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De professora à  rainha da soja

De professora à rainha da soja

De um dia para o outro, ela viu tudo mudar. Ela que já havia compartilhado tanto os seus conhecimentos nas salas de aula, agora precisava se tornar novamente aprendiz. "Não foi fácil", lembra Cecília Falavigna, 75 anos. Cecília viu sua vida se transformar completamente quando perdeu o esposo, há 22 anos. Até ali, era ele que comandava os negócios da família no campo, em uma propriedade rural em Floraí, município a 50 quilômetros de Maringá, no estado do Paraná.

Professora de matemática e ciências no ensino fundamental, Cecília não acompanhava de perto os negócios do marido João Antônio Falavigna, no setor agrícola. Era ele quem cuidava dessa área desde que se conheceram, ainda muito jovens. Quando João adoeceu, ela deixou a carreira de lado para poder acompanhá-lo nos tratamentos. Mas mesmo lutando contra um câncer por mais de dois anos, João fazia questão de continuar administrando a propriedade. “Ele era muito trabalhador e trabalhou até o dia da morte. Ele chamava o empregado, dava as coordenadas. Eu nunca mandava ou pedia nada. Era ele quem fazia isso", recorda.      

Quando o esposo faleceu, Cecília se viu diante de um momento delicado. Com três filhos adolescentes – Ana Cláudia, Mara Sandra e Paulo César – tinha de decidir o que fazer com as terras deixadas pelo marido. Precisava, também, cuidar de todo o restante sozinha. Uma das filhas, com Síndrome de Down, exigia mais dedicação e cuidados especiais. Além disso, Cecília não tinha o apoio da família para levar os negócios em frente e nem conhecimento suficiente sobre o agronegócio . “Outra dificuldade foi essa. Não sabia como fazer. Porque quando a mulher acompanha o marido nas atividades dele, ela tem um caminho a tomar, um rumo pra seguir. E eu não tinha”, lembra. 

Muita gente aconselhou Cecília a vender tudo e voltar pra sala de aula. Outros falavam que seria mais fácil ela se dedicar a algo novo e mais “feminino”. Teve gente que sugeriu, inclusive, que arrendasse a propriedade e vivesse de renda. “Eu não sabia nem o que era isso: arrendar as terras”, diverte-se. “Como eu ia deixar alguém administrar se nem eu sabia? Eu não tinha nem ideia do valor da terra também. Como eu ia negociar assim?”. 

Diante de tantas perguntas, a professora decidiu sair de sua casa, em Maringá, e foi a campo tomar conhecimento de tudo. Estava determinada a não deixar as terras nas mãos de outras pessoas. Em meio ao luto, uma semana após o falecimento do esposo, ela aprendeu que as terras de Floraí eram dedicadas à pecuária e à produção de soja e milho.  A família também tinha uma propriedade em Mamborê, a 200 km de Floraí, que estava arrendada para outro produtor.  “Eu não queria me desfazer daquilo que era nosso. Eu pensei: vamos lá saber como é que se faz. Primeiro eu queria conhecer o que era agricultura e depois tocar em frente”.

Mesmo sem o apoio da família, Cecília abraçou o desafio de administrar a propriedade, se reinventar profissionalmente e fazer do campo a sua escola. “Fiquei aprendendo na fazenda de Floraí”. 

 

 A COOPERATIVA [caption id="attachment_75799" align="alignnone" width="512"] Crédito: Shutterstock[/caption]   Com a decisão de que iria continuar com o agronegócio, Cecília passou a frequentar periodicamente o campo para se familiarizar com a rotina e a produção. Contou com o apoio de funcionários antigos e procurou, logo no início, a Cooperativa Agroindustrial Cocamar para auxiliá-la nesse desafio. “Eu disse para a cooperativa: eu estou aqui, preciso do apoio de vocês. Eu preciso de apoio pra poder tocar os negócios da família. Foi aí que comecei. Não tinha noção de quantidade, mas a cooperativa me orientou sobre os alqueires, quanto eu precisava de adubo e de fertilizantes. Esta parte técnica toda ficou por conta da cooperativa”, relata. “A partir daí, também, fui conhecendo sobre o preparo do solo e vi que não tínhamos maquinário suficiente e bom”.

 Foi renovando as máquinas aos poucos. E, com o estímulo da cooperativa, passou a investir mais. “Os equipamentos eram muito ruins, ela melhorou tudo”, conta o filho mais novo, Paulo César, que atualmente está trabalhando na fazenda. “Também investiu muito em tecnologia”, acrescenta.

Além de continuar com as lavouras de soja, milho, e com a criação de gado, Cecília também resolveu começar um novo cultivo. “Para continuar criando gado, teria que ampliar o pasto, o que não era possível. Então, diminuí o gado e, com o apoio da cooperativa, passei a cultivar laranja”.  

Para Paulo, a mãe é uma “heroína”. “Ela não só manteve o que tínhamos, mas aumentou o negócio. A cooperativa ajudou muito nesse processo”, diz o jovem. “Ela foi muito determinada, teve que ter muita garra para levar isso adiante. Acho que ela teve muito medo de perder tudo, manchar aquilo que meu pai deixou”.

Nem todo mundo, no entanto, reconheceu de cara o talento de Cecília para os negócios. No início, ela foi vista com desconfiança por algumas pessoas. “Eu tinha que fazer o meu nome”, conta. Afinal, era uma mulher plantando grãos em um ambiente predominantemente masculino. Sentiu dificuldade até em conseguir financiamentos para continuar investindo na produção. “Recebi vários nãos. Mas pensava: se eu não consegui aqui, consigo lá. Nunca tive medo. Eu sempre enfrentei, sempre fui atrás”, lembra.  “Então, quando você consegue ser honesta e ser justa, ir em frente e mostrar para a ala masculina e para o outro que você é corajosa, eles passam a confiar em você”. 

Dona Cecília, como é chamada pelos sete funcionários da fazenda, foi se empenhando, aprendendo e ganhando cada vez mais gosto pelo trabalho. O resultado não poderia ser diferente: hoje ela é referência em produtividade e acumula vários prêmios no currículo. Já é tricampeã no concurso de máxima produtividade em soja promovido pela Cocamar. No primeiro ano que participou da premiação, em 2012, produziu 74 sacas de soja por hectare. Nesta colheita de 2018, a produtividade foi de 95 sacas – o equivalente a 5,7 toneladas de grãos –, um aumento de quase 30% em relação ao primeiro ano. “As médias dela sempre são bem maiores que a média da região. Ela sempre está atrás de inovações”, afirma Valdecir Gasparetto, engenheiro agrônomo e assistente técnico da família Falavigna há 10 anos. 

RAINHA DA SOJA [caption id="attachment_75802" align="alignnone" width="2048"] Arquivo Pessoal[/caption]   De tanto ganhar prêmios pela produtividade de suas terras, Cecília passou a ser conhecida no setor como “rainha da soja”. O título foi concedido após ela ganhar a premiação de uma multinacional que avaliou a safra de grãos em 2015/2016. Nessa safra, ela produziu 92,9 sacas de soja por hectare de terra — a média nacional era de 48,9 sacas por hectare, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O segredo para tantos prêmios? “Primeiro é preciso confiar naquilo que você está fazendo e no que quer. Segundo é estar dentro de uma cooperativa que te dá todo o apoio e confiança”.

Essa confiança, aliás, acompanha a rainha da soja até nos dias de seca — como estes do meio do ano.  “A gente tem sofrido bastante com o clima. Mas se você está usando um produto apropriado pra seca, a plantação vai resistir”. A produtora é categórica: “Não existe terra ruim, existe terra mal cuidada. O importante é entender que não se pode só tirar da terra; é preciso devolver algo para ela, colocar algo a mais. A produção tem de ser sustentável”, afirma. 

Cecília usa os melhores produtos e investe bastante em tecnologia. O agrônomo Valdecir, que auxilia a família nos negócios, explica: “Fazemos um trabalho de constante correção física e química do solo”. 

Sempre otimista, a antiga professora sempre quer produzir mais. E garante que a competição é interna. “Eu não quero ser melhor que ninguém. Quero mostrar para as pessoas que trabalhando e fazendo as coisas corretas, você consegue o que desejar”. 

O trabalho é em conjunto. Gasparetto enfatiza: “Dona Cecília valoriza os funcionários e todos que estão envolvidos. Ela chama a gente de ‘meus meninos’ e faz questão de dizer que não consegue nada sozinha. Ela é uma excelente produtora”. E o filho reafirma: “Não existe distinção entre os funcionários. Para ela, são todos iguais”.

Recentemente, para facilitar a gestão, a rainha da soja vendeu a fazenda em Mamborê e comprou outra bem próxima da propriedade de Floraí. E quem diria? Foi ficando tão experiente que hoje está, até mesmo, arrendando a terra para os outros.

COTIDIANO [caption id="attachment_75801" align="alignnone" width="1024"] Arquivo Pessoal[/caption]   Cecília mora na cidade de Maringá com Mara, a filha com Síndrome de Down. Na cidade, costuma acompanhá-la em suas atividades diárias. Mas toda semana vai para a “roça”, como chama a propriedade de Floraí. No campo, fica cerca de três dias por semana. Em períodos de colheita e plantação, passa até mais. “Eu sou apaixonada por aquilo que eu faço. E o dia que eu não vou pra roça, fico pensando: ah, eu tenho que ir lá. Eu tenho que ver a colheita”, diverte-se. 

Na fazenda, as tarefas começam logo quando o sol nasce. Ela acorda bem cedinho e vai para a parte superior da casa. De lá, pode avistar uma represa grande e localizar os funcionários cumprindo as atividades planejadas no dia anterior. Acompanha o plantio, a colheita e vai observando as necessidades que vão aparecendo. Atualmente, está mais à frente da parte administrativa. 

Há oito anos, a rotina está menos intensa. Cecília vem contando também com o apoio diário do filho. “Meus pais diziam que era para eu estudar e me formar primeiro e depois, se eu quisesse, voltava”, conta Paulo. “Aí, devargazinho, fui voltando”. E não se arrepende. O sentimento da mãe já o contagiou. “Pela paixão dela, eu também gosto demais. Gosto muito de estar lá no dia a dia”, conta. 

Essa paixão, Dona Cecília deixa transparecer até na voz. É só trocar algumas palavras com ela para perceber. É daquelas pessoas que a gente fica com vontade de sentar para tomar um café, ouvir os “causos” e aprender um pouquinho. A agenda, no entanto, não parece tão simples quanto ela. Marcar essa entrevista não foi tão fácil: os dias estavam corridos devido à colheita do milho. Além disso, surgiu uma viagem de  negócios de última hora na semana da reportagem.

Cecília conta que, nesta época de seca, apesar da poeira e de voltar toda “marrom” das terras, o cheiro por lá está incrível. Orgulhosa, diz que está tudo perfumado com as flores das laranjeiras que ela plantou. Hoje, já são 14 mil pés. O grande orgulho dela, na verdade, é ser agricultora. Para Cecília, esse trabalho vai muito além do lucro e de premiações. Existe também uma responsabilidade social. “Falta muita comida nesse mundo, é tanta gente passando fome... Então, eu penso nisso: pelo menos um grãozinho da minha soja pode alimentar alguém. Nosso Brasil é sustentado pela agricultura, e eu me orgulho muito de pensar que é o agricultor quem segura as pontas do país nesses períodos difíceis”. 

Bem articulada, educada e cheia de energia, não para de fazer planos. Se no ano passado a colheita foi de 95 sacas por hectare, agora busca um novo recorde para a próxima safra: 104 sacas. “Não é fácil. Vamos ver. Mas eu coloquei esta meta”. E Cecília sabe muito bem de onde vem essa determinação. “Essa força vem de Deus. Essa força que tenho de produzir, de ser melhor, é de algo superior”, conclui.  E quem se atreve a dizer que ela não vai conseguir?


Esta matéria foi escrita por Tchérena Guimarães e está publicada na Edição 23 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 


