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Painéis da COP30 discutem impacto social, conservação e permanência no território amazônico
A COP30 reforçou, nesta terça-feira (18), que o cooperativismo é peça-chave para impulsionar a bioeconomia, valorizar serviços ambientais e ampliar ações de restauração florestal no Brasil. Em debates realizados na Green Zone e na Agri Zone, representantes de cooperativas, governo, setor privado e instituições parceiras mostraram como o modelo coop transforma riqueza ambiental em oportunidades econômicas, renda, permanência no território e adaptação climática.
PSA e permanência no território
Moderado pelo coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo, o painel realizado no estande do Governo
Federal na Green Zone intitulado de O modelo cooperativo como impulsionador da agenda climática no Brasil, destacou o avanço da regulamentação do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).
A diretora do Ministério do Meio Ambiente (MMS), Bruna de Vita, foi uma das painelistas e lembrou que o reconhecimento dos serviços ambientais é essencial para manter atividades sustentáveis no campo e na floresta. Ela lembrou, porém, que o PSA precisa vir acompanhado de crédito, assistência técnica e inovação: “Precisamos de um conjunto de políticas públicas que compreenda os desafios da Amazônia”.
Já o assessor da Cooperacre, Alberto “Dande” de Oliveira Tavares voltou a apresentar o caso da Cooperacre, que atende cerca de 5 mil famílias. “A cooperativa nasceu para garantir renda, logística e permanência no território”, disse. Ele reforçou o pioneirismo do Acre em políticas de PSA. “É possível valorizar a floresta em pé e quem vive dela. A cooperativa organiza, inova e faz alianças”, acrescentou.
Gicarlos Souza de Lima, gerente Comercial da Reca, por sua vez, explicou como sistemas agroflorestais consolidados há décadas se tornaram referência em restauração de áreas antes degradadas. Em seguida, Eduardo Nicolau, da Natura, falou sobre o programa de PSA da empresa em parceria com a Reca, que já destinou R$ 11 milhões e conservou 4,2 milhões de hectares. “O PSA não é a renda principal, mas aumenta a capacidade de investimento das famílias e incentiva que os jovens permaneçam no território”, afirmou.
Restauração florestal e água
Na Agri Zone, o painel Cooperar para Recuperar: Restaurando Áreas Degradadas e Nascentes, moderado pelo coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB, Eduardo Queiroz, destacou iniciativas de recomposição florestal, manejo
sustentável e segurança hídrica.
O presidente do Conselho de Administração da Coopercitrus, Matheus Kfouri Marino, enfatizou a integração entre agricultura eficiente e restauração. “Não existe restauro de nascentes sem agricultura regenerativa”. A Fundação Coopercitrus já restaurou mais de mil nascentes e recuperou 400 hectares. “O produtor deixa de ser apenas consumidor e passa a ser também produtor de água”, afirmou
Representando a cooperativa Coomflona, Arimar Feitosa Rodrigues explicou como o manejo comunitário da Flona do Tapajós garante regeneração natural e amplia a legalidade. “Nós cuidamos da floresta porque vivemos nela”. A cooperativa reúne 27 comunidades e possui movelaria e indústria licenciada para agregar valor.
A coordenadora da Cresol Horizonte, Kelly Ramos, apresentou ações no Vale do Ribeira (PR) para melhorar produtividade e conservação em áreas de bubalinocultura. “Sustentabilidade gera resultado direto dentro da propriedade”, afirmou.
O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Eduardo Pavão, por sua vez, alertou para a urgência da adaptação climática. “O agricultor já sente as ondas de calor, a irregularidade de chuvas e a pressão por mais resiliência. Precisamos de sistemas agrícolas com proteção contra extremos climáticos. Não é para daqui a 20 anos — é para agora”.
Bioeconomia e PSA: cooperativas como base da transformação
No painel Coopera+, sobre cooperativismo e novos modelos de negócio para impulsionar a bioeconomia, promovido pela ABDI, na Green Zone, o Sistema OCB apresentou iniciativas que estruturam cadeias produtivas da sociobiodiversidade na
Amazônia. A analista de Sustentabilidade do Sistema OCB, Laís Nara Castro, reforçou que o cooperativismo é uma das principais forças de proteção da sociobiodiversidade brasileira. “O cooperativismo permite que as comunidades permaneçam na floresta, garantam renda com manejo sustentável e preservação dos ecossistemas. As cooperativas funcionam como guardiãs da floresta em pé porque conseguem transformar a biodiversidade em oportunidade econômica sem romper com a natureza”, afirmou.
O assessor da Cooperacre, Alberto “Dande” de Oliveira Tavares, falou sobre a importância da verticalização e da industrialização regional. “A Amazônia não pode continuar exportando só matéria-prima bruta. A Cooperacre mostra que é possível agregar valor no território e gerar renda para milhares de famílias”, afirmou. Para ele, as políticas públicas e alianças institucionais são determinantes. “O cooperativismo é o modelo mais eficaz para enfrentar a emergência climática e a desigualdade social ao mesmo tempo”, complementou.
Representando o setor privado, Izabella Gomes, coordenadora de Sustentabilidade da Natura, destacou o trabalho em rede e o financiamento Amazônia Viva, que combina crédito e fundo filantrópico. “Sozinha, nenhuma instituição faz verão. Trabalhar em rede é o único jeito de ampliar impacto”. Ela explicou que o mecanismo já destinou R$ 26 milhões a 15 cooperativas, com 100% de adimplência. “O crédito só funciona porque as cooperativas são organizadas e têm governança”.
A diretora de Sustentabilidade da ABDI, Perpétua Almeida, lembrou o potencial econômico da bioindústria amazônica. “A floresta tem riqueza — precisamos de investimento para que ela gere renda para quem vive nela”.
Iniciativas conectam floresta, inovação e desenvolvimento
O superintendente do Sistema OCB/PA, Júnior Serra, participou do painel Bioeconomia Regenerativa: Soluções para sistemas produtivos circulares, resilientes e de baixo carbono, realizado no Pavilhão Pará da Green Zone. Convidado pela Natura, ele destacou que discutir bioeconomia na Amazônia passa, necessariamente, pelo fortalecimento do cooperativismo e mostrou iniciativas que nasceram no Pará e hoje possuem escala nacional, como o Programa NegóciosCoop, que conecta cooperativas a mercados privados e institucionais.
Serra também ressaltou o novo foco da Organização Estadual na assistência técnica cooperativista, essencial para apoiar a transição de modelos convencionais para práticas baseadas em bioinsumos e sistemas agroecológicos. “Reafirmamos o protagonismo das cooperativas para manter a floresta em pé, valorizar nossos povos tradicionais e impulsionar soluções que contribuem para o desenvolvimento sustentável do Pará e do mundo”, declarou.
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Painel na Green Zone destacou práticas sustentáveis, inovação e inclusão produtiva no campo
O painel Transição Climática na Agricultura, promovido pelo Sebrae na Green Zone, deu início às atividades do cooperativismo na COP30 nesta terça-feira (18). O encontro reuniu representantes de instituições do agro para discutir adaptação climática, sustentabilidade e o papel do cooperativismo na agricultura tropical. Tania Zanella, superintendente do
Sistema OCB e presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), foi a medidora. Em sua fala de abertura, ela lembrou que os efeitos do clima já fazem parte da rotina produtiva e que o Brasil tem experiências sólidas para compartilhar. “Não posso deixar de ressaltar o que as cooperativas fazem nesse tema. É uma agricultura que produz, preserva e se adapta”, afirmou.
Agricultura tropical e soluções brasileiras
O painel contou com a participação de Romélia Moreira de Souza, do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA); Antônio Carlos de Souza Lima Neto, superintendente do Sebrae Goiás; Daniel Trento do Nascimento, chefe da assessoria da Presidência da Embrapa; e Nelson Ananias Filho, coordenador de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Romélia apresentou o papel histórico do IICA no fortalecimento das agendas agrícolas das Américas e o respeito internacional pelo modelo brasileiro de produção. Segundo ela, há crescente interesse externo em entender como o país alia competitividade, diversidade produtiva e práticas de conservação. “Quando viajamos, vemos que o olhar para o Brasil é de respeito e curiosidade. O mundo quer aprender com a agricultura tropical”, afirmou.
Antônio Carlos reforçou a importância da integração entre instituições para levar inovação ao campo, especialmente aos pequenos negócios. Ele apresentou iniciativas do Polo Sebrae Agro, que organiza soluções, capacitações e curadorias
tecnológicas para produtores de todo o país. “Se hoje o Brasil é reconhecido pela sua agropecuária, isso se deve à ciência, à tecnologia e ao esforço conjunto de entidades como Embrapa, CNA, cooperativas e tantos outros parceiros”, disse.
Na mesma linha, Daniel Trento mostrou como a trajetória da agricultura tropical brasileira é marcada pela adaptação, conceito central para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. Ele destacou a presença inédita da Agri Zone, vitrine tecnológica criada pela Embrapa, cooperativas e demais entidades, a menos de dois quilômetros da Green Zone. “Ali, sistemas de plantio direto, ILPF, manejo de pastagens e cultivos de baixo carbono são apresentados de forma prática aos visitantes. Com ela, depois de 30 COPs, finalmente conseguimos mostrar presencialmente o que é agricultura tropical. É tecnologia em uso, não apenas discurso”, afirmou.
Sustentabilidade como prática cotidiana
Nelson Ananias reforçou que mais de 90% das propriedades rurais brasileiras são de pequenos e médios produtores e que muitos deles já adotam práticas sustentáveis sem sequer nomeá-las assim. Ele lembrou que o cumprimento do Código Florestal e a adoção de sistemas de baixo carbono fazem parte da rotina produtiva. “O produtor rural protege rios, preserva vegetação e produz alimento. Muitas dessas ações precisam ser reconhecidas e valorizadas”, declarou.
Ao encerrar o painel, Tania chamou atenção para a necessidade de superar a falsa divisão entre pequenos, médios e grandes produtores. “Nossa agricultura é uma só. Todos estão incluídos no propósito de produzir aliado ao de preservar”, afirmou. Segundo ela, o cooperativismo é fundamental para a produção agrícola porque gera escala, renda e acesso a mercados. “Por trás das grandes marcas cooperativas estão pequenos produtores que, sozinhos, jamais chegariam às gôndolas ou ao mercado internacional. A cooperativa transforma essa realidade”
Para a superintendente, a agenda de adaptação precisa avançar com instrumentos de financiamento, políticas públicas, governança e ações que cheguem ao pequeno produtor. “Se queremos escala, precisamos apoiar quem está na ponta. O
cooperativismo tem mostrado que esse caminho é possível, sustentável e inclusivo”, concluiu.
Roberto Rodrigues é homenageado por cooperação Brasil–Japão
A superintendente Tania Zanella também participou da homenagem prestada ao ex-ministro da Agricultura, ex-presidente do Sistema OCB e enviado especial da COP30 para a Agricultura, Roberto Rodrigues, pela Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz).
O reconhecimento celebrou sua longa trajetória em defesa do cooperativismo e sua contribuição decisiva para o estreitamento das relações Brasil–Japão, especialmente no desenvolvimento de sistemas agroflorestais sustentáveis. “É uma justa homenagem a quem tanto contribuiu e continua contribuindo para o fortalecimento da nossa agricultura”, afirmou Tania.
Durante a cerimônia, pesquisadores, representantes da comunidade nipo-brasileira e dirigentes da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta) lembraram a influência direta de Rodrigues na consolidação do modelo agroflorestal de Tomé-Açu, referência nacional e internacional em bioeconomia.
Ao receber a homenagem, o ex-ministro agradeceu emocionado, reforçou sua admiração pelo povo japonês e afirmou que seguirá comprometido com o fortalecimento das parcerias que impulsionam o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
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Projeto Coopera+ Amazônia amplia governança, assistência e investimentos em cadeias extrativistas
A COP30 foi marcada, nesta segunda-feira (17), por uma presença forte e estratégica do cooperativismo brasileiro, tanto na
Green Zone quanto na Agri Zone. Um dos momentos marcantes do dia foi o lançamento do Coopera+ Amazônia, iniciativa do governo federal para fomentar cooperativas extrativistas da Amazônia Legal. O anúncio, realizado no pavilhão do BNDES na Green Zone, com a presença do Sistema OCB, reuniu autoridades e lideranças que reforçaram o papel das cooperativas na bioeconomia e no desenvolvimento territorial da região.
