais fácil para lidar com as coisas. Você sempre tem ajuda. É muito aprendizado”, destaca. Sócia fundadora da Bordana, Gleidy conta que, no início, as mulheres se reuniam, mas não sabiam direito o que queriam fazer. A partir das discussões em conjunto, chegaram ao consenso de criar uma cooperativa de bordado. “A gente queria resgatar os pontos da vovó, que hoje em dia quase não se faz mais. E queríamos fazer o resgate do bioma Cerrado. Unindo as nossas ideias, chegamos a essa conclusão. Eu amei a ideia [de criar uma cooperativa] porque eu já bordava [ponto cruz], mas quase não trabalhava com o bordado livre.” Para dar conta da missão, ela conta que, ao lado de outras cooperadas, foi buscar capacitação em bordado em uma associação na capital goiana. “O que a gente aprendia lá, trazia e ensinava na cooperativa”, revela. E não foi só sobre linhas e pontos que Gleidy procurou saber mais. Foram nove meses de aulas sobre cooperativismo, com a ajuda da UFG; inúmeras palestras sobre gestão de negócios; atualização sobre ferramentas e programas de computador (como o Excel), e de conhecimento sobre o mercado e a concorrência.
A gente vai crescendo, como cooperado e como pessoa”, garante.__________________________________________________________________________________________________________________________________ Vitrine nacional O trabalho feminino e manual com linhas e agulhas desenvolvido pela Bordana foi destaque no Relatório de Gestão 2019 da OCB, que contou com os bordados feitos pelas mãos talentosas das cooperadas de Goiânia. O intuito era mostrar que os resultados do nosso sistema são como um grande bordado, feito ponto a ponto, com suor, risos, lágrimas e paixão. Para Celma, foi um orgulho ilustrar um dos mais importantes documentos da OCB. “Eu tenho certeza de que esse é o caminho. Achei superbacana a OCB procurar uma cooperativa para fazer o trabalho [de ilustrar], especialmente o relatório, que é um momento tão importante e tem tanta visibilidade. É essa intercooperação que tem de existir e se fortalecer cada vez mais”, destaca. __________________________________________________________________________________________________________________________________ --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Inspiração para livro A história de vida de Celma virou inspiração e se transformou em livro. Um sonho feito de linhas é uma narrativa baseada em histórias reais de consultoras de uma empresa de cosméticos. De autoria da psicóloga e escritora de obras infantojuvenis Ana Carolina Carvalho, o livro foi lançado em setembro – mês em que se celebra o Dia Mundial da Alfabetização e da Educação Básica no Brasil. As ilustrações são de Andreia Vieira. A autora ouviu muitas mulheres desbravadoras que superaram desafios, em diferentes partes do país, e escreveu a obra, uma espécie de “colcha de retalhos” feminina. Celma destaca que a empresa que escreveu o livro teve um papel muito importante de apoio à Bordana, em diferentes momentos. Em 2013, o cooperativa recebeu o Prêmio Acolher, destinado a apoiar consultoras que desenvolvem ações sociais. Além de R$ 15 mil para o projeto, Celma recebeu um ano de consultoria técnica como premiação. “Foi muito importante, porque a gente estava começando e aprendi muito sobre gestão e empreendedorismo social”, afirma. Também por indicação dessa empresa, Celma chegou a ser finalista do Prêmio Mulher, da Revista Claudia, em 2015, destinado a contar a história de mulheres inspiradoras. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Para mim é sempre especial trabalhar com o cooperativismo, porque está dentro da nossa filosofia de colaborar e trabalhar em equipe. Há praticamente 10 anos nós iniciamos uma parceria com uma cooperativa que fez todo o sentido, porque podemos aprender ainda mais sobre esse tema. Eu me sinto muito confortável em poder falar sobre o cooperativismo, porque é algo que vem desde a nossa infância dentro de casa, passando pela carreira no esporte, até a filosofia da nossa empresa”, explica Guga.Idealizada pelo Sistema OCB e assinada pelo movimento SomosCoop, a campanha publicitária tem quatro objetivos principais:
- Difundir o cooperativismo para a sociedade;
- Estimular potenciais empresários a adotarem o cooperativismo como modelo de negócio;
- Incentivar as cooperativas a adotarem o carimbo SomosCoop;
- Fazer nosso público interno cada vez mais engajado e orgulhoso de ser coop.