Profissão com futuro

Profissão com futuro

Em tempos de intensa evolução tecnológica, aumento de desemprego e incertezas em relação ao futuro do mercado de trabalho, existe um setor da economia com potencial para empregar muitos brasileiros nos próximos anos: o da cooperação.  Existem hoje, no Brasil, ao menos 17 cursos de nível superior com o foco no cooperativismo, distribuídos em instituições públicas e particulares, presenciais ou a distância. E quem se forma com louvor sai da faculdade com um canudo em uma das mãos e uma proposta de emprego na outra, como conta Pablo Albino, um dos coordenadores do curso de Administração de Cooperativas, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). [caption id="attachment_75797" align="aligncenter" width="396"] Pablo Albino, coordenador do curso de Administração de Cooperativas da Universidade Federal de Viçosa (UFV).[/caption]  
A demanda por profissionais com graduação em cooperativismo é maior do que a nossa universidade consegue formar. Eu recebo pedido do setor para encaminhar bons currículos para as vagas e hoje não tenho para atender”.
O curso de cooperativismo da UFV é o mais antigo do Brasil. O projeto nasceu nos anos 1970, por meio do extinto Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), com a missão de capacitar a mão de obra das cooperativas. Era um curso com formação de nível técnico, até ser promovido, em 1991, a bacharelado em Administração com habilitação em Administração de Cooperativas. De lá para cá, foram muitas mudanças no currículo e no próprio nome do curso — mas manteve-se a missão de formar profissionais com os valores do cooperativismo totalmente internalizados. “No primeiro ano do curso, a gente toma muito cuidado para que o aluno entenda onde está entrando. Explicamos o que é o cooperativismo, o levamos para visitar uma cooperativa, e também a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG). É como uma imersão. O legal é que, ao conhecer os valores e os princípios do cooperativismo, o aluno se apaixona e fica”, conta Albino. De acordo com o docente, boa parte dos alunos chega sem conhecer nada sobre o movimento. “Dos 40 que entram, metade queria fazer outro curso, mas escolheu Cooperativismo por ser menos concorrido. Porém, quando começam a conhecer a realidade das cooperativas, ficam cativados pelas possibilidades de crescimento do setor”, explica.  Foi exatamente isso o que aconteceu com Geâne Ferreira, gerente de desenvolvimento social do Sistema OCB. Ela entrou no curso de cooperativismo da UFV com a meta de pedir transferência para Administração de Empresas, mas logo no primeiro semestre descobriu que sua vocação era cooperar. 
O curso de cooperativismo traz uma preocupação com as pessoas e a organização coletiva. Tem toda a estrutura de Administração, mas com esse gostinho a mais, que é a preocupação com o ser humano”, destaca. 
O curso de Cooperativismo da federal de Viçosa tem duração de quatro anos e meio, com disciplinas como administração, direito, sociologia, contabilidade e várias cadeiras que abarcam as teorias cooperativistas. “Temos o caso de um aluno que saiu, foi para a engenharia e voltou. Ele experimentou e viu que era no cooperativismo que tinha que ficar, porque é mais humano, respeita mais as condições das pessoas. E é mais divertido”, compara Albino.  FORMAR PARA O SISTEMA Se Minas Gerais foi o berço do primeiro curso superior em cooperativismo, o Rio Grande do Sul foi o primeiro estado a ter uma instituição de ensino superior voltada exclusivamente para o movimento. A Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop) foi fundada em 2011 e já formou mais de 100 tecnólogos em Gestão de Cooperativas.  A instituição é uma iniciativa do Sescoop-RS e, por essa razão, a maior parte dos alunos já têm vínculos com cooperativas, seja como colaboradores ou cooperados.  A Escoop também oferece cursos de pós-graduação (especializações e MBA).  “Nossos alunos são associados, conselheiros, dirigentes e colaboradores de cooperativas, com faixa etária média de 30 a 40 anos”. A afirmação acima é de Paola Londero, coordenadora de pós-graduação da instituição. Segundo ela, os ramos crédito e saúde, além do agropecuário, são os mais presentes nos cursos de formação. Apesar do foco no cooperativismo gaúcho, a instituição já ofereceu cursos de Gestão de Cooperativas na Bahia, no Ceará e no Pará.  Seguindo o mesmo modelo, há ainda o Icoop, em Cuiabá (MT), e a Faculdade Unimed, com sede em Belo Horizonte (MG), nascidas com o DNA da cooperação. Ambas disponibilizam cursos de Gestão de Cooperativas, além de programas de pós-graduação e outras capacitações de curta duração. No caso da Unimed, além do foco em cooperativismo, há especializações focadas no ramo saúde, como o MBA em Administração Hospitalar.   
Considerando-se que o ensino superior, em geral, não contempla o cooperativismo adequadamente na formação das carreiras, a compreensão das características peculiares das cooperativas é extremamente relevante”, destaca Mário de Conto, diretor-geral da Escoop.

Esta matéria foi escrita por Amanda Cieglinski e está publicada na Edição 28 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
“Brasil é um parque de diversões para quem deseja inovar”

“Brasil é um parque de diversões para quem deseja inovar”

Ficar na zona de conforto pode até ser tentador, mas não é a melhor saída para quem quer sobreviver a um futuro incerto e desafiador. Em um mundo acelerado e repleto de mudanças, estudar tendências e ter pensamento crítico, inteligência emocional e flexibilidade cognitiva são as exigências do profissional que quer estar à frente do seu tempo. Esse caminho também deve estar no radar das empresas e, especialmente, das nossas cooperativas. “Não dá para pensar em inovação sozinho”, afirma Ricardo Yogui  , especialista em inovação e professor da PUC-Rio. Segundo ele, a troca de experiências em comunidades de inovação é o que garante a contínua evolução de profissionais e de empresas. “O caminho é trocar a competição pela colaboração e experimentar. A ideia deu errado? Não tem problema! Vira uma lição aprendida. O importante é não parar de experimentar”, defende. Para Yogui, o mercado de trabalho precisará de gente apaixonada por pessoas, assim como acontece no cooperativismo. Ele aposta que o ecossistema de inovação nacional tem tudo para crescer nos próximos anos, especialmente porque ainda há muito a ser feito no país. “O Brasil é um parque de diversão para quem deseja inovar”, garante. Cofundadora da Conferência Rethink Business, a futurista Marina Miranda acredita que as cooperativas saem na frente de muitas empresas e antecipam tendências no mundo corporativo. “O importante é participar de ecossistemas de inovação, onde aprendemos a colaborar. E as cooperativas já são colaborativas”, avalia.  Ela defende que colaboradores e funcionários se apropriem do propósito das empresas em que trabalham e sejam incentivados a participar de diferentes níveis de decisão. “Funcionários precisam de um canal para extravasar suas ideias”, diz a especialista, destacando que esses fóruns podem levar a soluções inovadoras e disruptivas.  Os dois especialistas fizeram palestras no auditório do cooperativismo durante o HSM 2019, o maior evento de gestão empresarial da América Latina.  Eles também conversaram com a reportagem da Saber Cooperar sobre suas visões de futuro, a importância da inovação dentro das corporações e o potencial disruptivo das cooperativas brasileiras. Confira:   Existem visões otimistas e pessimistas do futuro. Por um lado, as novas tecnologias facilitam muito as nossas vidas; por outro, teme-se que elas possam acabar substituindo o homem em algumas tarefas. Qual é a sua visão de futuro? Ricardo Yogui: A automação vai chegar nos escritórios e gerar um impacto de 75 milhões de desempregados, mas o mundo está preocupado com isso. A indústria 4.0 é o que está provocando toda essa revolução nas empresas; no entanto, existe um movimento chamado sociedade 5.0 para minimizar os possíveis impactos negativos dessas tecnologias. A sociedade 5.0 é um movimento que começou no Japão, pensando nos efeitos colaterais da indústria 4.0 dentro da sociedade. A sociedade 5.0 visa sensibilizar a indústria, levando-a a refletir: como eu posso aproveitar essas pessoas que serão excluídas do mercado de trabalho após a automatização de processos? Essas pessoas podem se recapacitar, se reciclar e ser reinseridas dentro do contexto da sociedade. É um tema sobre o qual eu falo muito: como que a gente pode — sociedade, indústria, governo, academia — trabalhar para que isso não fique só focado no propósito de aumentar lucros e diminuir custos dentro das organizações, mas em contextualizar, para a gente ter uma sociedade melhor.  Marina Miranda: Minha visão não é nem pessimista nem otimista. Os desafios da humanidade vão mudando. Mas parece sempre que aquele desafio é o maior já enfrentado. E não é verdade. Houve desafios maiores. Nós tivemos guerras muito destruidoras. O que eu vejo é que a tecnologia pode tirar muitos empregos, mas existem caminhos para ajudar as pessoas a entenderem como podem manter-se relevantes para o mercado.  A internet disponibiliza, por exemplo, cursos gratuitos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e de Harvard, onde você pode se especializar. Antes não tinha isso; ou a pessoa tinha 10 mil dólares para fazer um curso do MIT, ou não tinha. Agora, não. Você tem cursos gratuitos. Então, você tem problemas? Tem. Mas as soluções também estão aqui. As pessoas estão apenas olhando para o problema e não estão atentas às coisas boas. Está mudando de emprego? Eu sento na cadeira e vou lá estudar mais, aprender mais, participar de ecossistemas de inovação. Não é só a empresa que precisa se conectar com ecossistemas de inovação; as pessoas também precisam. O mundo tem problemas sérios; contudo, também tem soluções incríveis.  Como o cooperativismo pode contribuir com a construção de um futuro melhor para todos? Ricardo Yogui: É muita mudança ao mesmo tempo. É impossível fazer as coisas sozinho. Eu preciso começar a pensar como posso atuar de forma mais colaborativa. Como posso trocar experiências, conhecer pessoas novas que tenham visões complementares. Se todo mundo pensar diferente, eu consigo ter uma visão bem ampla do problema. Esse é o grande desafio: a gente trabalhar e colaborar não só com quem pensa igual, mas com quem pensa diferente. É essa diferença que trará  uma visão de um lugar que eu não estou enxergando e me dará uma observação mais ampla da situação.  Marina Miranda: O cooperativismo faz parte dessa nova economia colaborativa, do compartilhamento de informações, da hierarquia mais fluida. As cooperativas anteciparam, em séculos, todas as megatendências do futuro.  Por que inovar é tão importante no mundo dos negócios? Ricardo Yogui: As empresas e cooperativas que não estão inovando fatalmente serão os “dinossauros corporativos”. As empresas que estão fazendo mais do mesmo fatalmente irão acabar. Marina Miranda: Hoje você tem uma mudança muito mais radical e muito mais intensa de tecnologias. Você pode ser o pipoqueiro, mas, se não tiver uma tecnologia — que seja usar o WhatsApp para avisar à turminha que a pipoca está pronta —, você some. Parece que só quem vai usar a inovação é quem está na Nasa, mas não; inovação tem diversas formas e está muito atrelada com algo que não é feito na sua área ou na sua região. Então, quando eu vou para o Acre, tem um monte de inovações que podem ser feitas lá. Não tem como, hoje, em um mundo tão disruptivo e de mudanças tão rápidas, não pensar em inovação.  Como despertar o potencial disruptivo das cooperativas? Ricardo Yogui: Vou usar o exemplo da Netflix, que foi experimentando coisas novas. Ela não era uma startup, era uma pequena videolocadora que começou a experimentar novos formatos. O processo é: como eu posso explorar as tecnologias? Como eu posso ser o “Uber” do cooperativismo? Como eu posso ser o “Airbnb”? Como trazer esses modelos para dentro do meu segmento de mercado e começar a experimentar coisas novas? O caminho é não ter medo da experimentação. Vai errar? O erro é uma fonte rica de aprendizado. Aprendi, vou para o próximo passo e continuo o processo.  Marina Miranda: A disrupção é um processo, não é uma coisa pontual. “Ah, eu contratei uma consultoria e vou ser disruptivo agora, e não temos mais problemas”. Não é isso. A mudança é dia a dia, rapidamente. O que antes era um concorrente vira um parceiro. O que era um parceiro vira um concorrente. Os mercados se constroem, se destroem. E tem de estar acordado para tudo isso. Como fazer? Conectando-se, ficando atento, lendo relatórios. É preciso refinar o olhar.  O futuro realmente se constrói com colaboração? Ricardo Yogui: Essencialmente. Não existe como pensar “eu faço tudo sozinho, eu consigo desenvolver de forma hermética, dentro da minha instituição”. Hoje eu preciso abrir as janelas da organização, respirar ares novos, com novos pensamentos, novas tecnologias e criar essa interface de troca, de compartilhamento com o ecossistema. E aí são indústria, governo, academia atuando de forma conjunta, colaborativa. Marina Miranda: 100%. Porque hoje é muito complexo. Para estar vivo aqui, hoje, do que você precisou? Você tem comida, seu computador, celular, você tem o seu emprego. Cada vez mais, há maior complexidade para você estar viva e estar aqui, presente. Quando você tem um problema, o que precisa fazer? A complexidade é gigante. Se você não consegue se conectar com quem sabe, como vai ser a sua vida?  E é isso que a gente vem fazendo nesses anos todos. É um processo disruptivo. Para o homem chegar na Lua, alguém teve de dar o primeiro passo. É isso que a gente vem falando: “dê o primeiro passo”. Como você enxerga o futuro das cooperativas brasileiras? Ricardo Yogui: Daqui para a frente, é explorar mais as tecnologias, explorar ambientes focados em comunidade. A essência do DNA das cooperativas, de colaboração, é o que o mundo está esperando. Outro ponto importante é o “figital” — união entre o melhor do mundo digital e o melhor do mundo analógico. O segredo das empresas é enxergar que o mundo não é puramente analógico ou puramente digital. E, sim, o melhor dos dois mundos.  Marina Miranda: Cooperativa e economia colaborativa têm diversas questões em comum. Eu acredito que o futuro das cooperativas é cada vez mais caminhar por esses modelos da economia colaborativa. O design thinking é uma metodologia, e tem outras. Mas o que elas têm em comum? Colaboração. É um método de estar trabalhando e escutar o outro, é uma escuta ativa. Escuta ativa não é tecnologia. É como eu olho para o outro. As cooperativas têm todo esse poder de escutar o seu cliente – o que, às vezes, uma grande empresa não consegue.  O que precisamos fazer, hoje, para chegar nesse futuro? Ricardo Yogui: De forma estruturante: 1. Pensar um planejamento estratégico de inovação; 2. Pensar na governança da inovação, porque é preciso blindar a inovação dentro da organização, pensar no desenvolvimento de um board (quadro)de inovação, criar comitês de inovação; e 3. Experimentar coisas novas. Com isso, eu vou aprendendo e vou crescendo. Esse é o caminho. Marina Miranda: Precisamos entender que é um processo. Não adianta querer fazer nada pontual. Eu contrato uma empresa que vai dar um treinamento para a minha equipe. Acabou esse treinamento, eu tenho de cobrar que esse conhecimento seja replicado. É preciso investir em um mindset colaborativo, para que as pessoas queiram compartilhar conhecimentos e trabalhar juntas. Tenho que estabelecer um ambiente de confiança, ter metas colaborativas dentro da minha empresa, metas de inovação. Mas precisam ser  metas reais, com prazo definido e um propósito bem claro.  
Esta matéria foi escrita por Lílian e está publicada na Edição 28 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
Amiga das Águas