Com R$ 107,2 milhões em investimentos, sendo R$ 103,5 milhões do Fundo Amazônia (via BNDES) e R$ 3,7 milhões do Sebrae, o projeto apoiará cooperativas do Pará, Rondônia, Maranhão, Acre e Amazonas, selecionadas com apoio do Sistema OCB, que também participará do projeto com soluções voltadas à conformidade e ao modelo de gestão das cooperativas. O projeto-piloto beneficiará 3.350 famílias com ações voltadas à inovação, assistência técnica, gestão, governança, integridade e aquisição de máquinas e equipamentos.
O evento reuniu o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Memp), Márcio França, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, além de representantes do MMA, MDIC e BNDES. 
Para Alckmin, o fortalecimento das cooperativas amazônicas é decisivo para alavancar uma nova economia baseada na floresta em pé. “"O Coopera+ Amazônia marca um novo ciclo de desenvolvimento na Amazônia. Fortalece quem vive da floresta, amplia renda e leva inovação para dentro das cooperativas. Assim construímos um modelo de desenvolvimento que protege, inclui e gera prosperidade", afirmou.
Também no pavilhão do BNDES na Green Zone,o representante da Cooperacre Alberto “Dande” de Oliveira Tavares, participou de painel que tratou do papel do Fundo Amazônia como estratégia para incluir cada vez mais o cooperativismo no repasse de recursos. “O modelo de sociobioeconomia baseado no cooperativismo é o que pode entregar as respostas urgentes que a Amazônia necessita. Diversificar a base produtiva traz segurança, gera renda e garante resiliência às famílias extrativistas”, destacou.
A agenda do Sistema OCB na Green Zone também contou com a visita do ministro Márcio França ao estande do cooperativismo no Espaço da Sociobiodiversidade organizado pelo Memp, onde ele ressaltou o cooperativismo como arranjo produtivo essencial para a inclusão socioeconômica e a valorização das comunidades amazônicas.
Pecuária sustentável apoiada pela ciência
Na Agri Zone, o cooperativismo esteve representado no painel Pecuária – As conquistas e os desafios dos sistemas pecuários brasileiros, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com a participação do Sicoob. Durante o
encontro, pesquisadores da Embrapa apresentaram evidências e soluções para uma pecuária cada vez mais sustentável e integrada às estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas.
Presente no painel, o consultor de agronegócios do Sicoob CCS, Fernando Luiz Vidigal, destacou a parceria do cooperativismo de crédito com a Embrapa na qualificação de técnicos e produtores para uma pecuária de baixo carbono. De acordo com ele, o Curso de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) tem se destacado como forma de capacitar profissionais para levar ao campo tecnologias e métodos de manejo que ampliam a produtividade, promovem bem-estar animal e contribuem para a captura de carbono. “A união entre Sicoob e Embrapa traz ao produtor soluções reais que aumentam a eficiência e garantem sustentabilidade ao sistema produtivo da carne no Brasil”, afirmou
O pesquisador Fernando Flores Cardoso, chefe da Embrapa Pecuária Sul, citou como sistemas baseados em pastagens nativas, predominantes no Pampa, Pantanal e campos de altitude, podem unir conservação ambiental, geração de renda e eficiência produtiva. Ele lembrou que o manejo adequado, aliado a tecnologias acessíveis, pode multiplicar por até dez a produtividade por hectare e reduzir pela metade a intensidade de emissões.
Segundo Fernando, “a pecuária sustentável precisa ser vista como um sistema integrado, que combina eficiência produtiva, conservação de solo e água, redução de emissões e dinamização econômica dos territórios”. Ele também reforçou que a maioria dos pecuaristas brasileiros adota boas práticas e tecnologias que contribuem para metas climáticas e para o aumento do sequestro de carbono.
O painel também abordou resultados de pesquisas sobre fixação biológica de nitrogênio, genética voltada para animais mais eficientes e estratégias de manejo, como pasto sobre pasto e recuperação de áreas degradadas, elementos essenciais para uma pecuária de baixo carbono.
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Fórum evidencia urgência de fortalecer atuação frente aos eventos climáticos extremos
A Casa do Seguro na COP30 debateu, nesta segunda-feira (17), a urgência de ampliar o acesso ao seguro e fortalecer a atuação das cooperativas em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais desafiador. A abertura do Fórum de
Sustentabilidade em Cooperativismo e Seguros reuniu lideranças nacionais e internacionais para discutir caminhos que garantam proteção, resiliência e segurança alimentar ao país.
Na abertura, Tania Zanella, superintendente do Sistema OCB e presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), destacou a conquista histórica que permite que cooperativas brasileiras atuem no modelo securitário, uma agenda construída em parceria com a CNseg e aprovada esse ano no Congresso Nacional. “Durante décadas, as cooperativas foram impedidas de operar em seguros no Brasil. Com muito diálogo e articulação, conseguimos mudar esse cenário. Agora, temos a oportunidade de transformar também a cultura do seguro no nosso país, como já acontece em diversos lugares do mundo”.
Ela reforçou que o cooperativismo brasileiro tem resultados concretos que merecem ser conhecidos. “As cooperativas que vão passar por aqui mostram todos os dias o quanto estão transformando a vida dos brasileiros. Temos desafios grandes, especialmente no seguro rural, que precisa de uma reestruturação profunda. Mas seguimos com coragem e estratégia para avançar”, complementou.
Seguro rural e cooperativismo: protegendo o futuro da alimentação
O primeiro painel da tarde discutiu como o seguro rural e o cooperativismo são fundamentais para garantir a estabilidade da produção e a segurança alimentar, especialmente em países em desenvolvimento. Moderado por Clara Maffia, gerente de
Relações Institucionais do Sistema OCB, o encontro reuniu especialistas do Brasil e do exterior.
Para Andres Elola, presidente da Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos -ICMIF Américas e gerente-geral da Surco Seguros, o cooperativismo e o seguro compartilham a mesma lógica de solidariedade, apoio mútuo e gestão responsável. “O seguro é ideal para o cooperativismo. Eles compartilham valores e propósitos. E isso fica evidente quando os problemas aparecem. Governança sólida, dispersão do risco e foco no bem comum tornam o modelo altamente eficiente”.
Elola ressaltou que eventos extremos estão mudando a dinâmica global e ampliando a necessidade de mecanismos de proteção. “Há muito por fazer, mas o mundo cooperativo tem força: 26% da oferta de seguros no mundo é regulada pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI). No Brasil, as cooperativas já são responsáveis por 50% da produção de grãos no agro. Não tem como falar em seguro rural sem falar em cooperativismo.”
A experiência da Coopercitrus foi apresentada pelo presidente do Conselho de Administração, Matheus Marino, que detalhou como a cooperativa utiliza tecnologia, assistência técnica e proximidade com o produtor para reduzir riscos e ampliar a
prosperidade no campo. “O seguro é parte essencial da gestão do negócio. Como estamos no dia a dia das propriedades, conhecemos solo, clima, genética, manejo e o nível de capacitação do produtor. Isso reduz muito o risco. E quando reduz o risco, reduz o custo da operação. Para o cooperado, isso faz toda a diferença”, explicou.
Ele lembrou ainda que a adoção de práticas ambientais também depende de instrumentos de proteção. “Se queremos estimular restauração, emissão de títulos verdes e serviços ambientais, precisamos de seguros específicos que deem sustentação a compromissos de longo prazo. Sem isso, muitas iniciativas não conseguem avançar.”
O painel contou também com a participação de Leonardo Botelho Ferreira, chefe do Departamento de Relacionamento Internacional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que destacou que a entidade já destina quase 20% de seus repasses via cooperativas, número que tem crescido ano a ano. “As cooperativas chegam aonde as instituições tradicionais não chegam e, por isso, são tão estratégicas. Em um cenário de maior risco climático, o seguro se torna essencial para proteger o balanço das instituições financeiras e garantir acesso ao crédito com condições melhores”, declarou.
O deputado Fernando Monteiro (PE) reforçou o desafio de modernizar a legislação e acelerar a regulamentação de instrumentos que deem segurança ao produtor. “Precisamos aprender a conviver com as mudanças climáticas, não a combatê-las. O seguro rural é fundamental para garantir produção, renda e segurança alimentar. E precisamos avançar em temas como seguro de catástrofe e políticas que premiem quem contrata seguro”, salientou.
Cooperativismo e mercado segurador frente aos desastres climáticos ![54930777526 3e1e1f0f3d w 6bcc0]()
O painel seguinte tratou da integração entre o cooperativismo e o mercado segurador na gestão de riscos climáticos e na recuperação de territórios impactados. O subsecretário do Ministério da Fazenda, Vinicius Brandi, destacou que cooperativas têm maior facilidade em adotar práticas sustentáveis e gerar ganhos de eficiência compartilhados. “A força da coletividade traz resultados. Seguro e cooperativismo, cada um à sua maneira, promovem inclusão, governança, prevenção e resiliência. E isso está totalmente alinhado com a agenda econômica sustentável do país.”
Para Ivo Kanashiro, superintendente de Sustentabilidade da Mapfre, o seguro é hoje o principal mecanismo financeiro de adaptação climática. “Sem seguro, não existe adaptação. O setor tem expertise para analisar riscos e usar tecnologia e dados — inclusive inteligência artificial — para proteger negócios e democratizar o acesso à informação. Quem ganha é o produtor, que passa a entender melhor seu próprio risco”, disse.
Alexandre Englert Barbosa, diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, reforçou o impacto do cooperativismo na resposta a desastres, citando a atuação no Rio Grande do Sul e no recente tornado no Paraná. “O seguro traz tranquilidade ao associado no momento mais difícil. E a cooperação faz o resto: conectar pessoas, agilizar soluções e reconstruir comunidades. Temos muito a avançar em cultura de seguro no país, mas a COP30 mostra que estamos no caminho”, argumentou.
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Produtos da floresta conectam visitantes ao potencial econômico e ambiental do movimento
A primeira semana da COP30 mostrou que, enquanto o mundo debate metas climáticas, a Amazônia já oferece soluções concretas por meio do cooperativismo. Nas oficinas oferecidas nos pavilhões instalados na Agri e Green Zones, e
nas mostras de Biodiversidade coordenada pelo Memp (Green Zone) e em parceria com a Natura (Agri Zone), cooperativas de agricultura familiar, artesanato, biojoias, cacau, café e turismo comunitário apresentaram ao público práticas que conciliam geração de renda, preservação ambiental e identidade cultural.
As experiências — conduzidas por mulheres artesãs, ribeirinhos, jovens empreendedores e produtores tradicionais — revelaram que a transição climática depende de modelos colaborativos capazes de manter a floresta em pé, valorizar saberes locais e fortalecer economias comunitárias. As oficinas e exposições de produtos continuam até o dia 21/11 e a expectativa é aumentar ainda mais o número de pessoas que se conectam ao coop a partir do conhecimento de seus produtos.
Oficinas conectam saber ancestral, inovação e clima
As oficinas de artesanato, gastronomia e biojoias reuniram cooperativas de diversas regiões, entre elas Sicredi (chocolates e biojoias), Mulheres de Barro, Cresol, Bordana, Copamart, Sicoob (degustação de café robusta, chocolate e queijo Canastra) e Renda. Crianças, jovens, pesquisadores, turistas e visitantes lotaram as atividades, que apresentaram desde técnicas de
cerâmica ancestral até bordados inspirados na fauna brasileira.
A Cooperativa Mulheres de Barro, de Parauapebas (PA), emocionou os participantes ao
mostrar a origem de suas peças, produzidas a partir de iconografias arqueológicas de mais de seis mil anos. A presidente, Sandra Santos, destacou a importância da presença na conferência. “Aprendemos que nosso lugar não é só na bancada produzindo. É também nas discussões de política pública. Estar na COP30 é mostrar que nosso artesanato tem história, identidade e um caminho sustentável.”, afirmou.
Sandra explicou ainda o compromisso ambiental do grupo: coleta de argila apenas em obras licenciadas, pigmentos naturais produzidos com minérios descartados e embalagens sustentáveis com papelão reaproveitado e sementes de árvores nativas.
A oficina da Bordana, de Goiás, atraiu visitantes brasileiros e estrangeiros. A presidente Celma Gracie reforçou a autonomia feminina proporcionada pelo modelo cooperativo, “Na Bordana, as mulheres aprendem a bordar e se tornam donas do próprio negócio. Estar na COP30 é estratégico para mostrar que o cooperativismo transforma vidas”, declarou.
O estudante Luís Santos, da Universidade Federal do Pará, viveu sua primeira experiência com o bordado. “Nunca imaginei que pudesse existir uma cooperativa de artesanato assim. A oficina me trouxe calma e abriu minha cabeça para outras formas
de viver da arte”, disse. O norte-americano Jesse Swann-Quinn, morador de Boston, também se surpreendeu. “Eu sempre admirei o bordado, mas nunca aprendi. Mesmo com pouco tempo, foi muito divertido. E pensar no cooperativismo aplicado às artes e ofícios é inspirador”, acrescentou.