DIVULGAÇÃO EM ONDAS
Para garantir a visibilidade do cooperativismo tanto em meios tradicionais, como TV e rádio, quanto nas internet, nossa campanha será dividida em duas ondas. A primeira delas acontece na primeira quinzena de novembro e a segunda na primeira quinzena de janeiro (veja imagem).No intervalo entre as ondas teremos a sustentação exclusivamente on-line, nas redes sociais”, explica a gerente de comunicação do Sistema OCB, Daniela Lemke. “Após a campanha, continuaremos contando com a imagem do Guga em nossa comunicação”.Vale destacar, atualmente, o tenista lidera, ao lado do irmão, uma holding que tem como visão semear bons princípios e como missão gerar oportunidades e negócios com responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. Uma sintonia total com o nosso modelo de negócios.

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50 milhões de brasileiros
estão ligados de alguma forma a uma cooperativa. Esse número equivale a 25% da população brasileira, se somarmos o número de cooperados, familiares, empregados e fornecedores diretos; -
425,3 mil empregos
gerados -
R$ 7 bilhões injetados na economia por meio de impostos e tributos recolhidos
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828
cooperativas
Esta matéria foi escrita por Guaira Flor e está publicada na Edição 31 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
"Já pensamos inclusive em ampliar o projeto para outras escolas porque percebemos o impacto positivo que ele tem na vida e no futuro das adolescentes. É uma iniciativa que dialoga com o nosso negócio, ou seja, com a promoção de saúde”, comemorou Camile Bruns, que coordenava a área de Responsabilidade Social da Unimed Brusque na época da premiação.Um dos segredos do sucesso do programa é a multiplicação de conhecimento entre as próprias alunas. Após aprenderem sobre métodos contraceptivos e DST, elas passam esse conhecimento para as amigas de outras turmas. Tudo de um jeito muito simples e fácil de entender, para garantir a adesão do maior número possível de meninas. Depois de vencer o Prêmio SomosCoop 2018, a Unimed Brusque intensificou o projeto, ampliando-o para o público masculino. Uma maneira de abrir o diálogo da prevenção da gravidez também com os adolescentes do sexo masculino. Afinal, eles precisam entender que a contracepção não é uma tarefa exclusiva das meninas, que acabam sendo culpabilizadas em caso de gravidez.
Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Nós temos a oportunidade de vivenciar todos os dias o cooperativismo na nossa instituição. Os alunos podem colocar em prática o que aprendem em sala de aula e aplicar isso ao longo da vida. O potencial de difusão do cooperativismo é enorme”, comemora Pelegrini.Uma das iniciativas já realizadas com os alunos: envolvê-los na vivência do processo eleitoral. Eles puderam participar de uma campanha interna para eleger quem seriam os responsáveis pela administração da cidade. As instalações e as atividades curriculares foram adequadas para que as iniciativas dos pequenos gestores pudessem sair do papel, guiadas por valores do cooperativismo como criatividade e consciência crítica.