Amiga das Águas

O Rio Amazonas é largo e profundo como o mar. E é daquela imensidão de água que centenas de ribeirinhos retiram o necessário para viver. Desde cedo, eles aprendem a viver da pesca, do turismo e do transporte de pessoas. E desde cedo, aprendem a amar o rio. Por isso, a Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial (Coop-Acamdaf) organiza há seis anos o recolhimento voluntário de lixos e outros resíduos do Amazonas e de seus afluentes.  “No início, pouquíssimas pessoas nos ajudaram a limpar o rio, mas com o passar do tempo, começamos a receber ajuda de mais voluntários, e a nossa ação foi crescendo”, explica Adones Custódio, líder cooperativista. Desde 2014, os 56 barqueiros da cooperativa já ajudaram a recolher 20 toneladas de lixo do Amazonas.  A ação de limpeza das águas da cooperativa é realizada uma vez por ano, durante as comemorações do Dia C  Na ocasião,  também são distribuídas mudas de plantas para incentivar a população a cuidar da natureza. Além disso, durante todo o ano, a Coop-Acamdaf disponibiliza  algumas embarcações para recolher o lixo das casas flutuantes. A coleta é feita duas vezes por semana. Custódio explica que o trabalho é árduo, mas vale a pena.
 Eu tenho mais de 60 anos e a maioria dos cooperados tem mais ou menos a minha idade. Mesmo assim, sempre arrumo um tempinho durante o trabalho para recolher o lixo das embarcações, das casas e do rio.  Faço isso pensando nos meus netos, nas outras gerações que virão depois de mim e também precisam conhecer a grandeza do Amazonas”. 
E você? O que tem feito para ajudar o meio ambiente? Conta sua história para gente! Basta mandar um e-mail para Este endereço de e-mail está sendo protegido de spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
ENTENDA O IMPACTO DESSA AÇÃO Nome da cooperativa: Cooperativa dos Profissionais de Transporte Fluvial do Estado: do Amazonas Diferencial: a retirada de lixos dos rios e das casas de ribeirinhos é um projeto voluntário da cooperativa e comprova o amor de cada barqueiro ao rio Amazonas e à comunidade onde vivem.  Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a Cooperárvore ajuda a cumprir 
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 23 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
Do Brasil para o mundo

Do Brasil para o mundo

Fazer a diferença onde a gente está. Essa máxima do cooperativismo é ainda mais tangível dada a capilaridade da nossa força de trabalho. Em um mundo globalizado como o nosso, também é importante fazer a diferença em nível global e regional. E é por isso que, desde 1988, a OCB faz parte da Aliança Cooperativa Internacional (ACI)  Foi a partir daí que o cooperativismo brasileiro passou a acompanhar eventos internacionais, trocar experiências e participar da definição de diretrizes do cooperativismo mundo afora.  Representante das cooperativas de trabalho e produção de bens e serviços na ACI Américas – braço regional da ACI –, Margaret Cunha afirma que a presença em organismos internacionais é essencial para o crescimento do cooperativismo Brasil afora: 
É fundamental para nós. O país, dadas as dimensões continentais, tem um peso muito grande economicamente e politicamente. Estar dentro desse contexto [de organismos internacionais] é fazer parte de decisões importantes que se apresentam no mundo inteiro”, defende.
Para ela, essa representação internacional é importante para que o Sistema OCB marque posições dentro de um organismo e um contexto mundial onde se decidem as normas políticas e institucionais. “Quanto mais nos unirmos e olharmos para dentro de nós, mais estaremos nos fortalecendo. No Brasil, nós temos a OCB, que coordena todos os estados, as cooperativas, centrais, confederações e federações. É um sistema. E ele tem de estar sempre bem posicionado para que a gente possa fazer parte das decisões. Para conseguir levar os nossos anseios e necessidades mostrar para o mercado o quanto o cooperativismo é importante e fundamental”, destaca. Segundo ela, há diversos encontros internacionais, videoconferências e canais na internet onde representantes do cooperativismo se comunicam constantemente e observam o movimento cooperativo em cada país. É o momento de analisar cenários, ver o que outros países estão fazendo e tentar aprimorar o que é feito internamente. O último encontro presencial, realizado na Costa Rica, no fim de 2019, discutiu temas como economia, câmbio, sustentabilidade das cooperativas e intercooperação. O Brasil participa ainda do conselho da organização. Desde 2018, o país é um dos 15 integrantes do conselho de administração da ACI que se reúne em Bruxelas, na Bélgica. O conselheiro brasileiro é o presidente do Sistema OCB em Mato Grosso, Onofre Cezário Filho. PIONEIRISMO VERDE-AMARELO Dentro da ACI, o Brasil é referência em termos de normas e legislação na área de cooperativas de trabalho. E, por isso, vários países procuram saber quais passos foram dados aqui para conseguirem fortalecer e fazer leis semelhantes, se adequando às especificidades de cada nação. A partir da aprovação da Lei 12.690/2012, que impôs regras específicas para o setor, Margaret — que também é associada da Cooperativa de trabalho, produção e comercialização dos trabalhadores das vilas de Porto Alegre (Cootravipa) —avalia que houve uma mudança de mentalidade sobre essas cooperativas.
Houve um reconhecimento e uma mudança de comportamento em relação às cooperativas de trabalho. Elas foram estigmatizadas por muitos anos, mas não era um retrato verdadeiro do que acontecia em todo o mundo cooperativo”, argumenta. 
A nova lei liberou a participação de cooperativas de trabalho em licitações públicas – um ganho enorme para o cooperativismo que pôde mostrar a importância de sua força de trabalho. Segundo ela, foram mais de oito anos de intenso trabalho junto ao Congresso Nacional para que a lei que assegura direitos e deveres perante o associado fosse aprovada. A norma traz o mínimo que a cooperativa deve dar de benefícios aos seus associados. Em parte, esse regulamento se assemelha ao que as empresas em geral fazem, mas também traz diferenciais como um seguro específico que garante ao trabalhador que adoeça uma diária a ser recebida mensalmente para ficar em casa e cuidar da saúde. “Esse movimento, feito e liderado pelo Brasil, mudou a visão frente as cooperativas. Muitas tiveram de se adequar já que a lei veio para regrar posicionamentos”, relembra. CRESCER EM TEMPOS DE CRISE Na avaliação de Margaret, a participação em fóruns internacionais também serve para mostrar ao mundo que o cooperativismo é organizado e que cresce, cada vez mais, em tempos de crise.
Quando iniciou todo o movimento dessa crise de coronavírus, eu disse: aí vão estar as cooperativas fazendo a diferença. Na parte médica, na parte de transporte, de limpeza, na parte de cuidar dos doentes e de fazer as prevenções”, analisa.  
Ainda segundo ela, o cooperativismo está levando energia e internet a moradores da cidade e do campo.  “As pessoas estão ficando em casa, muitos vão ser demitidos e muitos vão precisar de apoio, de capital de giro, de financiamentos, renegociação de dívidas. Tudo isso o cooperativismo pode ajudar. O cooperativismo faz parte dessa sociedade”, enumerou Margaret.
Esta matéria foi escrita por Lilian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
Somos Líderes

Somos Líderes

Alessandra acredita no poder feminino e na capacidade da mulher de empreender e liderar. Wilson luta por um mundo sem pobreza, com mais educação e inclusão. Rafael  defende a sustentabilidade e quer levar um modelo de negócios mais justo e equilibrado para outras áreas do país. Já Amanda aposta na inovação para transformar o futuro das pessoas. Com diferentes sotaques e vivências, esses jovens têm um ponto em comum: foram escolhidos por seu perfil de liderança para serem os protagonistas do cooperativismo no futuro.  Dezenas de pessoas de todo o Brasil estão tendo a oportunidade inédita de se prepararem para ocupar espaços de gestão dentro do cooperativismo. Com idades de 21 a 35 anos, jovens como Alessandra Soares (30), Wilson Figueiredo (35), Rafael Athayde (24) e Amanda Chiodi (22) foram escolhidos entre mais de 1,5 mil inscritos para participar do programa Somos Líderes, que teve início com um workshop, em Brasília, em outubro de 2019— mesma oportunidade em que os selecionados foram apresentados aos gestores do Sistema OCB.  Durante seis meses, o grupo aprendeu sobre liderança, inovação, sustentabilidade, atuação no contexto do cooperativismo e da política. Na palestra de abertura do curso, eles ouviram a seguinte definição de liderança do embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) para o cooperativismo, Roberto Rodrigues:  “O novo líder não é apenas um intérprete, não é apenas um entendedor do que a média dos seus cooperados deseja. Ele é o propositor de projetos. O novo líder tem que rasgar o horizonte, enxergar à frente”.  Ainda segundo Rodrigues, um bom líder deve ter não somente a capacidade de ouvir e entender as demandas das bases, mas também de tomar decisões com agilidade e antecipar soluções. Vale destacar: os 35 jovens selecionados nesta primeira edição do programa Somos Líderes contaram com a ajuda e o apoio de mentores, escolhidos entre os dirigentes das cooperativas reconhecidas pelo Prêmio SomosCoop Excelência em Gestão 2019, e também de mentores técnicos. E mais: terão orientação personalizada pelo prazo de dois anos após a conclusão do curso.

CONHEÇA ALGUNS DOS NOSSOS JOVENS LÍDERES Nome: Alessandra Cristina Soares Idade: 30 anos Atuação profissional: conselheira fiscal da Cooates (Barreiros - PE)   Zootecnista de formação, Alessandra Cristina encontrou no cooperativismo o espaço para se desenvolver profissionalmente. “A ciência agrária ainda é uma área masculina. Passei por alguns desafios desde a graduação, como ser comparada o tempo todo com colegas homens. Somente quando entrei no cooperativismo, encontrei reconhecimento e fortaleci minha imagem de mulher trabalhadora. Hoje, além de ajudar outras mulheres do meio rural a se capacitarem, quero vê-las empoderadas”, afirmou. Alessandra trabalha na Cooperativa de Trabalho Agrícola, Assistência Técnica e Serviços, localizada no município de Barreiros (PE). O empreendimento reúne 35 cooperados, entre zootecnistas, veterinários e agrônomos. Nossa jovem líder ingressou na cooperativa em 2013, desenvolvendo projetos que buscam geração de renda na agricultura familiar. “Participar do Somos Líderes será uma oportunidade de aprendizado e crescimento”, avaliou.
Nome: Rafael Athayde Idade: 24 anos Atuação profissional: vendedor na YouGreen Cooperativa (São Paulo - SP)   Graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o cearense Rafael Athayde tem orgulho de trabalhar na única cooperativa do Brasil que oferece serviço de gestão de resíduos: a YouGreen O jovem engenheiro químico mora em São Paulo, atua como vendedor de material reciclável e almeja ajudar a YouGreen a expandir esse modelo de negócio para outras cooperativas de catadores. “Tenho um sonho de levar uma franquia da YouGreen para o Nordeste. Minha região tem muito potencial”, explicou. Rafael espera aprender a partir das experiências dos demais participantes do Somos Líderes e aplicar o conhecimento no seu cotidiano na YouGreen. Ele destacou, ainda, a oportunidade de ser orientado por “uma das referências do cooperativismo brasileiro”, o presidente da C. Vale, Ademar Pedroni, que faz parte do movimento há 55 anos.
Nome: Amanda Chiodi Idade: 22 anos Atuação profissional: analista de relacionamento com o cooperado Unimed Cascavel (PR)   Graduada em administração, Amanda Chiodi, 22 anos, interessou-se pelo Somos Líderes assim que ficou sabendo do programa. Mas ela tinha um receio: teria a liberação dos chefes, já que o programa previa cinco etapas em diferentes cidades? A dúvida se transformou em surpresa dias depois. Antes mesmo de pedir autorização, Amanda recebeu uma orientação da área de recursos humanos da Unimed Cascavel para que se inscrevesse e fosse a representante da unidade no Programa. A jovem ficou ainda mais animada ao receber a notícia de que tinha sido selecionada. “É muito bom encontrar com outros jovens do cooperativismo que vivem os mesmos desafios em diversas regiões do país e poder aprofundar no cooperativismo”, enfatizou Amanda, que também cursa um MBA em Estratégias Empresariais. Atenta, durante o workshop em Brasília, ela anotou cada uma das dicas do mentor, o presidente da Sicredi Pantanal, Emerson Luís Perosa. “Será uma experiência bem rica, onde poderemos compartilhar conhecimento. Afinal, eu também posso aprender muito com a Amanda”, mencionou o dirigente.
Nome: Wilson Figueiredo Idade: 35 anos Atividade profissional: gerente de TI do Sicoob Credialto (Piumhi - MG)   Funcionário do Sicoob Credialto, Wilson Figueiredo iniciou a carreira na cooperativa, há 12 anos, como técnico em informática. Ele conta que cresceu profissionalmente com o desenvolvimento da própria organização. Depois de ingressar como técnico, em 2007, assumiu o cargo de analista em 2009 e, hoje, aos 35 anos, é o gerente da área de TI  — setor criado em 2016. Wilson conta que o cooperativismo está em sua vida há muito tempo. Além de trabalhar em uma singular do Sicoob,  ele e o pai são cooperados há muito tempo. Engajado como todo bom líder, Wilson já foi professor voluntário na qualificação de adolescentes que buscavam o primeiro emprego. Como profissional, seu principal objetivo é contribuir para levar educação financeira ao maior número de pessoas possível. “Estou honrado em poder compartilhar o que aprendi com outros jovens líderes. A geração de 2001 para a frente tem muita vontade de mudar o mundo e não tem receio de reivindicar, de questionar. São eles que vão mudar o mundo. Então, é uma honra contribuir para que a voz dos jovens seja ouvida”, disse.  
Esta matéria foi escrita por Adriana Araujo e está publicada na Edição 28 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
Orgulho Coop