A Copamart, de Manaus, levou oficinas com sementes recicladas. “O artesanato está sendo valorizado, e isso nos faz muito felizes. Houve grande procura nas duas oficinas”, contou a presidente Terezinha Ribeiro. Entre os participantes estava a produtora Val Bezerra, de Roraima. Ela resumiu a experiência: “Estou amando. Descobri um mundo novo sobre cooperativismo, clima e respeito à natureza”.
A Sicredi apresentou chocolates e biojoias produzidas por comunidades ribeirinhas. A artesã Sílvia Rodrigues Rosa, da Ilha do Combu, reforçou a importância do apoio da cooperativa. “O Sicredi não esquece da gente. Somos pequenos empreendedores e, graças a esse incentivo, conseguimos crescer mantendo a floresta em pé”, declarou.
A oficina do Sicoob, por sua vez, virou ponto de encontro, com degustações de chocolate, café e o tradicional queijo Canastra. Igor Freitas, da Associação dos Produtores de Queijo da Canastra, celebrou a oportunidade. “Ver o cooperativismo num evento desse tamanho é fantástico. Lá na Canastra, a comunidade inteira vive o trabalho conjunto”, completou.
Produtos da sociobiodiversidade encantam
No espaço de Biodiversidade coordenado pelo Memp, cooperativas da Amazônia e de outras regiões como a Camta, Cooperacre, Recca, Coostafe, D’Irituia, Campax, Coopatrans e Turiarte — exibiram chocolates premium, biojoias, óleos vegetais, artesanato, produtos florestais não madeireiros e alimentos regionais.
A coordenadora do Sistema OCB/PA, Alessandra Ribeiro, explicou a curadoria do espaço. “Queremos mostrar a força das cooperativas do Norte — do artesanato às cadeias agrícolas. A procura por sementes, biojoias e chocolates superou todas as expectativas. Já estamos repondo produtos que esgotaram”, contou entusiasmada.
A presidente da Turiarte, Natália Dias, destacou o valor da participação. “Estamos fazendo networking, conquistando clientes e divulgando o turismo de base comunitária. Para uma cooperativa ribeirinha, estar aqui é trazer nossa voz para o mundo”, afirmou.
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Painel na Blue Zone debateu como aproximar recursos climáticos de quem atua no território
No início da tarde deste sábado (15), o Pavilhão Brasil, na Blue Zone da COP30, recebeu o painel Estratégias para descentralizar e democratizar o financiamento verde, discussão que reuniu representantes do cooperativismo, governo e
instituições multilaterais para tratar de um dos temas centrais da agenda climática: como fazer com que os recursos destinados à transição ecológica cheguem, de fato, a quem implementa soluções no território.
O debate foi moderado pelo Sistema OCB, que evidenciou os desafios de aumentar os financiamentos climáticos e de como fazer com que os recursos cheguem a quem precisa, e contou com a participação de Alexandre Englert Barbosa, diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, que representou o cooperativismo de crédito no Brasil; Terence Gallager, chefe de Saúde Financeira do BID Invest; Tiago Peroba, chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional do BNDES; e Alessandra Fajardo, diretora de Sustentabilidade do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Alexandre Barbosa destacou as diferenças estruturais entre o cooperativismo de crédito e as instituições financeiras tradicionais, ressaltando que as cooperativas são sociedades de pessoas, com -torna o relacionamento mais próximo e qualificado, permitindo que as soluções financeiras sejam construídas a partir das necessidades reais de cada membro e contribuam diretamente para o desenvolvimento local. “Quando atendemos um associado, estamos atendendo o dono da instituição — e isso muda completamente a forma de operar”, afirmou.
Barbosa também apresentou dados que reforçam o crescimento e a relevância do cooperativismo de crédito no Brasil e no mundo. São 67 mil cooperativas de crédito globalmente, reunindo 412 milhões de pessoas, e, no Brasil, mais de 21 milhões de membros e presença em metade dos municípios — sendo a única instituição financeira em 469 deles.
Ele lembrou que estudos recentes mostram impactos econômicos significativos nas regiões onde as cooperativas atuam, como aumento do PIB per capita, geração de empregos, surgimento de novos empreendimentos e redução da vulnerabilidade social. “Esse desempenho se soma ao avanço do crédito verde, ao apoio ao empreendedorismo e às parcerias com instituições como o BNDES e organismos multilaterais, o que reforça o papel do cooperativismo como motor de desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Agentes descentralizadores ![Cooperativismo destaca caminhos para ampliar acesso ao financiamento verde]()
Na sequência, Terence Gallagher evidenciou o papel decisivo das cooperativas brasileiras como agentes descentralizados capazes de conectar recursos de financiamento climático a projetos sustentáveis nas comunidades que mais precisam. Ele explicou que a capilaridade do cooperativismo — aliada à sua atuação próxima de pequenos negócios e pequenos produtores — é essencial para transformar intenção climática em impacto real. Gallagher citou o avanço expressivo do crédito verde no Brasil, incluindo os R$ 90 bilhões investidos por cooperativas em 2024, e afirmou que “o cooperativismo entrega exatamente o que a agenda climática exige: inclusão, escala e resultados concretos para quem vive e produz no território”.
Terence também apresentou a estratégia do BID Invest para ampliar o financiamento climático na América Latina e detalhou os quatro pilares que orientam o modelo: alinhamento de políticas, transparência, inovação e gestão de riscos. Como exemplo prático, apresentou a Rede Financeira para a Amazônia, que passou de 24 para mais de 60 membros em dois anos e reúne cooperativas, bancos e instituições de microfinanças comprometidos em investir na prosperidade das comunidades amazônicas. “Quando unimos ambição pública e ação privada, o capital flui e a transformação acontece”, afirmou.
Protagonismo
Tiago Peroba, por sua vez, falou sobre a atuação do banco como protagonista do financiamento climático no Brasil e reforçou a longa parceria com o cooperativismo de crédito, fundamental para ampliar o alcance das políticas públicas. Ele
apresentou números que evidenciam essa integração: dos 96 bilhões de reais destinados pelo BNDES à economia verde nos últimos dois anos e meio, mais de 19,7 mil operações foram realizadas por meio de cooperativas e bancos cooperativos — mais de 50% de todas as operações verdes do período. “A capilaridade das cooperativas é decisiva para levar crédito a municípios do interior e a produtores que não seriam alcançados por outras instituições, tornando o cooperativismo peça central na descentralização do financiamento sustentável”, descreveu.
O dirigente também chamou atenção para o crescimento exponencial da atuação cooperativista como repassadora das linhas do banco. Em 2004, as cooperativas movimentaram R$ 200 milhões em operações do BNDES; em 2024, esse volume saltou para R$ 37 bilhões, resultado direto do fortalecimento da parceria com o Sistema OCB desde 2020. Peroba destacou ainda que 71% das 758 mil operações aprovadas pelo banco nos últimos dois anos e meio foram realizadas via cooperativas de crédito. “Esse desempenho confirma o papel estratégico das cooperativas na expansão do crédito para micro e pequenas empresas, agricultura familiar e iniciativas de baixo carbono, além de abrir novas oportunidades em linhas como Fundo Clima, Fundo Amazônia e instrumentos de garantias”, completou.
Harmonização de métricas ![Cooperativismo destaca caminhos para ampliar acesso ao financiamento verde]()
Na última fala do painel, Alessandra abordou o papel do CEBDS na articulação entre grandes empresas, ciência e formuladores de políticas para acelerar a agricultura regenerativa no Brasil. Ela explicou que a harmonização de métricas é hoje o principal gargalo para escalar investimentos sustentáveis, já que a diversidade de metodologias inviabiliza comparações e dificulta o reconhecimento mútuo entre diferentes atores da cadeia. “A harmonização deve caminhar junto com políticas agrícolas consistentes e com a capacidade de aproximar o financiamento de quem realmente precisa dele: pequenos e médios produtores”, defendeu.
Alessandra chamou atenção para o desafio de aproximar financiadores e produtores, lembrando que, apesar de haver trilhões de dólares disponíveis globalmente para a agenda climática, os recursos continuam sem chegar à ponta. “O dinheiro existe, mas faltam instrumentos adequados e alguém disposto a assumir o risco dos primeiros anos da transição sustentável”, afirmou. Ela salientou o papel das cooperativas para destravar esse processo, especialmente na cobertura de tickets menores, na redução de riscos e na democratização do crédito verde.
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Participação reforçou que sustentabilidade começa nas famílias e no trabalho das cooperativas
O painel Café – tecnologia que transforma. Raízes que preservam, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nesta sexta-feira (14), reuniu lideranças e especialistas para discutir como tradição, sustentabilidade e inovação caminham juntas na cafeicultura brasileira. Entre os destaques do encontro, a apresentação de Isabela Azevedo,
cafeicultora e agente de negócios da Cooperativa dos Produtores Rurais de Ibicoara e Chapada Diamantina (Coopric), emocionou o público ao mostrar como a força das raízes familiares e o papel da cooperativa estão impulsionando uma cafeicultura regenerativa e de alta qualidade na Bahia.
Ao iniciar sua fala, Isabela destacou a honra de representar a Chapada Diamantina e a Coopric em um painel nacional. Ela apresentou sua trajetória como gestora da Fazenda Boa Terra, uma pequena propriedade em Brejo dos Aguiar, construída sobre práticas agroecológicas herdadas de seu pai — pioneiro em sistemas sombreados com grevílias, cedro australiano e bananeiras. Segundo ela, essa história pessoal explica a solidez dos princípios que conduzem seu trabalho. “Sustentabilidade, para nós, é antes de tudo investimento em pessoas. Café é sobre relação. Tudo o que fazemos nasce das nossas raízes e da forma como cuidamos uns dos outros”, descreveu.
A cafeicultora recordou que a propriedade da família alcançou reconhecimento nacional em 2018 ao ganhar o prêmio de Melhor Café do Brasil pela Piatã Coffee, mesmo antes de adotar um sistema estruturado de produção de especiais — um marco que impulsionou a transição definitiva para o café de qualidade. E que, ao assumir a gestão da Coopric em 2019, passou a liderar iniciativas que fortalecem a governança, ampliam a visão dos jovens rurais e consolidam boas práticas ambientais e produtivas.
Ela destacou os resultados de projetos realizados com apoio da OCB e CNA, como o laboratório de provas instalado na cooperativa. “Hoje nossos jovens são classificadores e degustadores certificados. Eles provam o café, entendem o resultado de cada prática no terreiro, percebem na xícara o impacto da colheita, secagem e armazenamento. Isso muda perspectivas e gera futuro”, ressaltou. Outro avanço importante apontado por Isabela foi a consultoria para avaliar a adequação de produtores à certificação em café ecológico e regenerativo pela Reinforce, criando caminhos reais para ampliar mercados e agregar valor.
Isabela sublinhou ainda um modelo inovador de atuação: a Coopric não possui marca própria de café. A estratégia, segundo ela, é fortalecer as marcas dos pequenos produtores, preservando suas histórias e identidades. Todas elas, explicou, são fruto de sistemas agroecológicos ou regenerativos. A cafeicultora também lembrou que a Indicação Geográfica Chapada Diamantina ampliou o turismo rural e valorizou as famílias produtoras, permitindo que visitantes vivenciem a experiência do café na origem. “É maravilhoso servir um café debaixo de uma árvore para quem quer entender de onde ele vem. As pessoas buscam a origem, e nós temos orgulho de mostrar”, concluiu.
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Painel na Green Zone mostra como biogás, energia solar e crédito verde reduzem emissões
O protagonismo do cooperativismo brasileiro na transição energética foi o foco do painel Cooperativas e descarbonização: protagonismo na transição energética justa promovido no Pavilhão do Coop, na Green Zone da COP30 neste sábado (15). O encontro reuniu cooperativas de diferentes regiões do país que apresentaram soluções concretas em energia renovável,
gestão de resíduos, finanças sustentáveis e inovação tecnológica. As falas evidenciaram como o modelo cooperativista já está na linha de frente da agenda climática.
Mediado por Otávio Balzani, pesquisador da Embrapa, o debate reuniu Alex Macedo, coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB; João Alderi do Prado, presidente da Creral; Milton José Dalmolin, diretor vice-presidente da Coopernova; Volmir Kennedy, diretor da Coopenad e conselheiro do Sicoob São Miguel; e Alexandre Englert Barbosa, diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi. “É muito simbólico ver ciência, tecnologia, cooperativismo e sustentabilidade caminhando juntos, com experiências que saem do piloto e ganham escala, geram renda, qualidade de vida e justiça climática nos territórios”, destacou Balzani.