Esta matéria foi escrita por Juliana César Nunes e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação

Esta matéria foi escrita por Paula Andrade e está publicada na Edição 25 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
As cooperativas são inovadoras e criativas e promovem uma matemática em que 1+1 é igual a 3", disse o pontífice.Na ocasião, ele ainda destacou como o cooperativismo transforma realidades sociais e combate práticas de mercado injustas. Mas esta não foi a primeira vez que Francisco mencionou o cooperativismo. Em 2015, ele associou o princípio da solidariedade – parte da doutrina social da Igreja Católica – com o trabalho das cooperativas e elogiou sua busca “pela relação entre a economia e justiça social” observando “sempre a pessoa e não o dinheiro”. Mais cedo, no mesmo ano, ele já havia afirmado que cooperativas “têm enfrentado as dificuldades da crise econômica com os seus meios, unindo forças, e não às custas de outros.” No Brasil, em 2016, a mensagem cooperativista chegou às casas de milhões de telespectadores que acompanharam a novela “Velho Chico”. Na trama, o protagonista Santo (interpretado pelo saudoso Domingos Montagner) foi eleito presidente de uma cooperativa de pequenos produtores agrícolas que enfrentava os desmandos de um coronel. Quando Santo desapareceu, seu filho Miguel (Gabriel Leone) passou a liderar a cooperativa, enfatizando o desenvolvimento sustentável. "Você concorda em continuar produzindo do jeito convencional? Jogando veneno na terra? No rio? Extraindo o resto de vida do solo?", questionava em cena. Além de estar na pauta do dia, o cooperativismo tem mostrado sua popularidade com o interesse crescente de personalidades, empresas e entidades do terceiro setor, que cada vez mais buscam se associar ao que as cooperativas defendem: comércio justo, desenvolvimento econômico com responsabilidade social e sustentabilidade. A atriz Emma Watson, embaixadora da boa vontade das Organizações das Nações Unidas (ONU) costuma ir a eventos de gala com vestidos feitos por marcas “eticamente responsáveis”. Ou seja, marcas que evitam promover sofrimento e desgaste no processo de fabricação de seus produtos, levando em consideração tanto recursos naturais quanto humanos. Uma de suas parceiras é a Zady , marca parceira de cooperativas que produzem tecidos na Índia e em fazendas de orgânicos nos Estados Unidos. A Fundação Nobel — responsável pelos Prêmio Nobel da Paz, de Química, Física, Medicina e Literatura — também contrata, desde 2015, duas cooperativas mineradoras colombianas para fazer suas medalhas: a Codmilla Cooperativa e a Cooperativa Agromineradora de Iquira. “É um reconhecimento do trabalho árduo, porém decente, que estamos fazendo em uma comunidade tradicional mineradora para garantir o sustento de nossas famílias e o desenvolvimento de nossas comunidades. Todos os dias arriscamos nossas vidas nas profundezas das montanhas e, além disso, é um desafio viver em paz em um país com tantos conflitos”, disse Harbi Guerrero, membro da Codmilla, por ocasião do segundo ano de fabricação das medalhas do Nobel. Com a repercussão gerada pelo prêmio, ambas as mineradoras passaram a ser contratadas por marcas de joias eticamente responsáveis de todo o mundo. DESIGN COOPERATIVO [caption id="attachment_76428" align="alignnone" width="1920"]

Fomos buscar parcerias para desenvolver um projeto de promoção comercial. Não queríamos apenas compradores, mas pessoas que entendessem que a nossa madeira vem de uma comunidade tradicional, que é certificada, e cujo manejo preserva a floresta, zela por suas populações e gera benefícios socioambientais. Queríamos pessoas que entendessem todo o valor por trás desse trabalho”, explica Angelo.Ao longo desta busca, alguns cooperados participaram de uma oficina da BVRio. Lá, surgiu a ideia de levar designers para a cooperativa. O projeto Design & Madeira Sustentável foi formatado, então, com o objetivo de levar esses profissionais para transmitirem seus conhecimentos sobre a criação de móveis para a região. Em muitos casos, desses encontros surgiram novas e produtivas parcerias comerciais. UM OUTRO OLHAR [caption id="attachment_76429" align="alignnone" width="5760"]