Orgulho Coop

O cooperativismo faz muito pelo país, mas muita gente não sabe. A gente precisa fazer essa informação chegar a todo mundo para que o cooperativismo seja mais valorizado e tenha voz ativa em todas as decisões importantes para o país”.  A avaliação é de Aline Borges de Carvalho, 33 anos, coordenadora de marketing da Cooperativa Agropecuária de Machado (Coopama) — empreendimento mineiro que abraçou o movimento SomosCoop e, hoje, estampa o orgulho de pertencer a essa grande família por meio de seus produtos. Desde novembro de 2019, os pacotes de café da marca são impressos com  o selo SomosCoop.  Para Aline, o SomosCoop fortaleceu e deu mais visibilidade à marca, agregando valor ao café dos pequenos produtores da Coopama. “Quando surgiu o movimento nós ficamos muito felizes. Quisemos mesmo abraçar a causa, porque a gente sabe o quanto o cooperativismo precisa ser mais valorizado.” A cooperada Neuza Garcia Vieira, 70 anos, concorda e destaca: o selo reconhece não só a qualidade, mas o compromisso social dos produtos cooperativistas. 
O SomosCoop valoriza nossos produtos e engrandece a cooperativa"
Cooperativista há mais de 30 anos, Neusa tomou a frente dos negócios e assumiu a pequena propriedade em que planta café após a morte do marido. "A cooperativa fortaleceu os meus negócios e continua me fortalecendo. A Coopama faz parte da minha vida profissional, como agricultora, promove o meu desenvolvimento com palestras, dias de campo e capacitações. É um orgulho fazer parte do cooperativismo”, destacou. Lançado em 2018, o movimento Somos Coop quer mostrar a força e a capacidade transformadora do cooperativismo. Comprometidas com as comunidades em que se localizam, as cooperativas modificam as realidades gerando trabalho, renda, dignidade e felicidade em todos os cantos do país. Outro intuito do SomosCoop é despertar a consciência das pessoas envolvidas com o cooperativismo e gerar orgulho naqueles que abraçam a causa. Afinal, o cooperativismo quer transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportunidades para todos. E fazer parte dessa cadeia é um motivo e tanto para ter orgulho.  AGREGAR VALOR Atualmente, 70% dos 2.645 cooperados da Coopama são pequenos produtores. Cerca de 2 mil deles produzem café.  Depois de adquirir o café em grãos dos cooperados, a Coopama fica responsável pela torra, moagem, empacotamento e padronização do produto.  Atualmente, a cooperativa comercializa pacotes de café torrado, moído e cápsulas. Tudo isso com a qualidade que só o cooperativismo tem. 
A gente buscou levar essa ‘marca’ [SomosCoop] junto com os nossos produtos justamente para mostrar a importância que o cooperativismo tem”, destacou Aline.
A venda do café com o selo do SomosCoop ainda está restrita aos pontos de venda da Coopama nas cidades de Machado, Alfenas, Elói Mendes, Poço Fundo e Turvolândia, todas no Sul de Minas. Mas o intuito é chegar às prateleiras dos supermercados de todo o estado até o final de 2020. Para este ano, a Coopama ainda pretende começar a apostar no mercado de cafés especiais, personalizando ainda mais o produto. Para isso, a cooperativa está estruturando um departamento específico para agregar mais valor ao produto e também ao cooperado. A primeira ação de visibilidade comercial deve ocorrer em novembro.  “Em abril, vamos começar a conscientizar os produtores. O intuito é montar um projeto piloto com 20 a 30 produtores que têm as melhores qualidades de café”, destaca Aline afirmando que todo café passa por uma análise sensorial para determinar os padrões e a classificações da bebida.  “Vamos nos reunir com produtores para saber se eles têm interesse de participar do projeto porque terão de fazer uma série de adequações nas fazendas”, afirmou. Em novembro a Coopama pretende promover um concurso de cafés especiais. Com isso, quer chamar o mercado comprador (cafeterias e torrefações) e fazer um leilão.  Para a coordenadora de marketing, além de ser um grande motor de crescimento do país, o cooperativismo é uma paixão. “Quanto mais a gente conhece, mais a gente fica apaixonado e é movido pelo cooperativismo”, avalia Aline que está há 8 anos na Coopama. ENTENDA A FORÇA DO NOSSO MOVIMENTO

Esta matéria foi escrita por Lilian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
Vida que Segue

Vida que Segue

Peça a um economista para descrever um mercado em profunda mudança, no Brasil e no mundo dos últimos anos, e é grande a chance de ele citar o ramo de transporte —  sobretudo, o de passageiros — como exemplo. Aliás, para qualquer um que já chamou um carro por meio de aplicativo de celular, parece claro que nada será como antes nesse tipo de serviço.  Do ponto de vista das cooperativas de transporte, que possuem presença significativa no setor, o cenário é igualmente desafiador. Ainda assim, elas têm conseguido manter um bom ritmo de crescimento nessa nova estrada. De acordo com o Anuário do Cooperativismo Brasileiro — produzido pelo Sistema OCB —, houve alta de 16% no número de cooperativas de transportes, que subiram de 1,1 mil, em 2014, para 1,3 mil, em 2018. Um sinal de que a cooperação é um dos caminhos escolhidos por quem opta por ficar (ou entrar) nesse negócio. 
O mercado de transportes é muito veloz e competitivo, mas ele beneficia quem está preparado para oferecer os melhores serviços”
A avaliação acima é de Tiago Barros, analista econômico da OCB para o Ramo Transporte. Segundo ele, as cooperativas do ramo precisam compreender que existe uma solução para enfrentar esse cenário de profunda mudança e disrupção. “Em vez de lutar contra a entrada de novos atores no mercado, é preciso entender o que está mudando, pensar e se reposicionar. Quem estiver preparado e for competente, obterá resultados. E eles serão grandes.”  De fato, de acordo com o Anuário do Cooperativismo, em 2018, as cooperativas de transportes movimentaram R$ 4 bilhões, garantindo o emprego e a renda de 98,8 mil cooperados. Ainda não estão disponíveis dados que permitam uma comparação com a receita de anos anteriores, mas Barros — que acompanha diariamente o mercado desde 2013 — avalia que “a tendência é de aumento em relação ao faturamento” em todos os segmentos.  OTIMISMO [caption id="attachment_75724" align="alignnone" width="3500"] Crédito: ShutterStock[/caption]   Mesmo em um cenário de baixo crescimento econômico, Evaldo Matos, diretor-geral da Federação das Cooperativas de Transporte de Cargas e Passageiros de Minas Gerais (Fetranscoop-MG) enxerga com bons olhos o futuro das cooperativas de transporte. Ele não hesita em afirmar que o setor vinha crescendo antes da pandemia e pode inclusive aproveitar o momento para se reinventar. Parece otimismo em exagero? Não é!  Uma pesquisa assinada pelo economista-chefe do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Guilherme Resende, dá uma pista relacionada ao mercado de transporte de passageiros. Com base em dados coletados entre 2014 e 2016, em 590 municípios brasileiros — incluindo as 27 capitais —, o estudo mostra que a chegada da Uber, por exemplo, provocou, em um primeiro momento, queda de 56,8% nas corridas aferidas por aplicativos exclusivos de táxi. Entretanto, com o passar do tempo, tal redução caiu para 26,1%, em média, nas capitais das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, indicando uma reação dos taxistas.  Entre as razões para a recuperação de terreno, avalia Resende, está a adaptação dos motoristas de taxi à nova realidade. Se por um lado a competição aumentou e os preços da corrida caíram em média 12%, por outro, aumentou-se significativamente  o público consumidor. O especialista defende: 
Ao darem descontos e praticarem preços mais acessíveis, em termos absolutos, os taxistas conseguem ter até mais corridas do que antigamente”.
Há espaço para todos nesse mercado mais amplo, desde que cada um saiba aproveitar suas vantagens competitivas, resume Resende. “Como sobreviver? Como se manter nesse mercado? Cada um, a seu modo, vai ter de ser mais eficiente”, assevera o economista-chefe do Cade.    VANTAGENS E DESAFIOS [caption id="attachment_75732" align="alignnone" width="5757"] Crédito: ShutterStock[/caption]   Na nova realidade do mercado de transportes de passageiros, as cooperativas já encontraram soluções inteligentes para se diferenciar.  Se o motorista de carro particular tem a seu favor uma estrutura extremamente enxuta, com poucas exigências e baixos custos regulatórios para circulação, os cooperados contam com um forte poder de negociação junto aos fornecedores. “Dentro de uma cooperativa do ramo de transporte, seja de carga ou de passageiros,  é possível adquirir  insumos a custo menor, como pneus, peças, acessórios ou, até mesmo, gasolina”, explica o  líder cooperativista Evaldo Matos. “Além disso, a contratação de seguro é mais barata, com apólices coletivas. Sem falar que a aquisição de crédito é diferenciada, por meio de bancos conveniados”. Quer mais? As cooperativas oferecem, ainda, suporte contábil, tributário e burocrático aos cooperados, um enorme diferencial na avaliação de Guilherme Resende, do Cade, especialista em competição de mercado. Ainda de acordo com ele: 
Se o preço da corrida está baixo para todo mundo, quem for mais eficiente conseguirá os melhores resultados. E as cooperativas, nesse sentido, costumam ser mais eficientes”.
Ouvido o conselho dos especialistas, cabe às cooperativas aproveitar essas vantagens para garantir maior participação de mercado no Ramo Transporte. “Nós precisamos criar estratégias para concorrer e simultaneamente investir cada vez mais em uma gestão eficiente. Afinal, muitas cooperativas correm risco de descontinuidade”, completa Matos.  5 PRIORIDADES ESTRATÉGICAS DO RAMO  
Esta matéria foi escrita por Felipe Teixeira e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
Mulheres fazem a diferença no ramo financeiro

Mulheres fazem a diferença no ramo financeiro

Dinheiro, finanças, poupança, juros, aplicações. Isso também é assunto de mulher como comprova Solange Pinzon de Carvalho, presidente do Sicoob Meridional desde 2015. A cooperativa é um exemplo de equidade a ser seguido. Dos 260 colaboradores, 64% são mulheres. Além disso, a cooperativa possui  agências são 100% formadas por mulheres. “Nos cargos de execução, a participação feminina é substancial. Nos cargos de direção, nós temos  uma diretora administrativo-financeiro que é mulher, temos gerentes administrativas e várias gerentes de agências. E queremos ver esse número crescer cada vez mais”, destaca. Antes de chegar ao cargo mais alto dentro da instituição financeira, Solange trilhou um caminho profissional que passou por bancos, pelo empreendedorismo até chegar ao cooperativismo. Qual o segredo do sucesso: confiança em si mesma e coragem.
“Nós, mulheres, somos competentes, agregamos valor às equipes das quais fazemos parte e temos de dar as mãos umas as outras para crescer cada vez mais”, acredita a executiva.
Durante o período de empresária, Solange participou ativamente da Associação Comercial e Industrial de Toledo, no Paraná, da qual assumiu a presidência em 2005. Foi lá que viu crescer o embrião do que é hoje o Sicoob Meridional — cooperativa fundada por 26 empresários da associação, em resposta à elevada taxa de juros e a falta de presença dos bancos na comunidade. Já em 2006, Solange foi convidada a assumir a diretoria administrativo financeira da cooperativa. Ela acredita que a experiência bancária anterior tenha sido uma credencial para que ela fosse convidada a assumir a diretoria. “Foi fantástico porque pude entrar no processo, principalmente, no processo decisório, como diretora.” Três anos depois, ela assumiu a vice-presidência do Sicoob Meridional e, desde 2015, é a presidente da instituição — um caminho natural dado o desempenho e o trabalho executado por ela nos anos anteriores. RESULTADOS Os resultados do Sicoob Meridional não deixam dúvidas da excelência do trabalho de uma mulher no comando. “Temos excelentes índices financeiros. A cada 3 anos, a gente dobra de tamanho. Temos os menores índices de inadimplência, uma das menores taxas de juros, até mesmo do sistema cooperativista. E tudo isso porque temos foco justamente naquilo que o cooperativismo prevê: justiça econômica, social e financeira.” Uma das bandeiras da presidente da cooperativa é levar nosso modelo de negócios a quem mais precisa. Por isso, ela segue investindo na abertura de pontos de atendimento ao cliente. “Aumentamos nossa área de atuação e passamos a abrir agências fora da cidade”, conta ela, que fez questão de participar de todas as inaugurações. Hoje, o Sicoob Meridional conta com 21 pontos de atendimento e mais de 41,3 mil cooperados. Solange sabe que o sucesso não é conquistado sozinho e destaca como importantes atores nesse processo a equipe engajada e comprometida e uma diretoria que trabalha em sinergia com os conselhos administrativo e fiscal. Tudo é feito com o intuito de humanizar as relações financeiras.
“Quanto mais você vive o cooperativismo mais você se apaixona porque é um modelo muito justo, um modelo que une social com econômico. E quando tem paixão, o trabalho é feito de forma mais eficiente e com mais brilho.”
Solange sonha em ver mais mulheres em posição de liderança dentro e fora do cooperativismo. “Confiando em nós mesmos e dando as mãos umas as outras vamos ir muito longe”, finaliza.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
Quando carros viram bolsas

Quando carros viram bolsas

Cintos de segurança, pneus usados e acessórios de carro salvaram as vidas de pelo menos 10 mulheres mineiras. Todas elas conseguiram emprego e renda pelo talento que têm para transformar esses utensílios em bolsas finas, mochilas descoladas e objetos de decoração para casa. A mágica realizada por essas artesãs acontece no bairro Jardim Teresópolis, em Betim, Minas Gerais. Lá, funciona a sede da Cooperárvore — cooperativa de trabalho fundada  por um grupo de mulheres que se conheceu em um curso de capacitação realizado em frente à uma fábrica de automóveis. Todas elas estavam desempregadas e viram naquele encontro a oportunidade de mudarem de vida. E o caminho escolhido para isso foi o cooperativismo. Empolgada pela iniciativa dessas mulheres, a montadora de automóveis começou a doar  resto de tecidos e outras matérias primas para a cooperativa. Foi o suficiente para elas criarem uma empresa forte, sustentável e com foco no empoderamento feminino. “Trabalhar com o que se gosta e ainda ter a chance de ajudar outras mulheres a se sustentarem do próprio  talento é algo inexplicável”, garante Silvane Costa, uma das principais lideranças da Cooperárvore. [caption id="attachment_75656" align="aligncenter" width="177"] Crédito: Cooperárvore[/caption]
“Conheci o cooperativismo há mais de 10 anos e, desde então, esse modelo de negócios tem me ajudado a acreditar que sonhar é possível. Sempre costurei, sou mãe, e precisava de um trabalho no qual eu pudesse ter tempo para dar atenção para minha família. Na cooperativa isso é possível. Somos com uma família que entende a necessidade do outro. Pensamos coletivamente e trabalhamos com parceria”.
A Cooperávore comercializa sua produção pela internet desde 2017 e, a cada dia que passa, ajuda a transformar para melhor a vida de suas cooperadas. São 14 anos de trabalho que renderam, inclusive, parcerias com a Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Europeia. Vale muito a pena conhecer!  
  PASSO A PASSO DA PRODUÇÃO DA COOPERÁRVORE [caption id="attachment_75650" align="aligncenter" width="542"] Crédito: Cooperárvore[/caption]  
  FICHA TÉCNICA DA COOPERATIVA Nome: Cooperárvore Estado: Minas Gerais Diferencial: cooperativa formada exclusivamente por mulheres que transformam “lixo” automotivo em acessórios cheios de estilo. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a Cooperárvore ajuda a alcançar  
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 23 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
Revolução feminina no campo