Energia própria
Alex Macedo exibiu um panorama da presença das cooperativas na transição energética. Segundo ele, mais de 20% delas já geram parte da sua própria energia, por meio de empreendimentos de infraestrutura ou a partir do reaproveitamento de resíduos. “Estamos falando de cerca de 906 cooperativas, com 550 MW de potência instalada, o que seria suficiente para atender, em consumo médio, aproximadamente 402 mil pessoas”, explicou.
Ele lembrou que essa atuação se distribui principalmente entre cooperativas de infraestrutura, mas também em cooperativas de crédito e do agro. O coordenador também abordou soluções estruturadas pelo Sistema OCB, como a Energia Cooperativa, que oferece formação, consultoria in loco e diagnóstico energético para reduzir consumo, custos e emissões, e o Programa Neutralidade de Carbono, que apoia cooperativas na elaboração de inventários de gases de efeito estufa, publicação em registro público, planos de descarbonização e geração de créditos de carbono. “O cooperativismo já é parte
da solução e quer ampliar sua contribuição”, declarou.
Casca de arroz
João Alderi do Prado detalhou a experiência da Creral, que atua com hidrelétricas, usinas solares e uma termelétrica a casca de arroz no Rio Grande do Sul. A cooperativa já produziu mais de 1,3 milhão de MWh em suas usinas, com destaque para a planta de São Sepé, que utiliza a casca de arroz – antes um resíduo problemático – como fonte energética. A partir da cinza gerada, a Creral desenvolveu uma inovação que permite micronizar casca e cinza para produzir polímeros que substituem plásticos derivados de petróleo e para uso em concreto, em substituição à cinza de carvão mineral.
“Transformamos um passivo ambiental em energia limpa, produto de alto valor agregado e novas receitas, com potencial de replicação em qualquer região produtora de arroz”, explicou . A experiência rendeu prêmios internacionais de energia limpa e deu origem a parcerias comerciais, inclusive na venda de créditos de carbono e no fornecimento de energia para outras cooperativas de crédito e agropecuárias.
Usinas fotovoltaicas
Da Amazônia Legal, Milton José Dalmolin mostrou como a Coopernova, no norte do Mato Grosso, tem usado a energia solar para reduzir custos, apoiar a pecuária leiteira e fortalecer o vínculo com os associados. A cooperativa já instalou cinco usinas fotovoltaicas em diferentes fases, para atender lojas, unidades industriais, estruturas administrativas e, sobretudo, produtores organizados em tanques comunitários de resfriamento de leite. Entre 2022 e 2025, as usinas geraram mais de 1,4 milhão de kWh, com economia superior a R$ 1,6 milhão frente ao valor de mercado, em um investimento de R$ 2,75 milhões e payback médio de cerca de dois anos.
Dalmolin exemplificou o resultado na ponta: “Um produtor que entrega 15 mil litros de leite por mês viu o custo de energia cair de 10–12 centavos para cerca de 2 centavos por litro. Isso representa mais de R$ 14 mil de economia no ano, dinheiro
que fica na propriedade e volta para a cooperativa”. Ele ressaltou que a Coopernova financia e instala as usinas, sem exigir investimento direto do cooperado. “Nós trazemos economia, fidelização e tiramos geradores a diesel das propriedades. Quem entra no programa passa a produzir com menos emissão, mais competitividade e mais perspectiva de permanecer no campo”, completou.
Gestão de resíduos
O tema da gestão de resíduos e do biogás foi o foco da apresentação de Volmir Kennedy, da Coopenad, cooperativa criada em Salgado Filho (PR) para enfrentar um problema comum às pequenas propriedades com alta concentração de suínos e aves: o destino dos dejetos. A partir da organização de 44 produtores, a cooperativa estruturou uma usina de biogás e uma fábrica de fertilizantes orgânicos e organominerais, capaz de tratar 4,5 milhões de litros de dejetos suínos por mês e cerca de 600 toneladas mensais de cama de aviário. “Tratamos 97% dos dejetos do município e evitamos a emissão de cerca de 7.500 m³ de metano por dia na atmosfera, um gás muito mais agressivo que o CO₂”, destacou.
Segundo Kennedy, além de resolver problemas de contaminação de solo e água e de odor nas comunidades, o projeto viabilizou a ampliação de novas granjas, reduziu custos com adubação e logística e melhorou a qualidade de vida e as condições para a sucessão familiar. “Individualmente ninguém teria condições de fazer um investimento desse porte, mas juntos os produtores transformaram um problema sério em oportunidade de renda, inovação e desenvolvimento local”.
Café carbono neutro
Para encerrar o painel, Alexandre Barbosa detalhou a estratégia de finanças sustentáveis do Sicredi, que combina capilaridade, inovação e acesso a crédito verde para pequenas propriedades e micro e pequenas empresas. Com cerca de 440 bilhões de reais em ativos, 270 bilhões em carteira de crédito, mais de 3 mil pontos de atendimento e 9,7 milhões de associados, o sistema estruturou um framework de finanças sustentáveis que orienta aplicações em agricultura de baixo carbono, energia renovável, produção rural familiar, mulheres empreendedoras e outros segmentos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Barbosa apresentou ainda o caso do Café Carbono Neutro, projeto piloto desenvolvido em Minas Gerais com uma cooperativa de produção e 10 produtores, em uma área de 215 hectares e produção de 6,8 mil sacas de café. A iniciativa combinou financiamento, assistência técnica e certificação de carbono neutro por entidade independente, com práticas como controle biológico de pragas, uso de plantas de cobertura, preservação de mata nativa e energia solar, resultando na redução de 935 toneladas de CO₂ equivalente.
“Quando conectamos produtor, cooperativa, conhecimento técnico, financiamento e um mercado disposto a pagar por produtos sustentáveis, mostramos que é possível gerar renda e, ao mesmo tempo, reduzir emissões. É assim que o cooperativismo ajuda a transformar a transição energética justa em realidade concreta nos territórios”, concluiu.
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Participação enfatizou justiça regulatória, custo de oportunidade e inclusão produtiva
O Sistema OCB marcou presença, nesta quinta-feira (13), em um dos debates mais estratégicos da programação da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na Blue Zone da COP30. O consultor ambiental do Sistema OCB, Leonardo Papp, participou do painel Mercado de Carbono: o que é prioridade para o agro?, e reforçou a visão técnica do cooperativismo para uma inserção justa e eficaz do setor na economia de baixo carbono.
Papp destacou que o mercado de carbono só será bem-sucedido se promover benefícios ambientais reais, com redução concreta de emissões de gases de efeito estufa (GEE), e se estiver ancorado em justiça social. “O mercado de carbono precisa equilibrar eficiência econômica e equidade social. As soluções devem considerar os contextos locais e respeitar desigualdades regionais para que ninguém fique para trás”, afirmou.
Um dos pontos centrais apresentados pelo consultor foi a necessidade de tropicalizar as metodologias utilizadas no mercado de carbono. Ele explicou que modelos importados de realidades europeias frequentemente ignoram características fundamentais da agricultura tropical, como múltiplas safras anuais, plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta e a enorme diversidade climática do Brasil. “As metodologias precisam valorizar práticas de baixo carbono já consolidadas no país, reconhecendo a inovação e o protagonismo da agricultura tropical”, defendeu.
Outro tema abordado foi o aperfeiçoamento do conceito de adicionalidade, que deve levar em consideração legislações
ambientais distintas entre os países. O consultor ressaltou que o Brasil possui regras mais rígidas que a média global e que isso precisa ser incorporado aos critérios internacionais. “É fundamental garantir justiça regulatória. Obrigações legais brasileiras representam esforços adicionais e devem ser valorizadas nos projetos de carbono”, acrescentou.
Papp também chamou atenção para a necessidade de precificar corretamente o custo de oportunidade da conservação, assegurando que países em desenvolvimento não sejam prejudicados por mecanismos de mercado que limitem a produção sem oferecer compensações justas. Além disso, apontou como prioridade superar o alto custo de transação que atualmente impede pequenos produtores de acessar o mercado de carbono. E, nesse ponto, ressaltou o papel decisivo do cooperativismo. “As cooperativas ampliam escala, reduzem barreiras financeiras e garantem transparência. São a estrutura mais preparada para incluir pequenos produtores na economia verde”, declarou.
Ao final do painel, Papp reafirmou o protagonismo do cooperativismo na agenda climática apresentada na COP30. “Com mais de 1 milhão de produtores rurais cooperados somente no ramo agropecuário, o modelo demonstra capacidade real de democratizar o acesso ao financiamento climático, impulsionar práticas sustentáveis e apoiar uma transição justa para toda a cadeia produtiva”.
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Painel debateu impactos e soluções práticas adotadas pelo movimento para a sustentabilidade
O painel Cooperativas constroem um mundo melhor: soluções climáticas centradas nas pessoas, realizado nesta sexta-feira (14), no Pavilhão do Coop na Green Zone, reuniu lideranças globais do movimento cooperativista para debater
caminhos concretos para enfrentar a crise climática a partir do território, da inclusão e da democracia econômica. O encontro reuniu representantes de diferentes regiões do mundo e reforçou o cooperativismo como um modelo produtivo que alia eficiência econômica, responsabilidade ambiental e justiça social.
O presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Ariel Guarco, afirmou que a essência do cooperativismo sempre esteve ligada ao uso responsável dos recursos e à vida em comunidade. “Nosso compromisso com a sustentabilidade não começou há 30 anos, como a COP, nem há 25 anos, como a Agenda 2030. É desde sempre. Desde o momento em que decidimos que nossas empresas cooperativas precisavam produzir e consumir de outra maneira, cuidando da saúde do planeta”, resumiu.
O dirigente apresentou a iniciativa Pacto Global para uma Nova Economia, que estabelece a meta de que, até 2035, todas as cooperativas incorporem sustentabilidade ambiental em seus programas e avancem rumo à neutralidade de carbono.
“Quando pensamos coletivamente e focamos no impacto para as próximas gerações, construímos um mundo melhor”,
concluiu.
O presidente da ACI Américas, José Alves de Souza Neto, falou sobre o contexto da Amazônia, território compartilhado por nove países e marcado por potência socioambiental e vulnerabilidades intensificadas pela crise climática. “Não há lugar mais simbólico que Belém, no coração da Amazônia, para falar sobre o papel das cooperativas. Aqui, biodiversidade, cultura e ciência convivem com desafios profundos, e o cooperativismo mostra sua força quando está verdadeiramente enraizado na vida das pessoas”, afirmou.
Para ele, em todo o continente, as cooperativas atuam desde muito antes das exigências regulatórias em práticas de mitigação e adaptação: agricultura regenerativa, manejo sustentável, bioinsumos, geração distribuída renovável, crédito climático, economia circular e gestão de resíduos, entre outras. “A diferença do cooperativismo é clara: não operamos sobre os territórios, operamos a partir deles”.
José Alves também detalhou como cooperativas ajudam a responder às diferentes expressões da crise climática no continente — secas severas, furacões, desertificação, eventos extremos, perda de solos férteis — funcionando como infraestrutura social permanente e resiliente.
Representando os Estados Unidos, Douglas O’Brien, presidente da National Cooperative Business Association (NCBA CLUSA), reforçou com dados e exemplos que as cooperativas são estratégias estruturais para mudanças reais. “Se governos, empresas ou qualquer ator quiser promover mudanças climáticas em grande escala, as cooperativas são a melhor solução”. Ainda de acordo com ele, um terço da população americana é associada a alguma cooperativa e 92% dos condados mais pobres do país são atendidos por cooperativas, locais onde empresas tradicionais não chegam.
Por fim, o presidente do Sistema OCB/PA, Ernandes Raiol, reafirmou que as cooperativas da região já implementam práticas de reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, agrofloresta e energia limpa muito antes de esses temas ganharem centralidade nas discussões internacionais. “A COP veio dizer ao mundo algo que já sabemos há muito tempo: o cooperativismo da Amazônia saiu na frente. Temos SAFs consolidados, energia limpa, manejo sustentável e cooperativas que transformam o território com responsabilidade ambiental e dignidade econômica.”
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Painel na Blue Zone destacou iniciativas que conectam inovação, produção e preservação
O cooperativismo mostrou, nesta quinta-feira (13), em painel realizado na Blue Zone da COP30, que o cooperativismo já tem respostas concretas para o desafio climático. Com o tema O que o Brasil já faz?, o debate promovido Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Sistema OCB enfatizou como o modelo de negócios acelera a adoção de tecnologias de baixo carbono e amplia a capacidade do país de produzir mais, garantir a preservação e gerar impacto positivo nas comunidades rurais.