A ideia era provocá-los e mostrar possibilidades. Queria que olhassem para a madeira e imaginassem como seria possível criar uma cama, uma cadeira. Ao final da minha estadia, um dos madeireiros me falou: ‘Nunca mais vou conseguir olhar para um galho sem pensar em tudo que dá pra fazer a partir dele’. Isso para mim é o mais interessante”, recorda o designer.Ainda segundo Paulo Alves, mais do que simplesmente criar uma dinâmica em que a cooperativa forneça mão de obra, o projeto busca capacitá-la a produzir suas próprias peças de design. Ângelo, o analista ambiental da Coomflona, confirma que o principal objetivo é promover “o empoderamento da comunidade por meio da sua história de lutas, de decisão e de território”. Animado, ele conta como foram os primeiros resultados da parceria com Paulo Alves: “Ele acabou desenhando um projeto sofisticado para a gente desenvolver, fizemos um protótipo e fomos a São Paulo visitá-lo e acompanhá-lo numa feira de design. Ele nos disse que estamos preparados para competir no mercado nacional, para estar com grandes designers. Foi legal ver que o nosso trabalho não tem sido em vão e que estamos oferecendo o que pessoas que têm consciência ambiental estão buscando.” MARKETING SOCIAL [caption id="attachment_76430" align="alignnone" width="1024"]

O sétimo princípio do cooperativismo, que é o interesse pela comunidade, é um tipo de marketing social. Então algo que as cooperativas já fazem como obrigação, como princípio, pode fazer com que elas sejam vistas com outros olhos”, explica.Esta é a aposta da Coomflona: focar no consumo consciente como tendência que os consumidores mais atentos já têm buscado. Além das sessões de capacitação, o projeto Design & Madeira Sustentável prevê participação em feiras de negócios, a realização de uma exposição em 2019 e a produção comercial de algumas peças. Carlos Motta, o primeiro designer a visitar a Coomflona já colocou no mercado uma linha de 12 bowls e 3 modelos de bancos produzidos na Coomflona. A cooperativa trabalha, agora, na implementação de uma serraria para poder dar melhor tratamento e finalização às peças e para aumentar a escala de produção. Atualmente, desenvolvem apenas peças sob encomenda e têm em designers, hotéis e construtoras seus principais clientes. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Coomflona desenvolve móveis apenas sob encomenda. Para saber mais, procure por Comflona na internet, ou mande um e-mail para
Esta matéria foi escrita por Naiara Leão e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
A conheço profissionalmente e pessoalmente. É uma mulher dura, mas serena. Uma mulher meiga, amiga e determinada”, conta.O dinamismo e comprometimento da hoje ministra foram sendo reconhecidos e ela então começou a ser convidada a participar da diretoria de várias federações e associações que representam o setor agropecuário brasileiro. “A dedicação à área pública sempre esteve presente em minha família”, conta Tereza. Ela é bisneta de Pedro Celestino Corrêa da Costa e neta de Fernando Corrêa da Costa, ex-governadores de Mato Grosso (quando o estado ainda não havia sido separado). Entre 2007 e 2014, Tereza Cristina assumiu a Secretaria Estado de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo do Mato Grosso do Sul (Seprotur). Em sua gestão, conseguiu importantes conquistas para o estado. Uma delas foi tornar o MS livre da febre aftosa. A conquista foi reconhecida internacionalmente por meio da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Nesse período como secretária, a agricultura do Mato Grosso do Sul cresceu 12% ao ano. Em sete anos, o PIB do estado aumentou 152,42%. Os empregos na área industrial também dispararam: o aumento foi de 40,7%. Após essa experiência, foi eleita deputada federal para o seu primeiro mandato pelo estado de Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2015 a 2018. “Meu foco sempre foi o desenvolvimento do país”, afirma. Nesse período, continuou buscando melhorias para o setor agropecuário e para o seu estado. A busca, ela faz questão de enfatizar, sempre foi por legislações mais eficientes e justas.