Revolução feminina no campo

“Onde a mulher tem dignidade, respeito, voz e vez é na cooperativa. É também o local onde é possível encontrar justiça para o produtor rural.” A frase de Maria Gonçalves Nunes, moradora de Colíder, no Mato Grosso, é um retrato da história de luta e liderança da agricultora em busca de tratamento digno para os produtores de leite da cidade. Há 14 anos, Maria liderou um grupo de 80 produtores de leite, da comunidade rural de Sol Nascente, que, insatisfeitos com o tratamento dado pela empresa de laticínio que comprava toda a produção, fez uma verdadeira revolução no campo.
“Não sei de onde arrumei tanta coragem, acho que era do espírito de justiça que eu tinha. Na igreja, aprendi que os grandes profetas lutavam pela justiça do seu povo”, afirma.
Maria lembra que os produtores deixavam seu leite em tambores, na entrada das pequenas propriedades, que eram recolhidos por caminhões e levados direto ao laticínio. Mas ninguém nunca conheceu “a cara do patrão”. Mudanças eram feitas sem comunicado prévio aos produtores que eram pegos de surpresa, inclusive com a troca de um laticínio por outro. “Um dia, eu fui lá na estrada para pegar o tambor [de leite] e o talão para ver a medição do leite [papel em que eles indicavam quantos litros tinham sido recolhidos naquele dia]. No papelzinho que eles deixavam, eu vi que tinha mudado o nome do laticínio. Não era mais o mesmo de antes. Eu fui pra casa, revoltada, e no dia seguinte fui lá pra beira da estrada pra esperar o leiteiro. E falei pra ele: o que aconteceu? Quem é o nosso patrão agora? Quem vai pagar o leite?” O responsável pelo transporte do produto disse apenas que a linha de leite tinha sido vendida e que  um outro laticínio tinha assumido o controle. Maria mandou um recado pedindo para que o proprietário fosse ao campo conversar com os pequenos produtores. Mas ninguém nunca apareceu. Revoltada com a situação, ela decidiu que faria uma reunião com os produtores rurais para discutir os próximos passos da comunidade. No primeiro encontro, 80 produtores locais compareceram. “Eu até me assustei”, relembra Maria afirmando que foi sozinha ao local. “Meu marido não gostava de reunião, nem foi”, completa. No encontro, no qual foram discutidos os caminhos para a produção de leite da região, Maria se colocou à disposição para se reunir com a Cooperativa Agropecuária Mista Terra Nova (Coopernova) – que poucos produtores conheciam, mas cujo trabalho tinha fama de ser honesto, sério e transparente.   PROTAGONISMO FEMININO Na primeira reunião com a cooperativa, Maria conseguiu convencer o dirigente a pegar a produção leiteira dos pequenos produtores. Mas, para isso, seria necessário que, por 15 dias, eles jogassem fora todo o leite produzido – uma forma de mostrar insatisfação com o antigo laticínio. “Havia uma briga muito grande pelo leite na época, era uma queda de braço. O antigo laticínio não queria que a gente vendesse para outra pessoa. Até então, não tinha concorrência. Foi difícil convencer os produtores, mas conseguimos”, relembra. Na reunião seguinte com o dirigente da Coopernova, Maria já apareceu ao lado de 29 produtores que se mostraram interessados em fazer negócio com a cooperativa. Apesar de ser dezembro, um mês que tradicionalmente não há compra de leite pela entidade, os dirigentes resolveram ajudar os produtores liderados por Maria. “A cooperativa só pega leite de maio a outubro, mas a gente não sabia disso na época, não era cooperada”, afirma. “Eu sei que, no dia seguinte, arrumei um caminhão de puxar leite de um produtor, passamos de casa em casa, colocando o leite nos tambores e depois no caminhão. Eu ia passando, pegando nome e CPF do produtor e catando o leite. No primeiro dia, levamos 2,4 mil litros de leite para a Coopernova”, lembra, orgulhosa, a produtora. Hoje, 14 anos depois, os produtores cooperados entregam, diariamente, mais de 9 mil litros de leite à Coopernova. Satisfeita com os resultados, Maria recorda:
“Eu era a única mulher do grupo e estava liderando tudo aquilo. Foi difícil no começo, mas conseguimos. A comunidade continua animada e ninguém quer sair. Sempre digo que temos de dar valor ao nosso pedaço de terra e de ser cooperativista”.
Nossa líder cooperativista se diz feliz e realizada com as escolhas que fez ao longo da vida. Ela diz que repetiria tudo outra vez e incentiva outras mulheres a seguirem o caminho do cooperativismo. “O cooperativismo é muito importante e apóio que outras mulheres entrem. Falo a elas que vale a pena ser cooperativista, investir na sua propriedade e produção. O trabalho desenvolvido pela Coopernova é honesto e sério. Tem 14 anos que a gente entrega leite lá. E nunca ficamos um mês sem receber”, afirma. Maria, mãe de cinco filhos homens, elogia a capacidade de organização das cooperativas e faz uma analogia sobre esse processo e o que aprendeu ao longo dos anos na igreja que frequenta. “A cooperativa é uma instituição organizada e transparente. Eu vejo o cooperativismo como a primeira multiplicação de pão e peixes que Jesus fez. Ele pediu que fosse organizado em grupos de 50, de 100. Essa organização que Jesus fez para a partilha do pão é o cooperativismo”.
Esta matéria foi escrita por Lílian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 

Juntos pelo fim da pobreza

Brasília (10/6/20) – Sustentabilidade é palavra de ordem em todas as cooperativas brasileiras. Por princípio, buscamos crescer de forma sustentável, igualitária e inclusiva, apoiando o desenvolvimento das comunidades nas quais atuamos. Se, há alguns anos, esse conceito era relacionado apenas à área ambiental, hoje ele perpassa todos os ramos da economia. Na verdade, a sustentabilidade deixou de ser um objetivo quase abstrato para se transformar em meta mundial — com prazos e diretrizes definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 2015. São os chamados objetivos de desenvolvimento sustentáveis (ODS), um conjunto de 17 medidas que devem nortear as ações públicas e privadas de todos os países-membros até 2030.

Dispostas a contribuir com o sucesso da Agenda, as cooperativas brasileiras — por meio do Sistema OCB — assumiram o compromisso público de apoiar o cumprimento dos ODS no Brasil. Como estamos fazendo isso? A resposta para essa pergunta você confere nesta entrevista, que reuniu o assessor sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no país (PNUD Brasil), Haroldo Machado Filho, e o superintendente do Sistema OCB, Renato Nobile.

 

Como funciona a parceria da ONU com o Sistema OCB?

Haroldo Machado Filho: Nossa parceria teve início em 2018, visando facilitar e fortalecer a colaboração do movimento cooperativista na promoção e no alcance dos ODS no Brasil. Essa parceria evoluiu, em 2019, para um acordo de cooperação técnica com o Serviço Nacional de Aprendizagem para o Cooperativismo (Sescoop), a fim de capacitar as cooperativas brasileiras a aderirem à Agenda 2030e aos ODS. Nosso objetivo é auxiliá-las a implementar projetos de desenvolvimento sustentável e a se posicionarem publicamente como parceiras estratégicas da ONU ao longo do processo de implementação da Agenda no Brasil. Também queremos fortalecer iniciativas globais, nacionais e locais já existentes no cooperativismo e propor inovações que acelerem o impacto positivo que as cooperativas têm no desenvolvimento humano sustentável das comunidades em que atuam.

Renato Nobile: Nós nos aliamos à ONU para conscientizar nossas cooperativas da importância da nossa atuação para o cumprimento da Agenda 2030, da ONU. De norte a sul do Brasil, realizamos centenas de projetos que fomentam a geração de emprego e renda, promovem a redução das desigualdades, estimulam educação de qualidade e promovem a sustentabilidade econômica, social e ambiental do nosso país. Acontece que elas nem sempre percebiam o valor estratégico desses projetos e dessas ações comunitárias. Agora — ao saberem que o cooperativismo é parceiro da ONU em relação aos 17 ODS — elas estão mais atentas ao poder transformador de seus projetos. Além disso, com o Pnud Brasil, estamos capacitando multiplicadores de ODS para que possam orientar nossas cooperativas a alinharem seus projetos socioambientais aos desafios propostos pela ONU.

Continue lendo: http://www.somos.coop.br/revista/juntos-pelo-fim-da-pobreza/

 

NOVIDADE

Você agora pode ler todas as matérias da Revista Saber Cooperar em um blog especial! Legal, né?! E tem muita coisa interessante. A gente fala sobre vários assuntos: as ações do cooperativismo no combate à COVID-19, esse novo momento e muito mais! Acesse agora e confira: http://www.somos.coop.br/revista-coop/