Fabíola Nader Motta, gerente-geral da OCB, ressaltou o papel estratégico do cooperativismo na transição para uma economia de baixo carbono e na disseminação de boas práticas no campo. “O cooperativismo é um aliado essencial para fazer as novas tecnologias chegarem mais rápido ao produtor. As cooperativas têm capilaridade, descentralizam o financiamento climático e garantem que os recursos e as inovações cheguem aonde realmente fazem a diferença”, destacou.
A dirigente lembrou que as cooperativas brasileiras contam com mais de 9 mil técnicos atuando diretamente no campo, o que permite transformar conhecimento em resultado prático e acelerar a adoção de tecnologias sustentáveis. “Cooperativas reúnem milhares de produtores — em sua maioria pequenos — que, por meio da cooperação, conseguem acessar crédito, assistência técnica e mercados diferenciados. É uma grande rede de troca de boas práticas, que amplia a produtividade e reduz emissões”. 
Para Fabíola, a atuação cooperativa é o elo entre a ciência e o produtor. “O cooperativismo conecta o conhecimento à prática. Ele faz com que a inovação saia do laboratório e chegue ao campo, permitindo que o Brasil avance com base em soluções sustentáveis, inclusivas e regenerativas”, concluiu.
Durante o painel, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apresentou as tecnologias de monitoramento por satélite que auxiliam o país a acompanhar o uso e a cobertura do solo, dados fundamentais para o cumprimento das metas de redução do desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa.
A Embrapa, por sua vez, apresentou o Programa Soja Baixo Carbono, que cria um protocolo de certificação de sistemas de produção com menor intensidade de emissões. A iniciativa, apoiada por grandes empresas do agronegócio e cooperativas paranaenses, deve chegar ao mercado em 2026, com possibilidade de ampliação para outras cadeias produtivas, como milho, trigo e carne.
As discussões ainda destacaram plataformas como o Adapta Brasil, desenvolvida em parceria com o Inpe, que mede o nível de vulnerabilidade e capacidade adaptativa de diferentes regiões do país frente aos riscos climáticos.
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Coop mostra como impulsiona inovação, financiamento verde e tecnologias sustentáveis
O quarto dia da COP30 na Green e Agri Zone evidenciou como o cooperativismo brasileiro está presente em diferentes dimensões da agenda climática. Três painéis marcaram a quinta-feira (13): Ecossistemas de desenvolvimento territorial sustentável: criação de redes para impulsionar a bioeconomia no Brasil, com especialistas de diferentes áreas; Cooperativas e pequenos negócios – experiências para o financiamento das comunidades locais, sobre crédito inclusivo e desenvolvimento regional; e Soja de Baixo Carbono, que discutiu tecnologias sustentáveis na agricultura tropical.
Bioeconomia e desenvolvimento territorial
Inovação e financiamento foram o principal foco do primeiro painel. A proposta foi discutir estratégias que impulsionem o desenvolvimento territorial sustentável, ampliem o acesso a mercados e estimulem modelos econômicos regenerativos, com
base na integração entre cooperativas, empresas, academia e instituições de fomento. Entre os convidados, o gerente de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional, Jeconías Rosendo da Silva Júnior, reforçou a importância de incluir novos atores na agenda climática. “Temos a missão de concretizar a cidadania climática, fazer com que cada um perceba que é destinatário de direitos e deveres climáticos. E isso não é possível sem envolver as micro e pequenas empresas e as cooperativas, que estão na base dos territórios”, afirmou.
Jeconías também destacou ações do Sebrae voltadas à bioeconomia amazônica, como iniciativas em Belterra e Santarém (PA) e o projeto Ali Coop, desenvolvido em parceria com o Sistema OCB. “Existe um interesse muito grande em estudar os movimentos necessários para tornar a bioeconomia um motor de desenvolvimento da região amazônica, preservando a floresta e garantindo dignidade a quem vive nela. O Ali Coop vem para consolidar essa estratégia e fortalecer ainda mais o cooperativismo na região”, disse.
Camila Rodrigues, assessora climática sênior do BID Invest, apresentou como a instituição apoia a agricultura regenerativa por meio de financiamentos combinados com assistência técnica. “Podemos apoiar tanto empresas âncoras quanto
instituições financeiras que trabalham com cooperativas. Em alguns casos, oferecemos financiamento misto, vinculado à adoção de boas práticas ambientais e sociais, com melhores taxas de juros ou prazos mais longos para quem incorpora essas práticas”, explicou. Ela citou como exemplo a parceria do BID Invest com a Cresol, voltada a impulsionar a sustentabilidade nas cooperativas de crédito.
Já o representante regional Norte da Apex-Brasil, Pedro Netto, ressaltou o potencial da bioeconomia amazônica no mercado internacional. “Hoje exportamos cerca de 1 bilhão de dólares em produtos compatíveis com a floresta, mas o mercado global ultrapassa 300 bilhões. O potencial de crescimento é enorme”, declarou. Segundo ele, a Apex considera o cooperativismo um aliado estratégico para o desenvolvimento sustentável. “As cooperativas são uma fonte de negócios justa e já têm mostrado resultados significativos na região Norte. Nosso objetivo é apoiar desde as pequenas até as grandes cooperativas para que alcancem novos mercados e atraiam investimentos de impacto”, acrescentou.
O diretor da Systemiq para a América Latina, Ilan Schleif afirmou que integrar a resiliência climática às estratégias de negócio no agronegócio já é uma realidade para muitas empresas. Ele explicou que projetos-piloto em fazendas do Centro-Oeste e do Nordeste registraram ganhos de produtividade entre 12% e 14% com o uso de biotecnologia, drones, agricultura de precisão, irrigação por gotejamento e práticas regenerativas. “A resiliência climática já deixou de ser teoria: quem integrou práticas regenerativas e tecnologia ao manejo está colhendo mais, com menos risco e maior eficiência”, destacou.
A pesquisadora da FGV Agro, Camila Genaro, reforçou a relevância do tema. “Nosso foco é entender como os sistemas agroalimentares podem transitar para uma economia de baixo carbono e como as cooperativas podem atuar como agentes transformadores. Elas têm capilaridade, traduzem a ciência para a prática e ajudam a medir e reportar resultados”.
Crédito cooperativo amplia inclusão
O painel Cooperativas e pequenos negócios – experiências para o financiamento das comunidades locais apresentou
iniciativas que mostram como o crédito cooperativo contribui para o desenvolvimento regional e a inclusão financeira.
O diretor executivo de Estratégia, Sustentabilidade, Administração e Finanças do Sicredi, Alexandre Englert Barbosa, destacou o avanço da instituição em captações sustentáveis junto a organismos multilaterais. Desde 2019, foram mais de US$ 10 bilhões direcionados a iniciativas de energia renovável, agricultura de baixo carbono e apoio a mulheres empreendedoras. “O foco é fazer o crédito verde chegar ao pequeno, com impacto social e ambiental positivo”, ressaltou.
Pela Cresol, o cooperativismo tem levado dignidade e renda a pequenas comunidades do Sul do país. A diretora executiva da Cresol Raiz – Central Cresol Sicoper, Claudiane Piovesan apresentou o Projeto Cresol Siga, que financia saneamento básico e acesso à água potável em áreas rurais. “Já são quase 2 mil famílias beneficiadas, com R$ 70 milhões liberados e reconhecimento nacional pelo impacto ambiental e social”, afirmou.
O Sicoob também apresentou resultados expressivos. Segundo Tobias Fragoso, superintendente financeiro, o sistema já destinou R$ 9 bilhões em crédito a micro e pequenos empreendedores em 2025, chegando a 415 municípios onde é a única instituição financeira presente. “O cooperativismo é uma evolução do sistema financeiro tradicional”, afirmou.
Cláudio Filgueiras, chefe do departamento de Regulação, Supervisão e Controle das Operações do Crédito Rural e do Proagro do Banco Central do Brasil, reforçou o papel estratégico das cooperativas no crédito rural. “Elas são essenciais para o crescimento dos pequenos produtores, pois conhecem a realidade local e oferecem crédito de qualidade”, observou.
Mauro Costa, gerente sênior de suprimentos da Natura, apresentou o mecanismo Amazônia Vida, criado para fortalecer cadeias da sociobiodiversidade e garantir fluxo de caixa às cooperativas fornecedoras da marca. “Hoje já são 52 comunidades e mais de 12 mil famílias envolvidas. O cooperativismo é peça-chave para transformar a bioeconomia em realidade”, disse.
A moderação foi conduzida por Clara Maffia, gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB, que destacou o papel das cooperativas na democratização do crédito verde e no desenvolvimento econômico inclusivo, uma das pautas centrais da agenda do cooperativismo na COP30. “As cooperativas garantem inclusão e oportunidades. Esse papel é fundamental também para o avanço da agenda de financiamento climático e no enfrentamento dos desafios da transição verde.”
Soja de Baixo Carbono e inovação no campo
Na Agri Zone, o painel Soja de Baixo Carbono discutiu caminhos para uma agricultura tropical mais resiliente, competitiva e sustentável. O Sistema OCB integrou o debate com a participação do coordenador de Relações Governamentais, Eduardo Queiroz, que representou também as cooperativas Cocamar e Coamo.
Eduardo destacou como o modelo cooperativista impulsiona a adoção de práticas sustentáveis e amplia o alcance das tecnologias no campo. Ele lembrou que, ao contrário da percepção comum, grande parte dos produtores associados à soja são pequenos agricultores. “Quando se olha os dados, entre os produtores de soja, muitos são pequenos agricultores, muitas vezes agricultura familiar. Na Coamo, por exemplo, são 32 mil cooperados, e mais de 80% são da agricultura familiar. Na Cocamar, são 20 mil produtores, cerca de 70% com esse perfil. E esse é o cooperativismo”, afirmou.
Ele reforçou que as cooperativas agropecuárias são fundamentais para o desempenho do setor. “De acordo com o último Censo Agropecuário, esses produtores representam 53% da safra de grãos do país. Cooperativas como Coamo e Cocamar fazem com que pequenos produtores se tornem grandes exportadores, alcançando mais de 100 países”.
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Cerimônia reuniu lideranças globais para marcar o Ano Internacional das Cooperativas
O Pavilhão do Coop, na Green Zone da COP30, iniciou essa sexta (14/11) com uma das celebrações mais simbólicas da
agenda internacional do movimento: o encerramento do Ano Internacional das Cooperativas. A cerimônia contou com a participação do presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas; do presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Ariel Guarco; do presidente da ACI Américas, José Alves de Souza Neto; do presidente da Frencoop, deputado Arnaldo Jardim; e do enviado especial para Agricultura na COP30, ex-presidente da ACI e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
O presidente Márcio destacou que o reconhecimento da ONU sintetiza décadas de construção coletiva do movimento. “Quando a ONU declara o Ano Internacional das Cooperativas, ela dá visibilidade a algo que nós vivemos todos os dias no território: cooperativa é desenvolvimento local, é oportunidade, é gente prosperando junto. Esse é um modelo que entrega resultados para o país e para o mundo, com responsabilidade ambiental e compromisso social”.
Na sequência, Ariel Guarco, reforçou que o Ano Internacional coloca os olhos do mundo sobre a contribuição concreta das cooperativas para superar desafios globais urgentes. “O cooperativismo já é parte da solução para a transição ecológica, para a redução das desigualdades, para a geração de trabalho digno. Este ano simbólico representa uma oportunidade histórica para afirmar que o movimento está preparado para liderar mudanças estruturais. Somos um modelo que funciona na prática”, declarou.
Representando o continente americado, José Alves ressaltou que as experiências bem-sucedidas da região têm servido de referência internacional. “As Américas demonstram a vitalidade do modelo cooperativo em diferentes setores: da agricultura ao crédito, da saúde à energia. Em muitos territórios, a cooperativa é a principal, e às vezes única, estrutura capaz de gerar renda, organizar a produção e oferecer serviços essenciais à população. Isso mostra o quanto somos estratégicos para o
desenvolvimento sustentável e inclusivo”, afirmou. Ele lembrou ainda que o continente tem um histórico relevante de inovação, governança e participação comunitária.
O deputado Arnaldo Jardim, por sua vez, reforçou o alinhamento crescente entre o movimento cooperativista e a agenda legislativa no Brasil. “O reconhecimento da ONU chega num momento em que avançamos na construção de marcos regulatórios que fortalecem o ambiente de negócios das cooperativas. É um círculo virtuoso: quanto mais o cooperativismo entrega resultados sociais e ambientais, mais o Parlamento reconhece sua importância, criando as condições para ampliar seu impacto”.