Buscamos melhorias em questões fundamentais para o setor produtivo nacional, como o crédito rural, investimentos em política agrícola, renegociação de dívidas, fortalecimento das relações comerciais, abertura de mercado para o Brasil, direito de propriedade, dentre outras pautas”, explica.Em 2018, foi reeleita para a legislatura que se encerra em 2022, mas encontra-se afastada do mandato para se dedicar ao Mapa. UNÂNIMIDADE [caption id="attachment_76353" align="alignnone" width="853"]

Nós tínhamos vários perfis. Temos excepcionais parlamentares lá dentro. Mas no pente fino que fizemos, ela preenchia todos esses requisitos. Não havia pessoa mais adequada para assumir essa responsabilidade”, recorda Marcos Montes (MG), então deputado da Frente.Ainda segundo o secretário, todos ficaram animados com a escolha. “Podemos ver a receptividade com que ela foi recebida em todos os meios. No meio parlamentar, não apenas na nossa Frente, mas em todas as bancadas. Ele também foi muito bem recebida pelos produtores rurais e pelo meio empresarial”, conclui. Naquela época, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, João Martins, também comemorou a escolha. “A deputada sempre atuou na defesa dos produtores rurais brasileiros e agora terá condições de trabalhar ainda mais em benefício do setor”, destacou. MADRINHA [caption id="attachment_76344" align="alignnone" width="1280"]

Esta matéria foi escrita por Tchérena Guimarães e está publicada na Edição 24 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
O que percebo, tanto aqui quanto em outros países, é que o principal obstáculo à constituição dessas cooperativas ainda são as pessoas. É difícil reunir um grupo, sentar todos em uma sala e fazê-los fechar um acordo. Elas ainda não sabem abrir mão das suas vontades pessoais em prol de um bem maior. Esse é o principal desafio do cooperativismo de plataforma em todo o mundo”, lamenta.Já o professor-doutor e diretor geral da Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), Mário de Conto acredita que faltam instrumentos na legislação brasileira para apoiar o desenvolvimento de iniciativas como essas. “Analisando as características da Lei Geral das Cooperativas, evidentemente, há desafios que concernem à novidade do modelo, como formas de efetivar a participação democrática e o processo de tomada de decisões em um contexto digital”, pondera. BENCHMARKING INTERNACIONAL [caption id="attachment_76307" align="alignnone" width="1170"]

Antes de fazerem parte da cooperativa, essas mulheres ganhavam muito mal e não tinham garantia de serem pagas pelo serviço que prestavam. Às vezes limpavam a residência e o dono dizia estar sem dinheiro para pagá-las na hora. Outras vezes, pagavam as passagens para ir até a casa do cliente e, ao chegar, eram avisadas que ele tinha desistido. Com isso, tinham um prejuízo grande porque não eram ressarcidas pelo deslocamento”Desde 2006, o CFL capta fundos e oferece suporte técnico e financeiro à criação de cooperativas de plataforma nas áreas de serviços de limpeza e cuidado de crianças pequenas. “Nossa equipe trabalha para ajudar esses trabalhadores a constituírem sua cooperativa, ajudando a definir como deve ser o site, o aplicativo, o atendimento aos clientes, a política de preços e as assembleias de cooperados”, resume Sylvia, que também participou como palestrante do 14º CBC. No caso da Up and Go, por exemplo, cada cooperada recebe 95% do valor pago pelos clientes. Os outros 5% são revertidos para o fortalecimento da plataforma.