Ney Bittencourt: um visionário que deixou marcas no agronegócio brasileiro

Ney Bittencourt: um visionário que deixou marcas no agronegócio brasileiro

Um homem à frente do seu tempo e preocupado com a sociedade. Era assim Ney Bittencourt de Araújo, engenheiro agrônomo multifacetário que esteve à frente do grupo Agroceres entre 1971 e 1996. Além de empreendedor rural, foi líder e homem público. Sua morte precoce, em 1996 — quando tinha 59 anos —, interrompeu planos e deixou tristeza, mas a sua trajetória ecoa, ainda hoje, como um grande legado. A dedicação de Bittencourt ultrapassou as fronteiras de sua cooperativa e, ainda hoje, serve de inspiração para uma legião de pessoas do agronegócio.
“Ney formou uma geração de lideranças agropecuárias. Pessoas que, mesmo depois de saírem da Agroceres, continuaram atuando e levando a sua visão estratégica de conduzir os negócios”, afirma José Luíz Tejon, que foi diretor de marketing da Agroceres e atualmente dedica-se — entre outras tantas tarefas — à docência nas áreas de Educação e de Agronegócio. “Ney é uma pessoa inesquecível, um gigantesco amigo e espetacular mentor. Era uma pessoa corajosa, com a qual a gente realizava atos de bravura, sempre com um propósito em mente: o bem do país”, recorda com saudade.
A trajetória de Bittencourt gerou um verdadeiro impacto na forma de pensar do agronegócio brasileiro. “Ele tinha uma cooperativa na mão, mas atuava e trabalhava numa dimensão muitas vezes superior à empresa em si. Ele tinha uma visão de praticamente um estadista, como se fosse um presidente da República”’, explica Tejon. “Estar com ele era muito inspirador. Ele era  de uma motivação imensa, dono de uma empolgação enorme!” FILHO DE PEIXE Mineiro de Viçosa, Ney Bittencourt formou-se em Agronomia pela Universidade de Viçosa e em Administração pela American Manegement Association, de Nova York. A perspicácia empresarial corria no sangue. O pai foi o fundador da Agroceres — empresa que colocou no mercado brasileiro os primeiros híbridos de milho. E, como filho de peixe, ele soube como ninguém dar continuidade à proposta inovadora da cooperativa. Investiu na modernização da produção de milho; em sementes de hortaliças, de sorgo e de pastagens; e na suinicultura e na avicultura. Sempre pensava além. [caption id="attachment_75631" align="alignleft" width="193"] Ney Bittencourt de Araújo, fundador da Associação Brasileira do Agronegócio - ABAG (Crédito: ABAG)[/caption]   “Um dos grandes sonhos do Ruy era ver o Brasil dominar o conhecimento e o desenvolvimento da genética e da produção em todo o cinturão tropical planetário”, lembra o amigo Tejon. Visionário que era, Bittencourt lutou por isso e deixou as suas contribuições. Não à toa, Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, organizou um livro todo dedicado a ele. Na obra Dínamo do Agribusiness, lançado em 1995, mais de cem pessoas destacaram as contribuições de Ney ao agronegócio brasileiro. “Ney tinha uma curiosa característica: quem o visse ou ouvisse uma única vez em um seminário, numa conversa ou num debate, guardaria dele para sempre a impressão marcante de semeador formidável. Semeador de ideias que, se a convivência continuasse, germinariam facilmente em magníficas proporções”, escreveu Rodrigues na apresentação da obra.
Incansável, era aquele tipo de pessoa que não parava. Estudioso, disciplinado e autodidata, os amigos contam que ele abria a empresa logo no início da manhã e só saia ao entardecer. E, quando chegava em casa, finalmente, preferia dedicar-se à leitura do que se render ao descanso.
Participava de inúmeros seminários e debates mundo afora. Na década de 1970, já defendia que a forma de pensar a agricultura e a pecuária no Brasil tinha de ser revista. Os métodos tradicionais, para ele, não condiziam com a necessidade do país nem com o papel fundamental que ele tinha no mundo. Era necessária a orquestração de toda a cadeia produtiva, de uma forma sistêmica, que percebesse que a economia agrícola ultrapassava a produção dentro da fazenda. NO MESMO BARCO Ney entendia que a agropecuária era o elo de uma cadeia que movia a ciência, a tecnologia e a indústria. Foi na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que conheceu o conceito de agronegócio — termo que advém da palavra inglesa agribusiness e engloba todas as operações da atividade agrícola, desde a produção até o varejo. Para Ney, essa “era a pedra fundamental para a construção de uma sociedade justa”.   “Ele foi o primeiro a trazer essa ideia para o Brasil”, conta o engenheiro agrônomo e consultor Ivan Wedekin, outro amigo que se lembra com orgulho de Ney. “No Brasil, esse conceito nasceu em uma cooperativa [Agroceres], e não na Universidade”, argumenta. Wedekin tornou-se assessor econômico da Agroceres em 1984 e participou, ao lado de Ney, de seminários em Harvard. Ele se lembra com gratidão daquela época: “Ney podia ter nos colocado para produzir resultado e vender, mas ele dava um tempo para nós estudarmos”. Dessas imersões e dessa relação intelectual, Wedekin e Ney — com Luiz Antonio Pinazza — tiveram a ideia de escrever o primeiro livro nacional sobre agribusiness no Brasil. A obra Complexo agroindustrial: o agribusiness brasileiro foi lançada em 1989. “Todo esse nosso trabalho inicial foi de garimpagem de informações”, explica. “Nós sabíamos da importância e da força do conceito. Tínhamos claro que deveria existir uma convergência de interesses, que não se justificava um conflito entre o agricultor e a cooperativa e a indústria de sementes, por exemplo. Sabíamos que todos estavam no mesmo barco”, acrescenta. “A partir daí, esse conceito se espalhou pelas universidades e faculdades brasileiras, e hoje temos dezenas de MBAs e pós-graduações em Agronegócio. A partir dessa contribuição, nós saímos da era da agricultura para a era do agronegócio”, comemora.
Bittencourt escreveu outros tantos livros e artigos. “Ele tinha essa visão acadêmica. Participava dessa articulação entre o setor privado e o educacional”, pontua Wedekin. O ex-presidente da Agroceres também foi, entre outros, conselheiro de órgãos como o Ministério de Ciência e Tecnologia e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Ele era superespecial, e tenho um sentimento de uma perda muito grande de ele não ter visto todo o sucesso do agribusiness. Mas a semente que ele plantou está aí, vigorosa”, afirma Wedekin. O consultor completa: “é uma pena que o Ney não tenha vivido essa pujança do desenvolvimento do agronegócio brasileiro, que aconteceu a partir da estabilidade da economia, que veio em 1994, com o Plano Real, e depois, com a mudança do regime cambial. Ele morreu antes de o Brasil  se transformar em um dos maiores exportadores mundiais, com o maior saldo da balança comercial agrícola do mundo”, analisa. Tejon acredita que, se Ney estivesse vivo, teria dado outras grandes contribuições ao agronegócio brasileiro. “Os fundamentos de agribusiness ainda não foram completamente dominados no Brasil. Nós tivemos um grande desenvolvimento por meio do cooperativismo, uma vez que as cooperativas se transformaram em cooperativas agroindustriais, e não apenas cooperativas de produção. Mas essa realidade ainda não se aplica a todo o setor do agronegócio”, enfatiza. [caption id="attachment_75630" align="alignnone" width="750"] Crédito: Shutterstock[/caption]   VISÃO HUMANISTA Com uma visão humanista de conduzir os negócios, Ney Bittencourt se comunicava com todo o campo e os centros urbanos. Queria contribuir com o crescimento do país. Sua preocupação era econômica e social. Preocupava-se com o alimento que chegava nas casas brasileiras. “Sempre esteve ligado à formulação de propostas e políticas agrícolas no Brasil. Participava de reuniões com órgãos do governo e todo mundo que traçava a política agrícola brasileira”, relembra Wedekin. Ney liderou, em 1993, a criação da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) com o objetivo de difundir o conceito de agronegócio e destacar, junto a governo, iniciativa privada, entidades de classes e universidades, a importância do trabalho de gestão e gerenciamento de todo o sistema agroindustrial.
Para ele, o agronegócio poderia contribuir com a organização do processo de desenvolvimento sustentado, a integração à economia internacional, a eliminação das profundas desigualdades de renda e dos bolsões de miséria, e o respeito ao meio ambiente.
Ele participou, também, da direção e do conselho de outras 20 entidades nacionais e internacionais ligadas ao agronegócio. Fora do trabalho, era um homem que gostava de música, arte e cultura. “Era muito otimista, um grande contador de causos. Com ele não tinha falta de assunto, gostava de um whisky, da conversa em torno da mesa do bar”, diverte-se Wedekin. Tejon também se lembra de Ney assim. Recorda as noites em que tocava o violão, com o amigo ao lado a cantarolar. “Uma das maiores sortes da minha vida foi ter convivido com o Ney. Era uma personalidade que reunia talento técnico com uma extraordinária visão humana”, avalia. “Graças a ele, fui estudar em Harvard. Fui estudar em Nova York, conhecer o mundo, fazer negociações na Índia”, acrescenta. Daquela época, no entanto, só sobrou um arrependimento: “eu podia ter prestado ainda mais atenção no Ney, porque era simplesmente gigantesca aquela experiência da Agroceres e do convívio com ele”, conclui Tejon.
Esta matéria foi escrita por Tchérena Guimarães e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
Um "S" para chamar de nosso

Um "S" para chamar de nosso

Juntar noivo, irmã, sobrinho, vizinhos e amigos em uma sala de aula foi a forma que a mineira Suzana Durães de Faria, 37 anos, encontrou para desenvolver suas habilidades no quesito finanças. Servidora da Câmara Municipal de Chapada Gaúcha (MG), a cooperada do Sicoob Credichapada se interessou pelo curso de Gestão de Finanças Pessoais (GFP), do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), a partir do material distribuído àqueles que fazem os módulos de educação financeira. A qualidade do kit e das apostilas chamou a atenção de Suzana que decidiu: queria fazer a capacitação. Mas, para isso, ela precisava reunir pelo menos 30 pessoas interessadas no tema e formar uma turma para conseguir que os multiplicadores fossem dar as aulas. A vontade era tanta que, em pouco tempo, ela conseguiu reunir o suficiente para fechar duas turmas de pessoas que, como ela, queriam aprender novas formas de lidar com o próprio dinheiro. Com duração de uma semana, a capacitação fez a diferença na vida financeira de Suzana. Ela conta que, três meses depois do curso, já tinha parado de comprar fiado, uma questão bastante cultural e comum na região. Além disso, conseguiu organizar as contas, pagar as dívidas e agora usa o cartão de crédito para controlar os gastos. “Aprendi a poupar e a comprar à vista. Se preciso parcelar, faço em, no máximo, 3 vezes no cartão, sem juros”, afirma a servidora. Outra coisa importante que inspirou a servidora foi pensar no futuro e garantir um dinheirinho para quando a velhice bater à porta. “Uma coisa que eu nunca tinha pensado era em poupar para aposentadoria. E o curso me despertou isso”, afirma. Na avaliação dela, o GFP é uma capacitação essencial para toda a comunidade. “É um curso muito importante para quem está iniciando a vida financeira. Na minha turma, as pessoas trabalhavam o dia inteiro e, mesmo assim, iam pra aula à noite, a semana toda. Estavam todos bem interessados”, garante. Suzana é só elogios ao Sescoop e à sua forma de garantir educação de qualidade para as comunidades em que as cooperativas estão instaladas. “O Sescoop é muito importante. A qualidade do material do GFP é fora de série. É importante levar informação e conhecimento sobre questão financeira. Ajuda muito a vida da gente. Falo por mim e pelas pessoas próximas que fizeram o curso”, garante. EDUCAÇÃO CONTINUADA Há 20 anos, o Sescoop acompanha de perto as cooperativas brasileiras para oferecer soluções para a sustentabilidade do negócio. E o desenvolvimento humano está no centro desse trabalho.
Para transformar os ideais cooperativistas em atitudes, a atuação do Sescoop é realizada em três áreas: monitoramento das cooperativas, formação profissional e promoção social dos cooperados e suas comunidades."
“As formações oferecidas pelo Sescoop foram fundamentais na minha carreira profissional”, afirma Arlita Zanini, 57 anos, supervisora de Gestão de Pessoas da Frimesa Cooperativa Central. Ela já fez vários treinamentos pelo Sescoop, que trouxeram mais experiência e maturidade para gerir pessoas e processos, além de ajudar na rotina do trabalho. Arlita destaca o MBA Executivo em Gestão Estratégica de Pessoas e o Programa de Desenvolvimento Gerencial. Segundo ela, o curso ajudou a entender a importância do seu papel de líder e o compromisso de construir um ambiente de trabalho harmonioso e inspirador para os colaboradores, sem esquecer da produtividade e dos resultados para a cooperativa.
Esta matéria foi escrita por Lilian Beraldo e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
O que acontece quando uma cooperativa apoia uma startup?

O que acontece quando uma cooperativa apoia uma startup?

Crescer junto é muito melhor do que crescer sozinho. E isso é válido principalmente no ecossistema da inovação, onde cooperação é a palavra-chave entre startups , investidores e aceleradoras . De olho nessa tendência, algumas cooperativas brasileiras lançaram programas para acelerar e contribuir para a consolidação de startups, especialmente no mercado financeiro — as chamadas fintechs. No fim de 2016, o Sicoob Empresas — cooperativa de crédito singular que representa o Sicoob nas regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo — criou uma plataforma inovadora de apoio e incentivo a fintechs, denominada Plataforma.Space  . Por meio da Space, startups em estágio operacional recebem de empresas tradicionais capacitação técnica, apoio com infraestrutura, crédito e acesso ao mercado, com foco no crescimento de clientes e valor agregado para os produtos. Em média, são selecionadas seis startups por semestre. Durante cinco semanas, elas passam por atividades de imersão, comunicação estratégica, treinamentos de relacionamento com investidor e até mesmo internacionalização. Segundo o diretor presidente do Sicoob Empresas RJ, Eduardo Diniz, o objetivo é mapear startups que tenham soluções para aumentar produtividade, diminuir custos, melhorar processos e atrair mais cooperados e negócios para a instituição financeira. Diniz, explica:
“Não diria que somos uma aceleradora em si, mas um programa de incentivo ao crescimento e consolidação de scale ups — empresas que conseguem sustentar um crescimento de pelo menos 20% ao ano, durante um período de três anos seguidos. Somos uma plataforma que tem por objetivo alçar essas empresas ao patamar mais alto possível.
Após três anos de projeto, o diretor relata que foram alcançados excelentes resultados — entre eles, a parceria com dezenas de startups, que se utilizam do Bancoob como core banking  para manter suas contas de pagamentos, realizar transações financeiras, transferências eletrônicas e pagamentos de contas, por meio de Interface de Programação de Aplicativos (API). Segundo Diniz, essas fintechs operam juntas, mensalmente, mais de 1 milhão de transações financeiras com um volume financeiro superior a US$ 30 milhões. Uma das fintechs aceleradas pela Plataforma.Space é o Banco Digital Maré . A startup nasceu com as missões de resolver o problema de inclusão financeira e fomentar o comércio na comunidade do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. É a primeira iniciativa do país para a criação de um sistema de micropagamento com moeda digital, batizada de Palafita. De forma simples e acessível, o objetivo é, por meio de um aplicativo mobile, agilizar pagamentos, transferências e compras de pessoas que não têm conta bancária, e universitários que sejam engajados em projetos sociais e que tenham dificuldade de abrir contas em bancos, por conta das tarifas altas. Além da moeda digital, o banco oferece o cartão pré-pago Maré, que pode ser recarregado e utilizado para compras na internet ou em lojas físicas, e as máquinas POS Maré, que permitem a realização de compras sem o uso de dinheiro. Os serviços financeiros podem ser acessados não somente pelo aplicativo, mas também nos chamados Kioscos, que são os pontos de atendimento onde os clientes são atendidos pelos próprios moradores de suas regiões. Os Kioscos também podem funcionar no comércio, que pode se cadastrar para ser um ponto de atendimento do Maré.   TENDÊNCIAS A aceleração de startups como o Banco Digital Maré e a interconexão com cooperativas são apenas uma face das tendências que estão em curso e podem se consolidar nesse processo. Os atores envolvidos no movimento de inovação projetam ainda a possibilidade de formação no Brasil de um cooperativismo 2.0 e a geração de cooptechs (cooperativas startups), que atuariam de forma mais enxuta, planejando negócios escaláveis com base tecnológica. Mas, para chegar lá, é necessária uma mudança mais profunda na cultura das cooperativas. O propósito é fortalecer o cooperativismo, renovando sua forma de ação para alcançar mais resultados sociais e econômicos. “A inovação começa nas pessoas, não na tecnologia”, declarou Romário Ferreira, sócio de uma empresa dedicada a desenvolver um ecossistema de inovação do cooperativismo no país — a Coonecta. Segundo ele, para fazer isso, é necessário  pessoas com esse mindset, que façam mudar os projetos e com quem as coisas sejam mais ágeis. “Estamos acompanhando esse movimento de perto e queremos contribuir para ter um cooperativismo ainda mais forte, com inovação”,   CAPACITAÇÃO Percebendo a crescente demanda do cooperativismo por novos modelos de gestão e tecnologias inovadoras, a Coonecta especializou-se em promover eventos, workshops e missões nacionais e internacionais para intercâmbio de experiências inovadoras. Um grupo já foi para Nova York, e a próxima viagem prevista é para o Vale do Silício, nos Estados Unidos. A iniciativa surgiu há cerca de quatro anos, idealizada por dois jornalistas que deixaram a profissão de origem e passaram a se dedicar a treinamentos corporativos de empresas do ramo financeiro, como bancos, operadoras de crédito, cobrança, meios de pagamento, entre outras. Nos eventos e congressos de capacitação desse mercado, um fato chamou a atenção dos sócios: a maioria dos participantes era de cooperativas de crédito que buscavam informações para suprir alguma demanda de negócio e se tornarem mais competitivas. “Foi aí que aconteceu o encontro desses mundos. Fizemos uma validação por um tempo, conversando com diversos dirigentes e executivos de cooperativas para entender que é um movimento muito rico, mas carente de inovação”, relata Ferreira. O objetivo da Coonecta é capacitar o funcionário da cooperativa para que ele consiga implantar estratégias e disseminar o conhecimento internamente na instituição, a fim de que ela seja mais inovadora e eficiente nas suas operações. O empresário afirma:
“O cooperativismo nasceu inovador. Ele tem princípios que hoje são buscados por empresas não cooperativas. Do ponto de vista de valores, o cooperativismo está em sintonia com esse movimento atual de inovação.
MAPEAMENTO O Brasil tem cerca de 12 mil startups, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Mas o país ainda não tem um levantamento fechado de quantas delas desenvolvem projetos de inovação em parceria com cooperativas. Para preencher essa lacuna, a OCB está desenvolvendo, em parceria com a Coonecta, um radar de inovação que deve ser lançado ainda este ano. A iniciativa pretende reunir os principais cases de cooperativismo e inovação do país. Segundo o Coonecta, as cooperativas de crédito, agropecuárias e de saúde estão à frente do movimento de inovação. No entanto, outros setores, como o de transporte, também têm desenvolvido projetos inovadores. A maior parte está concentrada no Sul e no Sudeste, mas a tendência é que o movimento cresça em outras regiões do país — como no Centro-Oeste, que já está no radar da empresa. “No crédito,  a gente vê uma busca muito grande por inteligência artificial, blockchain , plataforma mobile. As cooperativas agras têm olhado bastante para isso, buscando soluções de big data e smart farm , por exemplo. É um movimento geral com alguns setores mais avançados comentou Romário. Além da Sicredi Pioneira, Romário cita as experiências da Unimed BH, que lançou um programa para selecionar startups; a Seguros Unimed, que criou uma plataforma para conectar outras unidades do grupo; o Sistema Ailos, que também selecionou startups para suprir as necessidades de negócio de suas 13 cooperativas; a Castrolanda, tradicional cooperativa do mundo agro que promoveu uma semana de inovação e um Hackathon para premiar startups; além da Coopercarga, do ramo transporte, que criou um programa de inovação aberta, e dele surgiu a Cargon , uma nova startup que já tem vida própria. No caso da Sicredi Pioneira, as perspectivas são positivas. A cooperativa quer desenvolver novas plataformas de crédito e aprimorar as existentes, além de fortalecer a cultura de  inovação entre os colaboradores de todas as áreas da instituição.
Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação 
 
“Estamos bem representados em Brasília”

“Estamos bem representados em Brasília”

Mesmo distante de Brasília, no município de Maringá, no interior do Paraná, João Sadão sente que sua cooperativa está muito bem representada no coração do Poder. Gerente de cooperativismo da Cocamar — uma das maiores do Brasil, no ramo agropecuário — ele viu pleitos antigos do nosso setor serem atendidos pelo governo federal, em 2019. Entre eles, a ampliação da participação das cooperativas brasileiras no Programa Selo Combustível Social do Ministério da Agricultura “Antes da atuação da OCB, se a cooperativa não tinha mais de 60% dos produtores de agricultura familiar, não poderia participar e se beneficiar do programa. Agora, conseguimos fazer com que valesse a regra da proporcionalidade. Se uma cooperativa tiver 30% de pequenos produtores com registro de DAP Física  em seu quadro social, ela poderá participar com esses mesmos 30% de agricultores no programa Selo Combustível Social” explica Sadão. A mudança a qual se refere o gestor da Cocamar é fruto de um longo trabalho de negociação. O Sistema OCB — apoiado pela Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) — convenceu o Ministério da Agricultura a ampliar o acesso das cooperativas ao programa Selo Combustível Social, com a publicação das Portarias 144 e 174 de 2019. Com isso, estima-se que pelo menos 40 mil agricultores se tornem, por meio de suas cooperativas, fornecedores do programa. “Isso garante benefícios importantes para os produtores de agricultura familiar, como por exemplo: estímulos tributários, capacitação e assistência técnica”, destaca o dirigente. De acordo com o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, o antigo limite imposto para a DAP Jurídica  deixava dezenas de cooperativas fora do mercado de biocombustíveis, prejudicando milhares de pequenos agricultores cooperados. Isso porque dificilmente uma indústria compra matéria-prima diretamente do pequeno produtor, pela dificuldade de operacionalizar essa aquisição. Nosso presidente destaca:
“Se optasse por realizar compras individuais, com o pequeno produtor, a indústria precisaria lidar com todas as questões relacionados à coleta do produtos, à logística da entrega e à assinatura de centenas de contratos de compra e venda. Para esse público, é muito mais fácil negociar grandes quantidades diretamente com uma cooperativa, até por conta da padronização da qualidade dos produtos negociados.
Hoje, cerca de 123 cooperativas já estão habilitadas a participar do programa como fornecedoras de matéria-prima para a indústria do biodiesel. Em 2018, 61 mil agricultores produziram 3,9 milhões de toneladas de matérias-primas para o Selo Combustível Social — incluindo  soja, mamona e óleos vegetais. As aquisições totalizaram R$ 5,1 bilhões em 2018. Os dados são do Mapa.   REPRESENTAÇÃO POLÍTICA Cooperativista desde jovem, João Sadão afirma sentir-se mais do que representado em Brasília, pela Frencoop e pelo Sistema OCB. “Nós nos sentimos como parte importante deste trabalho. Com uma linha de diálogo aberta e constante, somos comunicados das discussões em andamento, bem como levamos diversas demandas de interesse coletivo para a Frente, via OCB”, destaca.   [caption id="attachment_75573" align="alignnone" width="560"] João Sadão, da Cocamar: “estamos bem representados, em Brasília, pelo Sistema OCB” (crédito da foto: Portal da Cidade Paranavaí)[/caption]   Atualmente, a frente cooperativista congrega  51,1% dos congressistas dessa legislatura. São 268 deputados e 38 senadores de diferentes estados e partidos. O bloco atua de forma coesa e sinérgica, com total apoio da equipe de relações institucionais da OCB, que municia os parlamentares com análises setoriais, subsídios legais, dados e — o mais importante de tudo — com as demandas e os pleitos das cooperativas brasileiras de todo o Brasil. “A Frencoop tem nos ajudado a  sugerir políticas públicas que estimulem o fortalecimento do cooperativismo. Além disso, contamos com eles para tentar barrar projetos de leis conflitantes às cooperativas e aos seus cooperados. Por diversas vezes, conseguimos importantes conquistas para o setor, e isso, sem dúvidas, é a maior prova da relevância e eficácia deste valioso trabalho organizado”, defende o gestor da Cocamar.   NA LINHA DE FRENTE O ex-deputado Odacir Zonta, presidente da Frencoop de 2004 a 2011, afirma que a presença desse bloco no Congresso Nacional trouxe o elo que faltava entre o cooperativismo e o Poder Legislativo. “A partir da Constituição de 1988, quando foram conquistados muitos avanços para o cooperativismo, como o próprio reconhecimento da entidade e do ato cooperativo, foi necessário ter uma ação solidária e efetiva de apoio do cooperativismo no Congresso Nacional”, relembra Zonta que, hoje, é vice-presidente da Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc). Entre as muitas conquistas do Sistema OCB que contaram com o apoio da Frencoop, ele destaca a criação do Sistema S das cooperativas, o Sescoop, e o fortalecimento do cooperativismo de crédito. “Conseguimos, junto ao Banco Central, o reconhecimento do cooperativismo de crédito como parte do sistema financeiro. Depois, mais um avanço, foi a criação de uma diretoria voltada especificamente para o cooperativismo de crédito, com normas específicas e diferenciadas para o setor”, enumera. Motivar os estados e as assembleias legislativas a ter frentes parlamentares do cooperativismo também foi uma conquista. Santa Catarina saiu na frente e foi o primeiro estado a instituir sua frente parlamentar, em 1997. Zonta destaca ainda a criação da Agenda Institucional do Cooperativismo , a partir de 2004. “Foram muitas as conquistas nesse período graças a existência da Frente Parlamentar do Cooperativismo que, ligada a OCB, participa de todos os desafios”, completou.  
 ENTENDA A IMPORTÂNCIA DO SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL Certificação criada em 2005 com dois objetivos: 1) Fomentar a inclusão social e produtiva da agricultura familiar; 2) Estimular a produção de biocombustíveis no país — fonte de energia sustentável, que reduz a emissão de gases poluentes (CO2) na atmosfera. Podem receber o selo as indústrias produtoras de biodiesel que comprovem a aquisição de matéria-prima da agricultura familiar e ofereça — por conta própria ou em parceria com as cooperativas — serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), seguindo os parâmetros definidos pelo governo federal. Em contrapartida, essas indústrias têm reserva de 80% do mercado de biodiesel, além de redução de alguns impostos.
Esta matéria foi escrita por Alessandro Mendes e está publicada na Edição 29 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
 
O Justo Sabor da Cooperação

O Justo Sabor da Cooperação

O homem, a floresta e as águas convivem na mais perfeita harmonia em um pedaço da Floresta Amazônica, localizada no estado do Amapá. Lá, nesse cantinho quase desconhecido do Brasil, fica a primeira cooperativa do mundo (isso mesmo, do mundo) a receber a mais importante certificação de manejo sustentável de florestas do mercado: a Forest Stewardship Council (FSC). Para receber esse cobiçado selo, a Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique (Amazom Bai) teve de provar que produz açaí sem danificar a floresta e sem descuidar do bem-estar de cada um de seus cooperados. “Para conseguir a certificação, tivemos de adotar as melhores práticas na área de segurança do trabalho”, recorda o presidente da cooperativa, Rubens Gomes, um senhor de 59 anos, de longas barbas brancas. Animado, ele destaca:
Hoje, nossos cooperados só entram na floresta com capacete, botas e com a faca dentro bainha, para evitar acidentes. Desde então, nunca mais registramos um acidente de trabalho”.
Músico de formação e empreendedor socioambiental de coração, Gomes é um dos fundadores da cooperativa que, com apenas um ano, já coloca no mercado um produto de alta qualidade, alinhado às melhores práticas de conservação socioambiental. Tudo isso, sem falar na importante função social de gerar emprego e renda digna para as comunidades das oito ilhas que compõe o Arquipélago do Bailique. A Amazom Bai reúne cerca de 98 produtores certificados de 29 comunidades. Juntos, eles conseguem extrair da floresta 2,5 toneladas de açaí por ano.  Tudo isso sem impactar negativamente o meio ambiente. “Por enquanto, estamos comercializando nosso açaí apenas no estado, mas nossa intenção é levar o produto para outros estados e países. Interessados não faltam”.     Já no fim da tarde, quando deixa a floresta para voltar para casa, Gomes admira o açaí colhido no dia e comemora:  “É uma verdadeira alegria ver nossa cooperativa crescer e ser reconhecida”. Satisfeito com os resultados obtidos, ele sonha em ajudar outras cooperativas a mudarem sua prática de consumo e extração de recursos naturais. “Temos de planejar o uso do que a natureza nos dá hoje para garantir às futuras gerações o direito a terem acesso a essas mesmas riquezas”.
FICHA TÉCNICA DO PROJETO: Nome da cooperativa: Amazom Bai Estado: Amapá Diferencial: primeira cooperativa do mundo a receber a mais importante certificação de manejo sustentável de florestas do mercado: o FSC Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que a Amazom Bai ajuda a alcançar  [caption id="attachment_75587" align="alignnone" width="1602"] Foto de arquivo: Amazon Bai[/caption]
Esta matéria foi escrita por Guaíra Flor e está publicada na Edição 23 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação
Histórias que contam resultados

Histórias que contam resultados

  A Casa do Cooperativismo existe por você e para você! E para mostrar um pouco do que temos feito pelas cooperativas brasileiras, todos os anos divulgamos um Relatório de Gestão, com as principais conquistas e números do exercício. Este ano, decidimos dar mais vida a esses resultados. E a melhor maneira de fazer isso é contando as histórias de quem teve a vida impactada por uma ação do Sistema OCB. A partir dos relatos que publicaremos nesta e nas próximas edições da revista Saber Cooperar, esperamos transformar nossos números em pessoas reais; nossos resultados em algo tangível para nossas cooperativas. O objetivo é um só: dar a cada um de vocês a certeza de que o cooperativismo brasileiro está sendo visto, ouvido e muito bem cuidado pelo Sistema OCB.   ENERGIA PARA CRESCER   No interior do Rio Grande do Sul, no município de Teouônia, um pequeno grupo se uniu para levar energia a 150 pessoas que moravam na área rural da cidade. A usina criada por eles em 1956 foi o embrião do que hoje é a Certel, cooperativa de infraestrutura que atende a 70 mil associados em 48 municípios do estado. “Nossa primeira usina gerava energia até as 21h, dava três piscadas e o pessoal ia dormir”, lembra o hoje presidente da Certel, Erineo José Hennemann, sobre o início da empreitada. De lá para cá, a cooperativa cresceu e se tornou grande provedora de soluções para as comunidades. Atualmente, conta com quatro usinas hidrelétricas e uma solar que geraram, em 2019, cerca de 8.300 MWh por mês — o suficiente para fornecer energia elétrica para 62 milhões de pessoas, o equivalente a toda a população da Itália, durante igual período. De olho no futuro, um novo empreendimento de geração de energia limpa já está a caminho (veja quadro). E ele contará com a segurança jurídica necessária para crescer, de forma sustentável, graças a uma atuação política estratégica do Sistema OCB. Nos últimos anos, a Casa do Cooperativismo intensificou o diálogo e a aproximação do setor com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Com isso, conseguimos padronizar os prazos de permissão e autorização de prestação de serviços de distribuição de energia elétrica para as cooperativas. Agora, nossas associadas têm concessão garantida por 30 anos, intervalo de tempo no qual é possível realizar um planejamento estruturante de longo prazo. A medida garante o acesso das cooperativas à subvenção nos casos de baixa carga —  ação que diminui os riscos da atividade econômica e amplia o acesso dessas cooperativas ao crédito. Além disso, elas agora terão acesso a linhas de financiamentos com carência e prazos adequados à atividade. Clara Maffia, gerente técnica e econômica da OCB, explica:
São muitos anos de trabalho árduo, e em 2019, obtivemos um grande avanço com a assinatura do contrato de permissão de 14 cooperativas, finalizando o processo de enquadramento iniciado em 2008. O contrato dá segurança jurídica para a cooperativa continuar a prestar serviços públicos de distribuição de energia com qualidade”
Se antes de poder se planejar a longo prazo, a Certel já se destacava nacionalmente pela qualidade dos serviços prestados, imagine os resultados que ela poderá gerar nos próximos anos? Apenas para você ter ideia, em 2019, a cooperativa foi considerada a sétima melhor distribuidora de energia, entre as mais de 120 distribuidoras do país. A pesquisa foi feita pela Aneel a partir de entrevistas com usuários do sistema. A honraria tem razão de ser. Afinal, a Certel oferece hoje a menor tarifa de energia elétrica do estado do Rio Grande do Sul – 30% menor que a das grandes distribuidoras. Quer mais? A partir dos ganhos conquistados ao longo do ano passado, a cooperativa vai distribuir R$ 10 milhões em bônus de energia aos seus associados, no período de maio a dezembro de 2020. Isso significa mais economia a todos os cooperados por meio de uma conta de energia mais barata. “Quando se fala tanto em aumento de tarifas, a Certel está fazendo o contrário, está reduzindo a tarifa. É a missão do cooperativismo: ter o melhor serviço e uma tarifa menor do que o mercado.”   PROJETO ILUMINADO A partir de uma ação de intercooperação inédita, a Certel lançou, em fevereiro deste ano, o projeto da Hidrelétrica Vale do Leite, que será construída no Rio Forqueta, entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo. Cerca de R$ 45 milhões serão investidos a partir de financiamento do Sicredi de Teutônia, Sicredi de Lajeado, Sicredi de Encantado e Sicredi de Soledade. Isso mesmo! Quatro instituições cooperativas de crédito se uniram à Certel para bancar e levar essa obra para frente. “Cada megawatt gerado nessa hidrelétrica vai substituir um megawatt de energia não renovável como é o caso do diesel ou fontes poluidoras. E para o estado do Rio Grande do Sul representa 1 megawatt a menos que o estado tem de comprar de outros estados”, disse Erineo José Hennemann, presidente da Certel, sobre o início da empreitada. O executivo destaca que a nova usina vai gerar 6,4 MWh – o suficiente para atender 20 mil pessoas por mês. E os ganhos para a comunidade não param por aí.  Além de mais energia disponível para todos, a Certel também se preocupa com a geração de renda local. Por isso, a usina será construída por técnicos da cooperativa. Celebra, Hennemann
Nossa cooperativa tem um corpo técnico especializado em construção de usinas. Com isso, conseguimos gerar emprego e renda para a região”
O prazo para finalização do empreendimento é de 18 meses. O presidente da Certel  destaca, ainda, a importância de se gerar energia próximo às fontes de demanda, ou seja, perto de onde ela será consumida. “É importante porque dá confiança maior ao usuário/associado”, disse, destacando que a Certel tem uma rede de 4,5 mil quilômetros e 8 mil transformadores. Nos próximos anos, a Certel vai continuar mantendo o foco de incremento na geração por meio de energias renováveis (a hídrica, a solar, a eólica, a biomassa) e próximo aos centros consumidores. “Isso reduz investimento em redes de transmissão porque fica próximo a quem precisa da energia”, conclui Hennemann. Atualmente, a cooperativa conta com 500 colaboradores e 200 funcionários contratados por meio de empresas terceirizadas.   DEMOCRACIA ENERGÉTICA Em 2016, o cooperativismo brasileiro comemorou mais uma vitória importante, que contou com a participação direta da Casa do Cooperativismo. Naquele ano, entrou em vigor a Resolução 687/15, que autorizou as cooperativas a produzirem energia renovável para consumo próprio no sistema de compensação Com isso, cooperativas de todos os ramos puderam criar suas próprias usinas de energia renovável para reduzir suas contas de energia, sendo que o excedente pode ser revertido em crédito para o abatimento em contas futuras. “Acreditamos que as cooperativas brasileiras têm potencial para gerar sua própria energia, e que essa  é uma oportunidade de diversificação econômica para o nosso movimento”, explica Clara Maffia, gerente técnica do Sistema OCB. Para divulgar esse pensamento junto à base, a OCB e suas unidades estaduais realizaram 11 workshops regionais sobre o assunto, em parceria com a Confederação Alemã das Cooperativas (DGRV). A Resolução 687/15 da Aneel também permite que um grupo mínimo de 20 pessoas constitua uma cooperativa para produzir a própria energia, que será distribuída na forma de créditos em kWh na conta de luz entre os cooperados, em percentuais previamente aprovados por todos os cooperados. Vale  destacar: antes da publicação dessa resolução, apenas pessoas físicas estavam autorizadas a fazer essa geração, individualmente, para consumo próprio — regra prevista na Resolução 482, de 2012, da Aneel.   ⇒ Baixe a íntegra do Relatório de Gestão 2019 da OCB e veja o vídeo resumo com os resultados do exercício: [embed]https://www.youtube.com/watch?v=6EwFd1Gbuak&feature=youtu.be[/embed]
Essa matéria foi escrita por Lílian Beraldo e Guaíra Flor e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
Lugar de mulher é no cooperativismo

Lugar de mulher é no cooperativismo

  Ampliar a participação feminina no mercado de trabalho e nos espaços de decisão tem sido uma luta abraçada por todo o mundo. Não seria diferente no cooperativismo, modelo de negócios regido por princípios e valores cuja filosofia é buscar um mundo mais igualitário. Apesar de avanços importantes nos últimos anos, não há país no mundo em que exista igualdade econômica entre homens e mulheres. E são as mulheres que estão mais vulneráveis a viver na pobreza. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que, em média, as mulheres recebem 17% a menos por hora de trabalho na América Latina. No Brasil, a diferença é ainda maior: chega a 25%. Segundo o relatório, 80% das tarefas domésticas são feitas por mulheres, o que impede a inserção e a permanência delas no mercado de trabalho, além de marcar sua presença em empregos de menor remuneração e maior flexibilidade. No Brasil, a taxa de participação feminina no mercado de trabalho é de 52,3%, enquanto a masculina é de 72%. Nos últimos anos, o panorama geral é de redução da desigualdade salarial e maior participação das mulheres no mercado de trabalho. Os processos de mudança, entretanto, têm ocorrido em ritmo muito lento, alerta a OIT. COMITÊ DE GÊNERO Na busca por um lugar mais justo, equilibrado e com melhores oportunidades para todos, o cooperativismo está atento à necessidade de acelerar e modificar (para melhor) a situação das mulheres. E essa é uma mudança que está sendo feita de forma global. É por isso que a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) — entidade internacional da qual o Sistema OCB faz parte — criou um comitê de gênero mundial. Segundo a presidente do Comitê de Equidade da ACI, Maria Eugenia Pérez, o intuito é implementar um plano de trabalho que gira sobre 3 eixos:
  1. Normativo — com foco na sugestão de regras que priorizem a igualdade de gênero dentro das instituições cooperativas;
  2. Combate à violência doméstica e violência contra as mulheres — voltado à prevenção desse tipo de agressão, bem como ao apoio e ao acolhimento de cooperadas e colaboradoras cooperativistas que sofram com esse tipo de violência.
  3. Planejamento de projetos produtivos para mulheres — desenvolvimento de projetos e iniciativas capazes de ajudar a inclusão econômica feminina dentro do cooperativismo destaca a colombiana.
Esperamos que as organizações cooperativas de todo o mundo vejam a relevância do que significa trabalhar com as mulheres, estimulando projetos produtivos feitos para elas, com a intenção de colaborar com a inclusão econômica global desse público”
Maria Eugênia aponta, ainda, a importância de as normas cooperativas preverem políticas de fomento à equidade de gênero nos cargos de direção, bem como o empoderamento das mulheres. “Já no tema violência contra mulheres, queremos que as cooperativas assumam protocolos com seus associados e colaboradores para prevenir a violência de gênero. E que hajam normas que favoreçam a participação feminina no interior das cooperativas”, completou Maria Eugenia, que também é diretora executiva da Associação Colombiana de Cooperativas. As organizações de cooperativas dos diferentes países podem se inscrever para fazer parte do Comitê de Equidade como membro. Hoje, o comitê é formado por integrantes da República Dominicana, Índia, Finlândia, Espanha, Bulgária e África do Sul. [caption id="" align="alignnone" width="1200"] Crédito: ShutterStock[/caption]
BOAS PRÁTICAS
A ACI vem desenvolvendo estratégias — a partir do plano de trabalho do comitê de gênero — para ampliar a participação e a visibilidade das mulheres no interior das organizações de representação cooperativistas. O desafio é fazê-las participar, de maneira igualitária e equitativa, nos organismos de decisão e de poder do nosso movimento. Desde 2018, a ACI criou políticas internas que preveem o aumento do número de mulheres em seus conselhos. Além disso, ficou estabelecido que a presidente do Comitê de Equidade faça parte do Conselho de Administração da ACI. Maria Eugenia lembra que, na história recente, “tivemos mulheres como Pauline Green e Monique Leroux que ocuparam os cargos de presidente do Conselho de Administração da ACI e presidente da ACI Mundial”.  MAIS INCLUSÃO Em todo o mundo, as cooperativas são mais inclusivas do que outros modelos econômicos e dão mais oportunidades às mulheres para enfrentar as barreiras que frustram a igualdade de gênero. Relembra a presidente do comitê, Maria Eugenia  
Não podemos esquecer que as cooperativas foram as primeiras formas empresariais e associativas que efetivamente deram  à mulher igualdade de direitos com os homens e deram a oportunidade de pertencer a uma empresa, de fazer parte, de ser dona de uma empresa”
O cooperativismo, desde sua criação, tentou assegurar, a mulheres e homens, igualdade de oportunidades. “Ainda que tenhamos avançado de forma fundamental nos últimos  30 anos, nós temos hoje a responsabilidade de reclamar alguns espaços que não foram possíveis para as mulheres anteriormente, como de administração, de direção. Antes, era raro encontrar uma mulher que participava desses cargos administrativos. Avançamos ao ponto de já ter nesses lugares mulheres que ocuparam uma presidência mundial. Muitas mulheres são gerentes, muitas são presidentes de conselhos”, analisa Maria Eugenia sobre o quadro do cooperativismo no mundo.   PODER PARA ELAS Na avaliação da colombiana, a presença de mulheres em espaços de direção não é só um direito, como é a própria prática dos princípios e valores cooperativos. “É a possibilidade de fazer inclusão econômica e permitir que homens e mulheres atuem em uma estratificação que é de todos, é de propriedade coletiva, e em que nós, mulheres, temos um papel fundamental. Em quase todas as cooperativas estamos muito próximo, ou superamos, os 50% dos membros”, diz. Mais do que um exercício democrático de respeitar proporcionalidades, ela acredita que as mulheres precisam romper barreiras e exercer sororidade — conceito essencial no movimento feminista que significa estimular o apoio entre as mulheres destaca: Nós, mulheres, temos toda a possibilidade, capacidade intelectual para poder desempenhar os espaços diretivos das cooperativas e o que precisamos é romper barreiras, arriscar-nos a concorrer a processos eletivos (não importa se vamos ganhar ou não), aprender a nos organizar, fazer pactos com outras mulheres e mostrar que somos relevantes, importantes para as organizações, não só para o serviço como para gestão"  
Essa matéria foi escrita por Lílian Beraldo e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
   
Crise em 2020

Crise em 2020

  Os números da safra de grãos que estamos colhendo em 2020 são animadores: um volume de 249 milhões de toneladas — ou 3,10% a mais que a safra do ano passado, que já foi recorde. A área plantada cresceu 1,2% — nem um terço do crescimento da produção —, ou seja, aumentou a produtividade por hectare plantado. E isso significa que os produtores rurais brasileiros continuam a incorporar novas tecnologias, ano após ano. O caso da soja é exemplar. Vamos colher algo em torno de 125 milhões de toneladas (10,4% acima da colheita de 2019), enquanto a área semeada cresceu só um quarto disso, 2,6%! E não é só nesses grãos que colhemos bons frutos. Os cafeicultores devem colher 57 milhões de sacas, ou 22,3% mais do que no ano passado. Claro que aqui tem a influência da bianualidade das colheitas, mas o aumento é muito sólido. Ora, as cooperativas tiveram — e sempre terão — papel preponderante no processo de inovações, por uma razão doutrinária evidente: elas oferecem aos seus cooperados os insumos realmente indicados para cada região e cultura, sem se preocuparem com o lucro que obterão com essas vendas. O resultado traduz-se em menor custo de produção e maior produtividade para o produtor. Este é o papel das cooperativas: são um instrumento para a melhor sustentabilidade e competitividade de seus associados. Portanto, elas já cumpriram parte considerável de sua missão até aqui, neste 2020. Agora, no entanto, surge um fator de desequilíbrio nos mercados: o novo coronavírus. Provavelmente haverá um esfriamento da economia, dadas as medidas adotadas em todos os países afetados pelo vírus, do fechamento de logradouros públicos (restaurantes e bares, cinemas, teatros, academias e estádios), ao cancelamento de congressos, seminários, espetáculos e demais eventos de aglomerações, à suspensão de aulas em todo tipo de instituições de ensino, ao colapso de muitas empresas de serviços, e assim por diante. Tudo isso vai produzir desemprego, queda de renda; haverá redução do consumo das famílias e os preços poderão cair.
As cooperativas, mais do que nunca, precisarão estar atentas a isso para mitigar os efeitos perversos na renda dos cooperados. Terão que financiar estoques porque, quando a crise passar, as coisas voltarão ao normal, e é preciso sobreviver até lá. Mas não fica só nisso."
As cooperativas financeiras devem criar modelos de crédito para ajudar, tanto na cidade quanto no campo, àquelas pessoas físicas e jurídicas que ficarem “sem ar” durante a permanência da pandemia. Já as cooperativas médicas, sem a menor dúvida, terão uma responsabilidade enorme nessa guerra pela vida. Não nos esqueçamos de que é nas grandes crises que o cooperativismo se agiganta. Estamos entrando em uma crise enorme!
Essa matéria foi escrita por Roberto Rodrigues, embaixador especial da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação para o cooperativismo  e publicada na edição 29 da revista Saber Cooperar. Leia a reportagem na íntegra.
 

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