Já Roberto Rodrigues reafirmou sua visão histórica sobre o cooperativismo como modelo de sociedade. “Hoje celebramos muito mais do que uma data simbólica. Celebramos um princípio
civilizatório. Se quisermos um mundo mais justo, mais equilibrado e mais sustentável, o caminho passa pela cooperação. O cooperativismo não é apenas uma forma de organizar a economia — é um conjunto de valores que responde às maiores demandas da humanidade”.
Acordos de Cooperação Técnica
O evento também marcou um avanço decisivo na articulação de políticas públicas voltadas ao cooperativismo brasileiro. Quatro Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) foram assinados para fortalecer frentes de atuação em agricultura familiar, bioeconomia, empreendedorismo, inovação e desenvolvimento sustentável. As parcerias incluem ações com a Natura e os ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte (Memp) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Encerramento
Andrew Allimadi, representante da ONU para o cooperativismo, e Sheeren Zorba, secretária-executiva do Fórum ONU Ciência-Política-Empresas para o Meio Ambiente (UN-SPBF) e chefe da interface entre Ciência, Política e Negócios no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), encerram a cerimônia com mensagens gravadas em vídeo para todos os presentes. Sheeren salientou o papel estrutural das cooperativas na garantia da segurança alimentar e na transição para sistemas alimentares sustentáveis.
Segundo ela, o movimento gera inúmeras contribuições para o desenvolvimento social e econômico. “O cooperativismo organiza agricultores, melhora o acesso a mercados, promove práticas mais sustentáveis e fortalece a economia local. Em muitos países, são as cooperativas que permitem que pequenos produtores permaneçam no campo com dignidade e competitividade”, disse. Para ela, o fortalecimento das organizações coletivas será determinante para enfrentar os impactos das mudanças climáticas sobre a produção de alimentos.
Andrew lembrou que o Ano Internacional das Cooperativas dialoga diretamente com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de evidenciar que o modelo cooperativo tem capacidade comprovada de gerar estabilidade econômica, democratizar o acesso a oportunidades e fortalecer a resiliência das comunidades. “As cooperativas demonstram que é possível crescer sem deixar ninguém para trás”, afirmou. O representante concluiu sua fala comunicando que as Nações Unidas anunciaram a intenção de celebrar o Ano Internacional das Cooperativas a cada 10 anos.
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Iniciativas revelam como educação, reciclagem, crédito e inovação transformam realidades
O painel Cooperação que transforma: comunidades, inclusão e financiamento climático para o desenvolvimento sustentável, realizado no pavilhão do cooperativismo brasileiro na Green Zone da COP30, mostrou de forma profunda e concreta como o cooperativismo está presente na linha de frente das soluções climáticas, impulsionando desenvolvimento territorial, inclusão
produtiva e acesso democrático ao crédito verde.
Mediado por Alex Macedo, coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, o debate reuniu cooperativas de crédito, de reciclagem, representantes do governo federal e do Sebrae para demonstrar como a força das parcerias e da atuação comunitária gera resultados reais e escaláveis para os territórios. “É na base, no território, que nossas cooperativas promovem inclusão e desenvolvimento sustentável. Esse é o espírito da COP30 e é isso que o cooperativismo traz para a mesa: resultado, impacto e pertencimento”, afirmou.
A primeira experiência apresentada veio do Pará, com o relato de Márcia Rejane Montinho Ramos, presidente do Conselho de Administração do Sicoob Coesa, sobre a Cooperativa Mirim Santo Ezequiel Moreno — a primeira cooperativa mirim ribeirinha e marajoara do Brasil, formada por 61 crianças e adolescentes em situação de alta vulnerabilidade social no arquipélago do Marajó.
A comunidade, localizada a 16 horas de barco de Belém, encontrou no cooperativismo um caminho de transformação: educação cooperativista, inclusão digital, geração de renda, produção com caroço de açaí e desenvolvimento de competências de gestão. “Estamos trabalhando o futuro dessas crianças. O cooperativismo mudou a realidade da comunidade. Elas aprendem gestão, cooperação, educação ambiental e sentem orgulho de pertencer a algo maior. Participar da COP30 é mostrar ao mundo que é possível transformar vidas mesmo nos territórios mais afastados”, disse Márcia. 
Impacto ambiental e social
Esse olhar para a inclusão produtiva também orientou a fala de Mônica Mendes Araújo, superintendente da Recicle a Vida, no Distrito Federal, que apresentou a jornada da cooperativa desde sua origem como associação de catadores até sua transformação em uma indústria estruturada e reconhecida por seu impacto ambiental e social. “Nenhum catador começou seu trabalho para salvar o planeta; ele começou para sobreviver. Mas aquilo que fazemos hoje é fundamental para o clima, para a economia circular e para o futuro das cidades. O cooperativismo transforma vulnerabilidade em oportunidade e nos permite construir uma estrutura industrial sem perder nossa essência social”, afirmou.
Da Cresol Encostas da Serra Geral, a vice-presidente Fabiana Cesária apresentou duas experiências que reforçam o papel das cooperativas de crédito na dinamização de economias locais e na valorização da sociobiodiversidade. O primeiro é o projeto das Abelhas Sem Ferrão, que fez de Santa Rosa de Lima (SC) a Capital Nacional da Meliponicultura por meio de uma parceria entre cooperativa, associação de meliponicultores e poder público. O segundo vem da Bahia, com o trabalho junto à comunidade quilombola de Várzea do Sal, que apoia mulheres artesãs na estruturação da produção, ampliação de renda e fortalecimento da identidade cultural. “O cooperativismo vai muito além do crédito. Quando conhecemos o território, escutamos as pessoas e construímos parcerias, conseguimos realizar coisas extraordinárias”, ressaltou.
Empreendedorismo climático
A dimensão governamental foi trazida por Fernanda Rosa Pires Saboia, chefe da Assessoria de Participação Social e Diversidade do Ministério do Empreendedorismo (Memp) que enfatizou que o cooperativismo é um dos pilares estratégicos do empreendedorismo climático no país. Ela também anunciou o lançamento da Plataforma do Empreendedorismo Climático, que vai democratizar o acesso ao Fundo Clima gerando trilhas de conhecimento, orientação técnica e um modelo simplificado de elaboração de projetos capaz de permitir que pequenos empreendedores e cooperativas acessem o financiamento.
“Hoje quem consegue acessar o Fundo Clima são as grandes empresas. Queremos mudar essa realidade. O cooperativismo é a base para criar uma verdadeira ‘manada de unicórnios’. Democratizar o crédito verde é fundamental para incluir quem está na ponta”, disse Fernanda. Ela adiantou ainda que o Memp e o Sistema OCB assinarão, durante a COP30, um Acordo de Cooperação Técnica para desenvolver ações voltadas à agricultura familiar, ao artesanato e às economias populares ao longo de 2026.
Encerrando o painel, Carol Westrup, analista de inovação do Sebrae, apresentou o Ali-Coop, programa desenvolvido em parceria com o Sistema OCB para fortalecer gestão, governança, inovação e acesso a mercados das cooperativas — com foco inicial na Amazônia Legal. O programa acompanhará 50 cooperativas em cadeias estratégicas da sociobiodiversidade, como castanha, açaí, cupuaçu e abacaxi, ao longo de quatro anos. “A parceria entre Sebrae e OCB nasce para aumentar faturamento, reduzir resíduos, melhorar governança e abrir novos mercados”, destacou.
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Práticas sustentáveis e regenerativas fortalecem segurança alimentar e resiliência climática
O terceiro dia de atividades da COP30 na Agri Zone voltou a destacar o cooperativismo como protagonista em soluções para a crise climática. No painel Agricultura de baixo carbono: caminho para sistemas alimentares sustentáveis e resilientes, cooperativas brasileiras apresentaram experiências que integram produtividade, preservação ambiental e inclusão social, pilares da agricultura de baixo carbono.
O debate reuniu representantes da Lar Cooperativa Agroindustrial (PR), Coasa (RS), Camta (PA) e contou com a presença de Carlos Venâncio, coordenador de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável do Ministério da Agricultura (Mapa); e Camila Rodrigues, Secretária Executiva no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), sendo mediado por Eduardo Queiroz, coordenador de Relações Governamentais do Sistema OCB.O objetivo foi discutir como o cooperativismo tem contribuído para tornar a produção agropecuária mais sustentável e adaptada aos desafios climáticos. “As coops são uma verdadeira máquina de impacto do setor produtivo brasileiro. Onde tem cooperativa, tem desenvolvimento sustentável e territorial”, destacou Eduardo.
A Lar apresentou o Programa Lar de Sustentabilidade, reconhecido pelo Ministério da Agricultura pelos avanços em boas práticas agrícolas. O programa já avaliou 450 propriedades, certificou 20 associados com o Selo de Sustentabilidade e realizou 10 mil horas de treinamento, o que a permitiu alcançar 72% de conformidade com seus pilares, gestão de processos, gestão de propriedade, responsabilidade social e gestão ambiental. “Cada produtor certificado é um aliado da segurança alimentar e da agricultura de baixo carbono”, explicou Márcia Pessini, gerente de Gestão da Qualidade, Meio Ambiente, Inovação e Sustentabilidade da cooperativa.
Já a Coasa, representada por Ronaldo Scariot, engenheiro agrônomo, mostrou como o trabalho cooperativo pode regenerar o solo e fortalecer a produção familiar. Com o projeto Nosso Solo, Nossa Colheita, a cooperativa desenvolveu, em parceria com a Embrapa, práticas de manejo sustentável e plantio direto, que favorecem o sequestro de carbono e a conservação dos recursos naturais. “A verdadeira riqueza de uma sociedade é a fertilidade do seu solo e a sabedoria com que o preserva”, disse Ronaldo ao sintetizar a filosofia da cooperativa.
A experiência amazônica foi apresentada pela Camta, referência nacional em agricultura regenerativa. Desde a década de 1970, a cooperativa desenvolve o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA), que integra culturas como cacau, cupuaçu, pimenta e andiroba com espécies nativas da floresta. O modelo alia produtividade e conservação, garantindo renda e estabilidade para as famílias cooperadas. “Enquanto muitos emitem, nós armazenamos carbono em forma de vida. Diversificar é proteger o presente e garantir o amanhã”, destacou Claudio Suagya, diretor da organização.
Contribuindo com as discussões, Carlos Ramos destacou o papel estratégico do Plano ABC+ como principal instrumento nacional de promoção da agricultura de baixo carbono. “O objetivo central é sempre melhorar a renda do agricultor e, ao mesmo tempo, entregar resultados ambientais. Na primeira fase, o plano superou a meta de 200 milhões de toneladas de CO₂ equivalente mitigadas. Na segunda, o objetivo é uma mitigação cinco vezes superior à original.
Já Camila reforçou que os temas debatidos no painel, como cooperativismo, sistemas agroflorestais e agricultura regenerativa, estão diretamente conectados à pauta do MDA e às políticas voltadas à agricultura familiar. “Para a agricultura familiar, regenerar o solo, preservar a biodiversidade e produzir de forma equilibrada nunca foi novidade. Antes mesmo de existirem políticas de baixo carbono, nossos agricultores e agricultoras familiares já cultivavam sustentabilidade na prática”, afirmou.
Transferência de tecnologia ![Coops mostram caminhos para uma agricultura de baixo carbono]()
Em painel promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken ao lado de lideranças da Abramilho, Abrapa, Aprofir, Aprosoja Brasil e Aprosoja Mato Grosso, representou o cooperativismo brasileiro e destacou o papel do movimento como instrumento de transferência de tecnologia e sustentabilidade no campo. “Onde existe cooperativa, há mais eficiência e inclusão: 63% dos produtores cooperados têm acesso à assistência técnica e extensão rural, contra 20% da média nacional”, pontuou.
O dirigente reforçou que a COP30 é uma oportunidade estratégica para reafirmar o compromisso do agro brasileiro com a produção sustentável e socialmente responsável, alinhada às premissas do Manifesto do Cooperativismo para a COP30. Ele considerou também a necessidade de que a agenda climática global reconheça o verde como valor social e econômico, trate o clima como vetor de desenvolvimento e coloque as comunidades no centro das políticas de adaptação e mitigação.
Por fim, Ricken defendeu a tropicalização dos padrões de produção sustentável, para que métricas e tecnologias globais reflitam as condições e boas práticas da agricultura tropical brasileira. “Precisamos ser valorizados pelo que já fazemos e pelo que ainda podemos fazer para fortalecer uma transição verdadeiramente justa”, afirmou.
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Cerimônia lançou iniciativas que valorizam o legado cultural das cooperativas
O coop ganhou novos marcos de valorização cultural nesta quarta-feira (12), em Brasília. Durante cerimônia no Palácio Itamaraty, foram lançados o Mapa do Patrimônio Cultural Cooperativo, o livro Cooperativas do Brasil: retratos de um mundo
melhor e o trailer do documentário Histórias de um mundo melhor, produções que integram o legado do movimento para o Ano Internacional das Cooperativas, celebrado pela ONU em 2025.
As iniciativas unem memória, identidade e inovação, com destaque para como as cooperativas moldam comunidades mais sustentáveis, inclusivas e solidárias.
Um mapa vivo da cooperação
A Unesco reconheceu em 2016 (quatro anos após o Ano Internacional das Cooperativas 2012), a ideia e prática de organizar interesses em cooperativas como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, abrindo caminho para institucionalizar o legado cultural do movimento e projetá-lo para o futuro. O Mapa surge não só como um inventário, mas como um instrumento que resgata e valoriza os marcos históricos e simbólicos da nossa identidade cooperativa, preservando a memória, identidade e o legado do nosso movimento, com padrões internacionais que preservam autenticidade, participação, inclusão e sustentabilidade.
Ele faz parte do Cooperative Cultural Heritage Programme (CCH Programme), desenvolvido pela ACI, com mentoria do
Sistema OCB. A plataforma digital reúne 31 sítios em 25 países, representando locais, instituições e tradições que simbolizam o legado histórico e social do cooperativismo, um verdadeiro “mapa vivo” da cooperação no mundo. Essa será a primeira etapa do site. O objetivo de longo prazo do GT é continuar alimentando o portal com outros sítios importantes para o cooperativismo, posteriormente incluindo patrimônios imateriais.
“O mapa, o livro e a exposição mostram o que o cooperativismo tem de mais humano: sua capacidade de transformar realidades, gerar pertencimento e inspirar novas gerações”, destacou Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB e mentor do Grupo de Trabalho da ACI sobre Patrimônio Cultural Cooperativo.
Em seu discurso, Márcio também celebrou o protagonismo brasileiro na agenda global do cooperativismo: “O cooperativismo é um modelo de negócio baseado em gente. Nosso principal capital são as pessoas. E é por isso que digo: desenvolvimento econômico pode até ser individual, mas prosperidade só existe quando toda a comunidade melhora. As cooperativas têm conseguido fazer isso no mundo todo”, afirmou.
O presidente da ACI, Ariel Guarco, reforçou a dimensão histórica e simbólica da iniciativa, que contou com o trabalho do
Grupo de Patrimônio Cultural Cooperativo ao longo de um ano.
“O mapa que hoje ganha vida aqui em Brasília não é apenas uma coleção de lugares históricos. É uma cartografia do impacto cultural que o cooperativismo deixou no mundo, cada sítio é um testemunho vivo de solidariedade, criatividade e compromisso coletivo”, declarou.
O embaixador Laudemar Gonçalves de Aguiar Neto, secretário de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do Itamaraty, ressaltou a importância do evento para o reconhecimento institucional do cooperativismo: “O lançamento do mapa e da exposição marca um momento relevante para o reconhecimento da contribuição das cooperativas à sociedade. O modelo cooperativo tem demonstrado capacidade de promover inclusão social, desenvolvimento sustentável e fortalecimento comunitário, oferecendo respostas democráticas e solidárias aos desafios do nosso tempo”.
Durante o evento, Tiago Schmidt, presidente da Sicredi Pioneira e idealizador do projeto do mapa, lembrou que a proposta nasceu do desejo de dar visibilidade às raízes do movimento cooperativo. “O cooperativismo sobreviveu aos séculos porque nasceu da força da educação, da identidade e da solidariedade. Assim como há praças e monumentos que guardam a história da humanidade, o cooperativismo também tem seus territórios de memória e esperança. Este mapa é uma forma de honrar nossos precursores e inspirar as próximas gerações”, disse.
Representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o diretor de Cooperativismo, Eduardo Pagot, destacou a parceria com o Sistema OCB e o fortalecimento de políticas públicas voltadas ao cooperativismo. “O MDA e o Sistema OCB tem caminhado lado a lado, porque nossas políticas se cruzam no fortalecimento da agricultura familiar e do cooperativismo como um todo. Programas como o Mais Gestão e o Cooperar Brasil são exemplos concretos dessa colaboração, que tem ampliado o impacto social e econômico das cooperativas”.
Conhecimento, intercâmbio e legado
Durante a apresentação do portal do mapa, o diretor de Legislação da ACI, Santosh Kumar, destacou que o programa busca ser mais do que uma base de dados. “Este é um projeto vivo, que combina memória, intercâmbio e aprendizado. Queremos construir um espaço de formação e inspiração entre gerações, promovendo trocas entre países e criando oportunidades para jovens lideranças cooperativas. Nosso objetivo é que o programa se torne financeiramente sustentável, apoiado por turismo educativo e experiências de liderança”.
Já o diretor-geral da ACI, Jeroen Douglas, ressaltou que o lançamento representa um passo importante no reconhecimento global da cultura cooperativa: “Estamos mostrando que o papel das cooperativas na promoção da cultura é, por si só, um pilar do desenvolvimento sustentável. A Unesco já reconheceu que a cooperação é uma evolução viva da solidariedade humana, e este programa é a prova de que esse legado
continua em construção”, afirmou.
Livro, exposição e documentário
Além do mapa, o público conheceu o livro Cooperativas do Brasil: retratos de um mundo melhor, resultado de uma jornada de campo realizada ao
longo de 2025, que percorreu 60 cooperativas em todos os estados brasileiros. A obra reúne imagens e histórias que revelam como o modelo cooperativo contribui para o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a preservação de tradições locais.
As fotografias também compõem a exposição no Itamaraty, que ofereceu um retrato sensível da força do cooperativismo no Brasil. O evento ainda marcou a estreia do trailer do documentário Histórias de um mundo melhor, produção audiovisual do Sistema OCB que dá voz a cooperados e cooperativas de diferentes regiões do país — histórias reais de transformação, pertencimento e propósito coletivo.
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Transição justa do agro, inovação e fortalecimento de pequenos empreendimentos foram destaques
No terceiro dia da COP30, o cooperativismo brasileiro fez sua estreia na Blue Zone, local onde acontecem as negociações e
decisões entre os países em torno das questões climáticas. O presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, participou em diferentes momentos de painéis que destacaram a força do cooperativismo como protagonista das soluções climáticas, desenvolvimento sustentável e inclusão produtiva.
Durante o painel O que significa transição justa para o agro?, promovido pela CNA, o Sistema OCB, representado por Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas, apresentou a contribuição das coops para uma agricultura de baixo carbono, inclusiva e conectada às realidades locais. Segundo ela, a transição energética e produtiva só será justa se considerar as desigualdades regionais e o acesso a recursos básicos. “Não é possível falar em transição justa sem garantir condições mínimas para todos”, afirmou, ao citar desafios enfrentados por cooperativas amazônicas.
O painel reforçou que o cooperativismo é, por essência, mais justo e sustentável, pois coloca as pessoas no centro das decisões. O movimento congrega mais de 1 milhão de produtores rurais, sendo 71% agricultores familiares, organizados em cerca de 1,2 mil cooperativas. “Elas são responsáveis pela
originação de 75% do trigo, 55% do café, 53% do milho, 52% da soja, 50% dos suínos, 46% do leite e 43% do feijão, além de terem participação expressiva nas cadeias de frutas, hortaliças, fibras e no setor sucroenergético”, relatou Débora. Dados apontados por ela comprovam que a cada R$ 1 investido em bens e serviços de cooperativas, são gerados R$ 1,65 no valor da produção, R$ 0,88 no valor adicionado e R$ 0,33 em salários.
A apresentação também abordou três virtudes do modelo diante da transição global: Educação e conhecimento, essenciais para que o produtor rural compreenda e adote práticas sustentáveis; Princípios e valores, que orientam as decisões com base na cooperação e na responsabilidade social; e Intercooperação, que fortalece redes de apoio, inovação e acesso a mercados.
De acordo com análise feita, as cooperativas são protagonistas em práticas de agricultura de baixo carbono, como plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs), além de cumprirem papel essencial na transferência de tecnologia e assistência técnica. Enquanto a média nacional de produtores atendidos é de 20%, entre cooperados o índice chega a 63%.
Fortalecimento de pequenas cooperativas na Amazônia
No pavilhão do governo brasileiro, José Roberto Ricken participou do painel dedicado a celebração do Ali-Coop: Agentes Locais de Inovação para o Cooperativismo, iniciativa do Sebrae realizada em conjunto com o Sistema OCB e outros parceiros
institucionais para levar inovação aos territórios da Amazônia e impulsionar o desenvolvimento sustentável por meio do cooperativismo. “Esse é um programa que vai fortalecer pequenas cooperativas e focar em sociobioeconomia, agroindustrialização e desenvolvimento territorial, ações que dialogam diretamente com a economia verde e com as políticas de adaptação às mudanças climáticas”, ressaltou.
Ricken lembrou que o Sebrae é uma referência técnica e institucional nas soluções voltadas à competitividade e ao desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e que a parceria com o cooperativismo brasileiro vai permitir que ele utilize sua expertise para a inserção das cooperativas atendidas pela iniciativa nos mercados interno e externo. “Assim, contribuiremos de forma ainda mais concreta para a preservação da floresta amazônica que desejamos”, completou.
Voltado a cooperativas de pequeno porte formadas por agricultores familiares e comunidades extrativistas, o Ali-Coop adapta a metodologia do Programa Agentes Locais de Inovação (Ali Produtividade) ao universo cooperativista, incorporando os insumos e a expertise do Programa de Negócios do Sistema OCB. O objetivo é fortalecer a gestão, aprimorar processos produtivos e ampliar o acesso a mercados em cadeias estratégicas da sociobiodiversidade, como babaçu, castanha-do-Brasil, açaí e cupuaçu.
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Painel mostrou como crédito, seguros, pesquisa e manejo sustentável fortalecem comunidades
O painel O papel do cooperativismo na construção da resiliência climática, realizado no Pavilhão do Coop na Green Zone,
durante o segundo dia da COP30, contou com a presença de diferentes cooperativas, instituições financeiras e representantes do setor de seguros, que apresentaram iniciativas concretas que já estão ajudando comunidades rurais e urbanas a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. A conversa reuniu a Vinícola Aurora, Sicoob Credip, CCPR, Sicredi e Confederação Nacional das seguradoras (CNseg) que apresentaram experiências complementares e ancoradas na mesma lógica: colaboração, inovação e acesso ao conhecimento como base da adaptação.
O encontro foi mediado pelo coordenador de Meio Ambiente, Alex Macedo, que reforçou a importância da articulação entre os setores para que soluções se tornem replicáveis e acessíveis. “Resiliência climática não nasce de ações isoladas. Ela é construída coletivamente, com informação, planejamento e capacidade de mobilizar as comunidades. As cooperativas já trabalham assim há décadas. Isso nos coloca em posição privilegiada para antecipar riscos e proteger quem está na ponta”, afirmou.
Impactos no território
A Vinícola Aurora destacou como o monitoramento climático, a adoção de variedades mais resistentes, o manejo adequado do solo e a disseminação de conhecimento por meio das UDCs vêm ajudando mais de 1.100 famílias a se adaptar aos novos padrões climáticos da Serra Gaúcha. Em 2025, a cooperativa lançou seu primeiro relatório ESG com dupla materialidade, referência no setor vitivinícola.
A CCPR apresentou os resultados das Práticas Nota 10, um programa de certificação de fazendas que organiza processos, reduz impacto ambiental e melhora a eficiência da produção. Cerca de 70% do leite coletado pela cooperativa já vem de fazendas certificadas. No campo, isso se traduz em mais produtividade, menos emissões e leite de melhor qualidade.
A CNseg, representando o setor de seguros, por sua vez, chamou atenção para a lacuna de proteção no país. Mais de 90% das perdas relacionadas a eventos climáticos extremos não são seguradas, onerando famílias e governos. A entidade
defendeu a criação de um Seguro Social de Catástrofe, que permitiria acionamento automático em desastres e pagamento rápido, garantindo retomada mais ágil das comunidades atingidas. Também apresentou seu Hub de Inteligência Climática, focado em análises de risco, impactos socioeconômicos e desenvolvimento de soluções de proteção.
A Sicredi, por sua vez, mostrou como a quantificação de riscos climáticos tem guiado decisões estratégicas. Com uma metodologia implementada em 2024, a instituição consegue avaliar ameaças por cultura, por território e por atividade econômica, permitindo ajustar crédito, ampliar seguros agrícolas, diversificar o portfólio e orientar práticas de adaptação. Segundo a instituição, mais de 16 milhões de ativos de associados já são monitorados pela ferramenta.