Antes, quando trabalhavam como empregadas de outros sites que oferecem serviços de limpeza, elas recebiam bem menos por hora trabalhada. E isso, apesar de o cliente pagar mais caro que na pelo serviço”, constata a gerente do CFL.Além de ganharem mais como cooperadas e de serem as donas do próprio negócio, as mulheres da Up and Go utilizam os 5% destinados para a plataforma para fortalecerem o próprio negócio e para garantirem alguns benefícios importantes para elas, como cursos de inglês e capacitação profissional. “A cooperativa empodera essas mulheres e muda as vidas delas e a de suas famílias”, comemora Sylvia. De acordo com a norte-americana, as cooperativas têm impactado tão positivamente Nova Iorque que a cidade foi a primeira dos Estados Unidos a criar um fundo exclusivo para o financiamento desse tipo de empreendimento. “As cooperativas de plataforma têm ajudado a incluir públicos que nem sempre encontram boas oportunidades de trabalho no mercado formal, como as mulheres, os negros e os imigrantes. Por isso, elas têm recebido suporte de entidades públicas e privadas para se desenvolverem no meu país”, constata. Sylvia acredita que essas incubadoras de cooperativas de plataforma poderiam funcionar também no Brasil. “Vocês têm uma organização que cuida especificamente do cooperativismo”, diz, referindo-se ao Sistema OCB. “Esse é um primeiro passo importante, porque já existe um centro de referência para os trabalhadores que desejem montar uma cooperativa no país. O próximo passo é buscar apoio de outras organizações públicas e privadas para criar um ecossistema favorável à criação de cooperativas de plataforma no Brasil”, conclui.
Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e Guaira Flor e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Dirigindo para os aplicativos, posso alternar os meus horários. Se eu não conseguir trabalhar de manhã, vou à noite. Se eu não lucrar bem na semana, posso ir no sábado e no domingo”, explica.Só existe um problema: ele e tantos outros motoristas de aplicativo estão dividindo o resultado de seu trabalho com os donos da plataforma, perpetuando um modelo de trabalho que explora a mão de obra do trabalhador em busca do maior lucro possível, sem lhe dar nenhuma garantia ou segurança jurídica. Ao perceber essa realidade, pesquisadores dos Estados Unidos e Europa começaram a se perguntar: não seria mais justo que os motoristas fossem os verdadeiros donos do negócio, já que possuem o carro e fornecem a mão de obra? E se os princípios cooperativistas, consolidados na busca por relações mais dignas, justas e solidárias fossem aliados à veia democrática da internet, nascida da noção pública de propriedade coletiva? E se, no contexto de economia compartilhada, pudéssemos desenvolver alternativas de negócios conduzidas por ideais comunitários? E foi para responder a essas perguntas que surgiu um novo conceito: o cooperativismo de plataforma — proposta de empreendimento que combina os princípios e os valores do cooperativismo com o imenso potencial disruptivo das novas tecnologias da informação. O COMEÇO DE TUDO [caption id="attachment_76300" align="alignnone" width="800"]

Eu estudo as mudanças trazidas pela internet no mercado de trabalho desde 2008 e fui percebendo que as relações estabelecidas entre algumas plataformas de serviço e as pessoas são uma nova forma de exploração da mão de obra do trabalhador ainda mais perversa que a anterior, pois lhes tira todos os direitos e benefícios, maximizando ao extremo o enriquecimento dos donos dessas plataformas”, critica.De fato, de acordo com o IBGE, o rendimento de um trabalhador informal é, em média, 40% menor do que quem atua com carteira assinada. Também é importante lembrar da falta de garantias para os funcionários nessas plataformas de compartilhamento. O que mais preocupa Ezequiel Avelino, motorista de aplicativos, é a segurança. Em uma situação de sequestro ou roubo, enquanto estiver dirigindo, o prejuízo é 100% do dono do automóvel. Por isso, ele pondera ao aceitar corridas em determinados horários e lugares, o que pode colocar em risco sua pontuação nos apps. Em poucos cliques — medido em estrelinhas que variam de uma a cinco — está na mão do consumidor o poder de classificar um motorista da plataforma. Quem ficar abaixo de uma média de corte, que controla a qualidade dos funcionários, pode ter o cadastro suspenso ou cancelado. POR UMA RELAÇÃO MAIS JUSTA [caption id="attachment_76305" align="alignnone" width="5760"]

Esta matéria foi escrita por Karine Rodrigues e Guaira Flor e está publicada na Edição 26 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação