Senado celebra 50 anos do ensino superior em cooperativismo no Brasil
Audiência pública reconheceu papel da educação cooperativa para o desenvolvimento
A Comissão de Educação e Cultura (CE) do Senado Federal realizou, nesta quarta-feira (8), audiência pública para celebrar os 50 anos do ensino superior em cooperativismo no Brasil. O debate destacou a importância histórica da criação do primeiro curso de bacharelado na área, oferecido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e o papel das instituições de ensino e das cooperativas na formação de profissionais e no desenvolvimento sustentável.
A audiência integrou a programação de encerramento do 8º Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (EBPC), evento que reúne especialistas, acadêmicos e representantes do movimento cooperativista para discutir os avanços Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado e perspectivas da pesquisa e da inovação no setor. O EBPC reforça o vínculo entre ciência, gestão e política pública. A integração estimula a criação de soluções inovadoras e sustentáveis, amplia a competitividade do setor e contribui para o desenvolvimento econômico e social do país
A comemoração também ocorreu em um momento histórico para o cooperativismo: 2025 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional das Cooperativas. Autora do requerimento, a senadora Professora Dorinha Seabra (TO), integrante da Frencoop, ressaltou a relevância do tema e compartilhou sua experiência com o cooperativismo ainda à frente da Secretaria de Educação do Tocantins.
“Na época, o governo do estado tinha a intenção de transformar todas as escolas públicas em escolas cooperativas. A partir dessa proposta, comecei a estudar o tema, visitar experiências existentes e compreender que o modelo cooperativo não nasce de uma decisão governamental — ele nasce da própria sociedade, da vontade das pessoas de se organizarem em torno de um propósito comum”, destacou a parlamentar.
Dorinha lembrou que a proposta buscava dar autonomia às escolas, fortalecendo a gestão e a participação das famílias no processo educativo. “Avançamos bastante, a ponto de permitir que cada escola pudesse realizar pequenas obras, com valores de até 450 mil reais, diretamente geridos pela própria unidade”, afirmou.
Valorização do modelo cooperativo
A senadora reforçou a necessidade de maior valorização do modelo cooperativo no país. “O Brasil ainda precisa avançar muito na compreensão e valorização do cooperativismo. Não é um modelo que se impõe por decreto, mas uma forma de gestão profundamente transformadora — tanto no campo econômico quanto no social e educacional”, acrescentou.
A parlamentar encerrou evidenciando o avanço da curricularização da extensão em universidades do Tocantins, como a Universidade Federal do Tocantins (UFT), e o apoio que destinou à Escola de Extensão. “Essa integração tem trazido resultados muito positivos e contribuído para difundir os valores cooperativistas entre os jovens”, afirmou.
Para o senador Flavio Arns (PR), “o sistema cooperativo do Brasil é referência para outros países. As cooperativas fortalecem a economia local, promovem inclusão social e desenvolvimento sustentável em todas as regiões onde atuam”, afirmou.
Representando o Sistema OCB, Remy Gorga Neto, presidente do Sistema OCB/DF e conselheiro do Sescoop pela região Centro-Oeste, também celebrou o marco histórico. Formado pela UFV, ele salientou que profissionais especializados em cooperativismo são essenciais para instituições públicas e privadas. “Precisamos desmistificar a sociedade orientada pela competição e trabalhar a cooperação como valor central. As universidades, com seus cursos de cooperativismo, têm papel decisivo nesse processo de formação e transformação cultural”, disse.
Importância do ensino cooperativista
Diversos especialistas também participaram do debate e reforçaram a relevância do cooperativismo na formação profissional e cidadã no país:
“A inclusão do cooperativismo nos currículos promove valores de cooperação, solidariedade e responsabilidade social, e preparam cidadãos para uma economia mais justa e solidária. Os cursos superiores e técnicos capacitam profissionais para aplicar práticas de governança, transparência e sustentabilidade nas cooperativas”, declarou Kristiane Mattar Accetti Holanda, analista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“O cooperativismo tem uma transversalidade muito grande, e é fundamental que suas ações sejam inseridas nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação. Formar profissionais com espírito de cooperação é essencial para o desenvolvimento do país”, afirmou Demetrius David da Silva, reitor da UFV.
“Inserir o cooperativismo de forma transversal nos currículos significa preparar nossos estudantes não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida em comunidade, para o empreendedorismo coletivo e para a cidadania cooperativa,” disse Mariana Ramos Reis Gaete, coordenadora-geral de Planejamento Acadêmico, Pesquisa e Inovação do Ministério da Educação (MEC).
“A elevada demanda pelos nossos cursos mostra que há um enorme interesse pela formação em cooperativismo. Precisamos de políticas públicas e recursos específicos para fortalecer essa oportunidade de ensino e pesquisa que transforma realidades,” destacou Marta Von Ende, diretora do Colégio Politécnico da UFSM.
“O curso de gestão de cooperativas da UFRB nasceu da demanda da sociedade civil, que enxergou na educação uma forma de fortalecer associações, cooperativas e empreendimentos da economia solidária no interior da Bahia,” declarou Eliene Gomes dos Anjos, professora e pesquisadora da UFRB.
"Se o cooperativismo é tão vital para o Brasil, seu ensino deve ser visto como um diferencial estratégico, e não apenas como uma disciplina optativa. A formação em cooperativismo, em todos os níveis, garante a longevidade e a profissionalização do movimento, formando gestores capazes de equilibrar os aspectos econômico e social. Ao incluir esse tema nos currículos, a educação brasileira cumpre um papel fundamental, difundindo valores éticos, promovendo a formação cidadã e incentivando o empreendedorismo coletivo", acrescentou Vilmar Rodrigues Moreira, professor da PUC/PR.
“Nossa faculdade é voltada para o alinhamento entre a academia e a prática, dando ênfase a docentes e instrutores que estão na ponta, dentro das cooperativas. Atuamos na graduação, pós-graduação, extensão e pesquisa, sempre buscando incentivar a inovação e o desenvolvimento das cooperativas, com o objetivo de construir comunidades melhores e fortalecer o movimento cooperativista,” finalizou Paola Richter Londero, professora e pesquisadora da Escola Superior do Cooperativismo (Escoop).