Durante o painel também foi apresentado o CarbCafé, iniciativa construída a partir da atuação conjunta de produtores, cooperativas e pesquisa científica, com os resultados mais recentes do trabalho conduzido pela Embrapa em parceria com o Sistema OCB, Sicoob Credip e a Caferon. O relatório mostrou como a cafeicultura das Matas de Rondônia conseguiu aumentar produtividade e gerar saldo ambiental positivo mesmo com forte redução da área cultivada ao longo dos anos.
O estudo revela que o modelo adotado sequestra 6.874 kg de carbono por hectare e emite 2.991 kg, garantindo saldo positivo de 3.883 kg de carbono, e ainda integra 150 famílias de sete etnias, com protagonismo indígena e práticas sustentáveis que preservam a floresta.
Saiba Mais:
- Da floresta ao café: coop evidencia soluções sustentáveis na Agri Zone
- Cooperativismo impulsiona o crédito verde no primeiro dia da COP30
- Cooperativismo conecta floresta e sertão na construção da bioeconomia
Painéis apresentaram práticas voltadas à bioeconomia, descarbonização e rastreabilidade
No segundo dia de atividades da Agri Zone na COP30, o Sistema OCB marcou presença em debates que mostraram, na
prática, como as cooperativas brasileiras articulam desenvolvimento econômico, preservação ambiental e impacto social positivo. Representantes da Coplacana, Cooxupé, Camta e D’Irituia participaram em três diferentes momentos e painéis que inspiraram os visitantes com histórias reais de produção com sustentabilidade.
No painel Bioeconomia regenerativa da Amazônia: do carbono circular à cooperação sustentável, mediado pelo coordenador de Meio Ambiente do Sistema OCB, Alex Macedo, o tom foi de união de esforços. O encontro defendeu a cooperação como caminho estrutural para escalar modelos de restauração produtiva.
Para Mauro Costa, gerente sênior de Relacionamento e Abastecimento da Sócio Biodiversidade da Natura, a inclusão das florestas tropicais como pauta relevante dentro da conferência já é um legado da COP30. “Temos uma grande oportunidade de gerar renda e riqueza para quem realmente protege a floresta. E isso só acontece quando se fortalece organizações locais,
cooperativas e associações. O cooperativismo dá voz, escala e segurança às comunidades”, afirmou.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Osvaldo Kato, apresentou experiências com alternativas ao sistema tradicional de derruba-e-queima, que substituem o fogo por uso da vegetação secundária como fonte de matéria orgânica. Ele lembrou que o desenvolvimento de sistemas agroflorestais diversificados, incluindo cacau, açaí, dendê e outras espécies, surgiu como estratégia de restauração, aumento de produtividade e captura de carbono. “Para comercialização e organização produtiva, as cooperativas são fundamentais. A diversificação só se mantém com organização coletiva”, ressaltou.
Maria Fernanda Lima, coordenadora de Projetos da Cooperativa D’Irituia, destacou a importância dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) e dos créditos de Pagamento por Serviços Ambientais
(PSA). A cooperativa, com 42 cooperados e impacto indireto em mais de 200 famílias, vem ampliando a diversidade das áreas cultivadas e fortalecendo cadeias extrativistas como o tucumã, com apoio técnico da Natura. Já no campo dos PSA a iniciativa ainda está em fase piloto, mas a construção participativa do projeto traz confiança às famílias locais. “Sempre chegavam muitas promessas, mas sem continuidade. Desta vez, o processo está sendo construído com a gente, do início, respeitando nossa realidade”, acrescentou.
Já Cláudio Sugaya, diretor da Camta, falou sobre as experiências da cooperativa com os Sistemas Agroflorestais e com os PSA. Reconhecida internacionalmente como referência no uso de modelos que conciliam produção agrícola com conservação ambiental, a Camta tem quase um século de história. “Exportamos frutas tropicais e derivados para Europa, Ásia e América do Norte, e levamos a marca da Amazônia para o mundo com rastreabilidade e compromisso ambiental. Os SAFs recuperam áreas degradadas, protegem a biodiversidade e asseguram renda a centenas de agricultores familiares cooperados”, contou.
Ainda durante o painel, Moisés Savian, secretário nacional de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), abordou a experiência da AgriHub e trouxe também a perspectiva das políticas públicas conduzidas pela pasta. Ele destacou como o governo vem apoiando produtores na transição para modelos sustentáveis, com foco na bioeconomia e na expansão dos sistemas agroflorestais. Segundo ele, a regulamentação de novos instrumentos, a oferta de editais direcionados e o fortalecimento do crédito rural têm sido caminhos para estimular inovação e ampliar oportunidades no campo. “A combinação entre tecnologia, governança e incentivo público é essencial para dar escala às soluções regenerativas e enfrentar eventos climáticos cada vez mais severos”, declarou. 
Essência sustentável
No espaço Agrosfera UPL, Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, e João Paulo Félix dos Santos, diretor administrativo do Conselho Administrativo da Coplacana, participaram de um videocast conduzido por Rogério Melo, consultor sênior de Carbono e Cadeia de Valor Alimentar da UPL, sobre sustentabilidade nas cooperativas.
Débora enfatizou logo no início que o cooperativismo é sustentável por essência e estrutura. “Ser sustentável significa ser ambientalmente correto e socialmente justo ao mesmo tempo em que se mantém economicamente viável e isso faz parte das premissas do cooperativismo
desde a sua raiz”. Ela também apresentou o Programa ESGCoop, importante para comprovar a sustentabilidade das cooperativas, e reforçou a importância de parcerias estratégicas. “Elas fortalecem a jornada de sustentabilidade no campo, conectando assistência técnica, boas práticas e acesso a ferramentas confiáveis de medição”, completou.
João Paulo, por sua vez, reforçou o papel do cooperativismo e do agronegócio como soluções concretas para a sustentabilidade e a descarbonização global com exemplos práticos da Coplacana. Fundada em 1948 por 57 produtores rurais, a cooperativa soma hoje 13 mil cooperados e 850 colaboradores, com atuação em cinco estados e forte presença em culturas como cana-de-açúcar, soja, milho, citros, amendoim e pecuária.
Um dos exemplos apresentados pelo diretor foi o Programa de Descarbonização, com metas de redução de emissões de carbono de 10% até 2027, 50% até 2035 e neutralidade total até 2040 — iniciativa desenvolvida com base na Solução Neutralidade de Carbono do Programa ESGCoop do Sistema OCB e com o qual a cooperativa já alcançou o selo prata do GHG Protocol. Outro exemplo ditado por ele, desenvolvido em parceria com a UPL, foi o PASS, um programa autossustentável que vai cuidar da materialidade e dos planos de sustentabilidade de 200 produtores cooperados. “A Coplacana tem orgulho de mostrar que produtividade e sustentabilidade caminham juntas”, explicou. 
Rastreabilidade
A gerente de ESG da Cooxupé, Natália Carr, foi uma das convidadas do painel Rastreabilidade total da cadeia de alimentos do Fórum Planeta Campo realizado no pavilhão da CNA. Ela falou sobre o protagonismo do cooperativismo cafeeiro brasileiro na transição para uma economia de baixo carbono. A gerente apresentou o protocolo de sustentabilidade Gerações, desenvolvido pela cooperativa para apoiar os produtores na adoção de práticas ambientais, sociais e econômicas mais sustentáveis, com foco na sucessão familiar, gestão eficiente das propriedades e valorização do café responsável.
Natália destacou também as ações de rastreamento e certificação socioambiental do café produzido pelos 21 mil cooperados da Cooxupé, 96,7% deles pequenos agricultores responsáveis por 60% da produção total da cooperativa — que exporta para mais de 50 países. “O cooperativismo é peça-chave para dar escala às soluções baseadas na natureza, integrando tradição e tecnologia para fortalecer uma produção regenerativa e de baixo impacto. “Precisamos comunicar melhor o que fazemos no campo e mostrar, com dados, que o café e o cooperativismo fazem parte da solução para as mudanças climáticas”, salientou.
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Painel na COP30 destaca experiências da Amazônia e do semiárido na transição para economia verde
Sob o olhar atento de um público diverso, o painel Cooperativismo e Bioeconomia: da floresta ao sertão, deu início as atividades do cooperativismo na Green Zone da COP30 e mostrou que a transição para uma economia verde só será possível com o protagonismo das comunidades que vivem e produzem nos territórios. Representantes de cooperativas da Amazônia e do semiárido, da iniciativa privada e do governo brasileiro compartilharam experiências que unem sustentabilidade, inclusão produtiva e valorização dos saberes tradicionais. Em comum, a certeza de que o cooperativismo é uma das chaves para
transformar biodiversidade em prosperidade, sem perder as raízes locais.
Mediado pela gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB, Débora Ingrisano, o painel destacou a importância de discutir políticas públicas voltadas à valorização da socioeconomia e do papel das grandes organizações, especialmente as cooperativas, nesse processo. Segundo ela, as cooperativas têm uma natureza singular, por serem formadas justamente pelas pessoas que vivem e produzem nos territórios onde a bioeconomia acontece.
Débora ressaltou que o Brasil pode movimentar até US$ 140 bilhões por ano até 2032 com a bioeconomia do conhecimento e lembrou que as cooperativas têm o potencial necessário para garantir que esse impacto se concretize de forma rápida e eficiente. “As cooperativas estão onde as soluções nascem — nas comunidades e nos saberes tradicionais. Nosso desafio é fazer com que o valor gerado pela bioeconomia retorne a esses territórios e impulsione o desenvolvimento local”, afirmou.
A Coopatrans, dona da marca Cacauway, abordou a trajetória da cadeia do cacau na Transamazônica, mostrando como o cooperativismo virou eixo de reorganização territorial, autoconfiança e geração de renda. A vice-presidente da cooperativa, Mônica Franco, valorizou a virada cultural vivida pela região. “Há 15 anos, o cooperativismo aqui era desacreditado. Com a Coopatrans, esse espírito se fortaleceu e, depois dela, surgiram outras cooperativas. Hoje somos exemplo para toda a região Norte”.
Ela destacou ainda a importância simbólica da presença na COP30. “Espero que mais olhares se voltem para a nossa cooperativa, não só para o chocolate, mas para o que representamos. O isolamento não leva ninguém a nada. Cooperar é o
que faz a diferença.” Já a Cooperativa Ser do Sertão apresentou um modelo transformador de agrofloresta e reflorestamento que vem recuperando áreas degradadas no semiárido baiano. A presidente, Valdirene Nascimento, relatou com emoção a evolução da cooperativa, da produção artesanal de polpa de umbu para uma indústria estruturada, sustentável e liderada por mulheres: “A cooperativa nasceu de um sonho. Começamos processando umbu no fundo de quintal. Hoje temos uma fábrica, absorvemos a produção de 16 municípios, saímos de 150 para 362 cooperados e produzimos com energia solar. Mostramos que é possível recuperar a Caatinga e gerar renda com sustentabilidade”, descreveu emocionada.
Ela definiu a participação na COP30 como um divisor de águas. “Estar aqui ainda é um sonho. Isso mostra que estamos no caminho certo, desenvolvendo algo que pode mudar vidas. Queremos que esses modelos influenciem políticas públicas, financiamentos e projetos que respeitem a especificidade de cada território”, completou. A experiência da Natura em ações voltadas à bioeconomia e ao fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade (SBD) nos territórios onde a empresa atua — Brasil, Peru, Colômbia e Equador foi apresentada por Raoni Silva. O conteúdo evidenciou o papel das parcerias locais e da assessoria técnica para enfrentar os desafios da produção sustentável, especialmente em áreas de pasto, agricultura e regiões sem cobertura vegetal. “A construção de uma bioeconomia sólida depende do diálogo e da valorização de quem vive e produz na floresta. É nas parcerias territoriais que a inovação ganha propósito e gera resultados concretos”, relatou.
Como representante do governo federal, William Saab, coordenador geral de Bioeconomia do Ministério do Meio Ambiente (MMA) trouxe uma leitura estratégica sobre a bioeconomia. Segundo ele, as políticas do governo andam lado a lado com o fortalecimento das cooperativas. “O cooperativismo está totalmente alinhado às agendas que o MMA está lançando aqui na COP30, como o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia, o Programa de Agentes de Crédito e o Prospera Sociobio. Todas essas iniciativas têm um elo comum: inclusão e protagonismo das comunidades locais. Neste sentido, as cooperativas são parceiras essenciais. Elas têm finanças de proximidade e entendimento do território. É exatamente isso que o Ministério quer: protagonismo dos povos”, relatou.



Soja de Baixo Carbono e inovação no campo 